sábado, 18 de julho de 2009

O papel dos médicos na prevenção do suicídio entre os jovens: relato de uma experiência

Prevenção do suicídio entre os jovens:
os médicos podem fazer a diferença
Scott Poland




Uma onda de suicídios

Três adolescentes cometeram suicídio em dois meses, no outono de 2007, em uma pequena cidade do meio oeste norte-americano. Este grande número de ocorrências em um curto período de tempo pode ser considerado uma onda de suicídios. Em resposta à este fato, a comunidade voltou sua atenção para as diretrizes elaboradas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Tais diretrizes enfatizam que nenhuma entidade ou agência de saúde pode, de maneira isolada, interromper uma onda de suicídio entre jovens e que os adolescentes são mais susceptíveis a este comportamento do qualquer outro grupo etário. Foi organizada uma força tarefa, composta por representantes das escolas, médicos, clérigos, policiais e profissionais de saúde mental em resposta a esta onda de suicídios e um encontro foi organizado. Nesta ocasião, uma famosa pediatra do local caiu em prantos ao explicar que todas as três vitimas adolescentes haviam estado em seu consultório por causa de indisposições físicas pouco tempo antes de terem falecido em razão do suicídio. Este fato não é raro; o fato de pacientes adultos visitarem seus médicos antes de cometerem suicídio é uma conclusão comum na literatura. Esta realidade levanta algumas questões cruciais a respeito do papel dos médicos na prevenção do suicídio:
  • Quais são os sinais que os médicos devem procurar?
  • Quais são as informações que os médicos devem considerar durante uma consulta e que perguntas deveriam ser feitas?
  • Quais são os passos a serem tomados mediante caso ele suspeite que um paciente adolescente apresenta risco de suicídio?
Incidência de suicídio

O suicídio, dependendo do estado da federação ou município, é a segunda ou terceira causa de óbitos entre adolescentes nos Estados Unidos. As taxas de suicídio variam em cada estado da federação e são expressas pelo número de mortes a cada 100.000, em cada grupo etário, por ano. Os estados do oeste norte-americano apresentam as maiores incidências de suicídio. De acordo com as estatísticas disponíveis mais recentes, o Alasca tem a maior taxa de suicídio (29,8 por 100.000) e o Havaí a menor (5,7 por 100.000) para esta faixa etária, de 15 a 24 anos.

Ao longo do tempo, a incidência de suicídios vem se mantendo relativamente constante entre os jovens que frequentam o ensino médio (High School). Uma revisão dos números do levantamento Youth Risk Behavior Surveillance Survey (YRBSS), realizado pelo CDC em 2007, demonstrou que 28,5% dos 15.000 estudantes norte-americanos entrevistados em todo o país diziam se sentir triste ou sem esperança, 11,3% já haviam pensado em suicídio e 6,9% já haviam tentado se matar durante o último ano (com frequência, nem os pais nem outros adultos faziam a menor idéia de que aquele jovem já havia tentado se matar). O levantamento YRBSS para estudantes do nível médio não perguntou a respeito de ideação suicida, mas as últimas informações disponíveis neste grupo populacional indicam uma elevação de aproximadamente 100% da taxa de suicídio durante a última década, especialmente na morte por enforcamento.

Quais são aqueles sob maior risco de cometer suicídio?

Embora os resultados do YRBSS indiquem que um grande número de jovens apresente este risco, é extremamente difícil identificar de maneira especifica estes indivíduos. Fatores culturais, relacionados com o gênero e com o desenvolvimento são igualmente importantes na determinação deste risco. Uma avaliação recente do contexto familiar e de desenvolvimento identificou os seguintes fatores como indicadores de um risco maior de suicídio:
  • Maus tratos;
  • Relações familiares problemáticas;
  • Problemas de natureza socioeconômica;
  • História familiar de suicídio;
  • Psicopatologia nos pais;
  • Problemas com colegas;
  • História de bullying e vitimização; e
  • Problemas de disciplina ou de natureza legal.
Os problemas relacionados com o gênero – e culturais – também foram identificados:
  • As meninas tentam o suicídio três vezes mais que os meninos;
  • O óbito por suicídio é três vezes mais frequente entre meninos do que entre meninas;
  • Os americanos nativos são o grupo com maior risco, seguidos pelos meninos de etnia branca;
  • As meninas de etnia hispânica são as que mais apresentam ideação suicida, mas não de óbitos; e
  • A taxa de suicídio entre meninos negros é a que vem aumentando mais dramaticamente.
A orientação sexual também parece ser mais um fator que contribui para o suicídio entre jovens. Aqueles que apresentaram experiências homossexuais ou transexuais precoces apresentam 17% e 42% mais tentativas de suicídios que seus pares heterossexuais. É importante que se reconheça que a orientação sexual não é uma causa do aumento das tentativas de suicídio, mas a ocorrência destes fatores externos nas vidas destes jovens representa um fator de estresse muito significativo. Estes jovens frequentemente sofrem de assédio, abuso e não encontram apoio em suas famílias ou escolas. A maior parte das escolas secundárias não dispõe de programas de suporte atuantes para estes indivíduos.

