quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Bullying e suicídio

Bullying passa a ser acompanhado por pediatras nos Estados Unidos

Especialistas querem acompanhar tanto vítimas quanto agressores. Ideia é tentar achar maneiras de prevenir e corrigir comportamento.

Perri Klass Do 'New York Times'
Na década de 1990, realizei exames físicos em um garoto da quinta ou sexta série da rede pública de ensino de Boston (Costa Leste dos EUA). Perguntei a ele qual era sua matéria preferida: ciências, definitivamente. Ele tinha ganhado um prêmio na feira de ciências e iria competir em uma feira com várias outras escolas.

O problema é que havia algumas crianças na escola perturbando-o diariamente por ele ter ganhado a feira de ciências. Ele era provocado, empurrado e, ocasionalmente, até agredido. A mãe do menino balançou a cabeça e se perguntou se a vida dele seria mais fácil se ele deixasse para lá essa coisa de feira de ciências.

O "bullying" (assédios e provocações) produz reações fortes e altamente pessoais. Eu me lembro do meu próprio sentimento de ofensa e identificação. Ali estava uma criança bastante inteligente, amante da ciência, possivelmente um futuro (insira aqui seu gênio favorito), atormentado por brutos. Isso foi o que fiz pelo meu paciente: aconselhei a mãe a telefonar para o professor e reclamar. Encorajei o menino a seguir com seu amor pela ciência.

Essas são três coisas que eu sei que deveria ter feito: não contei à mãe que o bullying pode ser evitado, e que isso depende da escola. Não chamei o diretor ou sugeri que a mãe o fizesse. Não pensei um segundo sequer nos provocadores, e qual seria o prognóstico para a vida deles.

Contra os bullies
 
Nos últimos anos, pediatras e pesquisadores dos Estados Unidos têm dado aos bullies (provocadores) e suas vítimas a atenção que, há tempos, eles merecem – e recebem na Europa. Ultrapassamos a ideia de que "crianças são assim mesmo", de que o bullying é uma parte normal da infância ou o prelúdio de uma estratégia de vida de sucesso. Pesquisas descrevem riscos no longo prazo – não só para as vítimas, que podem ter mais tendência a sofrer de depressão e pensamentos suicidas, mas aos próprios provocadores, que têm menos probabilidade de concluir os estudos ou se manter no trabalho.

No mês que vem, a Academia Americana de Pediatria irá publicar a nova versão de uma diretriz oficial sobre o papel do pediatra na prevenção da violência entre os jovens. Pela primeira vez, haverá uma seção sobre o bullying – incluindo uma recomendação para que escolas adotem um modelo de prevenção, desenvolvido por Dan Olweus, professor e pesquisador de psicologia da Universidade de Bergen, Noruega. Ele foi o primeiro a estudar o fenômeno do bullying escolar na Escandinávia, na década de 1970. Os programas, disse ele, "funcionam na esfera escolar, de classe e individual; eles combinam programas preventivos e lidam diretamente com as crianças identificadas como provocadoras, vítimas, ou ambos".

Robert Sege, chefe do ambulatório de pediatria do Boston Medical Center e principal autor da nova diretriz, afirma que a abordagem de Olweus concentra a atenção no maior grupo de crianças, aquelas que observam a tudo. "A genialidade de Olweus", disse ele, "é que ele consegue reverter a situação da escola. Assim, as outras crianças percebem que o provocador é alguém com problemas em controlar seu próprio comportamento, e a vítima é alguém a quem eles podem proteger".

O outro autor, Joseph Wright, vice-presidente sênior do Children's National Medical Center, em Washington, e presidente do comitê da academia pediátrica de prevenção à violência, observa que um quarto de todas as crianças relata ter se envolvido em bullying, seja como provocador, seja como vítima. Proteger as crianças de lesões intencionais é uma tarefa central para pediatras, disse ele, e a "prevenção do bullying é um subconjunto dessa atividade".

Repetição
 
Por definição, o bullying envolve repetição. Uma criança é repetidamente alvo de provocações ou ataques físicos – ou, no caso do chamado bullying indireto (mais comum entre garotas), rumores e exclusão social. Para um programa antibullying de sucesso, a escola precisa entrevistar as crianças e descobrir os detalhes – onde e quando isso ocorre. Mudanças estruturais podem ajudar a lidar com lugares vulneráveis – o cantinho do playground fora da vista, o portão de entrada da escola na hora da saída.

Então, disse Sege, "ativar os observadores" significa mudar a cultura da escola; através de discussões em sala, encontro de pais e respostas consistentes a cada incidente, a escola deve transmitir a mensagem de que o bullying não será tolerado.

