terça-feira, 31 de julho de 2012

Prevenção do suicídio nas prisões de Portugal

Os chamados direitos fundamentais são, como sabemos, mais bem respeitados na Europa. Isso chega, naturalmente, às unidades prisionais.

A notícia, abaixo, nos dá a dimensão dos cuidados que os detentos estão a merecer em Portugal.


Prevenir suicídios nas prisões
Os Serviços Prisionais assinam esta terça-feira um protocolo com a Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS) que visa a prevenção do suicídio, um fenómeno que tem vindo a aumentar nas cadeias portuguesas.

Segundo dados fornecidos recentemente à Lusa da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP), de 1 de Janeiro a 25 de Junho deste ano morreram 26 reclusos nas 51 cadeias portuguesas, 18 dos quais devido a doença, e oito por suicídio.

No primeiro semestre de 2011, o número de mortes foi superior, tendo atingido as 35 - duas por suicídio e 33 por doença.

Em declarações à agência Lusa, Jorge Costa Santos, do Conselho Científico da SPS, considerou que o protocolo será uma "mais valia" em benefício da sociedade em geral e dos reclusos em particular, revelando que, pelo acordo, caberá aos peritos da Sociedade Portuguesa de Suicidologia fazer a avaliação do actual programa integrado de prevenção do suicídio nas cadeias, podendo propor medidas ou alterações que visem alcançar progressos nesta matéria.

Jorge Costa Santos, que é também director da delegação sul do Instituto Nacional de Mediciona Legal (INML), considerou ainda que a assinatura deste protocolo é "uma prova de humildade" da DGSP, ao reconhecer que a Sociedade Portuguesa de Suicidologia, através de técnicos e peritos qualificados, é uma entidade que a pode ajudar a minorar o problema.

Evitando ser "juiz em causa própria", o protocolo prevê que seja a SPS a fazer a avaliação externa do programa integrado de prevenção do suicídio nas prisões, num trabalho que passa por fazer a triagem e a identificação dos comportamentos auto-destrutivos num "microcosmos" muito diferente do mundo exterior que é a prisão.

Idade, sexo, depressão, alcoolismo, drogas e doenças graves são factores que devem ser tidos em conta na análise dos riscos, tendo Jorge Costa Santos alertado para a necessidade de um maior acompanhamento dos reclusos na fase inicial da reclusão, porque é nos primeiros meses de encarceramento que o perigo de suicídio é maior.

Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/prevenir-suicidios-nas-prisoes

terça-feira, 24 de julho de 2012

Prevenção e posvenção do suicídio: curso em São Paulo


Os índices de suicídio tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, inclusive no Brasil. Infelizmente pouco tem se falado no assunto e os cursos de formação existentes raramente preparam o futuro profissional para cuidar de um paciente com risco suicida ou para o suporte após o suicídio. Este curso destina-se aos que desejam conhecer os métodos de prevenção, cuidado e posvenção do suicídio para se instrumentalizarem em sua prática profissional, seja ela clínica, pedagógica ou assistencial

Coordenação
Karen Scavacini, CRP 06/64761, psicóloga clínica e gestalt terapeuta pelo Instituto Sedes Sapientiae (2004) e mestre em saúde pública (2011) na área de promoção em saúde mental e prevenção ao suicídio pelo Instituto Karolinska – Estocolmo, Suécia.

Objetivo
Discutir conceitos, fatores e condutas para a prevenção do suicídio e para o apoio e tratamento aos amigos, familiares, colegas de escola e/ou trabalho de quem cometeu suicídio (posvenção) à luz da Gestalt-Terapia.

