quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobreviver ao ato suicida. O dia seguinte

A perda de um ente querido pelo suicídio é um acontecimento terrível, doloroso e inesperado. Provoca uma intensa dor, que pode ser prolongada e que será diferente e única para aquele que a sofre. 

Chama-se “sobrevivente” os familiares e amigos da pessoa que cometeu suicídio. Calcula-se que em cada caso há, pelo menos, seis pessoas vinculadas à ocorrência, que sofrerá mais diretamente as consequências morais e emocionais surgidas desta situação.

Os sobreviventes ao suicídio, em muitas ocasiões, se deparam com pessoas próximas, que manifestam reprovação ou imposição de culpa em relação ao suicídio ocorrido.

Os tabus, algumas crenças religiosas e a tendência de se evitar os temas relacionados à morte contribuem para isolar e estigmatizar os sobreviventes. Se, além disso, não encontram o apoio devido, acabam por integrar um potencial grupo de risco, face aos difíceis conflitos a se enfrentar, estando estas pessoas suscetíveis à depressão e mesmo ao suicídio.

Ao lado da dor causada pela perda, é comum o surgimento de reações emocionais diversas, como angústia, baixa auto-estima, apatia, tristeza, revolta, sentimento de abandono, de negação, vergonha, incredulidade, estresse, culpa, isolamento, ansiedade...

Estes sentimentos e atitudes são reações normais, expressões do sofrimento, ainda que a princípio as pessoas possam se sentir mais intensamente afetadas por estas emoções. Experimentam alívio quando tomam conhecimento ou já sabem que o ente querido sofria algum tipo de transtorno mental.

É comum o fato dos sobreviventes se atormentarem com as motivações do ato suicida e com a hipótese de que eles poderiam ter feito algo para ajudar o ente querido ou mesmo ter evitado a sua morte, o que, frequentemente, pode suscitar sentimentos de culpa. Podem, também, sentirem-se acusados pelas pessoas, o que os levará a um processo de negação dos fatos ou a se tornarem muito reservados. Estas atitudes podem complicar ainda mais os conflitos emocionais.

 Se o sobrevivente é uma pessoa próxima, de nossa intimidade, o que podemos fazer de melhor é ouvi-la, sem criticar ou emitir opinião. Por conta dos tabus em torno do suicídio, os seus sobreviventes raramente comentam abertamente o fato ocorrido ou manifestam seus sentimentos. Para auxiliá-los devidamente, devemos deixar de lado todas as nossas idéias pré-concebidas sobre o suicídio e suas vítimas. Isto será possível se nos esforçarmos para conhecer melhor este complexo fenômeno.

 Alguns conselhos úteis no contato com um sobrevivente

. É importante perguntar se podemos ajudá-lo e como podemos fazê-lo. É possível que o sobrevivente não esteja preparado para compartilhar sua dor e necessite de mais tempo para aceitar a sua ajuda. 

 . Deixe que ele fale no seu ritmo próprio. À medida que se sentir à vontade se manifestará melhor.

 . Tenha paciência. A repetição faz parte do processo de superação. Por isso, é possível que você tenha que ouvir a mesma história muitas vezes.

 . Use o nome do ente querido ao invés de “ele” ou “ela”, pois isso trará a pessoa falecida ao convívio, por meio da lembrança, trazendo reconforto.

 . É possível que não tenhamos o que dizer. O importante, no entanto, é a nossa presença junto ao sobrevivente, pronto para ouvi-lo sem reservas.

 . Não há, pois, como se estabelecer regras de como se deve agir ou sentir nestas circunstâncias. Cada pessoa deve se deixar guiar pelos seus sentimentos e percepções.

 . Evite frases como “Eu posso avaliar o que você sente”, a não ser que você tenha realmente vivido uma experiência semelhante.

Fonte: http://www.suicidioprevencion.com/index.php?lang=es

Tradução: Abel Sidney

Nenhum comentário:

Postar um comentário