quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Em favor da prevenção do suicídio: personalidades destacadas em suas áreas de atuação

VHILS

Obra de Vhils sobre fragmento de bairro em demolição rende 30 mil euros

Series #10”, uma obra feita a partir de posters colados uns sobre os outros e nos quais o artista talhou rasgos que, no conjunto, formam um olho humano, estava avaliada num valor entre 6.000 e 8.000 libras (6.750 e 9.000 euros) mas acabou por render 13.750 libras (15,5 mil euros) a favor da Fundação Movember, que faz trabalho na área da saúde mental masculina e prevenção do suicídio.

Alexandre Manuel Dias Farto CvSE (Vhils, como é conhecido na cultura graffiti).

Para ler a matéria completa.

DAVE MARSHALL

Australiano gay vende nudes na web em prol da prevenção do suicídio entre LGBTs

O personal trainer e lutador da Perth, na Austrália, Dave Marshall criou uma conta na OnlyFans para compartilhar um conteúdo pornográfico, porém, com uma proposta solidária. O dinheiro arrecadado vai ser revertido para uma instituição de caridade para prevenção do suicídio de pessoas LGBTs. As informações são do Gay Star News.

A escolha da entidade seria o fato do seu pai ter tirado a sua própria vida no ano passado. “A razão pela qual o dinheiro dos meus OnlyFans vai à Beyond Blue é ver quão grande depressão e ansiedade se tornou na sociedade.”, declarou acrescentando como as doenças mentais são ignoradas.

Para ler a matéria completa.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Ministério Público do Estado do Ceará lança mais uma campanha de prevenção do suicídio

A campanha do projeto "Vidas Preservadas" segue até o Natal, dia 25, com o intuito de valorizar a vida neste período de festas de fim de ano

15/12/2018

A campanha "A Vida é um Presente" compartilha mensagens como "Bom dia" e "Quem me faz sorrir"


O Ministério Público do Ceará (MPCE) deu início nessa sexta-feira 14, a mais uma campanha do projeto Vidas Preservadas, intitulada "A Vida é um Presente", segue até o próximo dia 25, com o intuito de valorizar a vida e conscientizar sobre o suicídio neste período de festas de fim de ano.

A escolha da época para colocar em prática a campanha, se deve a estudos e pesquisas em diversos países que registram o aumento do número de suicídios no período pré-natalino. Segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), organização não governamental que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio 24 horas por dia, o número de ligações recebidas costuma aumentar em média 15% no mês de dezembro.

“O nome da campanha foi escolhido justamente pelo Natal ser uma época de muitos presentes. Mas sabemos que esta pode ser uma época difícil para muitas pessoas, então nosso intuito é de que estes presentes sejam bons, com sentimentos sinceros”, explica o promotor de Justiça e coordenador da campanha, Hugo Mendonça.

A campanha também disponibiliza opções de templates para compartilhar e marcar outras pessoas

 A campanha utiliza as redes sociais, como o Instagram e Facebook, para compartilhar diariamente, até o dia no Natal, frases que indicam algum “presente”, como o sorriso, a amizade e a companhia de alguém. Os seguidores participam da campanha marcando outras pessoas relacionadas àquela mensagem do dia em seu feed. Já na função stories do Instagram será publicado diariamente um template, que o seguidor deve dar print e postar em seu próprio story, marcando os contatos relacionados às frases do dia.

De acordo com Hugo, há duas finalidades muito claras na campanha “A Vida é um Presente”. “A primeira é fazer com que a sociedade fale da maneira correta sobre suicídio, para que haja uma prevenção. A segunda é fazer com que este público seja fortalecido e que entenda que não estão sozinhos”, explica o coordenador.

Após finalizar a campanha atual, o projeto Vida Preservadas retorna a partir de 31 janeiro com diversas capacitações e oficinas. Em 2018 o projeto percorreu 48 municípios do Estado e em 2019 pretende percorrer mais 60, totalizando pelo menos 100 municípios até o fim do próximo ano.

A campanha "A Vida é um Presente" foi Idealizada pelo Centro de Apoio da Infância e Juventude (Caopij), pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Acidente do Trabalho, Defesa da Cidadania, do Idoso, da Pessoa com Deficiência e da Saúde Pública ( Caocidadania)  e por entidades parceiras, dentre elas, a Rede Cuca.

Fonte: www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2018/12/ministerio-publico-do-ceara-lanca-mais-uma-campanha-de-prevencao-do-su.html

sábado, 8 de dezembro de 2018

Campanha do CVV no metrô de São Paulo

Estação Santo Amaro da Linha 5-Lilás recebe campanha de valorização da vida

Entre dezembro e janeiro, voluntários do Centro de Valorização da Vida esclarecerão dúvidas e oferecerão apoio emocional a passageiros na Estação Santo Amaro

A Estação Santo Amaro, da Linha 5-Lilás de metrô, recebe nos meses de dezembro de 2018 e janeiro de 2019 a campanha de valorização da vida. A ViaMobilidade, concessionária responsável pela operação e manutenção das linhas 5-Lilás de metrô, em parceria com o Centro de Valorização da Vida, levará voluntários para atendimento sigiloso aos passageiros que quiserem dialogar sobre seu estado emocional.

A ação tem o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população sobre o suicídio, um problema de saúde pública que mata pelo menos um brasileiro a cada 45 minutos, mais do que a Aids e muitos tipos de câncer, mas que pode ser prevenido em nove de cada 10 casos.

Os voluntários estarão à disposição para dar apoio emocional a quem sentir a necessidade de conversar. Além disso, o local reservado para a ação disponibilizará um mural com papéis adesivos, para que os passageiros possam escrever mensagens sobre seus sentimentos.

O Centro de Valorização da Vida é uma organização sem fins lucrativos, que presta serviços voluntários e gratuitos de apoio emocional e prevenção do suicídio. A organização conta com 90 postos de atendimento e 2.500 voluntários, que fazem mais de dois milhões de atendimentos por ano pelo telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação), e-mail e chat no site oficial.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Algoritmos em defesa da vida

Cartas e diários de Virginia Woolf inspiram estudo sobre prevenção do suicídio

Pesquisadores utilizaram algoritmos de computador para prever padrões de comportamento suicida em textos da escritora


Um grupo de pesquisadores da UFRGS analisou a viabilidade de se usar algoritmos de classificação de texto para prever padrões de comportamento suicida. A partir de cartas e diários da escritora britânica Virginia Woolf, o programa de computador foi capaz de identificar com considerável acurácia – 80,45% de acerto – os textos escritos nos meses imediatamente anteriores a seu suicídio. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Plos One nesta quarta-feira, 24 de outubro, e demonstram o potencial das técnicas de machine learning para a detecção de situações de risco e a prevenção do suicídio.

O machine learning, ou aprendizado de máquina, é um ramo da inteligência artificial focado em algoritmos capazes de aprender com dados e extrair padrões para fazer previsões. São técnicas próprias para analisar grandes quantidades de dados e identificar relações não lineares entre eles. Nesse estudo, foi utilizado o algoritmo Naive Bayes. Amplamente empregado para a filtragem de spams, o método estima a probabilidade de ocorrência de um evento a partir da análise de textos. “Diante disso, nós tivemos a ideia de analisar cartas e diários da famosa romancista Virginia Woolf. Ela era bem produtiva e escrevia com frequência, inclusive nos dias que antecediam tentativas de suicídio. Basicamente, criamos um modelo utilizando os textos dela e o algoritmo Naive Bayes para identificar textos que sinalizariam que ela iria tentar suicídio”, explica o professor da Faculdade de Medicina da UFRGS Ives Cavalcante Passos, um dos autores da pesquisa.

Virginia Woolf deixou um vasto material em seus diários, nos quais escreveu livremente sobre seus sentimentos, fornecendo um registro de seus estados de humor. Segundo biógrafos e pesquisadores, a escritora sofria de transtorno bipolar e teve vários episódios depressivos e maníacos, até que tirou sua própria vida em 28 de março de 1941, durante uma crise depressiva. Ela tentou suicídio em pelo menos em três ocasiões. Inclusive, uma semana antes de morrer, chegou em casa encharcada depois de ter sobrevivido a uma dessas tentativas.

“Cerca de 90% das pessoas que cometem suicídio têm alguma doença psiquiátrica. Embora seja um evento trágico, existem diversas formas de prevenir o suicídio. A literatura científica, portanto, tem buscado cada vez mais modelos que possam prever esse evento para identificar quais as pessoas que estão sob maior risco”, afirma Passos. Há outros estudos que também utilizaram machine learning para prever o suicídio, incluindo alguns feitos pelo mesmo grupo de pesquisa, como um que utilizou algoritmos para prever tentativas de suicídio em pacientes com transtornos de humor a partir de variáveis clínicas, como a presença de sintoma psicóticos ou de transtorno de estresse pós-traumático. O publicado nesta quarta-feira, entretanto, foi o primeiro a usar dados em texto para identificar padrões em escritos anteriores ao suicídio.

A análise compreendeu 46 textos escritos nos dois meses anteriores ao suicídio de Virginia e 54 escolhidos aleatoriamente entre os produzidos em outros períodos de sua vida. Integraram a pesquisa somente cartas e diários; livros, romances, contos e artigos foram excluídos. “Compilamos esses textos numa planilha de Excel e utilizamos um pacote chamado Caret de um software chamado R para fazer as análises. O algoritmo de machine learning Naive Bayes foi selecionado para análise pois ele consegue classificar com uma boa acurácia quando dados de texto são utilizados. O modelo é primeiro treinado e criado num banco de dados de treino e depois testado em cartas que não foram utilizadas no processo de treino”, esclarece o pesquisador.

É a partir da identificação de padrões textuais que o algoritmo estima se um determinado documento estaria ou não relacionado ao suicídio. Alguns termos apareceram exclusivamente nos textos que Virginia escreveu pouco antes de suicidar-se, como blue (azul ou triste), miss (sentir falta), e war (guerra). Outros só apareceram fora desse período, a exemplo de better (melhor), good (bom), hope (esperança) e Virginia. Há também aqueles que, apesar de aparecerem em ambos os períodos, foram mais frequentes em uma ou outra fase. São essas presenças ou ausências de determinadas palavras que o computador avalia.

