quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Bullying e suicídio

Bullying passa a ser acompanhado por pediatras nos Estados Unidos

Especialistas querem acompanhar tanto vítimas quanto agressores. Ideia é tentar achar maneiras de prevenir e corrigir comportamento.

Perri Klass Do 'New York Times'
Na década de 1990, realizei exames físicos em um garoto da quinta ou sexta série da rede pública de ensino de Boston (Costa Leste dos EUA). Perguntei a ele qual era sua matéria preferida: ciências, definitivamente. Ele tinha ganhado um prêmio na feira de ciências e iria competir em uma feira com várias outras escolas.

O problema é que havia algumas crianças na escola perturbando-o diariamente por ele ter ganhado a feira de ciências. Ele era provocado, empurrado e, ocasionalmente, até agredido. A mãe do menino balançou a cabeça e se perguntou se a vida dele seria mais fácil se ele deixasse para lá essa coisa de feira de ciências.

O "bullying" (assédios e provocações) produz reações fortes e altamente pessoais. Eu me lembro do meu próprio sentimento de ofensa e identificação. Ali estava uma criança bastante inteligente, amante da ciência, possivelmente um futuro (insira aqui seu gênio favorito), atormentado por brutos. Isso foi o que fiz pelo meu paciente: aconselhei a mãe a telefonar para o professor e reclamar. Encorajei o menino a seguir com seu amor pela ciência.

Essas são três coisas que eu sei que deveria ter feito: não contei à mãe que o bullying pode ser evitado, e que isso depende da escola. Não chamei o diretor ou sugeri que a mãe o fizesse. Não pensei um segundo sequer nos provocadores, e qual seria o prognóstico para a vida deles.

Contra os bullies
 
Nos últimos anos, pediatras e pesquisadores dos Estados Unidos têm dado aos bullies (provocadores) e suas vítimas a atenção que, há tempos, eles merecem – e recebem na Europa. Ultrapassamos a ideia de que "crianças são assim mesmo", de que o bullying é uma parte normal da infância ou o prelúdio de uma estratégia de vida de sucesso. Pesquisas descrevem riscos no longo prazo – não só para as vítimas, que podem ter mais tendência a sofrer de depressão e pensamentos suicidas, mas aos próprios provocadores, que têm menos probabilidade de concluir os estudos ou se manter no trabalho.

No mês que vem, a Academia Americana de Pediatria irá publicar a nova versão de uma diretriz oficial sobre o papel do pediatra na prevenção da violência entre os jovens. Pela primeira vez, haverá uma seção sobre o bullying – incluindo uma recomendação para que escolas adotem um modelo de prevenção, desenvolvido por Dan Olweus, professor e pesquisador de psicologia da Universidade de Bergen, Noruega. Ele foi o primeiro a estudar o fenômeno do bullying escolar na Escandinávia, na década de 1970. Os programas, disse ele, "funcionam na esfera escolar, de classe e individual; eles combinam programas preventivos e lidam diretamente com as crianças identificadas como provocadoras, vítimas, ou ambos".

Robert Sege, chefe do ambulatório de pediatria do Boston Medical Center e principal autor da nova diretriz, afirma que a abordagem de Olweus concentra a atenção no maior grupo de crianças, aquelas que observam a tudo. "A genialidade de Olweus", disse ele, "é que ele consegue reverter a situação da escola. Assim, as outras crianças percebem que o provocador é alguém com problemas em controlar seu próprio comportamento, e a vítima é alguém a quem eles podem proteger".

O outro autor, Joseph Wright, vice-presidente sênior do Children's National Medical Center, em Washington, e presidente do comitê da academia pediátrica de prevenção à violência, observa que um quarto de todas as crianças relata ter se envolvido em bullying, seja como provocador, seja como vítima. Proteger as crianças de lesões intencionais é uma tarefa central para pediatras, disse ele, e a "prevenção do bullying é um subconjunto dessa atividade".

Repetição
 
Por definição, o bullying envolve repetição. Uma criança é repetidamente alvo de provocações ou ataques físicos – ou, no caso do chamado bullying indireto (mais comum entre garotas), rumores e exclusão social. Para um programa antibullying de sucesso, a escola precisa entrevistar as crianças e descobrir os detalhes – onde e quando isso ocorre. Mudanças estruturais podem ajudar a lidar com lugares vulneráveis – o cantinho do playground fora da vista, o portão de entrada da escola na hora da saída.

Então, disse Sege, "ativar os observadores" significa mudar a cultura da escola; através de discussões em sala, encontro de pais e respostas consistentes a cada incidente, a escola deve transmitir a mensagem de que o bullying não será tolerado.

O que eu devo perguntar na hora do check-up? Como vai a escola, quem são seus amigos, o que você faz no recreio? É importante abrir a porta, especialmente para as crianças na faixa etária mais provável para o bullying, para que vítimas e observadores não tenham medo de falar. Os pais dessas crianças precisam ser motivados a exigir que as escolas ajam, e os pediatras provavelmente precisam estar prontos para falar com o diretor. Nós devemos acompanhar a criança, a fim de garantir que a situação melhore, além de verificar a saúde emocional dela e buscar ajuda, se necessário.

E ajudar os provocadores, que também são, afinal, pacientes pediátricos? Alguns especialistas temem que as escolas simplesmente suspendam ou expulsem os agressores, sem prestar atenção a uma forma de ajudá-los e às suas famílias a aprender a viver de outra forma. "As políticas de tolerância zero das escolas distritais estão, basicamente, empurrando o problema para frente", disse Sege. "Temos de ser mais sofisticados."

A forma como entendemos o bullying mudou, e provavelmente mudará ainda mais. Por exemplo, nem mencionei o cyberbullying. No entanto, todos que trabalham com crianças precisam começar com a ideia de que o bullying tem consequências a longo prazo e é evitável. Eu ainda sentiria a mesma raiva, em nome do meu paciente vencedor da feira de ciências, mas agora eu vejo seu problema como uma questão pediátrica – e espero ser capaz de oferecer um pouco mais de ajuda, um pouco mais de acompanhamento, com base apropriada em pesquisas científicas.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1196656-5603,00-BULLYING+PASSA+A+SER+ACOMPANHADO+POR+PEDIATRAS+NOS+ESTADOS+UNIDOS.html

Terapia adequada à prevenção do suicídio


... da série de postagens que ficaram guardadas na seção de rascunho deste blog e que sobreviveram por serem interessantes, a despeito da época em que deveriam ter sido publicadas...

Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio

4out2009

Acceptance and Commitment Therapy: model, data, and extension to the prevention of suicide
Steven C. Hayes; Jacqueline Pistorello; Anthony Biglan

RESUMO
Este artigo brevemente descreve a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), seus modelos subjacentes e as evidências que defendem a sua eficácia. Fornecendo exemplos de como esta terapia pode ser estendida para o tratamento de outros distúrbios, este trabalho assim inclui no âmbito da ACT a prevenção do suicídio e sua ideação. Ambos o modelo e suas técnicas aplicadas são empiricamente comprovados, o que sugere que outras extensões podem ser feitas de forma segura.

Palavras-chave: Terapia de Aceitação e Compromisso, Mediação, Prevenção, Suicidalidade.

http://psicologizar.wordpress.com/2009/10/04/terapia-de-aceitacao-e-compromisso-modelo-dados-e-extensao-para-a-prevencao-do-suicidio/

Cabeleireiros são treinados para evitar suicídios em Belfast


... da série de postagens que ficaram guardadas na seção de rascunho deste blog e que sobreviveram por serem interessantes, a despeito da época em que deveriam ter sido publicadas...
Cabeleireiros e taxistas na cidade de Belfast, na Irlanda do Norte, estão sendo treinados para poder identificar pessoas que possam estar tendo pensamentos suicidas e dar apoio psicológico a elas para que não se matem.
Alguns funcionários de lojas e centros de busca de empregos na cidade também estão recebendo treinamento em noções básicas de psicologia para a prevenção de suicídios.
Todos esses profissionais foram escolhidos para receber o treinamento porque, em geral, realizam trabalhos durante os quais os clientes gostam de conversar e se abrir.
Neste verão, a cidade de Belfast teve 30 suicídios em apenas seis semanas.
O treinamento é dado pela organização beneficente PIPS especializada em aconselhamento psicológico para prevenção de suicídios.
“É como primeiros-socorros para pessoas que possam estar em risco de suicídio. Muitas vezes elas acham difícil conversar sobre seu problema com alguém conhecido, e acham mais fácil conversar com um estranho, e esse estranho pode ser o cabeleireiro,” diz Claire James, da PIPS.
Os organizadores acreditam que o projeto de Belfast possa ser usado em outras cidades com altos números de suicídios.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Atitude exemplar na mídia: o caso do jornal "A Notícia", de Joinville-SC

"Informar é transformar" é o propósito assumido pelo jornal "A Notícia", do Grupo RBS.

