quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Acolhimento no Natal: podemos conversar com o CVV!

 CVV destaca a importância da escuta acolhedora neste Natal


Sílvia Haidar (22 dezembro 2020)

O Natal será mais triste para todos em 2020. A pandemia da Covid-19 já deixou mais de 187 mil mortos no país até esta terça-feira (22).

De uma forma ou de outra, todas as famílias foram impactadas pela doença neste ano. Há aquelas que estão em luto, outras que estão passando por dificuldades financeiras.

Para piorar, o isolamento social não permite que as pessoas se reúnam e se abracem como costumam fazer nas festas de fim de ano.

Ninguém pode carregar esse fardo sozinho”, diz o engenheiro Carlos Correia, 67, porta-voz e voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) há 28 anos.

 


Para ele, a única forma de minimizar o sofrimento nesse cenário é falar sobre os seus sentimentos.

Não deixe de estar presente, mesmo que virtualmente. Se você está bem, mas conhece alguém que não está, ligue para essa pessoa, mande uma mensagem. Mostre que ela não está sozinha.”

Estar disposto a ouvir o próximo de maneira acolhedora é a mensagem que o CVV destaca neste Natal.

“Uma conversa sem julgamentos pode dar início a uma reflexão sobre como temos agido e o que podemos fazer daqui para frente, apesar de todas as dificuldades”, observa.

Para Carlos, o segredo da escuta acolhedora é que ela se desarma e abaixa a tensão no diálogo. “Muitas pessoas que ligam para a gente estão fragilizadas, sem conseguir pensar direito. Ao fazer um desabafo, elas começam a enxergar soluções que não viam antes. Isso pode ser o primeiro passo para procurar uma ajuda profissional, com um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo.”

Mesmo antes do surgimento da pandemia, sintomas de depressão e a solidão no período de Natal costumam fazer a procura pelo CVV aumentar 20% em dezembro.

Atualmente, a entidade conta com 4.200 voluntários em todo o país. São feitos cerca de 10 mil atendimentos telefônicos diariamente – esse número, segundo Carlos, não aumentou durante a quarentena, embora estudos apontem aumento de sintomas de ansiedade e de depressão no período.

Na falta de ter alguém com quem conversar, ou se a pessoa não se sente à vontade para falar sobre seus problemas com um amigo ou um familiar, os voluntários do CVV estão disponíveis 24 horas pelo telefone 188. A ligação é gratuita.

A conversa também pode acontecer por email ou chat em diferentes horários (veja os contatos abaixo). Os atendimentos presenciais estão temporariamente suspensos devido à pandemia.

O QUE É O CVV

O CVV (Centro de Valorização da Vida) foi fundado em São Paulo, em 1962. É uma associação civil sem fins lucrativos e reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973.

O centro presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

COMO ENTRAR EM CONTATO COM O CVV

Por telefone
Ligue para 188 a qualquer momento. O atendimento é 24 horas, gratuito e garante anonimato e sigilo absoluto

Por e-mail
Acesse cvv.org.br/e-mail, preencha os campos com seu nome, email e mensagem, e um voluntário responderá assim que possível

Por chat
Para iniciar a conversa, acesse cvv.org.br/chat e clique no link indicado. O atendimento acontece de segunda a quinta, das 9h à 1h, às sextas, das 15h às 23h, aos sábados, das 16h à 1h, e aos domingos, das 17h à 1h

Atendimento pessoal
O atendimento pessoal está temporariamente suspenso devido à pandemia da novo coronavírus. No entanto, quando for seguro, você pode conversar pessoalmente com um voluntário do CVV nos postos de atendimento. Acesse cvv.org.br/postos-de-atendimento e procure o endereço mais próximo. Também é possível enviar uma carta, que será respondida por um voluntário

Fonte: https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/cvv-destaca-a-importancia-da-escuta-acolhedora-neste-natal/

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Fãs da Liga da Justiça e do diretor Zack Snyder arrecadam dinheiro para ações de prevenção do suicídio

Liga da Justiça 

Movimento pela Snyder Cut arrecadou US$ 500 mil para prevenção ao suicídio

Rafael Alemão (21 dezembro 2020)

Em 2017, Liga da Justiça passou por uma produção turbulenta. A então diretoria da Warner não agradou do conteúdo final feito por Zack Snyder, demitiu o diretor, e contratou Joss Whedon para reformular todo o projeto.