O que eu devo perguntar na hora do check-up? Como vai a escola, quem são seus amigos, o que você faz no recreio? É importante abrir a porta, especialmente para as crianças na faixa etária mais provável para o bullying, para que vítimas e observadores não tenham medo de falar. Os pais dessas crianças precisam ser motivados a exigir que as escolas ajam, e os pediatras provavelmente precisam estar prontos para falar com o diretor. Nós devemos acompanhar a criança, a fim de garantir que a situação melhore, além de verificar a saúde emocional dela e buscar ajuda, se necessário.

E ajudar os provocadores, que também são, afinal, pacientes pediátricos? Alguns especialistas temem que as escolas simplesmente suspendam ou expulsem os agressores, sem prestar atenção a uma forma de ajudá-los e às suas famílias a aprender a viver de outra forma. "As políticas de tolerância zero das escolas distritais estão, basicamente, empurrando o problema para frente", disse Sege. "Temos de ser mais sofisticados."

A forma como entendemos o bullying mudou, e provavelmente mudará ainda mais. Por exemplo, nem mencionei o cyberbullying. No entanto, todos que trabalham com crianças precisam começar com a ideia de que o bullying tem consequências a longo prazo e é evitável. Eu ainda sentiria a mesma raiva, em nome do meu paciente vencedor da feira de ciências, mas agora eu vejo seu problema como uma questão pediátrica – e espero ser capaz de oferecer um pouco mais de ajuda, um pouco mais de acompanhamento, com base apropriada em pesquisas científicas.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1196656-5603,00-BULLYING+PASSA+A+SER+ACOMPANHADO+POR+PEDIATRAS+NOS+ESTADOS+UNIDOS.html

Terapia adequada à prevenção do suicídio


... da série de postagens que ficaram guardadas na seção de rascunho deste blog e que sobreviveram por serem interessantes, a despeito da época em que deveriam ter sido publicadas...

Terapia de Aceitação e Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio

4out2009

Acceptance and Commitment Therapy: model, data, and extension to the prevention of suicide
Steven C. Hayes; Jacqueline Pistorello; Anthony Biglan

RESUMO
Este artigo brevemente descreve a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), seus modelos subjacentes e as evidências que defendem a sua eficácia. Fornecendo exemplos de como esta terapia pode ser estendida para o tratamento de outros distúrbios, este trabalho assim inclui no âmbito da ACT a prevenção do suicídio e sua ideação. Ambos o modelo e suas técnicas aplicadas são empiricamente comprovados, o que sugere que outras extensões podem ser feitas de forma segura.

Palavras-chave: Terapia de Aceitação e Compromisso, Mediação, Prevenção, Suicidalidade.

http://psicologizar.wordpress.com/2009/10/04/terapia-de-aceitacao-e-compromisso-modelo-dados-e-extensao-para-a-prevencao-do-suicidio/

Cabeleireiros são treinados para evitar suicídios em Belfast


... da série de postagens que ficaram guardadas na seção de rascunho deste blog e que sobreviveram por serem interessantes, a despeito da época em que deveriam ter sido publicadas...
Cabeleireiros e taxistas na cidade de Belfast, na Irlanda do Norte, estão sendo treinados para poder identificar pessoas que possam estar tendo pensamentos suicidas e dar apoio psicológico a elas para que não se matem.
Alguns funcionários de lojas e centros de busca de empregos na cidade também estão recebendo treinamento em noções básicas de psicologia para a prevenção de suicídios.
Todos esses profissionais foram escolhidos para receber o treinamento porque, em geral, realizam trabalhos durante os quais os clientes gostam de conversar e se abrir.
Neste verão, a cidade de Belfast teve 30 suicídios em apenas seis semanas.
O treinamento é dado pela organização beneficente PIPS especializada em aconselhamento psicológico para prevenção de suicídios.
“É como primeiros-socorros para pessoas que possam estar em risco de suicídio. Muitas vezes elas acham difícil conversar sobre seu problema com alguém conhecido, e acham mais fácil conversar com um estranho, e esse estranho pode ser o cabeleireiro,” diz Claire James, da PIPS.
Os organizadores acreditam que o projeto de Belfast possa ser usado em outras cidades com altos números de suicídios.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Atitude exemplar na mídia: o caso do jornal "A Notícia", de Joinville-SC

"Informar é transformar" é o propósito assumido pelo jornal "A Notícia", do Grupo RBS.

Trata-se de um posicionamento estratégico cujo objetivo é "produzir informação com objetivo de contribuir para a transformação da sociedade".

Neste contexto é que se inserem as matérias jornalísticas sobre o suicídio veiculadas pelo jornal.