Módulo 1
Conceitos de prevenção
  • Multicausalidade do suicídio (aspectos culturais, étnicos, sociológicos, psicológicos, econômicos)
  • Fatores de risco e proteção
  • O suicida em potencial e seus diferentes comportamentos nos ambientes em que transita
  • Mitos e verdades
  • Trabalhando com o suicida
  • Trabalhando com a família
Módulo 2
Posvenção ao suicídio
  • Conceito de posvenção
  • Fatores que influenciam no luto por suicídio
  • Comunicando o suicídio
  • Suporte a quem ficou
  • O impacto do suicídio nos diversos ambientes (familiar, escolar, hospitalar, profissional)
Público-alvo
- Profissionais da área da Saúde (psicólogos, médicos e enfermeiros da área de psiquiatria), de Educação (professores e diretores de escola) e do Serviço Social.
- Estudantes (último anistas)

Metodologia
Aulas expositivas, discussão dos conceitos e exercícios práticos.

Número de participantes: 20
Carga horária: 24 horas
Data: de 23 de agosto a 18 de outubro de 2012 (8 encontros de 3 horas, todas às 5ª feiras)
Horário: das 19 às 22h

Local: Instituto Gestalt de São Paulo
Rua Ferreira de Araújo, 652 Pinheiros São Paulo-SP

Mais informações, incluindo valores, acesse: http://www.gestaltsp.com.br/curso/prevpos/

domingo, 22 de julho de 2012

Bom exemplo vindo de Pomerode - SC


NASF orienta a comunidade contra o suicídio através dos meios de comunicação

Desde o ano passado, a Secretaria de Saúde (SESA), por meio do Núcleo de Apoio da Família (NASF), desenvolve um projeto que trabalha a prevenção do suicídio em Pomerode. Neste sentido, a partir deste mês, o NASF entrará em contato com os meios de comunicações e demais órgãos importantes da cidade, com o objetivo de orientar a comunidade sobre o assunto.

A primeira ação realizada por intermédio do projeto intitulado “RE-VIVER”, foi uma capacitação das oito equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF’s). Participaram os agentes comunitários (que tem contato direto com a comunidade), os profissionais de serviços gerais, recepcionistas, assistentes, enfim, todos, que possam identificar sinais e sintomas e orientar, encaminhar ou acionar o serviço adequado em caso de suspeita ou de risco efetivo de suicídio. Também foi produzido um material denominado “Manual de Capacitação para a Rede de Saúde do Município de Pomerode”, que está sendo distribuído aos profissionais da rede para fomentar ainda mais o conhecimento sobre o tema.

Onde procurar ajuda?

Em Pomerode, as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF’s) atendem a maior parte dos casos de risco de suicídio, encaminhando somente casos mais graves para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou para internação, de acordo com a avaliação da Equipe.

Em casos urgentes pode-se acionar o SAMU, os Bombeiros ou encaminhar a pessoa diretamente ao Hospital, para que receba o atendimento e os encaminhamentos necessários.

Outra opção que a população tem para procurar ajuda é o Centro de Valorização da Vida (CVV), localizado em Blumenau, que presta serviço voluntário, gratuito e sigiloso de apoio emocional à população. As pessoas podem ligar no telefone (47) 3329-4111 ou se dirigir até a sede, no horário das 7h às 22h. O CVV fica localizado na Rua Prof. Luiz Schwartz, nº 169, Velha, próximo à Vila Germânica.

Estatísticas

- 2000: mais ou menos 1 milhão suicídios no mundo

- 2020: mais ou menos 1,53 milhão de pessoas cometerá suicídio no mundo. E um número de 10 a 20 vezes maior de indivíduos tentará o suicídio

- O Brasil possui taxas baixas de suicídio: variam de 3,9 a 4,5 a cada 100 mil habitantes (2004)

- Santa Catarina: em 2010 foram 518 suicídios e, em 2011, foram 476 casos.

Em Pomerode:

- 2010: 4 casos (homens)

- 2011: 9 casos (6 homens e 3 mulheres)

- 2012: nenhum caso até o momento

A importância dos meios de comunicação para o combate do suicídio

O Suicídio é um problema mundial e de saúde pública, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde (MS). Conforme a Portaria 1.876/2006, estas três entidades desenvolvem a “Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio”.