O resultado de todo esse processo feito as pressas foi um enorme fracasso de críticas e bilheteria e, desde então, os fãs faziam campanha para que a versão original de Liga da Justiça, feita por Snyder, fosse lançada.

Vale ressaltar ainda que, na época, um dos motivos alegados para a saída de Snyder foi o suicídio cometido por sua filha alguns meses antes, o que gerou uma enorme comoção dos fãs na internet.

Desde então, muitos dos participantes do movimento pelo lançamento da Snyder Cut também fizeram sua parte na arrecadação de dinheiro e conscientização para a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio.

Segundo revelado por Snyder em seu Twitter, em um post de agradecimento, os esforços dos fãs pelas redes sociais arrecadaram mais de 500 mil dólares para a Fundação.

Zack Snyder’s Justice League será disponibilizado em março de 2021 no HBO Max. O filme será dividido em 4 partes de 1 hora cada, sendo posteriormente lançado em formato completo.

O filme trará a versão original de Zack Snyder para o filme da Liga da Justiça, o que o diretor havia dirigido em 2017.

Fonte: https://ovicio.com.br/liga-da-justica-movimento-pela-snyder-cut-arrecadou-us-500-mil-para-prevencao-ao-suicidio/


Município gaúcho reforça ações de prevenção do suicídio: exemplo a ser seguido

Venâncio lança projeto de prevenção ao suicídio

Projeto ‘Saúde Mental em foco: Acolher é Prevenir’ foi lançado nesta semana

Criado pela Secretaria Municipal de Saúde, com apoio do Comitê Municipal de Prevenção dos Suicídios de Venâncio Aires, o projeto ‘Saúde Mental em foco: Acolher é Prevenir’, que tem o objetivo de desenvolver ações de prevenção ao suicídio e à automutilação, inicia com a visitação aos serviços da rede. O objetivo é fazer o diagnóstico da situação no município.

As profissionais da empresa Converge, de Estrela (município vizinho), – uma psicóloga, uma enfermeira e uma assistente social –, buscam os dados epidemiológicos de suicídio e dos números de serviços, potencialidades e fragilidades. A compilação das informações começou no início de novembro, quando foi assinado o contrato com a empresa vencedora da licitação. A partir de janeiro serão feitas ações diretamente com os profissionais da rede de saúde, educação, assistência social, segurança e outros setores.

Em um ato de lançamento do projeto, nesta semana, na Prefeitura, a coordenadora do Comitê, Patrícia Antoni, comemorou a realização do projeto. “Lutamos bastante para conseguir a implantação deste projeto, que será fundamental para dar suporte e melhor direcionamento para a nossa rede, que não consegue fazer um acompanhamento e um trabalho permanente com os próprios profissionais. Então, o Comitê vai estar apoiando a realização deste trabalho, que vem a agregar muito para os profissionais que atuam diretamente no atendimento”, destacou.

Representando a empresa Converge, a assistente social, Luciana Gorgen, e a psicóloga, Mariana Mazzarino, ressaltaram a importância do projeto. “Temos a certeza de que teremos muito êxito e alcançaremos os objetivos deste contrato e fazer a diferença na busca de soluções para esta problemática existente no município”, destaca Luciana. Da mesma forma, Mariana, adiantou que “já visitamos os principais serviços da rede de saúde, também na educação, assistência e segurança, para termos uma noção das principais necessidades e carências, assim como potencialidades desses setores. A partir disso, vamos, agora, realizar conversas, oficinas de capacitações, algumas mais específicas em relação a serviços especializados, atenção básica, atuação com população infanto-juvenil, dos servidores destes setores e com isso o objetivo é colocar em voga o assunto da saúde mental”, explicou.