Atenção aos sinais de suicídio

Uma pesquisa internacional demonstrou que uma das estratégias mais eficazes para redução do suicídio deve incluir a informação dos sinais de depressão aos médicos e redução do acesso às armas. Por causa disso, um número cada vez maior de escolas médicas está fornecendo informações abrangentes a respeito da prevenção do suicídio para seus alunos. O ensinamento destes sinais de alerta é considerado um “treinamento guardião”, que assegura que o comportamento suicida será levado a serio de forma que as intervenções apropriadas devem acontecer. Este treinamento também enfatiza que este trabalho deve ser realizado em equipe e que nunca se deve manter o conhecimento de um comportamento suicida em sigilo.

De acordo com os estudos de autópsia, 90% dos casos de jovens falecidos por razão de suicídio apresentam pelo um transtorno mental detectável. Entre estes, os mais comuns são os transtornos de humor, os transtornos de conduta, o abuso de substancias e a ansiedade. Os guardiões devem estar atentos dos riscos associados a estes transtornos e ensinar a identificá-los. Também é importante que os guardiões estejam atentos aos principais eventos precipitadores que podem levar um jovem a por em prática seus planos suicidas. Os principais eventos precipitadores, em ordem de importância, são graves discussões com os pais, término de romances, problemas de disciplina ou legais, humilhação e perda. Os sinais de alerta para os médicos são:
  • Declarações verbais ou por escrito a respeito da morte, de morrer ou de não querer viver;
  • O fascínio pela morte ou pelo ato de morrer;
  • Presentear bens desejados e estimados ou fazer um testamento; e
  • Modificações dramáticas no comportamento ou na personalidade, tais como negligenciar a aparência e isolamento dos amigos e família.
Fatores de proteção contra o suicídio

Os fatores que indicam proteção para o risco de suicídio são:
  • Acesso aos serviços de saúde mental;
  • Relações positivas com a escola;
  • Famílias estáveis;
  • Envolvimento religioso;
  • Falta de acesso à armas letais;
  • O reconhecimento da importância de procurar auxílio de um adulto;
  • Boas relações com seus pares; e
  • Ter capacidade de resolver problemas e superar dificuldades.
Estes fatores protetores podem ser agrupados em internos e externos. Os primeiros incluem a capacidade de lidar com o estresse, tolerância à frustração, crenças religiosas e a ausência de psicose. Entre os fatores externos destacam-se o apoio social, as relações terapêuticas positivas e a responsabilidade com os outros e com animas de estimação.

Rastreamento de depressão

O rastreamento de depressão é uma intervenção geral que foi realizada entre um grande numero de estudantes secundaristas. Os programas que são mais amplamente aceitos são o Signs of Suicide (SOS) e o TeenScreen, desenvolvidos pelas Universidades de Harvard e Columbia. Ambos os programas têm dados de pesquisa bastante esperançosos e demonstraram uma correlação entre o aumento do comportamento de buscar auxílio de um adulto e a redução das tentativas de suicídio. Este fato é especialmente importante, pois os estudantes suicidas frequentemente comentam com seus colegas a respeito de seus planos, mas demoram em buscar auxilio de um adulto ou de um profissional. Os dois programas partem do princípio de que os estudantes responderão sinceramente as perguntas a respeito de suicídio. De fato, esta também é a experiência deste autor em mais de 30 anos de trabalho com jovens suicidas. A limitação dos programas de rastreamento de depressão é que o jovem pode não ser um suicida quando foi aplicado o questionário, mas se acabar se tornando posteriormente. Contudo, estes programas ensinam os alunos aonde devem ir para procurar ajuda para si próprio (ou para um amigo) caso se tornem suicidas posteriormente.

O que fazer se você suspeitar que um jovem é um suicida?