A mídia desempenha um papel significativo na sociedade atual, ao proporcionar uma ampla gama de informações, através dos mais variados recursos. Influencia fortemente as atitudes, crenças e comportamentos da comunidade e ocupa um lugar central nas práticas políticas, econômicas e sociais. Devido a esta grande influência, os meios de comunicação podem também ter um papel ativo na prevenção do suicídio. A maneira como os meios de comunicação tratam casos públicos de suicídio pode influenciar a ocorrência de outros suicídios.

Referente a estas informações, o NASF também está divulgando para os meios de comunicação um manual elaborado pela OMS, que procura enfatizar o impacto que a cobertura midiática pode ter nos suicídios, indicar fontes de informações confiáveis, sugerir como abordar suicídios tanto em circunstâncias gerais quanto especificas e apontar as armadilhas a serem evitadas nas coberturas de suicídios. Para obter o Manual, basta acessar o link http://www.pomerode.sc.gov.br/downloads/Arquivos/Prevencao_Suicidio.pdf

Fonte: Assessoria de imprensa 3387-7213/7273
Acesso: http://www.pomerode.sc.gov.br/Noticia.asp?lang=pt&id_Noticia=1658
Data: 17 de julho de 2012

Seminário na UERJ: fatores de prevenção e esperança


4º 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Suicídio e crise econômico-social: o alerta que vem de Portugal


Crise económica e suicídio andam de mãos dadas

Psiquiatra Pedro Afonso diz que existem sérios riscos de ocorrer no nosso país um aumento exponencial do número de suicídios.

“De acordo com os números do Instituto Nacional de Estatística, em 2010 as mortes por suicídio em Portugal ultrapassaram pela primeira vez os óbitos provocados por acidentes rodoviários. Neste caso, ocorreram no nosso país 1101 óbitos por suicídio, mais 86 do que as mortes registadas em acidentes nas estradas durante o mesmo período”.

As palavras são do psiquiatra Pedro Afonso e integram um artigo em que aborda a relação da crise económica com o aumento da taxa de suicídio. E as conclusões não são risonhas: “Considerando o crescimento da taxa de desemprego para cerca de 15%, as dificuldades económicas da população e o consequente acréscimo dos casos de depressão, existem sérios riscos de ocorrer no nosso país um aumento exponencial do número de suicídios”.

E nos últimos tempos as notícias confirmam-no, com as tentativas frustradas ou consumadas.

Pedro Afonso considera que o aumento das doenças psiquiátricas associadas à crise económica é um problema que deve ser monitorizado pelo governo, defendendo o acompanhamento pelos serviços de saúde das situações mais dramáticas como é o caso dos casais em que ambos estão desempregados. E deixa o aviso: “A indiferença política diante do aumento do número de suicídios, no contexto da presente crise económica, pode tornar-se perigosa, pois corrompe o tecido social e exprime a renúncia a um importante compromisso: o compromisso com o futuro”.

O estudo do fenómeno

O fenómeno do suicídio é a razão de existir da Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), sedeada em Coimbra e fundada em 2000. E a relação com a crise não lhe passa ao lado. “Sabemos que uma sociedade em crise económica será um factor de risco acrescido mas, se houver coragem de transformar a crise em oportunidade, talvez possamos começar a construir desde já um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio e assim contribuir para uma eficaz prevenção”.

“Desde 2000 houve um aumento claro das mortes por suicídio. Podendo haver dúvidas quanto à explicação, há certezas quanto aos números e esses apontam, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, para o dobro de suicídios no século XXI relativamente aos anos 90”, lê-se na página da associação na Internet (www.spsuicidologia.pt) onde se acrescenta que embora as taxas em Portugal sejam das mais baixas da Europa, “a sul de Santarém atingem dimensões preocupantes no que aos idosos diz respeito”.