O secretário municipal de Saúde, Ramon Schwengber, salientou a necessidade de trabalhar o tema da saúde mental no município. “Sempre tivemos dificuldades de implantar esse projeto, com uma empresa para trabalhar no município nesse tema. Com o edital chegamos a empresa Converge, que já está desempenhando um bom trabalho e que ainda terá vários desdobramentos. Como secretário de saúde fico feliz em deixar esse legado para a cidade. Têm-se inúmeros casos em nosso município e só quem está na ponta sabe das dificuldades e da quantidade de casos que acontecem em nosso município. Por isso, fico feliz em estar participando deste projeto, porque Venâncio precisa falar sobre esse tema, entender o que acontece, fazer um trabalho de base para então tratar essa problemática.”

O prefeito Giovane Wickert enfatizou a necessidade de realizar um trabalho mais aprofundado para alcançar a diminuição do índice de suicídios e de tentativas de suicídio no município. “Venâncio, infelizmente, tem um índice destacado, o que nos deixa inconformados, porque em nível nacional essa marca de maior índice de suicídio se dá em função da cultura do tabaco. E como integrante de entidades de defesa do tabaco isso me incomoda, porque ele é a base da nossa economia. Pode até ser um dos fatores, mas não da forma como é atribuído. Venâncio é o segundo maior município da América Latina em pequenas propriedades rurais. O município que tem mais de 50 mil habitantes com um terço morando no interior, também tem o fator da colonização. Então, é preciso uma análise mais aprofundada de todas as características. Por isso esse é o início da caminhada, queremos que tenha sequência e temos a certeza de que o resultado final será muito importante para Venâncio”.

Fonte: https://folhadomate.com/livre/venancio-lanca-projeto-de-prevencao-ao-suicidio/

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Vozes do silêncio

Campanha de prevenção ao suicídio estrelada por Carlinhos Brown é premiada com ouro em festival da América Latina


Estrelada pelo baiano Carlinhos Brown, a campanha “Vozes do Silêncio”, que exalta a importância do diálogo na prevenção do suicídio, foi premiada com ouro e bronze no El Ojo de IberoAmérica, maior festival de criatividade da América Latina. A peça levou as categorias Mujeres Realizadoras e PR + Influencer.

No clipe de cerca de três minutos, o cantor, compositor e multi-instrumentista aparece como maestro de um coral com 32 participantes, que representam a quantidade de pessoas que tiram a própria vida diariamente no Brasil.

“Um furacão silencioso, um redemoinho mental, uma tormenta diária, uma dor abissal”, diz Brown, antes de iniciar a canção. No decorrer da música o coral é incentivado a soltar a voz. “Eu te entendo e me coloco em seu lugar, eu te vejo e posso te escutar. É difícil e pra quem não é? Mas te garanto, é pior calar”, diz trecho.

Criada pela agência TracyLocke, a campanha tem iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) com o apoio da Libbs, e tem como proposta incentivar o diálogo em torno do tema, além de mostrar que o silêncio, o preconceito e o tabu sobre o suicídio podem ser gatilhos para as pessoas que estão em sofrimento.

“É uma campanha forte e necessária e o filme ficou muito bonito, impactante, uma joia publicitária realmente. Prêmio merecido. É uma honra fazer parte”, avalia Carlinhos Brown, que acumula os títulos de Embaixador Ibero-Americano para a Cultura e Embaixador da Justiça Restaurativa da Bahia.

Fonte: https://infosaj.com.br/campanha-de-prevencao-ao-suicidio-estrelada-por-carlinhos-brown-e-premiada-no-festival-internacional/



sábado, 12 de dezembro de 2020

Saúde mental e políticas públicas no Brasil na visão de Quirino Cordeiro

Esperamos que outras vezes se levantem e abordem as mesmas questões sob outros prismas. Publicaremos todos os que se pronunciarem.  

Três anos da "NOVA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL" - Mudanças contra a Desassistência Ideológica


Quirino Cordeiro – Médico Psiquiatra; Ex-Coordenador Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde (2017-2018); Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania (2019-atual)

Em agosto de 2017, a Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD) do Ministério da Saúde apresentou diagnóstico da “Antiga Política Política Nacional de Saúde Mental” na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) do Sistema Único de Saúde (SUS), mostrando problemas importantes concernentes à Gestão, Modelo Assistencial e Indicadores de Resultados.