O autor Joiner sugere que o suicídio geralmente não é a primeira escolha do adolescente. Eles preferem desenvolver esta idéia através de experiências provocativas, tais como acidentes, traumatismos, autoflagelação, desordens alimentares e exposição à dor ou sofrimento. Muitos destes comportamentos podem ser levados aos médicos e estes devem estar atentos não apenas às estratégias de tratamento destes comportamentos, mas também ao potencial de agravamento deste paciente. A questão do suicídio deve ser abordada de cabeça erguida. Apesar do questionamento a respeito de suicídio em um paciente jovem causar ansiedade em qualquer profissional, é importante reconhecer que o questionamento a respeito de ideação suicida não planta esta idéia na cabeça do paciente. É importante que se aborde o assunto de maneira confortável e mediante treinamento, leitura da literatura e após consultar outros colegas. Recomenda-se uma abordagem tranquila e cuidadosa, com planos de ação previamente estabelecidos caso o paciente se torne um suicida iminente. Estes planos requerem o conhecimento dos recursos locais de saúde e as recomendações para uma internação à revelia. As três perguntas seguintes ajudarão a determinar quais são os próximos passos a serem tomados para o tratamento e para a supervisão:

  • Você já tentou cometer suicídio alguma vez? (esta é uma pergunta crucial, pois o jovem que já tentou se matar tem um risco maior de tentar novamente em comparação com aquele que nunca tenha tentado.)
  • Você está pensando em cometer suicídio agora? (Os jovens que admitem a ideação suicida no presente são classificados como de alto risco.)
  • Você tem algum plano sobre como você poderia acabar com a sua vida? (Os jovens que têm um plano de suicídio e os meios para executá-lo são considerados com um risco maior. Recomenda-se que eles sejam mantidos sob supervisão até que sejam transferidos para os cuidados de seus pais ou de um terapeuta.)
É importante que se mantenha uma postura neutra, sem julgamentos ou declarações como “isso não pode ser tão ruim assim” ou “você nunca deve fazer isso”. Uma abordagem que auxilia bastante seria fazer com que aquele jovem enxergasse as alternativas possíveis e dar ciência à ele (ou ela) dos recursos disponíveis em sua comunidade (como a linha direta national suicide crisis, 1-800-SUICIDE, por exemplo). PS pacientes podem ser solicitados a assinar um acordo de não agressão, mas não existem dados de pesquisas científicas que comprovem a eficácia destes contratos ou se eles servem apenas para reduzir a responsabilidade do profissional. Contudo, recomenda-se que o contrato seja apenas uma parte da intervenção e não deve substituir nem a supervisão nem o tratamento. Os pais destes jovens devem ser informados a respeito das tendências suicidas de seus filhos, salvo existam indícios de que o paciente esteja sendo vitima de abuso por parte de seus pais. Neste caso, as autoridades competentes e os serviços de proteção devem ser informados. O principal objetivo desta notificação é determinar como cada um pode trabalhar em conjunto para que se obtenha a supervisão e o tratamento necessários. Caso o paciente tenha mencionado seu método particular de suicídio, devem ser tomadas as medidas necessárias para que o paciente não tenha acesso a estes métodos. As armas de fogo continuam sendo a principal forma de suicídio entre jovens. Às vezes, infelizmente, os adultos permanecem relutantes em retirar ou esconder as armas de fogo que possuem mesmo após terem sido informados de que seu filho apresenta risco de suicídio. Um adolescente de Houston comentou em seu bilhete de adeus para seus pais: “por que vocês tornaram tudo tão fácil e deixaram estas armas tão acessíveis?”. É muito importante documentar a notificação feita aos pais; também se recomenda que os pais assinem um formulário que indique que foram notificados a respeito da possível emergência relacionada com o suicídio de seu filho,bem como fornecer informações para referência.

Conclusões

A prevenção do suicídio é uma tarefa muito desafiadora para os médicos. A avaliação dos fatores de risco se baseia em um julgamento clinico após a revisão dos fatores de risco e de proteção e de realizar um questionamento direto a respeito das idéias e atos suicidas. Os médicos desempenham um papel ímpar ao promover o tratamento de saúde mental aos adolescentes de sua comunidade e ao participar dos grupos de trabalho que trazem os líderes comunitários para participarem em um trabalho preventivo. A ideação suicida entre adolescentes frequentemente é situacional e a intervenção dos médicos pode fazer toda a diferença. É de fundamental importância se sentir confortável em abordar o tema de maneira direta quando algo não parece estar correto. Um jovem rapaz que sobreviveu após saltar da ponte Golden Gate declarou que ele não saltaria até que alguém reparasse em sua agitação. Ele andou pela ponte por 45 minutos e ninguém reconheceu seu desespero ou lhe disse nenhuma palavra, então ele saltou. Ele tem sorte e sobreviveu para nos indicar que devemos estar mais atentos e, dessa forma, fazer a diferença. Com relação ao caso da pequena cidade do meio oeste norte-americano, uma vez que os médicos se sentiram mais à vontade com o tema suicídio e foram treinados a respeito do que procurar e que perguntas deveriam fazer, tornaram-se capazes de identificar e ajudar qualquer pacientes sob risco prevenindo a ocorrência de futuros suicídios.