Pressão social influencia o suicídio

A faixa entre Chamusca e Benavente estatisticamente tem taxas elevadas de suicídio, segundo o sociólogo e investigador Garrucho Martins. Apesar de não haver estudos o investigador na Universidade Nova considera que a situação pode estar relacionada com a grande pressão social. Ou seja, são zonas onde a sociedade exerce um grande controlo, onde toda a gente sabe da vida de toda a gente, onde todos se conhecem e a vergonha perante situações de desemprego ou dificuldades económicas potencia o suicídio.

Garrucho Martins explica que há uma tendência para que sejam pessoas da classe média as que mais recorrem ao suicídio, porque estas habituaram-se a ter um bom nível de vida, a terem expectativas em relação ao futuro e quando isso falha começam a entrar em depressão e a ter na morte uma solução. “Os grupos sociais que sempre viveram em instabilidade têm estratégias de adaptação às situações”, explica, realçando que o suicídio é sempre uma solução provisória e que não resolve só por si as situações que acabam por cair em cima das famílias.

Com a crise e a consequente perda de expectativas de futuro, o discurso dos políticos também não ajuda. Se alguém que tem propensão para se matar não ouve dos governantes palavras positivas, de estímulo, o quadro piora. É por isso que Garrucho Martins considera que nesta altura os políticos têm que pensar muito bem nos efeitos dos seus discursos. Até porque o que se está a assistir actualmente é a suicídios de índole anómica, em que todos os valores são negativos, em que já não existem referências e tudo é possível, em que a pessoa anda completamente à deriva.

O investigador lamenta que não exista um acompanhamento das famílias afectadas pelo suicídio, sobretudo as que têm filhos pequenos. A família costuma fechar-se até porque o tirar a própria vida é algo tabu na sociedade e visto como uma coisa vergonhosa, a falha de um projecto pessoal. Também não há na saúde pública um acompanhamento especializado a nível psicológico e psico-educativo de quem tem tendência para se matar. O que acontece é que a psiquiatria nos hospitais faz a medicação mas depois não tem condições para acompanhar a pessoa.

Garrucho Martins é da opinião que se fala pouco do suicídio numa perspectiva educativa, de prevenção. Entende que não deve falar-se de mais, mas também falar de menos é prejudicial e deve mostrar-se que o suicídio tem efeitos muito negativos na sociedade. Para o investigador a situação a que se assiste neste momento com pessoas que põem termo à vida por questões profissionais ou económicas pode levar a uma situação de contágio na sociedade que é muito preocupante. Agravada pelo facto de o Estado Social estar a falhar. O facto de as pessoas saberem que iriam ter uma reforma, que podiam ser curadas se tivessem doentes, que os filhos teriam sempre acesso à educação dava uma certa tranquilidade. Mas agora “assiste-se a uma incerteza perante o futuro que leva desespero”.

Sociedade | Opinião e Comentário | O Mirante (semanário regional) :: 12/7/2012 :: texto adaptado
http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=556&id=84672&idSeccao=9353&Action=noticia

domingo, 8 de julho de 2012

Entrevista com Carlos Estellita-Lins

Suicídio é uma dor silenciosa

Envolto por uma dor extremamente silenciosa, o suicídio é algo carregado de preconceito e estigma. No século 20, o filósofo existencialista Albert Camus classificava-o como “o único tema filosófico realmente sério”, no livro O Mito de Sísifo.

No Brasil, o suicídio começa a ser considerado um problema de saúde pública e chama atenção pelo crescimento: o número de suicidas no país passou de 4,2 para 4,9 em cada 100 mil habitantes na população de todas as idades, e de 4,4 para 5,1 a cada 100 mil jovens entre 1998 e 2008.

Psiquiatra, psicanalista e coordenador do Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio – PesqueSui, da Fiocruz, Carlos Estellita-Lins é organizador do livro Trocando seis por meia dúzia – Suicídio como emergência do Rio de Janeiro, lançado recentemente. Nesta entrevista, concedida por telefone para a Gazeta do Povo, ele fala sobre o tema.