Trata-se de um posicionamento estratégico cujo objetivo é "produzir informação com objetivo de contribuir para a transformação da sociedade".

Neste contexto é que se inserem as matérias jornalísticas sobre o suicídio veiculadas pelo jornal.

Como complemento o Grupo RBS mantém suas diretrizes alinhavadas e disponíveis no Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística.

Marina Andrade, editora-chefe, explica, na prática, o título da matéria em que estão divulgadas estas informações: Falamos sobre suicídio, mas com o propósito de transformar.
Entre a tarde de quarta e a madrugada desta quinta-feira, um incidente envolvendo um homem que ameaçava cometer suicídio no último andar de um shopping na área central de Joinville resultou na interdição de ruas — uma delas por quase 12 horas.
Mesmo estando ciente da situação desde o início da ocorrência, o "AN" decidiu por noticiar o fato após o desfecho da situação. A escolha teve como base o impacto causado na comunidade e o objetivo foi contribuir para a atuação das equipes de salvamento e minimizar possíveis impactos de uma divulgação.
O suicídio é um tema delicado, mas que não está vetado do nosso veículo. Tratamos do assunto de forma propositiva, com foco na prevenção e superação, como exemplificado nas reportagens abaixo.
Uma das reportagens, abaixo, em destaque, é um primor de jornalismo e de projeto gráfico.
Reportagem especial sobre suicídio traz dados, histórias e dicas de prevenção
Que outros jornais sigam nesta trilha!




domingo, 13 de dezembro de 2015

Citação que vale por um prêmio!

Grato à Karina Okajima Fukumitsu pela sua generosidade!

Aproveitando, eis o link para a Revista Brasileira de Psicologia, em que este artigo e outros integraram o volume II do dossiê “Suicídio: Prevenção e posvenção no Brasil: estudos brasileiros”.




Reflexão breve e oportuna

Meses coloridos 
Gabriel Novis Neves

Não sei como nem de onde surgiu a ideia de iluminar monumentos públicos importantes com cores que significam alguma mensagem.

Estas estratégias coloridas alertam, principalmente, para algumas doenças importantes que necessitam de prevenção precoce, como o câncer de mama e o de próstata.

Desconhecia ser o amarelo um apelo visual para a prevenção do suicídio. Em grandes tragédias nacionais ou mundiais, também os monumentos de maior visibilidade são iluminados.

Recentemente grande número de cidades do mundo tiveram seus pontos de maior referência iluminados com as cores da França, em sinal de solidariedade ao brutal atentado sofrido pela capital mais charmosa do planeta Terra, com um saldo de cento e trinta mortos, até o momento, e centenas de feridos.

Eventos festivos como o Natal, conquista de campeonatos e outros, são motivos para os monumentos receberem coloração adequada à festa.

No caso do suicídio, a Dra. Rosylane Rocha, do Conselho Federal de Medicina (CFM), entende que a sua prevenção é um pouco complicada, pois ele é tratado como um tabu pela sociedade. Diz ela: “o suicídio é o desfecho de uma doença física ou mental e pode ser prevenido quando falamos sobre o assunto”. Para ela é de suma importância a divulgação deste tema.

De acordo com a cartilha elaborada pelo CFM para prevenção de tal ato, motivado por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio é considerado transgressão às leis divinas, o que dificulta um diálogo aberto sobre o tema.

Como entender homens e mulheres bombas que praticam o suicídio por razões religiosas?
É difícil saber distinguir, diante desse quadro, o certo do errado.

A verdade é que nos últimos dias acordamos sempre com notícias de suicídios por motivações religiosas, nas mais diversas nações do mundo.

Por enquanto, esses ataques terroristas estão limitados a países europeus e asiáticos. Ameaças estão sendo feitas também aos países do continente americano.

Como prevenir esses suicídios, geralmente praticados por jovens?

Com que cores deveremos iluminar permanentemente os nossos monumentos para que a paz volte a reinar entre os homens?

Fonte: coluna deste autor no jornal eletrônico Folhamax, de Cuiabá.
www.folhamax.com.br/opiniao/meses-coloridos/69541

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Preconceito e dificuldade em falar de suicídio são obstáculos à prevenção


Paula Moura
Colaboração para o UOL 
08/12/2015

Doenças mentais estão presentes em 90% dos casos de suicídio, segundo o estudo mais atual da OMS (Organização Mundial da Saúde), realizado em 2002. Já a ABP (Associaçã
o Brasileira de Psiquiatria) fala em quase 100% dos casos estarem relacionadas a doenças mentais. Entre essas doenças, os transtornos de humor - depressão e transtorno bipolar (alternância entre estado depressivo e de euforia) - lideram as mortes, com 35,8%. Entretanto, o preconceito e a dificuldade em falar no tema ainda são entraves para a prevenção.

"A depressão muda a visão de mundo, a pessoa deixa de acreditar na possibilidade de melhora, não vê luz no fim do túnel", explica Neury Botega, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de pesquisa que mostra que 17% da população já pensou em suicídio no Brasil. "Quando, além da depressão há o desespero, surge uma dor psíquica insuportável, vista como interminável. A ideia de suicídio, antes assustadora, pode passar a ser vista como uma saída para cessar a dor."

Cerca de 25% da população brasileira já teve um ou mais transtornos mentais ao longo da vida, diz a ABP. Já a OMS estima que 350 milhões de pessoas de todas as idades (4,7% da população mundial) sofrem de depressão em todo o mundo. Devido à alta abrangência da doença, a depressão é a doença mental mais associada ao suicídio, diz a ABP. "Infelizmente, há pessoas que ainda igualam a depressão – uma doença – às tristezas que podem surgir no dia a dia. São coisas completamente diferentes. Há sim um estigma, e o estigma dificulta a decisão de buscar ajuda", lembra Botega. Ainda de acordo com a ABP, cerca de 50% a 60% das pessoas que se suicidaram nunca consultaram um profissional de saúde mental.

Mas isso não quer dizer que todos os deprimidos vão cometer suicídio, enfatiza Alexandrina Meleiro, professora da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da ABP. São necessários diversos fatores conjuntos para se chegar ao suicídio -- problemas financeiros, como a perda do emprego; problemas conjugais, como uma separação; dificuldades relacionadas à aceitação da orientação sexual pela pessoa e pela sociedade; no caso de adolescentes, o desarranjo familiar é decisivo, além do modo que a pessoa leva a vida (se leva tudo para o extremo, 8 ou 80), por exemplo.

Na entrega do Oscar deste ano, a documentarista Dana Perry ofereceu o prêmio ao filho que se suicidou aos 15 anos e tinha transtorno bipolar. "Nós precisamos falar em alto e bom tom sobre o suicídio", disse em seu discurso ao ganhar a estatueta por um documentário sobre atendimento telefônico de prevenção ao suicídio para veteranos de guerra e suas famílias. Logo após o discurso, o apresentador da cerimônia, Neil Patrick Harris, fez uma piada sobre o vestido de Dana, talvez por não saber o que dizer diante do tema. Na mesma cerimônia, o roteirista Graham Moore revelou que tentou se matar aos 16 anos e ofereceu o prêmio aos jovens que sentem que são diferentes e que não se encaixam. "Sim, você se encaixa. Continue diferente. E quando estiver aqui, passe a mensagem adiante".

Fator genético

Há também o fator genético: pessoas com pais que se suicidaram têm quatro vezes mais chances de desenvolver comportamento suicida, explica Alexandrina. Mas ela diz que se a pessoa se cuida, não passa grandes traumas ou estresses, é possível levar uma vida normal mesmo tendo pais que se mataram.

A professora diz que, em casos de suicídio, observa-se a redução da produção de serotonina, o que prejudica as sinapses entre neurônios, pois essa substância é um neurotransmissor que regula o humor. "Se estamos felizes, é sinal de que os neurônios estão funcionando convenientemente. Esse equilíbrio faz com que tenhamos vontade de fazer as coisas", explica. "Se por motivos externos ou biológicos a produção de neurotransmissores cai, os receptores não recebem a informação, e a pessoa fica desanimada, de mau humor, nem consegue realizar qualquer outra atividade com prazer."

Humberto Correa, vice-presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia, salienta: "tem o componente genético, tem a vulnerabilidade social, mas precisa ter um gatilho", diz. Segundo ele, os gatilhos para pessoas deprimidas podem ser uma situação estressante como separação conjugal, perda de trabalho, morte de pessoa próxima, entre outros.