Fonte: http://www.medcenter.com/Medscape/content.aspx?LangType=1046&menu_id=593&id=20844

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Novamente a depressão em cena...

O considerado "mal do século", a depressão tem estado em pauta, em discussão na mídia, nas rodas de conversa, mas ainda de forma insuficiente, face à gravidade da extensão da sua incidência e das consequências de sua atuação corrosiva na vida de milhões de pessoas.

Daí a necessidade de artigos-alerta como este abaixo, de publicação recente, que aqui transcrevemos.

Depressão pode levar à morte?

Joel Rennó Jr.

Esta é uma pergunta simples e direta - aparentemente-, porém, requer uma reflexão aprofundada.

Hoje, sabemos que a depressão não tratada pode piorar o curso e o tratamento de vários quadros clínicos como diabetes, hipertensão, processos infecciosos, AVC (acidente vascular cerebral), infarto agudo do miocárdio (IAM), entre outros. Em suma, um paciente deprimido não tratado corretamente, pode ter maiores riscos de agravamento e recorrência de sua doença clínica de base.

Vários tipos de neoplasias (cânceres) também pioram em pacientes deprimidos. Há estudos que tentam correlacionar com as mudanças do sistema imunológico, entre inúmeros outros fatores, além é claro, do impedimento que a depressão significa no tratamento do câncer. Tratamentos radioterápicos e quimioterápicos tornam-se muito mais dolorosos e penosos em deprimidos.

A adesão é extremamente dificil. Portanto, seja pela depressão em si, ou por uma consequência da mesma como desânimo, desinteresse, apatia, inércia, sentimento de desesperança, aumento da dor, entre outros, com a piora da evolução do quadro clínico, há riscos de vida.

Muitos quadros de depressão grave podem também levar a emagrecimento excessivo (pela perda do apetite ou interesse em comer), com riscos de desnutrição e distúrbios hidroeletrolíticos (sais minerais, como hipopotassemia) que podem causar convulsões e arritmias cardíacas.

Há trabalhos científicos que demonstram que a depressão, em si, independentemente de outros fatores associados, pode ser uma das causas diretas de morte súbita em pacientes cardiopatas.

Por fim, o risco de suicídio é significativo em depressões graves, constituindo-se em uma das principais causas de morte em pacientes deprimidos. O suicídio é uma das 10 maiores causas de morte em todos os países, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), e uma das três maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 35 anos.

As pesquisas demonstram que entre 40% a 60% dos pacientes que cometeram suicídio procuraram o médico no mês anterior. Portanto, identificar, avaliar e manejar pacientes suicidas é uma importante tarefa do médico, que tem um papel fundamental na prevenção do suicídio. O risco de suicídio em pessoas com transtornos de humor (principalmente depressão) é de 6 a 15%. Um detalhe significativo e que serve de alerta: 60% dos pacientes deprimidos procuram tratamento com clínicos gerais e não com psiquiatras. Portanto, os médicos generalistas devem estar muito bem preparados também.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/depressao_saude.htm

domingo, 5 de julho de 2009

Suicídio e Juventude na Suiça

Jovens fazem prevenção ao suicídio de jovens

"O suicídio é um problema, não uma solução" e não adianta querer ignorá-lo. Com esse lema, a organização Stop Suicídio, de Genebra, está lançando uma grande campanha de prevenção.

Na faixa etária dos 14 aos 25 anos, o suicídio é a principal causa de morte na Suíça.

Cartazes como o desta página e outros serão espalhados por Genebra nas póximas semanas. Heverá tamém espetáculos teatrais, musicais, cinema, leituras de textos e uma marcha silenciosa para encerrar a campanha idealizada por Stop Suicídio, a primeira organização suíça de jovens que se dedica à prevenção do suicídio de jovens.

A organização foi fundada em Genebra, em setembro de 2000, quando da passeata silenciosa de estudantes de um colégio depois do suicídio de um de seus colegas.

"O suicídio não é apenas um problema médico mas de toda a sociedade é e preciso romper o silêncio em que está envolvido", afirma Florian Irminger, secretário da Stop Suicídio.

«Existe um amanhã!»
Lema da campanha Stop Suicídio.

Muro de resistência

"Nosso objetivo é informar e sensibilizar a população dessa chaga social e informar os jovens em questão sobre as possibilidades de ajuda que existem", explica Pauline Borsinger, responsável da campanha.