O aumento no número de suicídios preocupa?

Há uma preocupação crescente com o suicídio no mundo em lugares onde há taxas de 35 a 45 casos a cada 100 mil habitantes – que são bastante elevadas – como na Rússia e nos países eslavos.

Contudo, no Brasil o que verificamos é um crescimento entre os jovens, idosos e uma interiorização, ou seja, municípios menores têm mostrado taxas mais altas. Em 2008 foram registrados números intrigantes e alarmantes em Amambaí e Paranhos, ambos no Mato Grosso do Sul, com 49,3 e 35 casos de suicídio por 100 mil habitantes, respectivamente, segundo o Datasus.

Em Ibirubá (RS) o índice é de 34,5. Já Nova Prata do Iguaçu (PR) está em 15.º lugar no Brasil, com 24,7 casos. Em Mato Grosso do Sul, as comunidades indígenas respondem claramente pelas taxas elevadas. No Rio Grande do Sul a incidência é maior em comunidades de colonos ou aquelas ligadas à indústria fumageira.

Quais sãos os principais distúrbios relacionados à prática do suicídio?

É importante observar que o suicídio não é algo isolado, é desfecho de alguns distúrbios. Boa parte dos suicídios, talvez acima de 60%, está diretamente ligada a estados depressivos, incluindo as chamadas doenças afetivas, como o transtorno bipolar. Mas qualquer depressão mais grave, na qual a pessoa esteja em situação de dificuldade e de falta de apoio social, pode levar ao suicídio. A prática também está bastante associada ao uso de drogas e é algo mais comum do que a gente imagina.

As pessoas não necessariamente tentam o suicídio quando adoecem, mas muita gente está exposta a isso em função de estresse grave, conflitos psíquicos, por uma enfermidade concomitante e por uma suscetibilidade biológica. Há também casos de psicose, especialmente a esquizofrenia, em que o suicídio ocorre quando o tratamento é inadequado ou insuficiente.

Por último, sabemos que a impulsividade, característica de personalidade, também aumenta o suicídio quando somada a esses aspectos que mencionamos. Temos um contingente grande de pessoas sob esse risco. Também notamos que a vida moderna, ou seja, a vida desumanizada, excessivamente mecanizada, com poucas relações sociais, com pouca rede social, parece ser danosa. Há menos saúde mental e mais suicídios.

Há uma tendência na população em não falar sobre o assunto. Isso é um problema?

A pesquisa percebeu que a comunidade tende a não falar sobre suicídio em razão dos vários aspectos já conhecidos: preconceitos religiosos, estigma, mas também pelo fato de as pessoas deprimidas serem mal vistas pela família, por amigos ou pela comunidade em geral. Não se compreende bem o que é a depressão.

A população mais carente, mais dependente de renda, tende a ver alguém que não está trabalhando como moralmente condenável, preguiçoso. Assim, a depressão é sempre mal compreendida, o que parece agravar a situação.

Além disso, muitas vezes o suicídio é visto como uma fraqueza moral, ou seja, quem pratica o suicídio é tido como alguém que desistiu e, portanto, não seria uma pessoa digna, o que é incorreto.

A experiência de depressão e de suicídio é algo muito silencioso porque existe tabu e porque todos nós estamos despreparados, os profissionais de saúde e a comunidade. Também é silenciosa porque se trata de uma experiência limite-humana que merece todo respeito, cuidado e carinho, mas na enorme maioria dos casos precisa de tratamento adequado.

Como avalia a forma como a sociedade lida com o sofrimento psíquico? Há profissionais preparados para o tratamento e prevenção?

O suicídio é um assunto extremamente difícil de lidar e não é exclusivo do psiquiatra, do psicólogo, do psicoterapeuta, mas de todo profissional de saúde.