Álcool e drogas são fatores de risco

No mundo, o abuso de álcool e drogas é responsável por 22,4% das mortes; transtornos de personalidade (como borderline, antissocial e psicopatia) ocorrem em 11,6% dos casos; esquizofrenia, em 10, 6%. "Se há uma combinação de dois fatores, como transtorno de humor e abuso de substâncias, o risco aumenta", diz Alexandrina.

O álcool e drogas são perigosos porque atuam como depressores do sistema nervoso, o que pode favorecer a tomada de atitude de tirar a própria vida. Por outro lado, pessoas deprimidas podem fazer uso dessas substâncias para tomar coragem de praticar o suicídio.

O psiquiatra Teng Cheng Tung, professor da USP, lembra que as chamadas drogas de abuso - o que inclui o álcool -  lesionam o cérebro, e isso pode fazem com que uma pessoa desenvolva algum problema psiquiátrico; além disso aqueles que já têm momentos depressivos e pensamentos suicidas podem ganhar a impulsividade ao consumir drogas. "As drogas aumentam a impulsividade, especialmente o álcool e a cocaína, que são usados para obter estados de euforia." O médico explica que a maior parte dos suicídios e tentativas de suicídio são atos impulsivos. No caso da maconha e outras drogas, Tung diz que o uso crônico também pode trazer impulsividade.

É preciso melhorar a formação de médicos

Se por um lado 800 mil pessoas morrem por ano em suicídios no mundo (0,01% da população mundial), a maioria dos casos pode ser prevenida com condições mínimas de oferta de ajuda voluntária ou profissional e com o tratamento das doenças mentais, dizem os especialistas. Tratar a doença psiquiátrica de base é essencial, diz Tung. "Pode ser só alcoolismo, alcoolismo associado à depressão, só depressão etc. A psicoterapia é fundamental, assim como a prevenção de curto prazo, que é o Centro de Valorização da Vida (CVV)." Para os médicos, os melhores resultados são obtidos com o uso de medicamentos combinados com psicoterapia.

O preconceito e o estigma são os maiores obstáculos à prevenção do suicídio. O tabu em torno do tema leva a diagnósticos subestimados e medo de abordagem do tema por pessoas próximas. "É preciso melhorar o diagnóstico psiquiátrico e também a formação dos médicos que não são psiquiatras. Muitas vezes, os pacientes se sentem mais à vontade para falar com outros profissionais da saúde", diz Tung. Segundo a ABP, 80% das pessoas que se suicidaram procuraram um médico não-psiquiatra um mês antes de morrer.

Grupos mais vulneráveis

Além disso, é necessário dar maior atenção às pessoas que já tentaram o suicídio uma vez, pois a chance de voltar a tentá-lo é de 50%, alertam os médicos. "Para quem já tentou uma vez, procurar ajuda psiquiátrica e/ou psicológica [deve ser] o mais rápido possível", diz Correa. Uma crise suicida dura de minutos a horas e é muito importante socorrer a pessoa rapidamente.

Os chamados "sobreviventes do suicídio", ou seja, parentes e amigos de alguém que faleceu por essa causa, também devem receber tratamento e apoio. "Eles precisam trabalhar para no futuro não virem a repetir o comportamento em um momento de dificuldade", diz Alexandrina. Pessoas de 15 a 29 anos e acima de 70 anos também estão entre os casos de maior número de mortes. 


http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/12/08/o-preconceito-e-o-estigma-sao-os-maiores-obstaculos-a-prevencao-do-suicidio.htm

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Os que sobrevivem ao suicídio de alguém...

Sobreviventes, família e amigos lidam com a dor


Carina Reis
creis@jj.com.br

Família e amigos também são afetados diretamente pelo autoextermínio. De acordo com a psiquiatra Maria Cristina de Stefano, autora do livro “Suicídio: A Epidemia Calada”, cada suicídio acarreta um sofrimento intenso em pelo menos quatro pessoas ao redor. “O que pode levar a depressão desses sobreviventes. O mais difícil para quem fica é entender que não tem culpa e conseguir superar a morte dessas pessoas”, afirma.

A psiquiatra viveu na pele essa sensação, quando seu filho, de 32 anos, optou pela morte em 2012. “Ele era muito fechado e ninguém entendeu. Só quando eu li seus diários é que compreendi o quão prejudicado seu estado mental estava. Mas não pude ajudar. O processo de superação é lento e doloroso, para mim e para meu outro filho, mas precisa ser superado.”

Segundo ela, é comum que a pessoa desestabilizada comece um processo de despedida antes de cometer o ato. “Ele inicia uma série de despedidas e nessas ocasiões até faz pequenas brincadeiras, supostamente sem intenção, dizendo ‘vim visitá-lo porque não sei se estarei vivo amanhã’. Em geral nós tendemos a levar essas frases na brincadeira. E nem sempre é.”

Nesse caso, a orientação da médica é perguntar se a pessoa está bem, se aconteceu alguma coisa para pensar assim, se precisa de ajuda.

Maria Cristina explica que o questionamento é, na verdade, uma proteção posterior para o próprio familiar. “Pode não ser o suficiente para impedir o suicídio, mas sim para que, caso aconteça, esse familiar ou amigo não se sinta culpado por não ter levado a sério.” Em sua experiência, ela destaca dois estágios em um paciente: aquele que tem a ideia de tirar a própria vida e aquele que já está planejando como fazê-lo.

Fonte: www.jj.com.br/noticias­23426­sobreviventes­familia­e­amigos­lidam­com­a­dor

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Reportagem exemplar sobre a prevenção do suicídio

Três ‘D’s indicam risco de suicídio

Carina Reis
creis@jj.com.br

Depressão, desespero e desesperança. Os três ‘D’s apontados pelo psiquiatra e especialista em terapia comportamental, Lucas Gabriel Maltoni Romano, são os principais sintomas apresentados por uma pessoa com pensamentos suicidas. Segundo ele, o ato de tirar a própria vida é desencadeado por uma sequência de fatores.

“Nunca está associado a uma só questão. É a associação da doença mental com uma mudança radical na vida e outros estímulos. É importante, portanto, ficar atento a esse comportamento desesperançoso, desesperado e depressivo”, alerta o médico.

Por ano, quase 12 mil brasileiros cometem suicídio, segundo avaliação apresentada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) na semana passada. Dados mundiais são ainda mais alarmantes: a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. A perspectiva é que até 2020 um surto de casos faça dobrar a quantidade de suicídios e é isso que os profissionais de saúde mental querem evitar.

Lucas Romano explica que mais de 90% das pessoas que cometeram o autoextermínio sofriam de transtornos mentais. “Depressão é a principal dessas doenças e também a que requer mais cuidado. Uma pessoa depressiva já precisa de atenção redobrada. Na sequência de risco também encontram-se pessoas que sofrem de transtorno bipolar e de esquizofrenia.”

Outro fator que precisa ser levado em consideração é o uso e abuso de substâncias psicoativas. “Drogas e, principalmente, o álcool. Quando associamos depressão e álcool o quadro se agrava e potencializa.”

Especialista em Saúde Mental pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a psicóloga Daniele Muzaiel Gimenez alerta, ainda, para o risco de reincidência na tentativa de suicídio. “O maior fator de risco é a pessoa já ter tentado tirar a própria vida. Isso aumenta consideravelmente a chance de tentar novamente. Um ‘acting out’, ou seja, uma tentativa de suicídio sem êxito é um sinal de alerta para a existência de profundo sofrimento que precisa ser cuidado tanto pela família como por amigos e pela equipe de saúde multidisciplinar.”

De acordo com Daniele, embora a faixa etária mais reincidente no total absoluto de suicídios seja acima dos 65 anos, nos últimos dez anos o percentual entre jovens aumentou em intensidade alarmantemente, mais de 40% entre os brasileiros de 15 a 29 anos. “E as motivações são diferentes em cada idade. O idoso, muitas vezes, por ter sofrido perdas significativas, pode deixar de ver sentido na vida ou se culpa por não querer ser um peso para os familiares. O adolescente, por sua vez, está em busca da construção de sua identidade, questiona princípios e valores sociais, pode apresentar instabilidade de humor e comportamentos impulsivos quando angustiado, diz.

“Temos, ainda, o adulto jovem, aquele com até 30 anos, que também passa por uma fase de transição, deixa a casa dos pais, busca emprego e estabilidade social. A busca por atender padrões sociais faz com que este adulto se depare com faltas inerentes à condição humana, vistas, porém, como fracasso insuportável desperta angústias e profundas cobranças internas e, até mesmo, inconscientes.” avalia a psicóloga.

Todos esses fatores são vistos como possíveis desencadeadores de sofrimento e sintomas. “É a união entre os fatores de risco e as motivações internas que leva a passagem ao ato. Um adulto jovem, por exemplo, que faz uso problemático de álcool, está desempregado, desmotivado, e diz algo como ‘estou sem esperanças’, pode estar fazendo um importante pedido de ajuda.”