No que tange à Gestão, o Ministério da Saúde vinha aportando grande quantidade de Recursos Financeiros para Estados e Municípios sem qualquer execução. Além disso, haviam problemas importantes de produção e eficiência dos Serviços de Saúde Mental pelo Brasil afora.

Resumindo, foram identificados incentivos financeiros que não foram utilizados para criação de novos Serviços (cerca de 1.500 Serviços e mais de 1.000 Leitos em Hospitais Gerais); subnotificação de atendimentos (algumas centenas de Serviços não apresentavam qualquer produção e continuavam a ser financiados pelo Ministério da Saúde); financiamento pelo Ministério da Saúde de dezenas de vários Serviços que não existiam; baixíssima taxa de ocupação de Leitos em Hospitais Gerais com pagamento de diárias como se houvesse sua utilização plena (cerca de 15% de taxa de ocupação, com prejuízo de mais de R$ 80 milhões/ano ao Ministério da Saúde); irregularidades flagrantes na avaliação de Hospitais Psiquiátricos por meio do Programa PNASH, que era utilizada apenas como justificativa para o fechamento desses Serviços; denúncias de violação de direitos em Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), que eram utilizados no processo de Desinstitucionalização de pacientes atendidos em Hospitais Psiquiátricos; centenas de pacientes que já faleceram recebendo benefícios do Programa de Volta para Casa (PVC); mais de 200 obras financiadas pelo Governo Federal e não executadas; vultuosos recursos não utilizados para prestação de cuidados a pacientes (só o Município do Rio de Janeiro, entre 2013 e 2015, recebeu R$ 94 milhões para tratamento de dependentes químicos – situação parecida ocorreu em outros Municípios, como Juiz de Fora/MG e Sorocaba/SP); inconformidades na prestação de contas em convênios realizados pelo Ministério da Saúde com instituições de ensino e pesquisa; ausência de equipe mínima em um quinto dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); baixas taxas de matriciamento e atendimento à crise realizados pelos CAPS; Cursos custeados pelo Ministério da Saúde com baixíssimo conteúdo técnico-científico e alto teor de doutrinação político-ideológica. Tais flagrantes de irregularidades foram informados aos gestores do SUS e encaminhados a órgãos de controle.

Sobre o Modelo Assistencial, a Desassistência era a tônica do processo. Com a não-inclusão dos Ambulatórios na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tais Serviços passaram a não ser mais financiados pelo Governo Federal e, consequentemente, fechados. Tal situação levou à grande Desassistência de base comunitária em Saúde Mental no país, já que os Ambulatórios são extremamente resolutivos e capazes de realizar grande volume de atendimentos, diferente dos CAPS, que atendem menos pacientes, já que se ocupam de casos mais graves e de cuidados mais complexos. Outro grande problema do antigo modelo assistencial era a ausência dos Hospitais Psiquiátricos na RAPS, com o consequente fechamento irresponsável desses Serviços. Quanto às Comunidades Terapêuticas, em que pese terem composto a RAPS desde a sua criação, tais Serviços eram negligenciados e marginalizados pelo Ministério da Saúde.

Esse cenário de manejo ideológico e inconsequente dos Hospitais Psiquiátricos e Comunidades Terapêuticas por parte do Ministério da Saúde levou a consequências nefastas na atenção aos pacientes que apresentam transtornos mentais e dependência química graves agudizados.

Em decorrência dos graves problemas apresentados acima (Gestão e Modelo Assistencial), os péssimos Indicadores de Resultados da “Antiga Política Nacional de Saúde Mental” eram patentes: crescimento sustentado das taxas de suicídio no país nos últimos 15 anos; aumento de indivíduos com transtornos mentais graves em situação de rua; encarceramento de pacientes com transtornos mentais graves; aumento da mortalidade de tais pacientes; superlotação de serviços de emergência com pacientes aguardando vaga para internação; aumento do uso de drogas e dependência química no país; crescimento e expansão das Cracolândias em grande parte das cidades brasileiras; aumento de pacientes afastados pela Previdência Social, principalmente por depressão e dependência ao crack.