O algoritmo foi capaz de identificar corretamente se um texto estava ou não relacionado ao suicídio em 80,45% dos casos – um resultado bastante positivo. Foram 69,23% de textos relacionados ao suicídio corretamente classificados, e 91,67% não relacionados com o suicídio adequadamente identificados como tal. O estudo foi feito em nível individual e possui, portanto, suas limitações. Mas os resultados são promissores.

Conforme explica Passos, algoritmos de machine learning podem ser aplicados a pacientes com transtornos psiquiátricos a partir de dados coletados em tempo real em redes sociais, mensagens e e-mails, entre outros.  “Por exemplo, quando um evento adverso é sinalizado como um resultado de interesse pelo médico (como tentativa de suicídio, recaída de episódio de humor ou sintomas psicóticos), o algoritmo pode analisar os dados de texto para encontrar padrões que permitam prever quando esses eventos são prováveis de ocorrer novamente. Isso pode melhorar a avaliação do paciente, possibilitando a intervenção precoce, e fornecer insights em tempo real para os médicos sobre o estado de humor e o risco de suicídio. Além disso, tais modelos podem ser personalizados para o paciente, criando um ciclo de inteligência artificial que se adapta à medida que os dados são coletados ao longo do tempo”, destaca o professor. Para ele, as técnicas de machine learning, com suas capacidades de capturar sinais não lineares e lidar com grande quantidade de dados, irão revolucionar as ciências da saúde e a saúde mental.

Artigo científico

BERNI, Gabriela de Ávila et al. Potential use of text classification tools as signatures of suicidal behavior: a proof-of-concept study using Virginia Woolf’s personal writings. Plos One, 2018.

www.ufrgs.br/secom/ciencia/cartas-e-diarios-de-virginia-woolf-inspiram-estudo-sobre-prevencao-do-suicidio/

sábado, 3 de novembro de 2018

Luto em superação. Tragédias transformadas em projetos sociais

Brincadeira perigosa, suicídio, câncer

Famílias ressignificam a dor com a criação de projetos sociais voltados para combater a causa da morte dos filhos

Bia Dote 



Se Lucinaura, Demétrio e Maria Aparecida pudessem escrever a própria história, é certo que evitariam um capítulo específico da biografia: a perda precoce de um filho. Quando Bia, Dimitri e Kauê partiram, as narrativas que estavam sendo construídas no dia a dia foram interrompidas; os sonhos em conjunto também. Foi preciso que os pais buscassem novos motivos para seguir vivendo, e encontraram isso revisitando a trajetória compartilhada com os entes nos poucos anos em que eles passaram por aqui.

Bia, por exemplo, era uma garota muito alegre, que estava sempre rodeada de pessoas e disposta a ajudá-las. Seu abraço caloroso e carinhoso era sinônimo de cura. Ela chegava até mesmo a cantar ao telefone para colegas que estavam do outro lado da linha e não conseguiam dormir.  Aos 13 anos, porém, a jovem escolheu não mais continuar com a própria vida, deixando a família com inúmeros questionamentos. Dentre eles, "o que fazer com o amor que fica?".

"Quando fomos elaborando nosso luto, pensamos: o que nós podemos fazer pra manter Bia presente na nossa vida enquanto respirarmos? A gente queria fazer alguma coisa que parecesse com a personalidade de Bia, que fosse a cara dela, que fosse muito do que ela via da vida, e como ela gostaria que as coisas fossem", lembra a mãe, Lucinaura Diógenes, emocionada.

Foi então que, em 2013, cinco anos após a partida da jovem, nasceu o Instituto Bia Dote, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com a prevenção do suicídio.

A salinha no 11º andar da Torre Quixadá reúne vários objetos que pertenceram à garota. Um violão, que ela quase não tocou, um coração feito com peças de lego que ela adorava, uma coleção de carrinhos, quadros, livros... O ambiente, organizado pela mãe, Lucinaura; o pai, Tadeu; e a irmã, Alice, acolhe centenas de pessoas para acompanhamento psicológico, tal como o abraço dela provavelmente acolhia. "Presentificar Bia por meio do Instituto me ajudou muito, me ajuda, é um projeto de vida. Pro resto da minha vida eu vou trabalhar com isso", conta Lucinaura, que iniciou até um curso de Psicologia para atuar mais ativamente na causa. 

DimiCuida 


Demétrio Jereissati foi outro pai que abraçou uma nova missão após a morte do filho Dimitri, de 16 anos. O jovem perdeu a vida após brincar com o jogo do desmaio, uma prática de não-oxigenação estimulada por vídeos disseminados na internet. Com poucas informações no Brasil a respeito de casos semelhantes, os pais do garoto, Demétrio e Heloisa, foram em busca de respostas logo nos primeiros meses de luto, viajando até o 2º Colóquio Internacional dos Jogos de Desafios, na França.

As informações colhidas no evento e outras pesquisas feitas a partir dele impulsionaram o casal a criar, em Fortaleza, em 2014, o Instituto DimiCuida, com objetivo de fazer um trabalho de prevenção para profissionais, pais, crianças e adolescentes, além de dar esclarecimento e apoio às famílias que vivessem situações semelhantes.

"Quando a gente passa por uma situação dessas, conversar com quem passou pela mesma coisa e tem uma compreensão, traz um conforto maior. Você tá próximo de quem passou. É como se você enxergasse no outro a força que ele teve para superar e isso lhe ajudasse também a encontrar o seu caminho", observa Demétrio.

O pai de Dimitri confessa que não imagina como estaria se não fosse trabalhando nesse instituto. "Quando se perde um filho, o dia seguinte não vai mais ser igual. Ele não é mais igual. A gente aprende a viver com o dia seguinte como ele veio", conta Demétrio. Hoje, cada prevenção, cada artigo escrito e cada oportunidade de falar sobre o tema servem de oxigênio para a família Jereissati. "A gente imagina que possa estar evitando que outras famílias e outras pessoas passem por isso. E de alguma forma a gente se alinha quando consegue fazer esse trabalho", avalia.

Além da prevenção para a causa da morte do adolescente, o instituto trabalha em outras duas frentes, baseadas nas ações e nos sonhos dele:  a sensibilização e mobilização da sociedade para os cuidados com animais de rua; e a promoção do desenvolvimento e execução de ações de capacitação, qualificação profissional e oportunidades de trabalho na área do turismo ecológico e de atrações naturais. "Talvez hoje eu pense mais do Dimitri do que quando ele tava aqui embaixo. Isso de alguma forma nos conforta e nos alimenta", aponta o pai, que também acredita sentir-se mais próximo do filho enquanto conta sua história.

Cândido Kauê 


No interior do Ceará, mais precisamente na cidade de Aiuaba, Maria Aparecida Freitas também encontrou uma forma de reconectar-se com o filho falecido em outubro de 2012. Vítima de câncer, Cândido Kauê lutou contra a doença dos 2 aos 5 anos de idade, mas durante todo o período demonstrou força e transmitiu mensagens a sua maneira. "Ele era uma criança que sempre dividia o pouco que tinha com os coleguinhas, que se sentia muito bem quando conseguia consolar um colega que estava chorando", lembra a mãe.

Todos os desafios que a família passou durante o tratamento de Kauê, desde os financeiros até os desgastes físicos e emocionais, levaram Aparecida a inspirar-se no comportamento humanitário do filho após sua partida. Cinco meses depois da perda, ela registrou a Fundação Cândido Kauê, uma entidade beneficente de assistência social, sem fins lucrativos, que atende às necessidades psicossociais de crianças e adolescentes com câncer, e também de seus pais, em pelo menos nove municípios da região.

"Quando cada um de nós seres humanos consegue fazer um pouco, significa tanto. Ajudar a quem precisa é o fundamental na vida da gente", acredita a mãe do pequeno. Os testemunhos de quem hoje recebe ajuda da Fundação a encorajam a continuar ao lado de um conjunto de profissionais voluntários que se preocupam somente em fazer o bem. "Antes, eu achava que jamais ia sentir alegria de novo. Mas lhe confesso que com esse projeto em ação há momentos de gratidão em que não consigo conter as lágrimas de felicidade".

A passagem física de Cândido Kauê, Dimitri e Bia por aqui foi realmente bem curta, mas no livro da vida dos seus familiares, amigos e de todas as pessoas que cruzam com os projetos que levam seus nomes, fica provado diariamente que a história dos três não tem fim.

Conheça o trabalho das instituições:

Instituto Bia Dote 
Foco: Prevenção ao suicídio e valorização da vida
Público-alvo: Atendimento para pessoas a partir de 12 anos
Endereço: Av. Barão de Studart, 2360, Aldeota
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, de 8h às 18h
Contato: (85) 3264-2992

Instituto DimiCuida 
Foco: Prevenção sobre jogos de não-oxigenação e desafios de internet
Público-alvo: Crianças, adolescentes, profissionais das áreas de educação, saúde, segurança pública e pais
Endereço: Av. Santos Dumont, 1388, Aldeota
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, de 8h às 18h
Contato: (85) 3255.8864 / (85) 98131.1223 (whatsapp)

Fundação Cândido Kauê 
Foco: Assistência social a pessoas com câncer
Público-alvo: Crianças, adolescentes e pais
Endereço: Rua Olga Feitosa, 188, Centro, Aiuaba-CE
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, de 7h às 17h
Contato: (88) 3524-1457

+ Além do Ceará
Conheça outras iniciativas nacionais de famílias que transformaram o luto em luta:

Vai Lucas: Após a morte de Lucas, de 10 anos, por asfixia decorrente de engasgamento, numa atividade escolar, a mãe Alessandra Begalli e a tia do garoto, Andrea Betiatii, criaram o projeto “Vai Lucas”, voltado para campanhas de primeiros socorros em Campinas. A luta avançou para uma lei federal, sancionada em outubro, que torna obrigatória a capacitação em noções básicas de atendimento para professores e funcionários de estabelecimentos de ensino.

Não Foi Acidente: Depois de perder a mãe e a irmã, vítimas de um atropelamento por um carro em alta velocidade, com motorista supostamente embriagado, em São Paulo, Rafael Baltresca e amigos criaram o movimento “Não Foi Acidente”. Após seis anos de luta, o projeto conquistou a alteração da Lei Seca federal, em dezembro de 2017, ampliando a pena do crime de trânsito, no caso de homicídio culposo, de 2 a 4 anos para 5 a 8 anos.