Na Europa já existe uma tendência que diz ser um assunto da comunidade como um todo. Quer dizer que cada cidadão tem de se preocupar e tentar ajudar. O outro extremo é o treinamento dos profissionais, especialmente nas emergências.

O que temos percebido em alguns estudos é que as emergências psiquiátricas estão muito defasadas, existe pouco treinamento do residente e ainda são separadas da emergência geral, o que é uma tendência antiga.

Como a mídia deve tratar o suicídio?

Há dois aspectos importantes. Um é o fato de a Organização Mundial de Saúde (OMS), no início da década de 2000, ter feito recomendações para os profissionais de imprensa no mundo todo, especialmente jornalistas. Essas recomendações foram prudentes no sentido de não se veicularem notícias de pessoas famosas de uma maneira descuidada. O segundo é que nessas recomendações há uma preocupação no sentido de que não se deixe de noticiar.

Não se trata de esconder o assunto nem torná-lo tabu, mas sim sempre dizer que é um distúrbio, que é tratável, que é passível de prevenção, portanto se deve noticiar com cuidado. Também é importante não informar precisamente os meios utilizados [para cometer o ato], ainda mais quando a pessoa é pública. Isso pode ser útil porque você não está dando sugestões para quem é suscetível.

Data de publicação: 8/7/2012
 http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1272963&tit=Suicidio-e-uma-dor-silenciosa

Minicurrículo
CARLOS EDUARDO ESTELLITA-LINS
Médico psiquiatra, doutor em Filosofia (UFRJ), professor e pesquisador do ICICT/Fiocruz
Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1983), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Atualmente é professor&pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Medicina (psiquiatria clínica), com ênfase em Psiquiatria da Infância e Adolescência, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, cuidado, acompanhamento terapêutico, educação em saúde, psicoeducação, relação mãe-bebê, face, psiquiatria da infância e adolescência e psiquiatria comunitária. Desenvolve igualmente pesquisa em epistemologia da saúde e estudos sociais da ciência na área biomédica com ênfase na obra de Georges Canguilhem, em epidemiologia clínica e EBM. Desde 2007 vem se dedicando ao estudo da suicidologia e seus nexos clínicos, epidemiológicos, de saúde pública, ciência da informação e comunicação e saúde.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Trocando seis por mor meia dúzia... Entrevista com o autor desta obra

Livro fala sobre as dificuldades de se tratar pacientes que tentaram suicídio

Entrevista com Carlos Eduardo Estellita-Lins, coordenador do Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz

'Trocando seis por meia dúzia - Suicídio como emergência do Rio de Janeiro' será lançado na próxima terça-feira. Organizado por Estellita-Lins, o livro é resultado de três anos de pesquisa realizada nos pólos de emergência psiquiátrica do Rio de Janeiro. A publicação ressalta as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde no tratamento de pacientes que tentaram suicídio, e a constatação da inexistência de serviços preparados para atender essa demanda.

Para ouvir, clique aqui.

É conversando que se entende, que se previne o suicídio


Falar mais sobre suicídio ajuda na prevenção, dizem especialistas
A falta de diálogo e reflexão sobre o tema, ainda tabu no Brasil, aumenta o sofrimento psíquico

Cida de Oliveira (Rede Brasil Atual)

Além disso, é crescente o número de pessoas em algumas regiões do Rio Grande do Sul e sobretudo entre os indígenas, que se enforcam, se intoxicam com medicamentos e agrotóxicos, como o chumbinho (substância também usada como veneno contra ratos), que disparam contra si próprios armas de fogo ou saltam de grandes alturas.

Considerado problema de saúde pública, o suicídio é definido como ato de deliberadamente tirar a própria vida. “No entanto, nem todas as pessoas que põem fim à própria vida estão em condições emocionais e mentais para tomar essa decisão sem a interferência de um problema mental ou falsas crenças”, diz Neury Botega, professor de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp) no documentário Suicídio no Brasil, realizado pelo Grupo de Pesquisa e Prevenção do Suicídio (PesqueSui), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Seu coordenador, o pesquisador Carlos Eduardo Estellita-Lins, é organizador do livro Trocando seis por meia dúzia – Suicídio como emergência do Rio de Janeiro, lançado esta semana no Rio de Janeiro.