Como complemento o Grupo RBS mantém suas diretrizes alinhavadas e disponíveis no Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística.

Marina Andrade, editora-chefe, explica, na prática, o título da matéria em que estão divulgadas estas informações: Falamos sobre suicídio, mas com o propósito de transformar.
Entre a tarde de quarta e a madrugada desta quinta-feira, um incidente envolvendo um homem que ameaçava cometer suicídio no último andar de um shopping na área central de Joinville resultou na interdição de ruas — uma delas por quase 12 horas.
Mesmo estando ciente da situação desde o início da ocorrência, o "AN" decidiu por noticiar o fato após o desfecho da situação. A escolha teve como base o impacto causado na comunidade e o objetivo foi contribuir para a atuação das equipes de salvamento e minimizar possíveis impactos de uma divulgação.
O suicídio é um tema delicado, mas que não está vetado do nosso veículo. Tratamos do assunto de forma propositiva, com foco na prevenção e superação, como exemplificado nas reportagens abaixo.
Uma das reportagens, abaixo, em destaque, é um primor de jornalismo e de projeto gráfico.
Reportagem especial sobre suicídio traz dados, histórias e dicas de prevenção
Que outros jornais sigam nesta trilha!




domingo, 13 de dezembro de 2015

Citação que vale por um prêmio!

Grato à Karina Okajima Fukumitsu pela sua generosidade!

Aproveitando, eis o link para a Revista Brasileira de Psicologia, em que este artigo e outros integraram o volume II do dossiê “Suicídio: Prevenção e posvenção no Brasil: estudos brasileiros”.




Reflexão breve e oportuna

Meses coloridos 
Gabriel Novis Neves

Não sei como nem de onde surgiu a ideia de iluminar monumentos públicos importantes com cores que significam alguma mensagem.

Estas estratégias coloridas alertam, principalmente, para algumas doenças importantes que necessitam de prevenção precoce, como o câncer de mama e o de próstata.

Desconhecia ser o amarelo um apelo visual para a prevenção do suicídio. Em grandes tragédias nacionais ou mundiais, também os monumentos de maior visibilidade são iluminados.

Recentemente grande número de cidades do mundo tiveram seus pontos de maior referência iluminados com as cores da França, em sinal de solidariedade ao brutal atentado sofrido pela capital mais charmosa do planeta Terra, com um saldo de cento e trinta mortos, até o momento, e centenas de feridos.

Eventos festivos como o Natal, conquista de campeonatos e outros, são motivos para os monumentos receberem coloração adequada à festa.

No caso do suicídio, a Dra. Rosylane Rocha, do Conselho Federal de Medicina (CFM), entende que a sua prevenção é um pouco complicada, pois ele é tratado como um tabu pela sociedade. Diz ela: “o suicídio é o desfecho de uma doença física ou mental e pode ser prevenido quando falamos sobre o assunto”. Para ela é de suma importância a divulgação deste tema.

De acordo com a cartilha elaborada pelo CFM para prevenção de tal ato, motivado por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio é considerado transgressão às leis divinas, o que dificulta um diálogo aberto sobre o tema.

Como entender homens e mulheres bombas que praticam o suicídio por razões religiosas?
É difícil saber distinguir, diante desse quadro, o certo do errado.

A verdade é que nos últimos dias acordamos sempre com notícias de suicídios por motivações religiosas, nas mais diversas nações do mundo.

Por enquanto, esses ataques terroristas estão limitados a países europeus e asiáticos. Ameaças estão sendo feitas também aos países do continente americano.

Como prevenir esses suicídios, geralmente praticados por jovens?

Com que cores deveremos iluminar permanentemente os nossos monumentos para que a paz volte a reinar entre os homens?

Fonte: coluna deste autor no jornal eletrônico Folhamax, de Cuiabá.
www.folhamax.com.br/opiniao/meses-coloridos/69541

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Preconceito e dificuldade em falar de suicídio são obstáculos à prevenção


Paula Moura
Colaboração para o UOL 
08/12/2015

Doenças mentais estão presentes em 90% dos casos de suicídio, segundo o estudo mais atual da OMS (Organização Mundial da Saúde), realizado em 2002. Já a ABP (Associaçã
o Brasileira de Psiquiatria) fala em quase 100% dos casos estarem relacionadas a doenças mentais. Entre essas doenças, os transtornos de humor - depressão e transtorno bipolar (alternância entre estado depressivo e de euforia) - lideram as mortes, com 35,8%. Entretanto, o preconceito e a dificuldade em falar no tema ainda são entraves para a prevenção.