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/do-luto-a-luta-morte-de-filhos-leva-pais-cearenses-a-investirem-em-projetos-sociais-1.2021156

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O Oscar e a prevenção do suicídio

Luciana Biagioni (psicóloga clínica)

A dica do dia não é de um filme premiado, mas de uma postura a ser admirada.

Aconteceu na cerimônia de entrega do Oscar de 2015, na categoria Melhor Documentário. O documetário “Crisis hotline: Veterans Press 1” conta sobre os ex-combatentes americanos do Vietnã, que têm um serviço de ajuda telefônica em que os atendentes prestam companhia, conforto, orientações, bem semelhante ao CVV-Centro de Valorização da Vida, aqui no Brasil.

O que aconteceu de mais interessante que aconteceu nessa entrega do Oscar  foi o discurso da produtora do documentário: 
Eu quero dedicar esse prêmio ao meu filho. Nós o perdemos para o suicídio. Nós precisamos falar sobre isso claramente em alto e bom som. 
Logo após alguns minutos, na mesma cerimônia o produtor Graham Moore revelou:
Quando eu tinha 16 anos eu tentei me matar porque eu me sentia estranho, me sentia sem pertencimento. E agora eu estou aqui. Gostaria de dedicar esse momento para todos aqueles garotos lá fora que se sentem estranhos ou diferentes. Que não se sentem encaixados na vida. Sim, vocês se encaixam. Continuem estranhos.Vai chegar a vez de vocês, continuem firmes!
O Oscar é transmitido ao vivo para 225 países. Quanto mais for falado sobre o assunto, mais pessoas poderão ser ajudadas.

Fonte: http://blogs.uai.com.br/vidaemente/2018/10/28/o-oscar-e-a-prevencao-do-suicidio/

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Reportagem sobre o suicídio no Rio Grande do Sul

O Adeus Solitário

Por que o Rio Grande do Sul é o que mais tem casos de suicídios?

Caminhos da Reportagem
No AR em 18/10/2018 - 21:45  - A reportagem pode ser assistida aqui 

Das 20 cidades brasileiras com mais de 50 mil habitantes com as maiores incidências de suicídio, mais da metade é gaúcha. Os dados do Sistema de Informações de Mortalidade/ DataSus são de 2016, mas o problema preocupa os agentes de saúde desde a década de 1990.

Ao fazer o mapeamento das ocorrências, os pesquisadores dos municípios de Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul sempre acabam numa lavoura de fumo, no galpão da propriedade rural onde o lavrador se recolhe para abreviar a vida em seu ato solitário. Os efeitos de agrotóxicos no sistema nervoso central, perdas na colheita causadas por desastres naturais, como chuvas de granizo e depressão não tratada, são em geral algumas das razões apontadas por médicos e pesquisadores.

A segunda maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos não está muito longe da lavoura. O Caminhos da Reportagem foi às escolas na grande Porto Alegre e na zona rural do município de Santa Cruz do Sul para saber como os professores trabalham com a tristeza dos alunos e a prevenção do suicídio.

Neste episódio vamos conhecer a história de sobreviventes que tentaram e não conseguiram, e os que partiram sem dar sinais.

Ficha Técnica

Reportagem: Bianca Vasconcellos
Produção: Aline Beckstein, Paula Abritta, Thaís Rosa e Lucas Scatolini (estagiário)
Imagens: William Sales
Apoio às imagens: Alexandre Nascimento, Bianca Vasconcellos e Jefferson Pastori
Auxílio técnico: Maurício Aurélio, Ivan Meira e João Batista Lima
Videografismo: Lucas Souza Pinto
Edição de imagens e finalização: Maikon Matuyama e Rodger Kenzo
Roteiro e direção: Bianca Vasconcellos


sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Jackie Doyle-Price, ministra da Prevenção do Suicídio na Inglaterra

No dia Mundial da Saúde Mental, o Reino Unido fez história e nomeou um ministro para “acabar com o estigma que obriga demasiada gente a sofrer em silêncio”

É, quase de certeza, a primeira vez que um país nomeia um ministro para a Prevenção do Suicídio. As honras são feitas pelo Reino Unido e a responsável pela pasta vai ser Jackie Doyle-Price, deputada do Partido Conservador. Todos os anos, 4500 britânicos escolhem pôr fim à vida.

“Juntos conseguimos mudar isto. Podemos acabar com o estigma que obriga demasiada gente a sofrer em silêncio. Podemos prevenir a tragédia do suicídio que está a tirar demasiadas vidas. E podemos ainda dar às nossas crianças, como prioridade que tanto merecem, o bem estar mental”, disse a primeira-ministra Theresa May, citada pelo “The Guardian”, esta quarta-feira, quando se assinala o dia Mundial da Saúde Mental, numa conferência sobre a temática.

Além de um ministro designado para esta área, o Reino Unido vai ainda investir financeiramente em estruturas e projetos de apoio à saúde mental infantil. Prevê-se que 1,4 milhões de libras (cerca de 1,6 milhões de euros) sejam aplicados na área. No entanto, um relatório da Whitehall, gabinete nacional de auditoria britânico, revelou esta terça-feira que mesmo com o extra “as necessidades não são significativamente satisfeitas”. Faltam recursos humanos, a investigação é pouca e o controlo dos gastos no Serviço Nacional de Saúde, sublinha o jornal britânico “The Guardian”.

Esta quarta-feira mais de 50 representantes de vários países estiverem presentes na conferência sobre Saúde Mental. O anfitrião foi o secretário da Saúde britânico, Matt Hancock. A nomeação de um novo ministro, defendeu à BBC, vai ajudar a recolher o apoio da sociedade para o problema e equiparar à resposta que já existe para os problemas físicos. “Há longo caminho a percorrer até lá chegarmos. Não algo que se resolva num dia”, disse.

Entre outras áreas, a Saúde é uma das que as quatro nações do Reino Unido têm autonomia. E, por isso mesmo, Jackie Doyle-Price apenas irá exercer funções em Inglaterra nas áreas da saúde mental e desigualdades - além da prevenção de suicídio. Uma das aposta vai ser no uso da tecnologia para identificar os casos de risco.

No Reino Unido, o suicídio é a principal causa de morte nos homens com menos de 45 anos.


Quem é  Jackie Doyle-Price?


Há oito anos foi eleita por Thurrock como deputada pela primeira vez. Jackie Doyle-Price estava agora no ministério da Saúde britânico há cerca de ano e meio, precisamente com a pasta da secretaria de Estado para a saúde mental e desigualdade. Tem 46 anos e é membro do Partido Conservador ainda durante a adolescência.

“Entendo o quão trágico, devastador e quais os efeitos a longo prazo o suicídio pode ter nas famílias e nas comunidades. Durante o tempo que estive no Ministério da Saúde conheci muitas pessoas de luto devido ao suicídio e as suas histórias de dor e perda ficaram comigo por muito tempo”, referiu a recém nomeada ministra num comunicado, citado pelo “The Guardian”. “São estas pessoas que precisam de ser o coração do que estamos a fazer e vejo com bons olhos a oportunidade trabalhar próxima delas, tal como com os especialistas, para acompanhar o plano de prevenção de suicídio definido pelo Governo, garantindo que os seus pontos de vistas vão ser sempre ouvidos.”

Jackie Doyle-Price é licenciado em Economia pela Universidade de Durham, no nordeste de Inglaterra. Hoje, vive em Grays, a cerca de 40 quilómetros do centro de Londres. É casada e o seu marido trabalha para ela no gabinete da secretaria de estado, facto esse que chegou a ser motivo de críticas nos meios de comunicação britânicos.

Fonte: https://expresso.sapo.pt/internacional/2018-10-11-Jackie-Doyle-Price-a-primeira-ministra-para-a-Prevencao-do-Suicidio-em-todo-o-mundo#gs.MOXOtjA

Lady Gaga e a carta-manifesto escrita a quatro mãos em favor da saúde mental

800.000 pessoas se matam a cada ano. O que podemos fazer?

Em muitos lugares, não existem serviços de apoio à saúde mental, e muitas pessoas com condições tratáveis são criminalizadas. Há muito tempo que se espera uma ação corajosa.

Lady Gaga e Tedros Adhanom Ghebreyesus
9/10/2018

Quando você terminar de ler isto, pelo menos seis pessoas ao redor do mundo terão se matado.

Esses seis são uma pequena fração das 800 mil pessoas que se matarão este ano - mais do que a população de Washington, Oslo ou da Cidade do Cabo. Às vezes elas são famosas, como Anthony Bourdain ou Kate Spade, e viram manchetes, mas são todos filhos ou filhas, amigos ou colegas, membros valiosos de famílias e comunidades.

O suicídio é o sintoma mais extremo e visível de uma emergência maior de saúde mental que, até agora, não conseguimos abordar adequadamente. O estigma, o medo e a falta de compreensão agravam o sofrimento das pessoas afetadas e impedem uma ação mais corajosa, que é tão desesperadamente necessária e que, por muito tempo, tem sido posta de lado.

Um em cada quatro de nós terá que lidar com uma condição de saúde mental em algum momento de nossas vidas, e, se não formos nós os diretamente afetados, provavelmente será alguém com quem nos importamos. Nossos jovens estão particularmente vulneráveis, e o suicídio é, em todo o mundo, a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, representando metade de todas as doenças mentais com início aos 14 anos de idade.

No entanto, apesar da universalidade da questão, nós lutamos para falar abertamente sobre isso ou para oferecer cuidados ou recursos adequados. Dentro das famílias e comunidades, muitas vezes permanecemos em silêncio, por uma vergonha que nos diz que aqueles com doença mental são, de alguma forma, menos dignos ou culpados por seu próprio sofrimento.

Em vez de tratar aqueles que enfrentam problemas de saúde mental com a mesma compaixão que ofereceríamos a alguém com uma lesão física ou doença, nós os afastamos, culpamos e condenamos. Em muitos lugares, os serviços de apoio são inexistentes e aqueles com condições tratáveis são criminalizados - literalmente acorrentados em condições desumanas, isolados do resto da sociedade, sem esperança.

A saúde mental atualmente recebe menos de 1% da ajuda global. O financiamento interno na prevenção, promoção e tratamento é igualmente baixo. Atualmente, todas as nações do mundo são um país “em desenvolvimento” quando se trata de saúde mental.