No anúncio de lançamento da campanha, a ex-deputada estadual Fabienne Bugnon falou das dificuldades que encontrou nos anos 90 quando tentou abordar a problemática do suicídio de jovens nas escolas e no Parlamento estadual de Genebra.

"Encontrei um muro de resistência e até colegas deputados disseram que isso era problema para enfermeiras e médicos", disse a deputada. "Ainda bem que as coisas evoluem principalmente graças também ao trabalho dos jovens da Stop Suicídio."

Realmente, certas pesquisas indicam que a publicidade de atos suicidas de pessoas conhecidas pode causar o fenômeno da idolatria, reconhecido inclusive pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Não culpabilizar os pais

Pesquisas mais recentes demonstram, no entanto, que falar do suicídio tende a dissuadí-los. Pesquisadores da Universidade Columbia, em Nova York, questionaram 2342 adolescentes de 13 a 19 anos e concluiram que o fato de se exprimir provoca uma descaraga emocional. Por outro lado, o grupo que não questionado respondeu que é ninguém se interessa por seus problemas.

Em todo caso, um dos aspectos que a campanha insiste é que "o suicídio não é um ato de coragem" e que também é importante não culpabilizar os pais.]

Estimativas alarmantes

Não existem estudos sistemáticos sobre o suicídio de jovens mas o Dr.Patrick Haemmerle, psiquiatra especialista em adolescentes em Fribourg, estima que "a cada três dias há um suicídio entre adolescentes e jovens adultos", na Suíça.

"Trata-se de um absurdo porque, em teoria, o suicídio é uma causa de morte evitável", afirma o psiquiatra. Na mesma categoria existiriam 15 a 20 mil tentativas de suicídio por ano.

Maja Perret, membro do Centro de Estudos e de Prevenção do Suicídio (CEPS), em Genebra também defende a mesma posição da Stop Suicídio.

"Durante muito tempo, pensávamos que era melhor não falar para evitar o efeito Werther, uma multiplicação de suicídios por imitaçáo. Hoje sabemos que a prevenção é uma questão de política sanitária que afeta todo mundo".

swissinfo, Claudinê Gonçalves

Fonte: http://www.swissinfo.ch/por/swissinfo.html?siteSect=105&sid=5782078&cKey=1116003691000

PS.: mais dois artigos sobre o suicídio na Suiça podem ser acessados:

sábado, 4 de julho de 2009

De Coimbra, Portugal, reflexões sobre os jovens e o suicídio


Suicídio Juvenil
Falar desta “solução permanente para problemas temporários”ainda é tabu. O suicídio entre os jovens afecta quem não vislumbra alternativa para lidar com problemas emocionais, com o insucesso escolar e com as dificuldades económicas. O fenómeno é complexo e implica um trabalho conjunto de prevenção, envolvendo a escola, a comunidade, serviços de saúde e de apoio social.
“Cheguei a pôr várias vezes a hipótese do suicídio”. A expressão é partilhada por jovens que debatem o “suicídio sem dor”, num fórum na Internet. Pelos comentários, percebe-se que são cada vez mais os jovens que já estiveram de alguma maneira ligados a um dos mais sérios problemas de saúde pública: o suicídio.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define suicídio como um “acto deliberado, iniciado e levado a cabo por um indivíduo com pleno conhecimento ou expectativa de um resultado final”. Carlos Braz Saraiva, psiquiatra responsável pela Consulta de Prevenção de Suicídio nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), estabelece as diferenças entre suicídio e para-suicídio: “O para-suicídio está mais ligado à sobrevivência, pois a pessoa em princípio não quer morrer” enquanto “um suicídio só é suicídio se ocorrer morte”.
O, também, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) esclarece que “uma coisa é a ideação de morte onde pode haver, inclusive, uma questão filosófica ou de inquietação própria da juventude sobre o que é viver e o que é morrer, e outra coisa é a ideação suicida onde existe um plano de auto-aniquilação”. Daniel Sampaio, médico e coordenador do Núcleo de Estudos do Suicídio (NES), refere no seu livro Tudo o que temos cá dentro, que “o suicídio é uma estratégia, às vezes uma táctica de sobrevivência quando o gesto falha, tudo se modifica em redor após a tentativa” e de acordo com o especialista está “Maria”, nome fictício, que aos 17 anos tentou suicidar-se. Hoje, passados dois anos, está “a recuperar amigos que se afastaram porque ficaram em choque”.
Ajuda ao alcance de todos
Em Coimbra, não há dados estatísticos que permitam quantificar as tentativas de suicídios entre os jovens que estudam no Ensino Superior, embora sejam conhecidos diversos casos entre a comunidade universitária, diz Braz Saraiva. Para ajudar os estudantes que se encontram em situações de perturbação emocional e comportamental foram criados, há dez anos, o Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (GAP-SASUC) e o Gabinete de Psicologia dos Serviços de Acção Social do Instituto Politécnico de Coimbra (GP-SASIPC). Para além dos alunos, auxiliam também docentes e funcionários das respectivas instituições. A média de idades entre os dois gabinetes difere. No Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos SASUC a faixa etária situa-se nos 24 anos, já no Gabinete de Psicologia dos SASIPC são maioritariamente estudantes de 22 anos que recorrem aos serviços.
Quanto à afluência aos serviços do GP-SASIPC a psicóloga responsável pelo gabinete, Helena Moura, refere que “a lista de espera está sempre a aumentar”. Já a psicóloga do GAP-SASUC, Ana Carvalhal de Melo, revela que o gabinete tem “um número de consultas elevado, chegando quase às mil consultas por ano”. As duas médicas estão de acordo quanto à necessidade de acompanhar os estudantes desde o seu ingresso no Ensino Superior. “Muitos alunos sofrem com o processo de transição da escola secundária para o ensino superior, mas é curioso porque os alunos do primeiro ano não nos procuram, são mais alunos do segundo e do terceiro ano”, afirma Ana Carvalhal de Melo. Helena Moura acrescenta: “Infelizmente há situações que só apanhamos no segundo ano e que se tivéssemos apanhado logo no primeiro ano não teriam sido tão graves”.
Ao depararem-se com casos mais problemáticos, os dois gabinetes de psicologia das instituições de Ensino Superior de Coimbra, encaminham os jovens para os Serviços de Psiquiatria dos HUC, que dispõe de uma Consulta de Prevenção do Suicídio (CPS), que não tem lista de espera e que visa prioritariamente observar jovens que cometeram tentativas de suicídio e que foram observados primeiramente na urgência. Segundo Braz Saraiva quem frequenta mais a CPS são as pessoas entre os 15 e os 24 anos. A maior parte dos casos de tentativas de suicídio que dá entrada nas urgências dos HUC deve-se a cortes e à ingestão de medicamentos ou tóxicos.
Tanto nos gabinetes de psicologia da Universidade de Coimbra (UC), como do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) e na Consulta de Prevenção de Suicídio do Serviço de Psiquiatria dos HUC, são maioritariamente raparigas que pedem ajuda. Embora a psicóloga do GP-SASIPC mencione que “surgem cada vez mais rapazes”. De acordo está a Linha SOS-Estudante que recebe mais chamadas de pessoas do sexo masculino.
“A Linha SOS-Estudante foi criada em 1997 com o objectivo de combater algumas falhas que um dos estudantes de Coimbra notou”, conta a vice-presidente da linha, Ana Margarida Teixeira. É uma linha telefónica de apoio emocional e prevenção ao suicídio, sendo ao mesmo tempo uma Secção Cultural da Associação Académica de Coimbra (AAC). Este projecto é actualmente constituído por 22 estudantes voluntários que receberam formação “tendo em conta algumas temáticas principais nomeadamente a prevenção do suicídio e outros temas mais recorrentes como a solidão e a sexualidade” como explica a vice-presidente da linha.
O reduzido horário de funcionamento, das 20h às 01h, deve-se, principalmente, ao insuficiente número de voluntários. A SOS-Estudante recebe em média três a cinco telefonemas por dia de Portugal Continental e Ilhas. “Um pouco contra os nossos objectivos iniciais, actualmente, a faixa etária que liga é dos 40 anos para cima”, afirma Ana Margarida Teixeira. Também contrariando os objectivos primários deste projecto, a maioria das chamadas rondam os temas da solidão e da sexualidade. A vice-presidente da linha afirma que a SOS-Estudante “tem pouquíssimas chamadas de suicídio e a nível de estatística em apenas um por cento das chamadas são identificados alguns factores de risco e outras coisas que levem a pensar numa ideação suicida”.
Exceptuando o Instituto Superior de Educação de Coimbra (ISEC) que às quintas-feiras recebe a psicóloga responsável pelo GP-SASIPC, a Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) é a única instituição do ensino superior da cidade que possui um espaço nas suas instalações para consultas de psicologia e que tem sempre uma psicóloga disponível para apoiar os seus estudantes. A responsável pelo serviço, Catarina Neves, revela que não existem muitos estudantes em risco de suicídio na escola e que “o facto do gabinete não estar num local muito movimentado ajuda a que os alunos venham conversar sobre os mais diversos temas principalmente entre os meses de Fevereiro e Julho”.
Problemas emocionais e escolares
As causas mais apontadas pelos jovens que recorrerem aos serviços de psico-terapia são, essencialmente, os problemas afectivos e escolares. Ana Carvalhal de Melo refere que os motivos que levam os estudantes a entrar em situações de risco são “problemas de ordem emocional (rupturas afectivas/depressão), insucesso escolar e suas consequências (a nível da auto-estima), problemas de autonomia e problemas económicos”.