Em Jundiaí, o Grupo de Apoio à Vida (GAV) iniciou recentemente uma campanha intensa por ter notado um aumento na quantidade suicídios cometidos na cidade. Três casos foram registrados em apenas um fim de semana de setembro deste ano. “Nós percebemos que aumentou muito e iniciamos uma divulgação em massa do nosso telefone. Nosso trabalho é na prevenção do suicídio por meio de atendimentos telefônicos para ouvir a pessoa que está passando por uma dificuldade e quer desabafar”, comenta Maria Bernadete Carneiro, coordenadora do GAV. Os atendimentos acontecem na Av. dos Ferroviários n° 2222 ou pelo telefone (11) 4521-4141.

Rupturas

Lucas Romano considera particularmente perigosos eventos de rompimento como mudança de status social causada por desemprego e término de relacionamentos. “Mudar o status econômico é um fator grave de risco. A pessoa está acostumada a algo e de repente precisa rever sua vida, seus costumes, seu padrão. Outra situação alarmante é a perda da estabilidade emocional causada por uma separação de casal.”

A psiquiatra Maria Cristina de Stefano acrescenta que familiares e amigos podem estar atentos à mudança emocional das pessoas. “Se for criança ou adolescente, é possível observar um desinteresse na escola, tanto com relação à aula, quanto aos amigos. Passa a dormir muito ou não dormir nada, comer muito ou deixar de comer.” No caso de adultos, outros aspectos são analisados. “Ele passa a faltar no trabalho e não ligar para regras profissionais e sociais. E, principalmente, quando passa a falar que a vida não vale a pena, esse é o momento de oferecer ajuda.”

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Prevenção do suicídio no Mato Grosso do Sul: para brancos e indígenas...

Os índices alarmantes do suicídio de brancos e indígenas no Mato Grosso do Sul tem preocupado os profissionais da saúde e os políticos.

Abaixo as duas notícias, em sequência.

CAMPO GRANDE JÁ REGISTROU 598 TENTATIVAS DE SUICÍDIO SÓ EM 2015, REVELA SESAU

Dados alarmantes sobre suicídio em Campo Grande chamaram atenção de autoridades e especialistas durante audiência

Em Audiência Pública realizada na manhã desta quarta-feira (18) na Câmara Municipal, dados alarmantes sobre o suicídio em Campo Grande chamaram atenção de autoridades e especialistas que debateram ações de prevenção deste ato que, só em 2014, ceifou 53 vidas na Capital.

Representando a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), a enfermeira do Núcleo de Prevenção de Violências, Laura Maria Souza de Linhares afirmou na Audiência que foram registrados 53 óbitos e 750 tentativas só no ano passado. Em 2015 já foram registradas 598 tentativas até o mês de outubro. “Cada ano tem um crescimento tanto nas tentativas quanto nos suicídios. São dados que podem ser maiores, pois muitos familiares têm vergonha de dizer que a pessoa se matou e não registram o suicídio. O suicídio em 90% dos casos é evitável, não é uma morte que a pessoa não demonstra sinais. 90% das pessoas evidenciam sinais, em ações ou falas, alertando sobre a possibilidade de suicídio. O suicídio responde pela terceira causa de morte em 2014 dentre as causas externas. A tentativa também é a 3ª violência mais registrada. Ou seja, ser humano está em sofrimento, este é um problema complexo. A principal faixa etária que pratica o suicídio é o jovem de 15 a 34 anos. O setor de saúde desempenha papel fundamental nessa prevenção. Quando a pessoa tenta o suicídio ela chega a Unidade de Saúde 24 horas, que tem um assistente social, que é um grande diferencial, pois não é comum nos outros municípios, que faz o acolhimento do paciente e seus familiares. E então ele é encaminhado para a rede CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). São seis CAPS em Campo Grande, sendo dois 24 horas. Este é um grave problema de saúde pública, com uma demanda bastante elevada, às vezes tem uma fila, mas elas são priorizadas no atendimento”, afirmou.

Em seu pronunciamento, o professor e pesquisador do Hospital Universitário e capelão do Corpo de Bombeiros, Edílson dos Reis revelou que “quando um caso de suicídio é notificado, quatro outros não são, então esse número de 598 suicídios em 2015 é muito maior. É triste quando vemos crianças de 10 anos tentando suicídio, um adolescente de 14 anos querendo tirar a própria vida e uma menina de 12 anos que quer por fim à vida. Essas crianças estão dentro das unidades escolares. Na UFMS temos condições de capacitar os professores a trabalharem com a prevenção ao suicídio. Precisamos trazer isso como pauta. Temos que marcar audiência com a ACP para começarmos esse discurso com os professores. A lei já foi sancionada e agora o que precisa é normatizarmos isso para capacitar os professores. Temos condições de capacitar eles e termos efetividade prática. Fazemos um Curso de Prevenção de Suicídio, que é o primeiro do Brasil. Estamos debatendo algo fantástico, que é a vida. Estamos criando o laboratório de luto, para trabalharmos essa questão de familiares que perdem pessoas para o suicídio”, disse.

Vale ressaltar, que os vereadores de Campo Grande aprovaram a Lei nº 5.613/15, de autoria do vereador Carlão, que dispõe sobre a implantação de medidas de prevenção ao suicídio nas escolas municipais de Campo Grande MS, a qual foi sancionada e publicada no Diário Oficial no dia 30 de setembro deste ano.

A assistente social do Setor Psicossocial de Apoio ao Servidor Penitenciário, Maria Roseneuza dos Santos salientou que “o suicídio é assunto delicado, é um tabu. Vejo um assunto permeado pelo preconceito. No âmbito da segurança pública o suicídio é o ápice, o ponto culminante da depressão de forma trágica. Lidamos com a depressão de forma errada e muito preconceituosa. A gente protege, a depressão ou é frescura ou não é coisa de homem. Com isso estamos suscitando para que tudo isso aconteça Este é um problema da nova geração, a geração do tudo pronto, que não está disposta a construir e com a falta do construir e o vazio se instala, culminando com o suicídio. Temos que romper esse preconceito, é uma coisa que deve ser levada a sério”, disse.

Para o coordenador de divulgação do Grupo Amor Vida-GAV (antigo CVV), Roberto Sinai, “o suicídio é um problema de saúde pública. Atendemos diuturnamente pessoas que nos ligam e não julgamos, não direcionamos, não aconselhamos. Ela fala sobre aquilo que incomoda. Não temos, nem somos profissionais da saúde mental, somos voluntários, com espírito de amor ao próximo, para oferecer o melhor que temos. Falar é a melhor opção, pois uma dor não compartilhada dói mais. Então damos à pessoa essa oportunidade do desabafo, de falar dos sentimentos dela, temos a certeza que naquele momento ela não vai se auto destruir”, afirmou

O Tenente Ivanaldo Ferreira dos Santos, que é capelão evangélico destacou que “O Exército preocupado com esse índice crescente de suicídio está implementando a nível nacional um projeto de valorização da vida para combate e prevenção do suicídio, com uma equipe multidisciplinar composta de psicólogos, psiquiatras, capelães militares, visando diminuir, evitar, conscientizar e orientar os militares para reduzir o índice alto de suicídio em toda sociedade”, destacou.

O psicólogo da Coordenadoria de Atendimento Psicossocial da Polícia Civil/CEAPOC/MS, Carlos Afonso Marcondes Medeiros atua há mais de 30 anos na profissão de psicólogo e afirmou que já conseguiu evitar que muitas pessoas praticassem o suicídio. “Estamos fazendo alguns trabalhos na Polícia Civil que poderiam ser ampliados para a sociedade. Temos o Projeto ‘Tira Solidário’, que trata do bom amigo, para que a corporação observe algum sinal de transtorno mental, de adoecimento, de sofrimento para fazermos uma abordagem, principalmente aqueles policiais que se acham super-homem. O policial tem um agravante: ele usa uma arma, ele pode usar essa arma contra si mesmo. Ouvir é muito importante, abordar a família, pois quem pode ajudar uma pessoa que está em sofrimento mental e ideação suicida, é quem está ao seu lado. Este grupo está atento, junto com os colegas observando, nos passando informação de que tem uma pessoa que não está bem”, disse o psicólogo destacando ainda que “política pública se constrói com discussão, com debate e reunião técnica. Temos que reunir os técnicos e fazer a rede, pois o trabalho de rede é fundamental para fazer a prevenção”, revelou.