Esse investimento insignificante não é ruim apenas para os indivíduos, é destrutivo para as comunidades e mina as economias. As condições de saúde mental custam ao mundo US$ 2,5 trilhões/ano, um número que deve chegar a US$ 6 trilhões até 2030, a menos que tomemos providências.

Não podemos mais nos permitir sermos silenciados pelo estigma ou frustrados por ideias preconceituosas, que retratam essas condições como uma questão de fraqueza ou falha moral. A pesquisa mostra que há quatro vezes mais retorno sobre o investimento para cada dólar gasto no tratamento da depressão e ansiedade -  as condições mais comuns de falta de saúde mental - , fazendo com que o gasto seja um grande investimento, tanto para líderes políticos quanto para empregadores, além de gerar economia no setor de saúde.

Chegou a hora de todos nós, coletivamente, atacarmos as causas e os sintomas de doença mental, e cuidar dos que sofrem com isso. Você não precisa ser um artista internacional ou o chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS) para causar impacto. Todos nós podemos ajudar a construir comunidades que compreendam, respeitem e priorizem o bem-estar mental. Todos podemos aprender como oferecer apoio aos entes queridos que passam por um momento difícil. E todos nós podemos ser parte de um novo movimento - incluindo pessoas que enfrentaram doenças mentais - para pedir aos governos e à indústria que coloquem a saúde mental no topo de suas agendas.

No Zimbábue, avós estão abrindo o caminho: sentadas em seus banquinhos, elas oferecem sessões de aconselhamento baseadas em evidências, o que está ajudando a derrubar o estigma. No Reino Unido e na Austrália, programas de educação interpares encorajam os jovens a se apoiarem uns nos outros. E a tecnologia móvel está fornecendo novas e empolgantes plataformas para se fornecer serviços e abrir um diálogo saudável.

Desde 2013, a OMS vem trabalhando com as nações para implementar um plano de ação global sobre saúde mental. No início deste ano, a OMS publicou o Atlas Global de Saúde Mental, que fornece informações de 177 países sobre o progresso para atingir as metas do plano. A principal conclusão é que, embora tenha havido algum progresso, precisamos de investimentos significativos para expandir os serviços.

A liderança significativa e sustentada do governo é essencial, e alguns governos já estão começando a dar um passo à frente: desde o do Sri Lanka - onde o governo estabeleceu uma estrutura dedicada de saúde mental e financiou posições para apoiar cuidados de saúde mental nas cidades - até o de Nova York, onde a ThriveNYC (Bem-estar New York City) reuniu líderes locais para construir um plano abrangente de saúde mental.

Esta semana, no dia da Cúpula do Reino Unido sobre Saúde Mental, e no Dia Mundial da Saúde Mental, um painel de especialistas internacionais publicará, no The Lancet, a mais abrangente coleção de pesquisas já produzidas sobre como promover e proteger a saúde mental, e sobre como tratar das doenças mentais. Isso fornecerá a base científica para ampliar a ação global em saúde mental, semelhante ao movimento para o HIV/Aids, adotado pela ONU em 2001. Esse movimento ajudou a salvar milhões de vidas e é uma representação do potencial da ação humana coletiva para enfrentar problemas aparentemente insuperáveis.

Nós dois seguimos caminhos diferentes na vida. Mas ambos vimos como liderança política, financiamento, inovação e atos individuais de bravura e compaixão podem mudar o mundo. É hora de fazer o mesmo para a saúde mental.

Fonte:.www.theguardian.com/commentisfree/2018/oct/09/lady-gaga-mental-health-global-emergency-suicide

Traduziu: Luiz Fernando Dias Pita, professor da UERJ, a quem somos imensamente gratos!

sábado, 6 de outubro de 2018

O suicídio assistido em discussão

Legalizar o suicídio assistido criaria uma triste cultura

O suicídio assistido por médicos estabelece diretrizes arbitrárias sobre quem recebe a prevenção do suicídio e quem recebe a assistência ao suicídio, entre outros problemas éticos

Monica Burke

No Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, 10 de setembro, reconhecemos o suicídio como a tragédia que ele é. No entanto, neste exato momento, os ativistas estão agindo para expandir – não para evitar – o suicídio assistido por médicos.

Essa prática promove a ideia de que algumas vidas são mais valiosas do que outras, uma ideia que destrói o tecido social de nossa nação.

Ninguém deve receber assistência ao suicídio em vez de prevenção do suicídio.

Histórias como a de Jeanette Hall nos lembram que a resposta apropriada ao sofrimento humano deve ser sempre o cuidado amoroso e a solidariedade, e não a destruição.

Depois de perder seu irmão para o suicídio e de receber um diagnóstico de câncer em 2000, Hall foi até o seu médico, Dr. Kenneth Stevens, pedir uma receita para barbitúricos letais.

Em vez de aconselhá-la a morrer, Stevens lembrou a Hall de tudo o que ela tinha por viver, incluindo a formatura de seu filho, que estava próxima, e – um dia – o casamento dele.

“Isso é o que me fez mudar de ideia”, disse ela. “Essa frase”.

Então, ela decidiu fazer a quimioterapia. Ela acabou curada do câncer e comemorou seu 70º aniversário em 2015.

“Eu só ia dizer: ‘Me dê os barbitúricos; é isso’, nem mesmo pensando que eu faria para o meu próprio filho a mesma coisa que meu irmão fez comigo”, disse Hall. “O suicídio é horrível. E, sabendo disso, eu ainda ia fazer essa escolha”.

“Isso teria sido muito doloroso para mim”, disse o filho de Hall, Scott Walden.

A história de Hall nos lembra que todos nós desempenhamos um papel no aconselhamento e na proteção dos doentes, dos fracos e dos idosos, independentemente de sua origem ou circunstâncias.

O suicídio assistido por médicos é antitético a uma cultura da vida por uma série de razões.

Em primeiro lugar, o suicídio assistido por médicos estabelece diretrizes arbitrárias sobre quem recebe a prevenção do suicídio e quem recebe a assistência ao suicídio.

Os pacientes de uma certa idade ou com uma determinada condição de qualificação são instruídos a encerrar suas vidas com ajuda profissional, enquanto outros recebem apoio para continuarem vivendo. Essas circunstâncias são completamente arbitrárias e sujeitas a mudanças por capricho.

Em última análise, as diretrizes de suicídio assistidas por médicos passam a mensagem de que algumas vidas são simplesmente mais valiosas do que outras. Uma mentalidade que privilegia algumas vidas em detrimento de outras infecta a cultura em múltiplos níveis.

Ao contrário do mito prevalente de que o suicídio assistido por médicos é principalmente uma opção para aqueles que sofrem de dores excruciantes, estudos sugerem que a principal causa de suicídio assistido por médico não é a dor, mas o sofrimento existencial.

Acabar com a vida não resolve a solidão, a depressão ou a ansiedade. Negligencia o problema ao custo máximo – o da pessoa.

O suicídio assistido por médicos também ataca as relações que formam o tecido da sociedade.

Quando o suicídio assistido por médicos é uma opção, assim também são os motivos menos puros para escolher – ou pressionar alguém para escolher – a morte sobre a vida.

Os familiares podem ficar cada vez mais tentados a pensar que o suicídio é o que os parentes doentes ou idosos “gostariam” ao enfrentar o custo emocional e financeiro de cuidar dos outros.

Os pacientes podem pensar que estariam “melhor mortos” ao contabilizar o custo que os cuidados médicos adicionais podem ter para suas famílias.

Os médicos podem violar o Juramento de Hipócrates e sua promessa de nunca prejudicar seus pacientes quando o suicídio é tratado como uma misericórdia.

Os pacientes podem reter informações de seus médicos por medo de serem aconselhados a tirar suas próprias vidas.

E ainda, há o desconfortável fato de que é mais barato para os sistemas de saúde e as seguradoras “dispensarem” os pacientes que precisam de cuidados adicionais e mais caros.

As chamadas “salvaguardas” legais são gravemente insuficientes para proteger contra essas tendências sociais negativas. Períodos de espera, solicitações por escrito, assinaturas de médicos – nenhum desses requisitos elimina a pressão sobre os pacientes para se matar ou protegem contra outras formas de abuso.

O suicídio assistido por médicos cria uma cultura onde os mais fracos entre nós são os menos capazes de se proteger da pressão para acabar com suas vidas.

É por isso que grupos como o Not Dead Yet estão na linha de frente do esforço contra o suicídio assistido por médicos, lembrando-nos que nenhuma vida humana é inútil.

O suicídio assistido por médicos desvaloriza a vida humana em circunstâncias que exigem mais proteção e empatia. A vida é tratada como descartável, o que ajuda a explicar por que muitos países europeus que legalizaram o suicídio assistido por médicos agora expandiram para a eutanásia não-voluntária.

Os Estados Unidos não estão a salvo dessas tendências perigosas. Até agora, seis estados legalizaram o suicídio assistido por médicos.

Mas ainda há tempo para mudar de rumo. A América ainda pode escolher a vida em vez da morte. Nós devemos nos comprometer novamente com uma defesa unilateral da vida humana.

Fonte: www.gazetadopovo.com.br/ideias/legalizar-o-suicidio-assistido-criaria-uma-triste-cultura-3nf3m0vrgztet6ajt48ym5tt1/

©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Entrevista com a psicóloga Mariana Tavares

"Uma sociedade que discute porte de arma está na contramão da prevenção do suicídio"

Psicóloga analisa aumento de casos de suicídio no país, papel da mídia na abordagem do assunto, entre outros temas

Raíssa Lopes 26/9/2018

Brasil de Fato - No mundo do jornalismo, há uma regra de não ter publicações sobre suicídio. Isso é correto?