Assim sendo, diante desse grave diagnóstico e de suas consequências devastadoras para pacientes e seus familiares no Brasil, os Gestores do SUS pactuaram e publicaram, em Dezembro de 2017, a “Nova Política Nacional de Saúde Mental” (Resolução CIT No. 32/2017 e Portaria MS No. 3.588/2017), com o objetivo de tornar o tratamento mais acessível, eficaz, resolutivo e humanizado. O objetivo era fazer com que pacientes, dos casos menos complexos aos mais graves, tivessem acesso a tratamento efetivo no SUS.

A “Nova Política Nacional de Saúde Mental” contou com o apoio de mais de 70 entidades da sociedade civil, dentre elas de representação de pacientes e familiares, gestores, profissionais de saúde, acadêmicas e científicas.

A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo país, com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental.

Dentro das diretrizes do SUS, propõe-se a implantação de uma Rede de serviços aos usuários que seja plural, com diferentes graus de complexidade e que promovam assistência integral para diferentes demandas, desde as mais simples às mais complexas/graves. As abordagens e condutas devem ser baseadas em evidências científicas. Porém, a “Antiga Política Nacional de Saúde Mental” não seguia tais preceitos.

Assim, a “Nova Política Nacional de Saúde Mental” ampliou a RAPS, que passou a contar com Hospitais Psiquiátricos, Hospitais-Dia, Ambulatórios de Saúde Mental e uma nova modalidade de CAPS, o CAPS IV Álcool e Drogas, além dos antigos Serviços já existentes, com o objetivo de ofertar uma variedade de cuidados, que pudessem dar conta das diferentes necessidades dos pacientes. As ações foram construídas conjuntamente entre os gestores do SUS, conhecedores dos graves problemas pelos quais os pacientes e seus familiares vinham enfrentando no Brasil.

A RAPS passou a ser formada pelos seguintes pontos de atenção (Serviços):
– CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), em suas diferentes modalidades;
– Serviço Residencial Terapêutico (SRT);
– Unidade de Acolhimento (adulto e infanto-juvenil);
– Enfermarias Especializadas em Hospital Geral;
– Hospital Psiquiátrico;
– Hospital-Dia;
– Atenção Básica;
– Urgência e Emergência;
– Ambulatório Multiprofissional de Saúde Mental
– Comunidades Terapêuticas.

Com as novas ações do Ministério da Saúde, as SRTs também passaram a acolher pacientes com transtornos metais em outras situações de vulnerabilidade, como aqueles que vivem nas ruas e egressos do sistema prisional.

Outra novidade foi levar o poder público às áreas de maior vulnerabilidade social e promover o atendimento mais próximo do cidadão: foi criada nova modalidade de CAPS (IV Álcool e Drogas) para funcionar 24 horas, nas regiões de Cracolândias (cenas abertas de uso de drogas).

Além disso, o atendimento ambulatorial também passou a ser incentivado. Para tanto, o Ministério da Saúde começou a custear Equipes Multiprofissionais especializadas em Saúde Mental para atuarem em Ambulatórios, ocupando um vazio assistencial que existia na RAPS. As Equipes Multiprofissionais para atendimento Ambulatorial podem ser alocadas em Clínicas e Ambulatórios, bem como em Hospitais Psiquiátricos e Gerais.

Outro grave problema a ser enfrentado era a falta de Leitos Psiquiátricos especializados e atendimento qualificado nos Hospitais Gerais. Com a “Nova Política Nacional de Saúde Mental”, para a internação psiquiátrica em Hospitais Gerais, começou a ser exigida a presença de profissionais especializados (incluindo médico psiquiatra) em Enfermarias Especializadas, o que passou a dar maior eficiência e qualidade no tratamento dos pacientes. Além disso, após nove anos, o valor pago pelas internações em Hospitais Psiquiátricos foi reajustado, medida que visou garantir atendimento adequado em tais Serviços. Os Hospitais Psiquiátricos também passaram a ter acesso ao Incentivo Financeiro do Programa 100% SUS, direito que lhes era negado. Ademais, as ações da “Nova Política Nacional de Saúde Mental” não tinham mais como objetivo o fechamento de Leitos e de Hospitais Psiquiátricos. O Brasil conta com uma cobertura deficitária nesta modalidade assistencial, devido às ações irresponsáveis de gestões anteriores do Ministério da Saúde. Somando leitos em Hospitais Psiquiátricos e aqueles em Hospitais Gerais, temos no Brasil uma taxa menor que 0,1 Leito por 1.000 habitantes, quando o preconizado pelo próprio Ministério seria de 0,45 por 1.000 habitantes. Este índice está bem abaixo da média de cobertura dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo reconhecidos impactos negativos quando tal índice fica abaixo de 0,3 por 1.000 habitantes. Assim, o Ministério da Saúde começou a corrigir este déficit.