O Gabinete de Psicologia dos SASIPC acompanha, actualmente “talvez uns três estudantes em risco de suicídio, embora com graus e riscos diferentes”. O Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos SASUC, segundo Ana Carvalhal de Melo, não tem estudantes em risco declarado de suicídio já que, nesses casos, “os jovens são encaminhados imediatamente ou para as urgências ou para a Consulta de Prevenção de Suicídio dos HUC”. “Aquilo que pode acontecer é algumas das pessoas que estão a ser seguidas em situação de crise tentarem o suicídio”, refere.
Quanto às épocas em que recebem mais pedidos de ajuda os dados divergem. “Apesar de haver algumas oscilações em determinados meses do ano não é estatisticamente significativo”, afirma Carlos Braz Saraiva. Helena Moura refere que “na altura da Queima das Fitas há sempre um ou outro caso mediático” e Ana Carvalhal Melo garante que “existem épocas do ano em que a procura é maior e situa-se à volta de Fevereiro, Março e também em Maio, Junho e Julho”.
Os estudantes suicidas “são normalmente pessoas impulsivas, com uma pobre auto-estima, que não conseguem visualizar ou pensar em alternativas para resolver os seus problemas e portanto o suicídio aparece como solução”, segundo a psicóloga do Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos SASUC. Esta técnica acrescenta ainda que “existem sempre factores de personalidade que estão por trás destas situações catastróficas”. “Maria”, explica que quando tentou pôr fim à vida, penso que “era uma opção que à partida ia resolver os meus problemas e me ajudava a parar de pensar em tudo”. Braz Saraiva adianta no seu mais recente livro Estudos sobre o para-suicído que o perfil é o de “uma jovem estudante, classe baixa ou média-baixa, problemas afectivos ou escolares, com mau relacionamento familiar, [...] história familiar de doenças psiquiátricas”. São também, em grande parte, estudantes deslocados que recorrem aos gabinetes de psicologia da UC e do IPC.
Estar alerta
Em 1999, Daniel Sampaio alertava na revista "Adolescentes" para a eventualidade do bem-estar de um jovem poder “esconder um grande sofrimento interior, que só uma relação de maior proximidade poderá detectar”. “Acima de tudo estar atento”, é assim que a vice-presidente da Linha SOS-Estudante define o que deve uma pessoa fazer quando repara que um amigo está a pensar em suicídio. Helena Moura realça a importância das amizades e adianta que “devemos recorrer aos amigos e aos familiares e se mesmo assim virmos que não conseguimos ultrapassar os problemas, devemos pedir ajuda a técnicos”. Já Ana Carvalhal de Melo aconselha a que se converse com o potencial suicida e a “nunca tratar o suicídio como tabu”. “Foram os meus amigos que me estenderam a mão e me arrancaram da angústia em que estava”, conta a estudante “Maria”. O responsável pela CPS dos HUC sintetiza: “No fundo, há duas regras básicas que são: criar proximidade e encontrar alternativas”.
No entanto, é importante realçar que os jovens têm mais à vontade para falar sobre os seus problemas com os psicólogos e/ou psiquiatras, que são pessoas que não conhecem do que com amigos, familiares ou namorados/as. A psicóloga do Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos SASUC realça a visão imparcial do psico-terapeuta e explica da seguinte maneira esta tendência: “Quando alguém recorre a um psiquiatra ou psicólogo é porque procura alguém que tem bases teóricas e conhecimentos que permitam compreender essa pessoa e que está disponível para ouvir sem fazer juízos de valor nem julgamentos.”
O Núcleo de Estudos do Suicídio (NES) defende que a eficácia dos serviços de apoio depende da facilidade de acesso, proximidade, disponibilidade, divulgação e difusão para as comunidades a que se destinam. A consciência das limitações por parte dos gabinetes de apoio e a sua articulação com serviços de saúde especializados também contribuem para uma maior eficácia na prevenção do suicídio.
Prevenir é essencial
Para um psico-terapeuta, perder um paciente devido a um suicídio é “a maior angústia”, como explica Ana Carvalhal de Melo: “Alguém que trabalhe nesta área tem que se arriscar a que isso aconteça”, mas “é sempre uma ferida que fica. Cura-se mas a marca está lá”. Carlos Braz Saraiva conta que se sente “desconfortável” e que se interroga: “Será que fiz tudo o que deveria ter feito?”.
Porém o psiquiatra, comparando o nosso país com outros países do Mundo, revela que “em Portugal o suicídio do adolescente ou do jovem não é um problema tão dramático como noutros países, como por exemplo em Inglaterra” e adianta que existe sim o problema do suicídio dos idosos, mencionando que “em 2002, pela primeira vez, suicidaram-se 60 adolescentes em Portugal. Mas suicidaram-se por exemplo mais de 500 ou 600 idosos. Portanto, dez vezes mais”.
A prevenção do suicídio é bastante importante e programas de prevenção que trabalhem várias dimensões como a assertividade, a autonomia e a confiança, vão fazer com que os jovens se tornem mais capacitados para lidarem com as várias situações e problemas que vão encontrar nos seus quotidianos. Braz Saraiva refere que o suicídio abrange “fenómenos que são complexos e multi-determinados: “Muitas vezes, aquilo que se verifica é que estes jovens, à semelhança da sociedade actual, lidam muito mal com três factores: o tempo, o poder e os afectos em geral”. Para o professor da FMUC, os jovens actualmente não estão “programados para perceber que há cinzentos entre o preto e o branco”. Também Helena Moura realça que deve existir “prevenção em todos os níveis” enumerados por Braz Saraiva, no seu livro Estudos sobre o para-suicídio: comunidade, saúde, escola e política social.
A psicóloga do GP-SASIPC defende o desenvolvimento de projectos nas residências e entre alunos: “Ainda há muito a fazer e nem é preciso dinheiro, é preciso é tempo e vontade”. Ana Carvalhal de Melo realça a importância do programa de apoio “pares por pares”. Este é um programa relativamente inovador que já foi experimentado noutros países e que para a psicóloga “faz muito sentido pois são alunos que recebem formação básica, que têm um acompanhamento especial por parte do Gabinete e que apoiam e orientam em particular outros colegas”. A psico-terapeuta do GAP-SASUC alerta para a necessidade de existirem programas de prevenção a nível do ensino superior e defende que para prevenir o suicídio deve-se “procurar fomentar as relações inter-pessoais dos alunos, ajudando-os a serem mais auto-afirmativos, mais assertivos, a comunicar com os outros quando têm problemas e a conseguirem reclamar pelos seus direitos sem serem agressivos. Isto a nível pessoal pode ajudá-los a sentirem-se mais fortes, a conseguirem resolver os seus problemas com mais facilidade e portanto o suicídio nem lhes passa pela cabeça como solução”.
Como comenta um jovem no fórum onde se debate o “suicídio sem dor”: “Há sempre uma solução, há sempre algo de belo pelo qual vale a pena viver
Fonte: http://oaquieagora.blogspot.com/2009/07/suicidio-juvenil.html