Mariana Tavares - Na verdade, isso de que o jornalista não pode falar sobre o suicídio é uma regra não escrita, é mais um tabu. Em 2006, a Organização Mundial de Saúde [OMS] soltou uma nota orientativa para o jornalismo e a publicação das notícias sobre suicídio. Ela diz para não criar um clima sensacionalista, não abordar o método usado, não ter foto, etc. Isso tudo para não criar, como foi identificado em tempos anteriores, um contágio do suicídio, chamado de Efeito Werther. "Os sofrimentos do Jovem Werther" é um livro escrito no século XVIII pelo alemão Goethe, que conta a história de um amor não respondido e o personagem se suicida. Após a leitura desse livro, houve uma onda de suicídios na Alemanha. Esse seria o motivo pelo qual haveria o impedimento de publicações sobre o assunto. Porém, após a nota da OMS, não é mais estabelecido que não se fale sobre suicídio. O que se sabe hoje é que falar sobre o tema alivia e possibilita que as pessoas possam identificar em si mesmas e na comunidade ao redor o desejo, a ideação suicida. Claro, não é para ter uma cobertura midiática sensacionalista, mas os problemas, as dificuldades, os medos, as inseguranças, a multicausalidade do suicídio e as possibilidades de ver a vida de um novo modo são coisas que podem ser perfeitamente contadas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o oitavo país em número de suicídios no mundo. As estatísticas também mostram que os casos tendem a aumentar até 2020. Existem análises que podem dar conta de fatores relacionados a esse crescimento no nosso país?

O que nos alerta é a rapidez do aumento, que está acontecendo especialmente entre jovens e idosos. Na juventude brasileira, o suicídio oscila entre a segunda e a quarta causa de mortalidade. Entre idosos, os casos aumentam na população com mais de 60 anos. Para fazermos uma análise específica, ainda precisamos percorrer um caminho. Mas o que se sabe em relação aos idosos, por exemplo, é a respeito dos fatores macrossociais, como aposentadoria, a perspectiva de tornar-se improdutivo ou tornar-se um "fardo". Hoje há muito relato de abandono, porque as famílias, nessa batalha pela própria vida, não estão dando conta de cuidar. Mas não podemos olhar pra isso de uma forma moralista, porque é uma questão relacionada a como está a perspectiva macrossocial do cuidado com a população. No Brasil, a melhor forma de prevenir o suicídio é ter políticas públicas de moradia, renda, cultura, educação, entre outras. Em outros países da América Latina, como no Chile, já existem relatos de que o índice dos suicídios entre idosos pode estar se relacionando com o fim da Previdência Social no país - o que nos faz prestar atenção no que vai acontecer no Brasil com a reforma trabalhista e toda essa perda de direitos. É evidente que isso vai bater nas nossas taxas de suicídio (claro que não imediatamente, porque a gente só consegue verificar ao longo do tempo).

São muitos outros fatores possíveis. Quem compõe esse perfil dos idosos são pessoas que trabalharam, que tiveram carreiras profissionais em um mundo que havia emprego e uma identificação forte do sujeito ao trabalho, uma coisa muito importante para a formação da identidade. Hoje, nós vivemos uma "uberização" da economia, em que o conceito de empreendedorismo está crescendo com esse sentido de que é muito legal ser o patrão de si mesmo, que é só você querer que você que consegue. Em uma sociedade que veicula esse tipo de valor, é claro que o individualismo, a competitividade e o imediatismo vão crescer. É uma visão de meritocracia de que o sucesso está nas mãos de cada um, mas ninguém avalia quais são as condições de cada um.

E os cortes de investimentos na saúde mental? Você acredita podem influenciar, um dia, no número de suicídios?

Então, a nossa perspectiva daqui em diante é bem sombria. Podemos ser bastante pessimistas. Há um indicador de que os municípios que têm CAPs [Centros de Atenção Psicossocial] reduzem a taxa de suicídio em 14%. É claro que a existência do cuidado em rede, não só da saúde mental, é um grande fator de prevenção ao suicídio.

No caso da juventude, vemos ultimamente muitos seriados e programas de TV falando de temas como depressão, ansiedade e suicídio. Como você avalia a abordagem dessas produções? 

A gente tem que avaliar isso com muita calma. Eu, pessoalmente, tendo a achar que está ocorrendo uma glamourização, uma estetização, uma espetacularização do suicídio. Existem muitas formas de falar não só sobre a saúde mental, depressão, mas de falar sobre a vida, estratégias comunitárias de valores e pertencimento a grupos.

O que me preocupa bastante no meio de tudo isso é a medicalização da sociedade. A medicalização, que é diferente de medicação, é transformar todos os sentimentos em sintomas biológicos, médicos ou orgânicos. Tem um efeito de tornar algo doença. Pode acontecer de, por exemplo, ao invés de um adolescente falar do seu adoecimento com o intuito de mostrar que deseja ajuda, falar para ter uma espécie de reconhecimento social.

Outra coisa que a gente nota é que compreender o papel da internet é muito difícil. Ainda é um fenômeno pouco estudado porque é de agora e a gente não conhece. É a virtualidade da vida. Inclusive, já existem autores que falam de uma sociedade sem corpo. Ser adolescente é estar saindo de uma situação de proteção, de ser cuidado pelos pais e começar a enfrentar questões relativas à sexualidade, ao amor, à profissão. E isso está se dando de uma forma muito diferente. As relações de amor e de sexualidade estão se virtualizando, o que dá um efeito narcísico e essa falta da troca real da experiência com o outro gera solidão e uma ilusão de autossuficiência.

É comum que quando uma pessoa pratica o suicídio, as pessoas tendam a atribuir a morte a um sentido. Existe um motivo para tirar a própria vida?

É muito importante dizer que a gente pode analisar os aspectos gerais da formação da subjetividade e as taxas de suicídio, analisar o suicídio como um fenômeno macro. Agora, ao falar de cada suicídio, nunca vamos saber exatamente o porquê. Ele é sempre enigmático, multicausal. Não se pode dizer que é porque terminou um casamento, um namoro, porque a pessoa perdeu o emprego. Não dá para fazer afirmações, seria muito leviano e existe sempre uma rede complexa de motivos. Isso mostra o quanto a gente é moralista, o quanto buscamos explicações morais para o fato. É preciso muito cuidado para não arranjarmos culpados imediatos. Numa sociedade tão violenta, competitiva, que faz perder a consciência de classe e de coletivo, a gente também tem que se policiar para não usar esse raciocínio na hora de explicar. Para prevenir, temos que ter um pensamento amplo e não reducionista.

Só se mata quem tem depressão?

Não. E a gente tem que ter muito cuidado porque essa identificação de depressão com o suicídio, em uma sociedade na qual há uma produção de diagnóstico de depressão, é quase uma condenação. O suicídio é de multicausalidade. Pode estar ligado, inclusive, a impulsos. Alguns países conseguiram reduzir os casos porque, dentre outras ações - nunca é só uma -, restringiram o acesso a modos letais, como o veneno, arma de fogo, locais de altura. O que faz perceber que uma sociedade que discute se deve armar as pessoas está completamente na contramão da prevenção do suicídio.

Agora, sobre a depressão: não é uma doença incurável, é tratável e muitas vezes sem necessidade de medicamento. Existe uma confusão muito grande entre processos de perda e luto, que são difíceis mesmo e levam a sentimentos depressivos, mas sem que se caracterize uma depressão. A depressão não é um vírus, é uma coisa que faz parte da narrativa do sujeito, e há a tendência em tornar a depressão uma doença que é culpa do sujeito, da qual ele próprio pode se alienar.

Uma nova profissão que está crescendo ultimamente é o coaching e muita gente acha que tem a ver com terapia. Pode explicar as diferenças?

Bom, existem profissionais sérios em todas as atividades. Porém, o coaching é uma atividade baseada em superar suas dificuldades atingindo metas. Ou seja, é o discurso da produção. E a terapia é encontrar o seu lugar de singularidade, que permite lidar com o seu desejo de uma forma libertária. É uma coisa muito coercitiva do sucesso isso de a gente achar que não tem tempo de construir a própria relação com nós mesmos e entender que as nossas dores são coisas que a gente tem que exterminar.

Você acha que a nossa sociedade não sabe lidar com a tristeza?

Sim… Ela é parte da vida. Essa é mágica das relações de consumo, que te fazem achar que o que te falta é um objeto. E que esse objeto pode ser comprável, uma mercadoria. Vemos muitos pais não conseguindo lidar com a frustração dos filhos e suprir, dar, dar, consumir. Sempre tampando. Tampando essa falta que é, na verdade, o que nos motiva. Somos uma sociedade que realiza demandas, mas deseja pouco.

Eu conheço alguém que tem pensamentos suicidas. O que devo fazer?

Nunca desqualificar. Nunca dizer "ah, mas você tem uma vida tão boa" ou "você tem uma casa e tem gente que não tem". Sempre leve a sério. Se não souber como ajudar, procure ajuda. Pode ser na escola, no serviço de saúde… Chame essa pessoa para falar o que está acontecendo, em espaços terapêuticos mas também em família, no círculo de amizades. Geralmente, um suicídio é precedido por um pedido de socorro. Dizem até que 90% dos suicídios são evitáveis, porque a pessoa dá pista. O Setembro Amarelo é importante pra alertar e diminuir tabus, mas é uma coisa que tem que ser feita sempre. E é necessário tomar cuidado pra não associar à doença, ao ato de tomar remédio.

Fonte: www.brasildefato.com.br/2018/09/26/uma-sociedade-que-discute-porte-de-arma-esta-na-contramao-da-prevencao-do-suicidio/

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Os profissionais da saúde frente ao suicídio e aos pacientes em crise suicida...

A necessidade de profissionais que enfrentem o suicídio

Kelly G. G. Vedana é professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP
25/09/2018

Setembro Amarelo é tempo de falar sobre suicídio, um tema tabu que agora tem voz, principalmente no que concerne à prevenção e diminuição do número do mesmo, envolvendo diversas modalidades de campanhas. Mas precisamos focalizar também na esfera dos cuidados com quem tem ideação, tentou suicídio uma ou mais vezes, aos familiares impactados por essas tentativas ou pela morte de seus entes queridos. Cuidados também aos profissionais que perdem seus pacientes, apesar do seu esforço, sentindo-se fracassados e culpados pela morte deles.

Muitos profissionais se perguntam o que fazer diante de uma pessoa com ideação ou tentativa de suicídio. Como mecanismo de proteção, para não se confrontar com sua incerteza, se negam a atender pessoas nessa condição, utilizando manobras defensivas. Observamos que alguns falam mais do que ouvem, julgam clientes e em atitude contratransferencial descontam neles sua incapacidade, dúvida, incompetência, raiva e outros sentimentos, perdendo a possibilidade de escuta. Essa atitude precisa ser revista.