A Audiência contou ainda com a participação de Jucinéia Costa, assistente social do Fundo de Assistência Feminina da PM; tenente José da Cruz Gomes de Araújo, capelão católico da 9° Região Militar do Exército, Giovana Guzzo, psicóloga representando o Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul; Veralice Carneiro Lima, presidente da diretoria administrativa do Grupo Amor Vida (GAV) e o coordenador de Defesa Civil de Mato Grosso do Sul, Coronel Isaías Ferreira Bittencourt.

Fonte: http://www.acritica.net/editorias/saude/campo-grande-ja-registrou-598-tentativas-de-suicidio-so-em-2015/157504/

DEFENSORIA PÚBLICA PARTICIPA DE REUNIÃO PARA PLANO DE COMBATE AO SUICÍDIO INDÍGENA

O levantamento mostra que entre as principais características das situações que causam o suicídio estão consumo abusivo de álcool e uso de drogas

Myllena de Luca 

A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul participou, na última sexta-feira (13), da reunião para discutir propostas de políticas públicas no combate ao suicídio na comunidade indígena. O encontro aconteceu na sede do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), da Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde.

Durante a abertura, a mestre em psicologia e responsável técnica da área da saúde mental do Dsei de Mato Grosso do Sul, Fabiane Vick, divulgou índice preocupante de suicídios que vem ocorrendo nas aldeias. “Nós temos uma das maiores populações indígenas do Brasil. São mais de 73 mil pessoas que vivem em 75 aldeias. Nos últimos 40 anos, as mortes por suicídio aumentaram 60% aqui em Mato Grosso do Sul. Para se ter uma ideia, no ano passado 48 índios tiraram a própria vida. Nesse ano, os números já somam 30 casos. Um deles é de um menino de 7 anos”, lamentou Fabiane.

De acordo com a assessoria, o levantamento feito pelo Dsei mostra que entre as principais características das situações que desencadeiam o suicídio ou a tentativa estão: consumo abusivo de álcool, o uso de drogas, desentendimento familiar e situação de vulnerabilidade. “Precisamos fortalecer as ações de promoção, prevenção e atenção a agravos relacionados à saúde mental, compartilhando responsabilidades e ações com as comunidades, profissionais de atenção primária e redes de apoio locais para a produção de cuidados que valorizem e potencializem a organização sociocultural de cada local e incentivem o protagonismo indígena”, disse a psicóloga.


A Defensora, que atua na 12ª Defensoria Cível de 2ª Instância, tem recebido diariamente casos que demonstram o desrespeito à comunidade indígena. “Nos últimos meses, recebemos processos da região de Ponta Porã, sul do Estado, em que 6 crianças indígenas foram retiradas de sua família natural e inseridas em lares com mães sociais não indígenas. A lei e a Constituição Federal garantem a essas crianças e adolescentes a preservação de suas identidades, e, portanto, lhes é garantido o direito de serem inseridas em famílias da mesma etnia e se possível na mesma comunidade”, finalizou.

Fonte: http://www.capitalnews.com.br/cotidiano/defensoria-publica-participa-de-reuniao-para-plano-de-combate-ao-suicidio-indigena/285358

sábado, 7 de novembro de 2015

Livro sobre saúde mental dos jovens em face da depressão e da ideação suicida será lançado

O emocional do jovem do século XXI apresentado a 13 de novembro

O livro da autoria de Helena Gonçalves Jardim intitulado "O emocional do jovem no século XXI"  será apresentado no próximo dia 13 de novembro, pelas 18:30h no Colégio dos Jesuítas - Universidade da Madeira. 

 A obra versa essencialmente a saúde mental dos jovens (depressão e ideação suicida) perante as conturbações financeiras, socio-culturais e económicas decorrentes da conjuntura atual, em consonância com o preconizado pela OMS em 2014 como um imperativo global a prevenção do suicídio e da depressão nos jovens a nível global.

 É um dos produtos da licença sabática de Helena Gonçalves Jardim, decorrida no ano lectivo 2014 – 2015, concebido a partir de uma pesquisa científica efectuada aos jovens estudantes, dos 12 aos 18 anos, das escolas básicas e secundárias da Região Autônoma da Madeira (Ilha da Madeira).

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Audiência pública na Comissão de Direitos Humanos, do Senado, trata do suicídio como questão de saúde pública

Antecedentes e contexto 

De autoria  dos senadores Hélio José, Cristovam Buarque e outros, o requerimento da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa nº 165, de 2015 foi elaborado no dia 9 de outubro de 2015 e menos de um mês depois houve o evento.

A ementa do requerimento é esta:

Requer que seja realizada, no âmbito desta Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, audiência pública para debater estratégias e políticas públicas de prevenção ao suicídio e de promoção da vida.

Sugerimos que sejam convidadas as seguintes pessoas para a mencionada audiência:

Antônio Geraldo da Silva – Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria;

Marcelo da Silva Araújo Tavares – Professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília;

Eveni Meireles Costa dos Santos – Representante do setor de Saúde Mental do Conselho Nacional de Saúde;

Lúcio Costa – Coordenador de Direitos Humanos de Saúde Mental, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;

Volnei Garrafa – Professor de Bioética da Universidade de Brasília;

Olga Oliveira – Médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal;

Alexandrina Maria Augusta da Silva Meleiro – Médica da Universidade de São Paulo;

Ana Beatriz Barbosa Silva – Psiquiatra, autora do livro "Mentes Perigosas".

Cobertura jornalística
Serviços de saúde mental precisam alcançar pessoas em crises ou desespero, diz professor da UnB
Este foi o título da chamada para o vídeo em que Lúcio Costa e Marcelo da Silva Araújo Tavares debatem o tema. Pode ser assistido aqui

A notícia

CDH debate com especialistas políticas públicas para prevenir casos de suicídio
Agência Senado

O suicídio é uma epidemia silenciosa e mata mais de 10 mil brasileiros por ano. A avaliação foi feita em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa nesta quinta-feira (5). O encontro discutiu com especialistas e autoridades governamentais as estratégias e políticas públicas desenvolvidas para prevenir os casos de suicídio no país.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. No Brasil, quase 12 mil pessoas se matam por ano e a tendência é de crescimento destas mortes entre adolescentes e jovens. Nos últimos dez anos, a taxa de suicídio cresceu mais de 40% entre os brasileiros de 15 a 29 anos. Os números, considerados alarmantes,  foram revelados na audiência pública. O autor do pedido, senador Hélio José (PSD-DF), lamentou que o suicídio ainda seja um tema cercado por tabus e preconceitos e disse que o problema representa uma epidemia no Brasil e no mundo.

— Muitos já falaram mas é preciso reprisar. Vivemos uma epidemia silenciosa. De fato é uma epidemia que está afetando muita gente perto da gente. Por isso é importante estarmos aqui discutindo este tema.

Os médicos e psicólogos participantes lembraram que há diversas oportunidades para salvar a vida de quem pensa em se matar e explicaram que é importante falar sobre o assunto e dar voz a quem sofre. Professor de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Tavares argumentou que as campanhas educativas e ações de prevenção são eficientes e defendeu que o suicídio deve ser tratado como um problema de saúde pública, com políticas e programas específicos.

— Nossos desafios são muito grandes. O contexto da prevenção do suicídio é muito mais amplo, requer que a gente pense nas nossas crianças, nos nossos adolescentes, nos nossos idosos, nas profissões de risco e nas pessoas que possam ter experiências agudas de sofrimento.

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) trabalha há 53 anos na prevenção do suicídio. A entidade atende vinte e quatro horas por dia no telefone 141, por e-mail ou bate papo na internet, no endereço www.cvv.org.br.

Fonte: http://www.jb.com.br/pais/noticias/2015/11/05/cdh-debate-com-especialistas-politicas-publicas-para-prevenir-casos-de-suicidio/

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Esperança...

HÁ, AINDA AGORA, UM BARQUINHO DE PAPEL SINGRANDO OS MARES... 

Ele decidiu partir e esqueceu-se de todos!

Rompeu todos os laços.

Difícil saber o que se passou.

Muitos choraram sua perda, certamente.

Eu mesmo o chorei por sabê-lo tão perto de mim.

Quantas pessoas e paisagens partilhamos?

Ele não se despediu, antes de romper o último fio de tempo...

Talvez desejasse voltar ao ventre da mãe. Talvez.

Ou quisesse zerar o relógio e reviver tudo outra vez, diferente.

Não gosto de pensar nele e nas feridas do luto, abertas.

Pensarei nele, então, assim:

...ele decidiu partir antes do tempo, é certo.

Não o julgarei por isso, nem quero saber se havia motivo.

Sei que ele retornará, pois as águas que o levaram o trarão de volta.

No ciclo das transmigrações, numa curva de tempo, ei-lo por aqui novamente! 

Os que ficamos louvaremos, agora e depois, sua sobrevivência à decisão tomada.