"A depressão muda a visão de mundo, a pessoa deixa de acreditar na possibilidade de melhora, não vê luz no fim do túnel", explica Neury Botega, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de pesquisa que mostra que 17% da população já pensou em suicídio no Brasil. "Quando, além da depressão há o desespero, surge uma dor psíquica insuportável, vista como interminável. A ideia de suicídio, antes assustadora, pode passar a ser vista como uma saída para cessar a dor."

Cerca de 25% da população brasileira já teve um ou mais transtornos mentais ao longo da vida, diz a ABP. Já a OMS estima que 350 milhões de pessoas de todas as idades (4,7% da população mundial) sofrem de depressão em todo o mundo. Devido à alta abrangência da doença, a depressão é a doença mental mais associada ao suicídio, diz a ABP. "Infelizmente, há pessoas que ainda igualam a depressão – uma doença – às tristezas que podem surgir no dia a dia. São coisas completamente diferentes. Há sim um estigma, e o estigma dificulta a decisão de buscar ajuda", lembra Botega. Ainda de acordo com a ABP, cerca de 50% a 60% das pessoas que se suicidaram nunca consultaram um profissional de saúde mental.

Mas isso não quer dizer que todos os deprimidos vão cometer suicídio, enfatiza Alexandrina Meleiro, professora da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da ABP. São necessários diversos fatores conjuntos para se chegar ao suicídio -- problemas financeiros, como a perda do emprego; problemas conjugais, como uma separação; dificuldades relacionadas à aceitação da orientação sexual pela pessoa e pela sociedade; no caso de adolescentes, o desarranjo familiar é decisivo, além do modo que a pessoa leva a vida (se leva tudo para o extremo, 8 ou 80), por exemplo.

Na entrega do Oscar deste ano, a documentarista Dana Perry ofereceu o prêmio ao filho que se suicidou aos 15 anos e tinha transtorno bipolar. "Nós precisamos falar em alto e bom tom sobre o suicídio", disse em seu discurso ao ganhar a estatueta por um documentário sobre atendimento telefônico de prevenção ao suicídio para veteranos de guerra e suas famílias. Logo após o discurso, o apresentador da cerimônia, Neil Patrick Harris, fez uma piada sobre o vestido de Dana, talvez por não saber o que dizer diante do tema. Na mesma cerimônia, o roteirista Graham Moore revelou que tentou se matar aos 16 anos e ofereceu o prêmio aos jovens que sentem que são diferentes e que não se encaixam. "Sim, você se encaixa. Continue diferente. E quando estiver aqui, passe a mensagem adiante".

Fator genético

Há também o fator genético: pessoas com pais que se suicidaram têm quatro vezes mais chances de desenvolver comportamento suicida, explica Alexandrina. Mas ela diz que se a pessoa se cuida, não passa grandes traumas ou estresses, é possível levar uma vida normal mesmo tendo pais que se mataram.

A professora diz que, em casos de suicídio, observa-se a redução da produção de serotonina, o que prejudica as sinapses entre neurônios, pois essa substância é um neurotransmissor que regula o humor. "Se estamos felizes, é sinal de que os neurônios estão funcionando convenientemente. Esse equilíbrio faz com que tenhamos vontade de fazer as coisas", explica. "Se por motivos externos ou biológicos a produção de neurotransmissores cai, os receptores não recebem a informação, e a pessoa fica desanimada, de mau humor, nem consegue realizar qualquer outra atividade com prazer."

Humberto Correa, vice-presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia, salienta: "tem o componente genético, tem a vulnerabilidade social, mas precisa ter um gatilho", diz. Segundo ele, os gatilhos para pessoas deprimidas podem ser uma situação estressante como separação conjugal, perda de trabalho, morte de pessoa próxima, entre outros.

Álcool e drogas são fatores de risco

No mundo, o abuso de álcool e drogas é responsável por 22,4% das mortes; transtornos de personalidade (como borderline, antissocial e psicopatia) ocorrem em 11,6% dos casos; esquizofrenia, em 10, 6%. "Se há uma combinação de dois fatores, como transtorno de humor e abuso de substâncias, o risco aumenta", diz Alexandrina.

O álcool e drogas são perigosos porque atuam como depressores do sistema nervoso, o que pode favorecer a tomada de atitude de tirar a própria vida. Por outro lado, pessoas deprimidas podem fazer uso dessas substâncias para tomar coragem de praticar o suicídio.