Conforme especialistas, o suicídio é resultado de uma combinação perigosa de depressão, alcoolismo, traços de impulsividade e outros problemas mentais, além da perda de esperança no futuro, da fé, dos sonhos utópicos. A maioria das vítimas brasileiras é de adultos jovens, do sexo masculino.

Para José Belisário Filho, psiquiatra especializado em infância e adolescência que também participa do documentário da Fiocruz, o período correspondente à infância encolheu e a adolescência aumentou. “Pela própria transitoriedade da fase, surgem no período mais ideações suicidas”, diz. Segundo ele, estudos mostram que o número de casos em idade escolar aumentou em comparação com o do século passado. “As pessoas têm medo de falar disso. E os jovens acham que têm algo de muito errado com eles quando têm esses pensamentos. Se eles pudessem dialogar sobre isso, iriam ver que muitos pensam ou pensaram como eles em algum momento da vida”, diz o especialista.

“O problema não é ter o pensamento suicida, mas não saber o que fazer com ele. Falta preparação dos adolescentes e jovens para o sofrimento”, completa Neury Botega, que considera que a falta de diálogo sobre suicídio é como jogar para debaixo do tapete um problema e ser surpreendido mais tarde por um caso fatal que poderia ter sido evitado.

Ainda segundo os especialistas, os serviços de saúde devem oferecer medidas para aumentar as chances de reflexão e ampliar as possibilidades de saídas para a angústia e para o sofrimento e que, assim, a pessoa em sofrimento psíquico encontre outras alternativas além do fim de sua própria existência.

Entre as medidas de prevenção apontadas estão campanhas divulgadas pela imprensa e, principalmente, a restrição de acesso aos meios letais, como o chumbinho, um agrotóxico usado como raticida que tem causado muitas mortes. Em alguns países, como a Austrália, houve redução nas taxas de suicídio depois de amplas campanhas e do desarmamento da população.

Em outros, há sucesso com a colocação de barreiras em plataformas de trens e metrôs e de intervenções em grandes edificações, como a colocação de redes, além da embalagem de comprimidos em cartelas-bolha em vez de soltos, em vidros. “Com isso dá tempo de chegar alguém enquanto a pessoa destaca comprimido por comprimido. Há uma chance de socorro”, diz Marcelo Tavares, do Núcleo de Intervenção ao Suicídio da Universidade de Brasília (UnB).  “A menor dificuldade que se coloca para o salto de uma janela, de um parapeito, pode levar a pessoa a refletir melhor se vale mesmo a pena aquele esforço”, diz Marcelo.

Seis por meia dúzia

O livro Trocando seis por meia dúzia – Suicídio como emergência do Rio de Janeiro é resultado de três anos de pesquisa realizada nos polos de emergência psiquiátrica do Rio de Janeiro. Relata o atendimento aos pacientes que atentam contra a sua própria vida nas emergências dos hospitais da cidade, e aborda as dificuldades dos profissionais de saúde desde a recepção até o atendimento pelo psiquiatra e, principalmente, a constatação da inexistência de serviços preparados para esta demanda.

O livro traz ainda depoimentos de profissionais, de sobreviventes e de camelôs que vendem o chumbinho, veneno dos mais procurados por suicidas, sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vendido livremente.

Publicado em 05/07/2012
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/saude/2012/07/falar-mais-sobre-suicidio-ajuda-a-preveni-lo-dizem-especialistas

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Suicídio: morte evitável


Quando a morte pode ser evitada
Diene Batista
 
De um lado, jovens com idade entre 15 e 24 anos atravessando um período de indefinição: sem   autonomia econômica e emocional, eles precisam decidir sobre os rumos da própria vida. De outro, idosos na casa dos 70 anos que perderam a influencia na família e na sociedade. O desejo – muitas vezes levado a cabo – de tirar a própria vida aproxima essas duas faixas da população distantes etariamente.