Suicídio em estudo em quatro cidades gaúchas

Projeto estuda os índices de suicídio em 4 regiões

Os municípios de Candelária, Santa Cruz do Sul, São Lourenço do Sul e Venâncio Aires foram escolhidos para a implantação do projeto Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio. A definição das cidades ocorreu pelos altos índices registrados no Rio Grande do Sul. O estudo, solicitado pelo Ministério da Saúde à Universidade de Estácio de Sá (RJ), quer identificar se existe relação entre os suicídios e os agrotóxicos utilizados pelos agricultores no tabaco, pois os óbitos são geralmente registrados por pessoas que residiam no interior e trabalhavam com a fumicultura.

O município de Candelária sediou segunda e terça-feira a 3ª oficina sobre Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio. O encontro, que contou com a presença de representantes da área de saúde de diversos municípios, mostrou diagnósticos levantados nestas quatro cidades e foi realizado na AABB. A primeira oficina aconteceu na cidade de Santa Cruz do Sul nos dias 31 de março e 1° de abril. Já a segunda realizou-se em Porto Alegre nos dias 4 e 5 de maio.

O secretário de Saúde de Candelária, Aristides Feistler, diz que o município se ofereceu para sediar este terceiro encontro por entender a importância da elaboração deste trabalho. “A informação de que os suicídios têm relação direta com os agrotóxicos utilizados nas lavouras de fumo é empírica, pois até agora nenhum estudo comprova isso cientificamente”, explica.

Aristides afirma que o principal objetivo destes encontros é justamente identificar os verdadeiros motivos e desenvolver ações para prevenir e diminuir os índices. Enquanto a média nacional é de quatro homicídios para cada 100 mil habitantes, a proporção do município de Candelária em relação a este número chega a 24. Com base em atestados de óbito da Secretaria de Saúde, em 2005 o município registrou 5 casos de suicídio, sete em 2006, quatro em 2007 e seis em 2008.

Fonte: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=115626&intIdEdicao=1819