Ele aprenderá, como temos aprendido, como haveremos de aprender.

O Deus dos anjos há de ser também o seu Deus, compassivo e acolhedor.

Sua dor, que ecoa, há de ser entendida, um dia.

Enquanto isso, cuidarei de minha dor, que também grita.

Orarei por dores doídas, difíceis de entender.

Sei que ele está vivo e dói-lhe não ter sido compreendido.

Ele, um dia, há de se entender... Há de desejar viver. Há de retornar.

Construirei um barquinho de papel e nele estará escrito: “Esperança”.

A lembrança deste barquinho há de me fazer lembrar dele, sempre...

Abel Sidney
5out2015


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Suicídio é segunda maior causa de morte de mulheres jovens

Alguns sinais podem indicar depressão e tendências suicidas

O suicídio é a segunda maior causa de morte de mulheres jovens. Foram registrados 40 casos em 2014 só na cidade de São Paulo, de acordo com dados divulgados pelo Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim) com base em atestados de óbito de mulheres de 15 a 29 anos. A publicação do site Bolsa de Mulher destaca que os transtornos mentais estão entre as principais causas.

Teng Chei Tung, médico psiquiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que em cidades grandes a mulher tem mais chances de ter de pressão, pois o estilo de vida urbano é sobrecarregado e a pressão é muito grande. "Ela tem de cuidar da casa, dos filhos e trabalhar. Isso tudo piora a condição de saúde mental", disse em entrevista ao G1.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) reforça que o estudo e a discussão do assunto é uma das formas mais eficientes de prevenção, o que só é possível quando a população, os profissionais da saúde, os jornalistas e governantes têm informações suficientes para conduzir as medidas adequadas.

Ou seja, é muito importante dar atenção aos transtornos mentais e não tratá-los como tabu, já que, em 85% dos casos de suicídio, um tratamento poderia ter evitado que o pior acontecesse. O manual de prevenção do suicídio elaborado pelo Ministério da Saúde lista alguns sinais.

- Apresentar sinais de depressão ou dizer o tempo todo que está deprimida, mesmo que não aparente;

- Ter esquizofrenia, que leva a delírios, alucinações e comportamento desorganizado;

 - Transtornos de humor e/ou personalidade, como bipolaridade;

- Usar drogas ou álcool em excesso, o que aumenta a impulsividade e, com isso, o risco de se matar;

- Dizer com frequência que está pensando em desistir, que não consegue continuar;

- Apresentar sentimento de culpa, ódio por si mesmo, se sentir sem valor ou com vergonha;

- Ter passado por uma perda importante, como morte ou separação;

- Ansiedade, pânico, mudanças nos hábitos alimentares e no sono;

- Comportamento retraído e inabilidade para se relacionar com familiares e amigos;

- Sentimentos de solidão, desesperança e impotência;

- Doenças físicas crônicas que são limitantes ou dolorosas demais;

- História anterior de tentativa de suicídio;

- Escrever cartas de despedida ou organizar documentos e testamento.


Ao identificar a presença destes sinais, a recomendação é procurar ajuda especializada com um profissional de psicologia ou psiquiatria.

Fonte: http://www.noticiasaominuto.com.br/lifestyle/149291/suicidio-e-segunda-maior-causa-de-morte-de-mulheres-jovens

domingo, 18 de outubro de 2015

Quando a vida está por um fio, falar é a melhor solução

Pela primeira vez, campanha nacional discute abertamente o suicídio e formas de preveni-lo. Segundo o CVV, o melhor meio para evitar o gesto é dar voz a quem sofre.

Monique Oliveira e Mônica Tarantino 15/10/2015 

Nada torna mais fácil enfrentar a ideia de que alguém próximo ou mesmo um desconhecido cometeu suicídio. Usar expressões como tirar a própria vida ou ter vontade de morrer não deixam o tema menos doloroso. Conversar sobre o assunto é igualmente constrangedor. Como se fosse um desrespeito a quem se matou.

Mas todo o silêncio que cerca a questão protege uma realidade assustadora. No Brasil, segundo o Mapa da Violência do Ministério da Saúde, 25 pessoas tiram a própria vida por dia e outras 50 tentam fazê-lo. É um brasileiro que se mata a cada 45 minutos. A tendência já aparece em estudos acadêmicos. Um trabalho da Universidade Federal de Campinas mostrou que 17% dos brasileiros já pensaram seriamente em colocar um ponto final em sua vida. E o que é ainda mais preocupante – segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que há 53 anos se ocupa de atender pessoas em situação de vulnerabilidade que pensam em cometer suicídio – as taxas estão crescendo rapidamente entre os mais jovens no Brasil.



Trata-se de um problema de saúde mental de grande extensão e que, como tal, precisa ser abordado. Mas como ajudar a superar a vontade de se matar? Para as organizações de prevenção do suicídio e especialistas que atuam nessa área, o caminho mais imediato é começar a falar mais abertamente sobre esse drama. É, na verdade, o contrário do que a sociedade tem praticado ao permitir que os tabus acerca do tema se mantenham.
No começo de setembro, numa iniciativa pioneira, foi lançada a primeira campanha nacional para dessacralizar o assunto. O slogan não podia ser mais claro: “Falar é a Melhor Solução”.
Nos moldes de outros movimentos que associaram cores aos meses para associá-los aos seus temas, setembro é amarelo, bem como o lacinho de fita que, em vermelho, simboliza a luta contra o preconceito em relação às pessoas que vivem com Aids.  


O foco da campanha, idealizada pelo CVV, é combater a falsa ideia de que abordar o assunto pode servir de estímulo para que pessoas mais vulneráveis tirem a própria vida. Disseminado na sociedade e especialmente entre os meios de comunicação, esse prejulgamento levou jornais, revistas e a tevê a abordarem superficialmente o tema, quando o fazem. Um dos resultados dessa conduta retraída é a falta de informação para identificar quem está realmente em risco de se matar.

Na semana que em que trabalhávamos nesta reportagem, chegou-nos a notícia de que uma colega jornalista morrera subitamente aos 38 anos. Alguns dias depois do aviso, veio a informação completa: ela enfrentava uma grave depressão e, num momento de desespero, caiu da janela de seu apartamento durante a noite. O mundo, no entanto, via apenas seu sorrisão largo e suas conquistas profissionais. Mas há muitos outros casos de pessoas próximas. Como o da fotógrafa que, ao abrir a porta do quarto, e descobriu que o marido, que enfrentava enorme pressão profissional e estava deprimido, havia se suicidado. Ou do ex-colega de faculdade da Mônica que tomou querosene, aos 18 anos. Em todos esses casos, ninguém esperava que a pessoa cometesse suicídio. Se o assunto fosse menos estigmatizado e socialmente assumido, haveria mais dados disponíveis e pesquisas que ajudassem a identificar alguns sinais de que alguém possa chegar a atitude tão extrema? Os especialistas garantem que sim.

Com o suicídio, na prática, acontece o mesmo que ocorria no passado quando as pessoas queriam se referir aos pacientes com câncer e, mais recentemente, àqueles que vivem com a Aids. 
“As pessoas não diziam câncer, era comum ouvir ‘fulano tem aquela doença lá’. Era como se, ao dizer a palavra, a pessoa estivesse chamando a doença. Com o suicídio, acontece o mesmo hoje”, diz o psiquiatra Carlos Felipe D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio e ex-coordenador do Programa Nacional de Prevenção do Suicídio do governo. 
“É preciso dar visibilidade ao assunto porque indivíduos e familiares que estão enfrentando a situação se sentem muito isolados e não conseguem encontrar informações”, diz o psiquiatra.
O mote da campanha — falar abertamente sobre o suicídio — segue tendências internacionais e reflete a experiência dos especialistas na prática clínica. “Você vê profissionais de saúde que não conseguem abordar diretamente quem está sofrendo, mas é preciso perguntar na lata se a pessoa está com vontade de se matar”, diz Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “O que eu percebo quando faço essa pergunta é o alívio imediato no semblante dessa pessoa que está visivelmente sofrendo por não poder falar sobre o assunto.”

Os mais vulneráveis

O suicídio é um fenômeno complexo e tem causas diversas. De modo geral, no mundo, o grupo de maior risco é composto por homens com idade acima de 60 anos, de etnia branca, que vivem sozinhos, têm problemas financeiros, algum transtorno mental e já cometeram tentativas frustradas.

No Brasil, entretanto, as taxas mais altas do fenômeno ocorrem entre os jovens da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e da cidade de Teresina, no Piauí. São mais de 15 suicídios para cada 100 mil habitantes, enquanto a taxa média nacional é de aproximadamente 5,4 por 100 mil habitantes. No mesmo grupo se inserem os índios Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.