Há profissionais que se negam a receber pessoas que tentam suicídio afirmando que não podem perder seu tempo tão corrido atendendo pessoas que querem morrer, já que precisam se dedicar àqueles que preferem viver. É muito categórico dizer que todas as pessoas que não suportam mais viver a vida atual querem de fato morrer. Há aqueles que não desejam mais viver essa vida, mas aceitariam continuar vivendo, se pudessem eliminar sua dor, sofrimento, humilhação, vergonha, incapacidade e tantas outras razões. Tratar todos os pacientes que chegam aos seus cuidados como se fossem realizar o ato suicida para morrer, é escutar os seus próprios pensamentos e ideias pré-concebidas, sem conseguir entrar em contato com quem estão buscando cuidar.

Tentativas de suicídio podem ser vistas como ações que têm como objetivo chamar a atenção, enfatizando seu aspecto manipulador. Se vistas como ações somente para atrair atenção, podem conduzir a um não cuidado, já que o aspecto manipulador é o que predomina. Entretanto, sob uma outra visão, o ato suicida tem o objetivo sim de chamar atenção para algo que não vai bem na vida da pessoa e, nesse caso, seu aspecto de comunicação é que fica ressaltado, demandando escuta e cuidados.

Encontramos essas dificuldades mais frequentemente em profissionais que atendem pessoas que buscam os prontos-socorros com sequelas do ato suicida. Chegam assustados, impactados pelo seu ato, ambivalentes por vezes, com profundo sentimento de fracasso, afirmando que não têm capacidade nem para se matar. Ao receber desprezo, preconceito, pessoas que se questionam se vale a pena viver terão mais uma razão para desistir da vida. Trata-se de iatrogenia, formas de atendimento que aumentam o sofrimento.

Há hospitais em que não há atendimento de profissionais de saúde mental, sem proposta de continuidade dos cuidados a quem chega após tentativa de suicídio. Pessoas que realizam o ato suicida voltam ao seu ambiente sem respaldo ou cuidados de saúde mental, desgastados, o que pode estimular a recorrência de tentativas que podem ser letais. Infelizmente a proposta de continuidade de atendimento de saúde mental, como proposto pela agenda de prevenção do suicídio e diminuição de danos de 2006, muitas vezes não é colocada em prática.

O projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS) denominado Estudo Multicêntrico de Intervenção ao Comportamento Suicida (SUPRE-MISS) demonstrou como é importante ajudar pessoas que tentam suicidar-se. No Brasil o projeto foi coordenado por Neury Botega, da Unicamp, com resultados significativos na prevenção da reincidência de tentativas de suicídio. Pessoas que tentaram suicídio foram convidadas a participar da pesquisa. Houve uma divisão em dois grupos, no primeiro eles foram avaliados e encaminhados a serviços na rede de saúde. No segundo grupo, além do encaminhamento, os pacientes também receberam informações sobre suicídio e fatores que podem levar à tentativa de suicídio. Além disso, o grupo 2 recebeu nove ligações da equipe que os atendeu no hospital, com intervalos crescentes durante um ano e meio e nessas ligações havia estímulo para que procurassem ajuda. Ao fim do estudo, no primeiro grupo 2,2% morreram por suicídio e no segundo, 0,2 % (Zorzetto e Fioravanti, 2009). É uma diferença muito significativa, que deve ser considerada nos atendimentos para pessoas que tentam suicídio em serviços de pronto socorro. Além de cuidados humanizados, o encaminhamento e continuidade de cuidados parecem ser a melhor combinação para ajudar pessoas com ideação e tentativa de suicídio.

Para um bom cuidado a pessoas com ideação e tentativas de suicídio precisamos nos dedicar à formação de profissionais de saúde com especialização na área. São poucas as disciplinas que se propõem a discutir o tema do suicídio nos cursos de graduação na USP. No Instituto de Psicologia, a disciplina Psicologia da Morte (PSA 3512), aborda o tema suicídio em três aulas. Em 2018 observamos uma grande procura da disciplina por estudantes de várias unidades da USP, chegando ao número de 333 interações no sistema Júpiter da USP, o que demonstra o quanto estudantes de várias áreas se interessam ou precisam discutir o tema. Pudemos acomodar 100 estudantes na maior sala do IP. Cabe ressaltar também que o maior interesse dos estudantes é sobre o tema do suicídio, o que ficou confirmado pelas respostas sobre a motivação para frequentarem a disciplina e pela escolha do tema suicídio para realizar o trabalho de conclusão do curso. A partir desses dados, apontamos a importância de desenvolver o tema nas disciplinas em vários cursos da USP, enfatizando uma perspectiva multidisciplinar. Além da graduação, é preciso desenvolver o tema também na pós-graduação e estimular pesquisas na área. Oferecemos a disciplina “A Questão da Morte nas Instituições de Saúde e Educação” (PSA 5861) no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano, em que o tema suicídio comparece em várias aulas. Temos ainda orientado dissertações e teses sobre o tema. É um grão de areia na tarefa essencial de oferecer formação na maior universidade de nosso país. Ainda ampliando esse grão, em 2016 oferecemos a disciplina “Suicídio: Prevenção e Luto” (PSA 5921-1) no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia USP na pós-graduação a partir do pós-doutorado de Karina Fukumitsu (bolsista PNPD/Capes) “Cuidados e Intervenções para Sobreviventes Enlutados por Suicídios”. Foi oferecida uma vez, pois era uma das atividades do pós-doutorado de Karina.

Ressaltamos que o cuidado a pessoas com ideação e tentativas de suicídio e a familiares enlutados é tarefa para profissionais especializados numa perspectiva multidisciplinar. É importante que o País, nas suas diversas instituições de saúde, constitua um corpo de profissionais que possa coordenar as propostas de cuidados à população com sofrimento existencial nas suas necessidades específicas. Junto com as campanhas que desenvolvem atividades para a prevenção do suicídio, com cartilhas e programas de valorização da vida, é necessário o mesmo empenho para compor equipes multidisciplinares de cuidados nas várias instâncias de saúde mental em nosso país, a destacar os ambulatórios de saúde mental, os CAPS e UBS em todo o País. Essa é a meta proposta pelo Ministério da Saúde na sua Agenda Estratégia em 2016. Quanto à USP, espera-se que possa compor um grupo de especialistas que teria para si a tarefa de empreender a formação de estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais para estabelecer discussões e reflexões sobre o tema. E também para elaborar programas de cuidados para a população de estudantes, funcionários e docentes da própria Universidade, mas, e principalmente, também oferecer subsídios para muito além da USP, à população brasileira, subsidiando políticas públicas não só de prevenção do suicídio, mas também da posvenção, entendida como cuidados que se propõem a diminuir o impacto das tentativas de suicídio para quem consuma o ato e para familiares que vivem o processo de perda de pessoas pelo suicídio.

Bibliografia

ZORZETTO, R., FIORAVANTI, C. (2009). “Por um fio”. Pesquisa Fapesp, Edição Impressa, 158.

BOTEGA, N. J. (2006). Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.

WERLANG, B.G., BOTEGA, N.J. (2004). Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed Editora.

Fonte: https://jornal.usp.br/artigos/a-necessidade-de-profissionais-que-enfrentem-o-suicidio/

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Um panorama breve sobre como prevenir o suicídio

Psicólogos defendem discussão responsável sobre suicídio

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo mundo, anualmente. Só no Brasil são 12 mil casos por ano, o que significa que a cada 24 horas 38 pessoas se suicidam. Os números podem ser ainda maiores, uma vez que nem sempre o suicídio é notificado. 

De acordo com dados divulgados pelo ministério da saúde na última quinta-feira (19), o Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio no ano de 2016, uma média de um caso a cada 46 minutos. O número representa um crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior, quando 11.178 pessoas tiraram a própria vida. 

Delicado, o tema é uma questão de saúde pública. Para ampliar o debate e quebrar tabus, o CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) iniciaram em 2015 a campanha do Setembro Amarelo. Neste mês, que marca a discussão sobre o tema, especialistas apontam quais ações podem ser importantes para superar esse problema. 


Para a psicóloga Sephora Cordeiro, falar sobre pode ser a melhor solução."O indivíduo que pensa em atentar contra a própria vida passa por um sofrimento emocional muito intenso e, sem dúvida, sofre de algum transtorno psiquiátrico, como depressão", pontua Sephora. Também de acordo com a psicóloga, a pessoa que tem esse tipo de pensamento, às vezes, precisa do apoio das pessoas que estão ao seu redor para que percebam seu sofrimento e a ajudem a reconhecer que precisa buscar um
profissional. 

Sephora lembra que há um grupo vulnerável e que pede uma atenção especial, como os que passam por um sofrimento emocional, principalmente quando associado a um transtorno psicológico ou psiquiátrico. Pessoas vítimas de preconceitos, como LGBTs, vítimas de machismo, de bulliyng ou que vivenciam eventos extremos, como os refugiados. "Muitas vezes é possível perceber indícios de que a pessoa está  enfrentando problemas quando usa frases como "eu não devia ter nascido", "não vejo mais sentido na vida", "queria dormir e não acordar mais", entre outras", afirma a psicóloga. 

De acordo com a psiquiatra Gisele S. Teixeira Bellinello, há ainda algumas variáveis, isoladas ou associadas, que podem ampliar o risco de suicídio, como depressão grave, transtorno afetivo bipolar, síndromes psicóticas, impulsividade, dependência de álcool ou outras substâncias psicoativas, traumas de infância, violência sexual e física, perda ou separação dos pais, Para as duas profissionais, a melhor forma de ajudar e prevenir o suicídio é buscar ajuda e informações sobre o sofrimento psicológico e transtornos psiquiátricos. "É importante que se fale mais sobre suicídio de modo responsável, desmistificando o tema e acabando com o preconceito que ainda existe, estimulando o tratamento", lembra Gisele. 

Com informações da Assessoria. Sob a supervisão de Rafael Fantin. Mariana Sanches, estagiária.

Fonte: https://www.bonde.com.br/saude/saude-e-ambiente/psicologos-defendem-discussao-responsavel-sobre-suicidio-483664.html

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A REPORTAGEM DO ANO DE 2018 EM PREVENÇÃO DO SUICÍDIO!


Sem dúvida, a melhor reportagem sobre prevenção do suicídio em 2018, até agora.

O órgão informativo que a publicou foi o NDOnline - portal de notícias do jornal Notícias do Dia, do grupo RIC Record Santa Catarina.