O psiquiatra Teng Cheng Tung, professor da USP, lembra que as chamadas drogas de abuso - o que inclui o álcool -  lesionam o cérebro, e isso pode fazem com que uma pessoa desenvolva algum problema psiquiátrico; além disso aqueles que já têm momentos depressivos e pensamentos suicidas podem ganhar a impulsividade ao consumir drogas. "As drogas aumentam a impulsividade, especialmente o álcool e a cocaína, que são usados para obter estados de euforia." O médico explica que a maior parte dos suicídios e tentativas de suicídio são atos impulsivos. No caso da maconha e outras drogas, Tung diz que o uso crônico também pode trazer impulsividade.

É preciso melhorar a formação de médicos

Se por um lado 800 mil pessoas morrem por ano em suicídios no mundo (0,01% da população mundial), a maioria dos casos pode ser prevenida com condições mínimas de oferta de ajuda voluntária ou profissional e com o tratamento das doenças mentais, dizem os especialistas. Tratar a doença psiquiátrica de base é essencial, diz Tung. "Pode ser só alcoolismo, alcoolismo associado à depressão, só depressão etc. A psicoterapia é fundamental, assim como a prevenção de curto prazo, que é o Centro de Valorização da Vida (CVV)." Para os médicos, os melhores resultados são obtidos com o uso de medicamentos combinados com psicoterapia.

O preconceito e o estigma são os maiores obstáculos à prevenção do suicídio. O tabu em torno do tema leva a diagnósticos subestimados e medo de abordagem do tema por pessoas próximas. "É preciso melhorar o diagnóstico psiquiátrico e também a formação dos médicos que não são psiquiatras. Muitas vezes, os pacientes se sentem mais à vontade para falar com outros profissionais da saúde", diz Tung. Segundo a ABP, 80% das pessoas que se suicidaram procuraram um médico não-psiquiatra um mês antes de morrer.

Grupos mais vulneráveis

Além disso, é necessário dar maior atenção às pessoas que já tentaram o suicídio uma vez, pois a chance de voltar a tentá-lo é de 50%, alertam os médicos. "Para quem já tentou uma vez, procurar ajuda psiquiátrica e/ou psicológica [deve ser] o mais rápido possível", diz Correa. Uma crise suicida dura de minutos a horas e é muito importante socorrer a pessoa rapidamente.

Os chamados "sobreviventes do suicídio", ou seja, parentes e amigos de alguém que faleceu por essa causa, também devem receber tratamento e apoio. "Eles precisam trabalhar para no futuro não virem a repetir o comportamento em um momento de dificuldade", diz Alexandrina. Pessoas de 15 a 29 anos e acima de 70 anos também estão entre os casos de maior número de mortes. 


http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/12/08/o-preconceito-e-o-estigma-sao-os-maiores-obstaculos-a-prevencao-do-suicidio.htm

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Os que sobrevivem ao suicídio de alguém...

Sobreviventes, família e amigos lidam com a dor


Carina Reis
creis@jj.com.br

Família e amigos também são afetados diretamente pelo autoextermínio. De acordo com a psiquiatra Maria Cristina de Stefano, autora do livro “Suicídio: A Epidemia Calada”, cada suicídio acarreta um sofrimento intenso em pelo menos quatro pessoas ao redor. “O que pode levar a depressão desses sobreviventes. O mais difícil para quem fica é entender que não tem culpa e conseguir superar a morte dessas pessoas”, afirma.

A psiquiatra viveu na pele essa sensação, quando seu filho, de 32 anos, optou pela morte em 2012. “Ele era muito fechado e ninguém entendeu. Só quando eu li seus diários é que compreendi o quão prejudicado seu estado mental estava. Mas não pude ajudar. O processo de superação é lento e doloroso, para mim e para meu outro filho, mas precisa ser superado.”

Segundo ela, é comum que a pessoa desestabilizada comece um processo de despedida antes de cometer o ato. “Ele inicia uma série de despedidas e nessas ocasiões até faz pequenas brincadeiras, supostamente sem intenção, dizendo ‘vim visitá-lo porque não sei se estarei vivo amanhã’. Em geral nós tendemos a levar essas frases na brincadeira. E nem sempre é.”

Nesse caso, a orientação da médica é perguntar se a pessoa está bem, se aconteceu alguma coisa para pensar assim, se precisa de ajuda.

Maria Cristina explica que o questionamento é, na verdade, uma proteção posterior para o próprio familiar. “Pode não ser o suficiente para impedir o suicídio, mas sim para que, caso aconteça, esse familiar ou amigo não se sinta culpado por não ter levado a sério.” Em sua experiência, ela destaca dois estágios em um paciente: aquele que tem a ideia de tirar a própria vida e aquele que já está planejando como fazê-lo.

Fonte: www.jj.com.br/noticias­23426­sobreviventes­familia­e­amigos­lidam­com­a­dor