“Certamente, as razões que levam ao suicídio dos jovens de Porto Alegre e dos índios são muito diferentes e é preciso começar a abrir essa caixa preta. Precisamos entender as razões e elaborar uma estratégia específica em cada município”, diz Carlos D’Oliveira.

Entre os índios, os conflitos para permanecerem em suas terras, a perda dos seus locais sagrados, os conflitos com fazendeiros e o alto índice de alcoolismo ajudam a entender o fenômeno.

No Rio Grande do Sul, o município de Venâncio Aires é o local onde ocorrem mais suicídios no Brasil. A cidade registra um número de mortes comparável ao da Suécia e Dinamarca, na Escandinávia, países que já figuraram entre as mais altas taxas.

Muitas são as tentativas de entender o que se passa com alguém que é levado a se matar. Por que se matam os dinamarqueses? O único consenso é que as explicações são múltiplas e qualquer estratégia de prevenção deve considerar essas especificidades. Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul chegou a apontar os agrotóxicos como um importante agente das mortes por suicídio em Venâncio Aires. Outros disseram que o problema pode ser também cultural. Ali, a defesa da honra e “o não levar desaforo para casa”, argumentos muito usados para explicar as taxas elevadas de suicídio entre os japoneses, pode ser outra causa para o elevado número de casos. Entre os jovens de Teresina, pesariam as pressões sociais.

Países como Canadá, Suécia e Estados Unidos, entre outros países, traçaram políticas nacionais de prevenção. Na Inglaterra, por exemplo, dentro do plano de prevenção, os médicos do sistema de saúde procuram identificar sinais de depressão nos jovens para tratá-los.

A prevenção e o cuidado no Brasil 

Em termos de saúde pública, desde 2006 existe uma Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. O plano, no entanto, é alvo de críticas por sua implementação falha.

“Essa estratégia de prevenção não possui metas específicas nem um orçamento. Por isso, seria necessário um Plano Nacional de Prevenção”, explica Carlos D’Oliveira , que ajudou o Ministério da Saúde a elaborar a estratégia.

“No Brasil, continua tudo no papel. Hoje, você não encontra um leito para quem precisa de ajuda, seja por suicídio, seja por qualquer outro transtorno psiquiátrico”, diz Alexandrina Meleiro, da Unifesp.

O especialista Carlos D’Oliveira concorda. “Temos um problema grave de assistência. Uma pessoa que procura ajuda para qualquer problema, não encontra uma solução ou tem que voltar dali a meses. Com isso, é óbvio que ela vai ficando cada vez mais fragilizada.”

Em nota, o Ministério da Saúde informou à Saúde!Brasileiros que o País atualmente possui 2.241 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em funcionamento. Lá, segundo o ministério, o paciente recebe atendimento próximo da família, assistência médica especializada e todo o cuidado terapêutico conforme o seu quadro de saúde.

O Sistema Único de Saúde (SUS), explica a pasta, também disponibiliza medicamentos usados para o tratamento da depressão que, quando recomendados pelo médico, podem ser retirados gratuitamente.

A assistência deve ser abrangente. “Na prática, a atenção interdisciplinar é fundamental para abranger a complexidade do fenômeno”, diz a psicóloga Adriana Eiko Matsumoto, do Conselho Regional de Psicologia (CRP).  Ela enfatiza a necessidade da participação de diversos profissionais abordagem do indivíduo que tentou suicídio ou tem vontade de se matar. Nesse contexto, Adriana critica também a assistência baseada unicamente no uso de medicamentos. “O sofrimento psíquico é altamente medicalizado na nossa sociedade. Porém o uso de remédios isolado de outras formas de tratamento não dá conta de um contexto tão complexo como é o das pessoas com ideação suicida.” É necessário, segundo ela, um tratamento mais amplo que pode envolver terapia e engajamento em grupos, entre outras opções, para explorar as possibilidades do indivíduo em risco se vincular e melhorar.

O psiquiatra Nery José Botega, doutor em saúde mental e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Campinas, concorda que o tratamento necessariamente deve abranger diversas formas de intervenção para que seja efetivo. Um dos estudos citados por ele para respaldar a necessidade de uma linha de intervenção mais abrangente foi feito pela Organização Mundial de Saúde e teve a participação de oito países, incluindo o Brasil. Botega é também representante nacional na Associação Internacional de Prevenção do Suicídio.

No braço brasileiro do estudo, o trabalho observou 2238 pessoas que deram entrada em pronto-socorro do Hospital de Clínicas de Campinas (SP) por tentativa de suicídio. Elas foram divididas aleatoriamente em dois grupos: um de intervenção psicossocial com entrevista motivacional e telefonemas regulares e o outro para o tratamento usual, apenas com um encaminhamento para um serviço da rede pública.

“Ao final de 18 meses, a porcentagem de suicídio no grupo de tratamento usual foi dez vezes maior. Esses dados demonstram a necessidade de uma reestruturação na administração e tratamento do suicídio no Brasil”, afirma o psiquiatra Neury. Na prática, o Ministério da Saúde precisa transformar as diretrizes publicadas em seu plano de prevenção do suicídio publicado em 2006 em ações assistenciais.

Preconceito tem raízes históricas e psicanalíticas

Por que é tão difícil mencionar o suicídio? Uma das razões, segundo os especialistas, é que esse gesto deflagra sofrimentos difíceis de mensurar entre as pessoas que conviviam com a vítima.

Podemos ponderar, no entanto, que guerras, estupros, massacres e outras tragédias são também dolorosos. Apesar disso, a sociedade consegue discuti-los e pensar em estratégias para evitá-los.

Na visão do psicanalista vienense Sigmund Freud (1856-1939), o decoro na hora de usar certas palavras – como suicídio e demônio – indica que ali sobrevive um tabu. Por definição, tabu é algo que diz respeito a um fenômeno bendito ou amaldiçoado. Algo que, se for cometido ou incitado, conduzirá os envolvidos a um terrível castigo divino. Por extensão, falar sobre o assunto é uma violação do sagrado, uma aproximação do castigo.

O tabu do suicídio é histórico e está infiltrado em muitas instituições. No judaísmo, quem o pratica não tem direito aos ritos tradicionais e, no cemitério, seu túmulo deve ficar afastado dos outros. Na França e Itália, o suicida era enterrado na beira da estrada, afastado dos demais cristãos, até o século 18. Atentar contra a própria vida também já foi crime. Na Roma Antiga, soldados que tentavam se matar e não conseguiam eram punidos, vejam só, com a própria morte. A Inglaterra, por exemplo, foi o último país no mundo a descriminalizar a prática em 1961. No Brasil, não é crime, mas quem incita pode ser penalizado.

Entrevista: Carlos Correia, do CVV 

A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano, uma cada 40 segundos. O Brasil ocupa a oitava posição nesse triste ranking, segundo o CVV.

O grupo mais vulnerável ao suicídio, segundo o CVV, são homens idosos, mas a taxa está crescendo entre os jovens. De acordo com a OMS, o suicídio é a segunda maior causa de mortes na faixa etária entre 15 e 29 anos.

Saúde!Brasileiros, conversou com Carlos Correia, voluntário do CVV há 23 anos. Ele é um dos principais porta-vozes do grupo e um dos mentores da campanha “setembro amarelo”.

Saúde!Brasileiros: Como o Brasil está localizado hoje em relação ao suicídio?

Carlos Correia: O Brasil está na oitava posição em números absolutos relacionados ao suicídio. É uma situação grave, mas as taxas variam muito em todo o território. No Rio de Janeiro e no Nordeste, por exemplo, as taxas são baixas. No Sul, no entanto, chega a 15%. A cidade com mais casos de suicídio no Brasil é Venâncio Aires [município do Rio Grande do Sul].

Sabemos os motivos dessa distribuição?

Não temos informações específicas sobre isso, mas sabemos que o suicídio está relacionado em alguns grupos à disponibilidade e proximidade de “armas”. O agrotóxico é uma delas e armas de fogo também – o que leva, por exemplo, a serem altíssimas a taxas de suicídios entre policiais.

A depressão é uma das portas de entrada?

Ela é o principal fator de risco e também o mais negligenciado. A pessoa com depressão tem a sua situação agravada, por exemplo, se é chamada de preguiçosa em casa, acusada de não ser forte… Ainda há muito tabu e preconceito.

O suicídio é um tabu social, como foram o câncer e a AIDS?

Sim, e muito. Se depressão já é, imagine o suicídio. Primeiro, porque estudos mostram que cada morte por suicídio afeta diretamente de seis a oito pessoas que se sentem culpadas e ficam emocionalmente abaladas. Elas não recebem tratamento adequado e têm dificuldade de falar sobre o assunto.