O acesso pode ser feito neste link.

Ficha técnica
Reportagem: Gustavo Bruning
Edição: Beatriz Carrasco e Schirlei Alves
Fotos: Flávio Tin
Arte: Cristina Oliveira


Entre fatos desconcertantes e a esperança que se renova (mesmo!)...

Um raio-x dos casos e das ações de prevenção ao suicídio no Brasil

Números mostram que mortes por suicídio aumentaram 2,3%, mas ações para mudar o cenário estão em desenvolvimento

Clara Cerioni 20/9/2018

Em 2016, o Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio. O índice é 2,3% maior em comparação com o ano anterior, quando foram registradas 11.178 mil vítimas.

No entanto, é possível que esses números sejam maiores. Segundo Fátima Marinho, diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, há um “subdiagnóstico” de 20% em mortes por suicídio no país.

CVV contra o suicídio (Tânia Rego/Agência Brasil)
A estimativa leva em conta casos de “intenção não determinada”, quando não se sabe se foi um acidente ou realmente uma decisão premeditada de tirar a própria vida.

Os dados foram apresentados pelo Ministério da Saúde, nesta quinta-feira (20), durante uma entrevista coletiva em Brasília.

Para fazer o levantamento, o órgão federal usa o banco de informações do Instituto Médico Legal e boletins policiais de todos os estados brasileiros.

De acordo com Luiz Scocca psiquiatra no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) 97% das pessoas que se suicidam nos dias de hoje têm alguma doença mental.

“Isso mostra que é necessário tratarmos das doenças da mente, como depressão e transtornos de personalidade. O suicídio é um problema de saúde pública e as ações de prevenção são essenciais”, explica.

Quem são as vítimas

Os registros mostram que a população masculina tem uma maior taxa de mortalidade nos casos de suicídio.

Entre os homens, tirar a própria vida é a terceira causa com mais vítimas no país (atrás de violência e acidentes de trânsito), com um crescimento de 20% nos últimos dez anos. Entre as mulheres, é a oitava.

Já a população feminina é a que mais apresenta tentativas de suicídio, mas a que tem menor mortalidade.

“As mulheres tentam, mas não necessariamente querem morrer. Há uma questão familiar, onde a mãe tem um papel fundamental na estrutura e isso é determinante para elas”, explica Fátima.

No entanto, a especialista afirma que é preciso analisar mais profundamente todas as variáveis para compreender com mais precisão esse cenário.

Por distribuição de idade, os jovens são as principais vítimas. A faixa etária com maior número de casos se estende entre 15 e 29 anos.

Já em relação a raça, a população branca é a que mais morre. Em média são 5,9 casos por 100 mil habitantes. Entre os negros e pardos, o índice médio é de 4,7 para 100 mil habitantes.

Em dez anos, estados do Norte e do Nordeste apresentaram um crescimento expressivo de casos de suicídio.

Entre as mulheres, houve alta no Amazonas (88,3%), Rondônia (65,5%) e Alagoas (45,8%). Já entre os homens, o aumento foi em Rondônia (120%), Maranhão (58,8%) e Piauí (48,8%).

Suicídio entre indígenas dispara

A morte de indígenas por suicídio no Brasil é a que mais preocupa os agentes de saúde do governo. A média de casos mortais por 100 mil habitantes chegou a 15,2 no levantamento de 2016. Além disso, os adolescentes, de 10 a 15 anos, representam 40% dessa estimativa.

Na coletiva, Luana Kumaruara, presidente distrital do Conselho Local de Saúde Indígena, explicou que determinantes sociais são fatores responsáveis pela alta taxa de suicídio nesses povos. “A violência, os estigmas e os preconceitos que os indígenas sofrem são algumas das causas.”

Ela afirmou que hoje há 10 mil agentes fazendo a prevenção do suicídio em praticamente todas as aldeias do Brasil. “Todos eles são indígenas e vivem nos territórios”, finalizou.

Ações de prevenção

Recentemente, o Ministério da Saúde liberou 6,5 milhões de reais para desenvolver pesquisas e ações de prevenção ao suicídio.

O dinheiro tem sido distribuído em pesquisas sobre risco de suicídio em pessoas portadoras do vírus do HIV, projetos na área de prevenção no SUS e atendimento humanizado para pessoas que tentaram tirar a vida.

Além disso, Rio Grande do Sul, Amazonas, Piauí, Mato Grosso do Sul e Roraima receberam, cada um, um incentivo de 1,4 milhão de reais para desenvolver ações de prevenção, porque as taxas de suicídio nessas regiões se descolam do restante dos estados.

A gratuidade das ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV) também surtiu efeito positivo. Em 2017, o centro recebeu 2 milhões de ligações de brasileiros em busca de ajuda. O número é o dobro do registrado em 2016.

Para Luiz Scocca da USP, falar sobre o assunto é uma das melhores atitudes para auxiliar quem tem pensamentos suicidas. “O medo e o tabu sobre o tema está acabando. É preciso falar disso, na mídia, claro que com seus cuidados, nas famílias e nas escolas”, conclui.

*Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 188, para o CVV – Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar.

Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/um-raio-x-dos-casos-e-das-acoes-de-prevencao-ao-suicidio-no-brasil/

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Falar em prevenção do suicídio é...

Algumas pessoas julgam mal quem comete o suicídio

Falar em prevenção do suicídio é se colocar no lugar de alguém que busca uma saída, e que não quer morrer, mas 'viver' melhor

Por Renata Brasil Araujo, psicóloga, coordenadora do Programa de Dependência Química do Hospital Psiquiátrico São Pedro e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

E se, em um dia qualquer, em que você se sentisse triste, desesperado com sua vida e sem esperanças, aparecesse alguém que lhe oferecesse uma viagem a um país desconhecido, mas que você imagina que seja um lugar tranquilo, no qual residem pessoas amigas, você iria? Você não se sentiria, ao menos, tentado a ir?

E se essa viagem não oferecesse passagem de volta? E se esse alguém fosse sua própria voz, aquela vozinha interior que se preocupa com você e que jamais lhe daria um mau conselho, mudaria sua opinião?

Falar em Setembro Amarelo e em prevenção do suicídio é se colocar no lugar de alguém que busca uma saída, e que não quer morrer, mas "viver" melhor, mesmo se não houver vida (perdoem-me o paradoxo). Ele pretende viver em outro mundo, que ele sonha que exista, onde mora um Deus bondoso, que vai lhe oferecer paz e perdão. E, se ele não acreditar nisso, por seu ceticismo, deve acreditar que a morte é, pelo menos, o fim para seu estado atual de "nada".

Existem pessoas que julgam mal quem comete o suicídio, mas deve ser porque não percebem o desespero que envolve fazer essa viagem sem volta. A dor do resultado do suicídio, na mente desses que são julgados, parece ser menor do que a dor de viver, e é justamente isto que os impele a tentar. Eles precisam que compreendamos que estão sofrendo e que devem urgentemente receber tratamento especializado para tal. Eles necessitam ser validados nas suas dores, mas também, ser apoiados a não agirem movidos por elas, sendo auxiliados a encontrar alternativas que lhes permitam ser felizes, pois devemos lembrar que há uma associação positiva entre grau de desesperança e risco de suicídio.

Assim, o que resumidamente precisamos fazer é nunca subestimar a dor do outro (este outro que pode estar aí, bem perto de você), mas ouvi-lo, ajudando-o na busca por tratamento e lhe oferecendo a esperança de uma vida melhor. Esse, sem dúvida alguma, é o jeito mais efetivo para prevenirmos o suicídio e diminuirmos os altos índices deste tipo de morte em nosso país.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2018/09/algumas-pessoas-julgam-mal-quem-comete-o-suicidio-cjm59w2sw03qp01pxe4z1vknd.html

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Twitter anuncia novo serviço para prevenção do suicídio
Redação O Estado de S. Paulo  10/9/2018 

O dia 10 de setembro marca o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, e o Twitter aproveita a data para anunciar uma nova parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), para ajudar e dar informações a pessoas que estejam vulneráveis ou propensas ao suicídio.

O serviço #ExisteAjuda funciona assim: ao buscar por termos relacionados relacionados ao suicídio ou automutilação, o usuário vai receber uma mensagem oferecendo ajuda e mais informações sobre como contatar o CVV.


"Você pode obter ajuda. Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil ou em crise, vocês não estão sozinhos. Nosso parceiro CVV pode ajudar. Ligue gratuitamente 188 de qualquer lugar do Brasil", diz a mensagem, que tem um botão para contatar diretamente o serviço.

"O Twitter tem demonstrado preocupação e envolvimento com a causa da prevenção do suicídio no Brasil, dando exemplo para outras organizações. O #ExisteAjuda deve acrescentar ainda mais nesse sentido, fazendo o CVV chegar próximo a pessoas que talvez desconhecessem o serviço, ou mesmo nem pensassem ser possível pedir ajuda para evitar o suicídio. São mais de 30 brasileiros mortos diariamente vítimas do suicídio, o que demonstra que ações como esta são urgentes e necessárias. O CVV atua gratuita e voluntariamente há 56 anos, e sabemos muito bem que quebrar os tabus em relação ao suicídio exige coragem e força de vontade”, afirma Adriana Rizzo, voluntária e porta-voz do CVV.

Em outros países, a mensagem vai dar informações sobre como contatar a central semelhante local. Além do Brasil, o #ExisteAjuda também está sendo implantado na Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Espanha, Hong Kong e Austrália, e já existia nos Estados Unidos, Japão e Coreia.

Além disso, a rede social também se uniu à Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (WSPD, pela sigla em inglês) para lançar um emoji especial com o símbolo oficial da campanha - um laço.  A imagem poderá ser visualizada em tuítes publicados entre os dias 7 e 16 de setembro com as hashtags em português #DiaMundialDaPrevençãoDoSuicídio, #PrevençãoDoSuicídio, e #SetembroAmarelo, além da hashtag #WSPD2018.

https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,twitter-anuncia-novo-servico-para-prevencao-do-suicidio,70002496036

sábado, 8 de setembro de 2018

Faltam estudos científicos sobre o suicídio no Brasil

Os suicídios resultam de uma complexa interação de fatores, diz a Organização Mundial da Saúde

Fred Santana

Resistência da sociedade em tratar do tema faz com que o Brasil seja um dos países com menos estudos científicos sobre suicídio em todo o mundo.