É entre os jovens e os idosos que o suicídio mais cresce, segundo a psicoterapeuta e psicodramatista Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira. De acordo com ela, a vontade de interromper a existência  é resultado de uma complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais.

A prática é considerada problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) porque impacta toda a rede de relacionamentos do indivíduo. “Família, amigos e colegas são os sobreviventes dos suicídios, morte que mais gera problemas emocionais graves e tipo de luto mais difícil de lidar”, detalha.

Fundadora do  Inter-Vir Suporte em Perdas, grupo que discute ações de prevenção do suicídio, ela defende que esse é um tipo de morte que pode ser evitada. Para tanto, seria necessário atuar em três frentes: políticas públicas voltadas para a área, a prevenção dessa prática e a capacitação dos profissionais que lidam com indivíduos que tentaram o suicídio.

No contexto brasileiro, entretanto, a perspectiva não é animadora. Segundo a psicoterapeuta, as políticas públicas em relação ao suicídio são raras: há apenas uma Portaria Ministerial define as  Dire­trizes Nacionais de Prevenção ao Suicídio. De acordo com Célia, na academia, as pesquisas sobre o tema são desdenhadas. O quadro parece ainda pior no âmbito da qualificação profissional, em que a formação visando o atendimento de pessoas que já tentaram suicídio é  quase inexistente.

Campanhas

Na última semana, o Inter-Vir realizou em parceria com o Centro de Atendimento em Estudos de Psicodrama (Caep), palestra para esclarecer sobre os riscos e as formas de prevenção do suicídio. A iniciativa contempla o artigo dois das Diretrizes Nacionais de Prevenção ao Suicídio: desenvolver estratégias de informação e de comunicação para mostrar a sociedade que esse é um tipo de morte evitável.
“Existem campanhas para prevenir problemas cardiovasculares, o câncer e os acidentes de trânsito. E campanhas de prevenção ao suicídio?”, questiona o  psiquiatra Heisler  Lima Vilela. A falta de visibilidade dos debates demostra o quanto o tema ainda é um tabu, apesar estar cada vez mais presente na sociedade.
De acordo com a OMS, nos últimos 45 anos as mortes provocadas intencionalmente aumentaram 60%. Estudos da mesma organização mostram ainda que o suicídio é a  6ª causa de óbito dos adultos com idade entre 15 e 69 anos em todo o mundo.

Vilela lembra que a tentativa de tirar a própria vida é uma maneira de tentar resolver em nível emocional algo que faz o indivíduo sofrer. O psiquiatra ressalta que há um sentimento de ambivalência envolvendo a situação vivida. “Em geral, quem tenta o suicídio não está totalmente decidido. A morte seria uma solução para sua dor, mas, ao mesmo tempo, ele quer viver”, explica.  

Levantamento da OMS aponta que 53% das pessoas que planejam e chegam a executar, sem sucesso, um plano de suicídio não seguem o tratamento médico após a 1ª tentativa. Ao ser atendido, porém, nem sempre esse paciente  recebe a assistência adequada, como lembra o psiquiatra Thiago Cézar da Fonseca.

Segundo Fonseca, para muitos profissionais de saúde trata-se de uma “demanda indigna”, especialmente em unidades já abarrotadas de doentes, como os prontos-socorros. “Esse paciente chega a ser vítima de piadas e comentários maldosos, que pioram a situação”, descreve.

Além das deficiências profissionais, o psiquiatra vê na ausência de Centros de Referência sobre suicídio uma lacuna que impede o mapeamento mais detalhado da ocorrência desse tipo de situação e dificulta a elaboração de políticas para a área.

Fonte: http://tribunadoplanalto.com.br