Outro indício de tabu é o comportamento da imprensa. Os programas sobre o tema só passam tarde da noite e criou-se um consenso de que não se pode falar sobre suicídio porque isso serviria como estímulo a outras pessoas a fazerem o mesmo. O que não é indicado fazer é divulgar detalhes, nomes, mas é muito importante noticiar para estimular a prevenção.

Há algumas questões históricas envolvidas também. Em algumas religiões, a pessoa que se matou tem um serviço funerário diferenciado, não pode ser enterrada da mesma forma. Enfim, o tabu é um reflexo de vários setores da sociedade.

A campanha lançada pelo CVV enfoca a necessidade de falar sobre o suicídio. Por quê?

Porque é preciso quebrar tabus para prevenir. Nos anos 80, não se falava sobre camisinha, não se falava sobre Aids, justamente porque o medo era que, ao falar sobre isso, as pessoas seriam estimuladas a fazer sexo e, com isso, se pensava que a contaminação poderia ser maior. Com o suicídio, é preciso quebrar o tabu para prevenir e estimular a vida, é preciso oferecer afeto a quem está pensando sobre isso, é preciso estimular saídas. E, ao falar em saídas, ao oferecer afeto, você desestimula. O silêncio é pior.

Você acredita que se deve noticiar o suicídio? Em quais circunstâncias?    

Entendo que seja complexo, mas é preciso falar sobre o assunto. Há diferentes formas de noticiar, no entanto. Não é interessante divulgar a forma com a qual a pessoa se matou nem glamourizar o ato, já que alguns podem se sentir estimulados a virar notícia. Estimulamos que se fale especialmente das formas de prevenção.

Em qual faixa etária o suicídio é mais frequente e quem são as pessoas mais vulneráveis?

A taxa está crescendo entre os jovens, mas as pessoas que mais se matam são homens idosos. Outro grupo bastante vulnerável é aquele formado por quem já tentou o suicídio previamente. Os casos são altíssimos na primeira semana após uma tentativa frustrada. Por esse motivo, faz-se necessário um protocolo mais específico de prevenção nesse período para que a pessoa não vá para o hospital, tome um antidepressivo e seja liberada logo depois. É o que acontece atualmente.

Qual a principal estratégia de prevenção?

São muitos os caminhos. Estudos mostram que 90% dos suicídios poderiam ser evitados. A prevenção começa por termos o costume de fazer uma autoavaliação emocional. Medimos pressão e glicemia, mas não estamos acostumados a nos avaliar emocionalmente. Outro caminho é prestar atenção aos sinais e a não minimizar a situação quando as pessoas falam “eu vou sumir, “não consigo sair da cama”, “logo vocês vão se livrar de mim”“. São sinais de depressão?

Como se pode fazer a prevenção entre os mais jovens?

Olha, estamos prestando muita atenção aos casos de bullying. No Japão, por exemplo, o começo do mês de setembro é o período em que os jovens mais se matam e sabe por qual motivo? É a volta às aulas por lá. Os jovens agredidos que se sentiram aliviados durante as férias se veem aterrorizados pela volta das agressões.

Como se pode criar estruturas de proteção contra o suicídio para crianças?

Em crianças, pode se estimular uma educação emocional para a autoavaliação dos sentimentos. Perguntar em casa, por exemplo, como ela se sente, se está feliz, se não está. E, claro, estimular a conversa de modo geral, fazer com que esse indivíduo aprenda a falar dos seus sentimentos, a se abrir.

Pode dividir com a gente uma história emocionante do CVV nos seus 23 anos de trabalho?

Como voluntário, eu tinha muita dificuldade de lidar com pacientes terminais que queriam tirar a própria vida. Em um dos cursos, um homem apareceu. Ele disse que ajudamos a esposa dele no final da vida e queria retribuir, ser voluntário.

Ele disse: “Eu não sei o que vocês fizeram, mas a situação estava muito difícil lá em casa até que descobrimos o telefone de vocês. A minha esposa conversava com um voluntário, nunca ouvi, não sei do que se tratava, mas tudo fluiu bem melhor nos seus últimos dias.”.

Aquilo me emocionou e entendi o trabalho que estávamos fazendo. Recentemente, o depoimento da Cássia Kiss que usou o CVV e nos agradeceu publicamente também me emocionou.

[Carlos se emociona na entrevista. Na TV, a atriz deu o seguinte depoimento: “Certa vez, há muitos anos, precisei de ajuda especial. Tinha vontade de desaparecer. Chamei o CVV. Estou viva e integrada”].

O que fazer para se tornar um voluntário do CVV?

Basta entrar no nosso site. Estamos precisando muito de voluntários. Qualquer pessoa pode participar e oferecemos treinamento. O plantão é feito uma vez por semana durante 4h30 minutos.

Onde buscar orientação gratuita

CAPS – Centros de Atenção Psicossocial do SUS. O acesso é direto nos endereços.

CVV – Presta atendimento gratuito telefônico pelo número 141 e via chat pela internet para quem busca ajuda.

Para ler: Cartilha “Falando Abertamente Sobre Suicídio” no site do CVV.

Fonte: http://brasileiros.com.br/9UdZC

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A respeito do imperativo de cuidarmos uns dos outros e, principalmente, dos mais fragilizados!

O título é para chamar mesmo a atenção para o tema e para a obra abaixo indicado, leitura necessária aos pesquisadores e profissionais da área de saúde.

INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA (Dissertação de Mestrado)

RESUMO 
O enfrentamento das questões relacionadas ao suicídio se torna cada vez mais importante nos dias atuais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que quase um milhão de pessoas se suicida a cada ano, sendo um ato comum em todas a faixas etárias. O significativo aumento das taxas de suicídio e os apelos da OMS para que os países enfrentassem o fenômeno, considerando-o um problema de saúde pública, contribuiu decisivamente para que o Brasil se tornasse o primeiro país da América Latina a ter uma proposta de ação nacional voltada à prevenção do suicídio. O desafio da construção de uma política de atenção relacionada ao suicídio passa pela formação de profissionais sensíveis à magnitude do problema em nossa sociedade. Este trabalho tem por objetivos discorrer sobre formas de efetivação do cuidado à pessoa que tentou o suicídio, identificar capacitações profissionais voltadas para os trabalhadores que atendem a essa demanda e identificar componentes da rede assistencial que atendem a pessoas que tentaram o suicídio no Rio de Janeiro. Foi possível observar que a capacitação profissional é uma forma importante e adequada para dirigir a informação e a sensibilização aos profissionais de saúde que atendem as pessoas que tentaram ceifar as
próprias vidas.
Palavras-chave: Suicídio. Cuidado em saúde. Capacitação Profissional. 
Obra disponível aqui.

sábado, 10 de outubro de 2015

Palestra sobre crise suicida e providências primárias no Piauí

Reflexões sobre a crise suicida: providências primárias. Este foi o tema da palestra ministrada nesta sexta-feira, 9 de outubro de 2015, às 15h, para os profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da Prefeitura de Teresina.

A atividade aconteceu no auditório da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e foi proferida pela psicóloga Selena Mesquita.

De acordo com a psicóloga, a atividade teve por objetivo sensibilizar os profissionais dos CAPS sobre a prática do cuidar de pessoas que tenham transtornos mentais e que já tenham tentado o suicídio. “O tema suicídio é muito difícil de ser abordado junto à sociedade e também entre os profissionais de saúde. Daí a necessidade de dimensionar a problemática no Brasil e no Piauí, bem como falaremos sobre as principais formas de prevenção e cuidados”, explicou Selena Mesquita.

Durante a palestra a psicóloga abordou aspectos como:

          - Os estados emocionais frequentes na crise suicida;

          - As formas simples de colaborar com a prevenção, como auxiliar as pessoas a falarem sobre o assunto de forma correta para evitar o “efeito contágio”;

          - A postura dos profissionais de saúde diante da questão suicídio;
fatores de risco;

          - Como avaliar o risco;

          -  Quais as primeiras providências a serem tomadas;

          -  Transtornos mentais como principal fator de risco para o suicídio;
plano geral de amparo ao suicídio; 

          - Plano de segurança.

A palestra foi realizada pelo CAPS III dentro da programação alusiva ao Dia Mundial de Saúde Mental, lembrado em 10 de outubro.

Selena Mesquita é psicóloga, mestre em Psicologia, doutoranda do programa de Pós-graduação de Psicologia da Universidade de Fortaleza, integra o grupo de trabalho “Experiências Potencializadoras da Vida”. Vem pesquisando e atuando principalmente nos seguintes temas: prevenção do suicídio, envelhecimento, tempo social, cultura e contemporaneidade. Colabora com pesquisa sobre o suicídio de idosos no Brasil, desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ) desde 2010.