Ao ouvir a palavra suicídio, é muito comum as pessoas que estão ao seu redor reagirem de forma desconfortável, insegura. Afinal, para muitos, é absolutamente inconcebível a ideia de uma pessoa tirar a própria vida. E justamente esta resistência em lidar com o tema por parte da sociedade brasileira que torna o suicídio um tabu em comparação ao resto do mundo. É a constatação feita pela socióloga Maria Cecília Minayo, pioneira sobre o tema.

A pesquisadora esteve em Manaus, na última semana, para apresentar os resultados do estudo “É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação de atuação do setor saúde”. O projeto foi realizado entre os anos de 2010 a 2012, com o objetivo de compreender a magnitude e a significância do suicídio na população brasileira acima dos 60 anos ou mais, cujas mortes ocorreram  no período de 1989 a 2009 no Brasil. Uma das primeiras constatações é justamente que o Brasil está atrasado em relação ao resto do mundo.

“Quando buscamos material de pesquisa no exterior, temos esse assunto amplamente abordado e documentado. Onde realmente há escassez de informações é no Brasil”, lamenta Cecília.

Para a socióloga, o principal culpado por essa negligência é o critério de classificação dos casos de suicídio pelo governo federal. “Ao inserir os casos de suicídio na mesma categoria de crimes, cuja incidência é estatisticamente maior, o poder público faz parecer que o problema é menor do que realmente é. Esse é o nosso calcanhar de Aquiles”, alerta.

Além do atraso do Brasil no trato do tema, a situação de cada faixa etária também foi foco da palestra. Tema central do estudo, o suicídio dos idosos tem como a desatenção o seu principal fator de risco.

“Os idosos são abandonados pela família e não possuem atenção do Estado. Isso leva muitos a se questionarem sobre que tipo de vida estão levando. Ou acabam se sentindo um peso para a sociedade, perdendo assim a motivação de viver. Isso tudo acelera o processo”, observa.

Apesar do estudo ter como foco a terceira idade, Cecília afirma que todas as faixas etárias estão expostas ao problema. “Jovens estão expostos em virtude do início da sua vida amorosa e sexual. O fim de relacionamentos nessa faixa etária é problemático e leva um número considerável a tentar ou cogitar o suicídio. Os homossexuais também são um grupo de grande incidência por conta do bullying que sofrem”, analisa.

No caso de crianças, a desestruturação familiar é o principal vilão. “As brigas de família tem forte impacto nas crianças”, destaca.

O que acontece

De acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), os suicídios resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais. Detectar rapidamente os sinais de alerta, além de fazer o encaminhamento para especialistas e monitorar o comportamento do suicida são passos importantes na prevenção. O desafio está justamente em identificar as pessoas que estão em risco e a que eles são vulneráveis para entender as circunstâncias que influenciam o seu comportamento auto-destrutivo.

Por exemplo, no Japão, o suicídio, até pouco tempo, tinha um significado de valor e estava ligado à salvação do nome da pessoa, à questão da honra. Já nos países ocidentais, sempre esteve mais associado a desordens mentais. Na verdade, o suicídio reflete uma ausência de motivos para continuar vivendo, quer sejam reais ou imaginários.

Nesta era globalizada, os valores econômicos são superestimados e os seres humanos estão sendo classificados como ganhadores ou perdedores, contrariando os preceitos de uma constituição que assegura a todos o direito de uma vida com um padrão mínimo de saúde, cultura e dignidade. Isto fica particularmente comprometido entre nações em guerra, onde todos os direitos assegurados são completamente esquecidos. Este total desrespeito à vida humana tem um preço, e não só em dinheiro, mas também em saúde mental.

Números

A OMS e a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (Iaps, em inglês) instituíram o dia 10 de setembro como o Dia Mundial para Prevenção do Suicídio. Em 2015, a OMS divulgou dados do primeiro Relatório Global para Prevenção do Suicídio, revelando que mais de 800 mil pessoas dão fim à própria vida todos os anos no mundo. E para cada suicídio consumado, há aproximadamente 20 tentativas sem sucesso. O país com maior índice de suicídios é a Rússia, com 39 vítimas a cada 100 mil habitantes. França, Alemanha, Canadá apresentam uma taxa ao redor de 15.

Ainda de acordo com a OMS, o suicídio é um grande problema de saúde pública e aproximadamente 75% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda. O Brasil é o oitavo país, nas Américas, em número de suicídios. “Tem havido um crescimento expressivo do suicídio no mundo inteiro. No Brasil, a taxa é alarmante porque não se falava abertamente nisso, mas se sabe do problema”, afirma o pesquisador da Iaps, Paulo Amarante.

“Esse mito de que o Brasil é um país alegre não é real. Na verdade, o que está acontecendo é um processo muito grande de individualismo e tudo tem a ver, estruturalmente, com as ideias de suicídio”, ressalta.

http://www.emtempo.com.br/os-suicidios-resultam-de-uma-complexa-interacao-de-fatores-diz-a-organizacao-mundial-da-saude/

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

"Uma palavra pode salvar uma vida"!

Núcleo de prevenção ao suicídio atendeu mais de mil pessoas em 2017 em Rio Branco: ‘uma palavra pode salvar uma vida’

Psicóloga Josiane Furtado participou do Bate Papo do G1 desta quarta (5). Setembro Amarelo debate a prevenção do suicídio com programações.

Diego Torres Rio Branco-AC 6/9/2018 

Uma palavra, uma atenção maior e apoio são alguns dos fatores que podem ajudar uma pessoa que pensa em suicídio. Para debater o tema, a psicóloga Josiane Furtado deu dicas e falou sobre o Setembro Amarelo, mês escolhido para prevenção ao suicídio, no G1.


A profissional compõe a equipe do Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb). Os dados do núcleo mostram que no primeiro semestre de 2018 foram atendidos 509 pessoas, que tentaram o suicídio ou que tinham a tendência. Em 2017 foram mais de mil ao londo do ano.

Josiane aproveitou para convidar a comunidade para a 2ª jornada da Prevenção ao Suicídio que ocorre nos próximos dias 10,11 e 12 no auditório da FAAO.

A programação do mês tem ainda uma parceria com o Cine Clube Opiniões, com exibições de filmes na Filmoteca Acreana, anexo da Biblioteca Pública, aos sábados.

"O núcleo tem psicólogos e é livre demanda, qualquer pessoa ou familiar que queira orientação pode ir lá, sendo que não fazemos psicoterapia nesse plantão, a gente encaminha para unidades básicas, clínicas escolas e onde tem as demandas. Caso um desses que a gente atenda precise ser internado, passamos para a classificação de risco, volta para o médico, que avalia junto com a gente e encaminha para os leitos de saúde mental, no Huerb", explicou a profissional.

A psicóloga explicou ainda como surgiu o setembro amarelo. Segundo ela, a campanha iniciou nos Estados Unidos por uma família de um jovem que tinha tentado suicídio.

"Ele tinha um mustangue amarelo que gostava muito e, após essa tentativa de suicídio, a família, ao invés de ficar fechada, viu que tinha que fazer alguma coisa e começou uma campanha familiar e na comunidade para que as pessoas começassem a perceber o outro, perceber o próprio filho, o vizinho em quadro de depressão, de angústia ou de um pânico", relembrou.

O núcleo serve também para ouvir o paciente e detectar o grau de risco de suicídio.

"Se está em um risco fica internado, se não, tentamos colocar esse paciente na rede. Não existe perfil de pessoas que se suicidam. Existem pessoas que demonstram, outras que não e quando a família sabe já até tentou. Atendemos de crianças a idosos sendo que na maioria, 70%, são de até 29 anos e não tem classe social, não tem idade e nem grau de escolaridade", afirmou.

Grupos de autoajuda

Ainda segundo a profissional, existem grupos de pacientes que se reúne no intuito de oferecer ajuda e se auto ajudar no tratamento. Um desses grupos se reúne no Horto Florestal há cada 15 dias. Josiane falou sobre a importância desses encontros, que são promovidos de forma independentes.

"Os pacientes que se internam no Huerb têm o número uns dos outros e eles mesmo ligam e é uma prevenção. Esses grupos de autoajuda são muito importantes, mas existem poucos ainda aqui no Estado", complementou.

'Gatilhos'

Conforme Josiane, as pessoas que tentam suicídio passam por um longo processo até chegar ao extremo de querer tirar a própria vida. Segundo ela, a pessoa não adoece do dia para noite e nem sempre tem um fator ou doença que serve como ‘gatilho’ para resultar no suicídio.

“Existem pessoas que tentam suicídio que não tem depressão, não é esquizofrênico e aconteceu algo na vida dele que não suportou e tentou suicídio. Existem pessoas que podem ter tendência a depressão, mas não têm [tendência ao suicídio], mas aí aconteceram coisas na vida dele e um dia acontece algo que é a gota d’água e o gatilho para que fizesse”, falou.

Outro ponto abordado na conversa foi que nem toda pessoa que tentou suicídio vai tentar novamente.

"Uma vez suicida não sou sempre suicida. Posso ter tentado aquela vez e não tentar de novo. Se tiver feito um tratamento e está em em consigo mesmo um ambiente familiar, escolar porque é todo um contexto ele vai aceitar isso bem", argumentou.

Ajuda da sociedade

Ajuda da família, amigos e conhecidos é importante, mas qualquer pessoa da sociedade civil pode ajudar e contribuir para o tratamento dessas pessoas. Josiane deu dicas de como ajudar uma pessoa com tendência ao suicídio.

"Aprender a ouvir essa pessoa porque hoje estamos em uma correria tão grande que não ouvimos as pessoas. Ouvir sem julgar e perguntar se quer ajuda, se pode ajudar", destacou.

Toda ajuda é bem-vida, mas segundo psicóloga o paciente precisa assumir que precisa dessa ajuda. Josiane explicou uma das principais barreiras enfrentadas é a da aceitação.

"A negação é um dos principais problemas porque se ele não se vê doente não tem como tratar. Não podemos obrigar, tem o direito de escolha", concluiu.

Para assistir a entrevista clique aqui.

Fonte: https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2018/09/06/nucleo-de-prevencao-ao-suicidio-atendeu-mais-de-mil-pessoas-em-2017-em-rio-branco-uma-palavra-pode-salvar-uma-vida.ghtml