Sobre as Comunidades Terapêuticas, entidades extremamente importantes para o processo de Recuperação de dependentes químicos, foi criado um grupo de trabalho interministerial, com membros dos Ministérios da Saúde, Justiça, Trabalho e Desenvolvimento Social, para estabelecer critérios para o funcionamento, expansão e financiamento desses Serviços. O objetivo foi garantir o acompanhamento do poder público, promovendo a oferta de cuidado de qualidade aos pacientes com dependência química acolhidos nessas entidades. A partir disso, o Governo Federal quase quadruplicou, no ano de 2019, o número de Vagas financiadas em Comunidades Terapêuticas, passando de 2.900 para 11.000, em cerca de 500 unidades em todo o país, garantindo capilaridade a esta Política Pública e aportando cerca de R$ 150 milhões/ano (ações realizadas pela nova Pasta do Governo Federal: Ministério da Cidadania).

Todas essas medidas atenderam a anseios de movimentos sociais, aos desafios enfrentados diariamente por profissionais da RAPS e às necessidades apontadas no diagnóstico inédito realizado pelo Ministério da Saúde no ano de 2017.

Juntamente com a expansão da assistência, o Ministério da Saúde passou a aprimorar o monitoramento e acompanhamento da Política Nacional de Saúde Mental, bem como estabelecer diretrizes e protocolos de assistência para que o atendimento aos pacientes acompanhados na RAPS fosse embasado em evidências científicas. Passou-se a trabalhar para oferecer tratamento realmente de qualidade aos pacientes, com respeito ao dinheiro público.

Além das ações assistenciais, o Ministério da Saúde também começou a atuar com maior vigor na Prevenção. Na frente de dependência química, o Ministério da Saúde passou a ajustar e fazer novos estudos dos Programas de Prevenção que vinham em curso. Isso, pois os estudos conduzidos a partir da aplicação desses Programas (Tamo Junto, Elos e Famílias Fortes) mostraram resultados bastante insatisfatórios, sendo que o Programa Tamo Junto chegou a causar ação iatrogênica. Os adolescentes que foram submetidos a esse Programa passaram a fazer uso mais precoce de Álcool. Esse fenômeno ocorreu, pois o Programa Tamo Junto foi traduzido para o português adaptado para a realidade brasileira seguindo concepções ideológicas e afastando-se de sua versão original, que é o Programa “Unplugged”. Esses resultados inaceitáveis foram detectados por pesquisas realizadas e publicadas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

No que tange à Prevenção do Suicídio, o Ministério da Saúde lançou, em setembro de 2017, ações estratégicas nessa área. Publicou o primeiro relatório epidemiológico sobre o tema no país. Fez oficinas com a Imprensa para discutir e orientar sobre o tema. Ainda como parte dessas ações de Prevenção, foi realizado convênio, em março de 2017, com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Por meio dele, as ligações ao CVV deixaram de ser tarifadas, o que levou a grande aumento na demanda. Para dar conta dessa nova realidade, o Ministério da Saúde aportou recurso financeiro para que a entidade passasse a se organizar nesse novo contexto. O Ministério da Saúde também passou a ter ações prioritárias de Prevenção do Suicídio, nos seis Estados do país com maiores taxas desse fenômeno, a saber, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Roraima e Piauí. O Governo Federal liberou R$ 1.440.000,00 para a realização de ações nesses Estados, que passaram a ocorrer por meio de trabalho em conjunto com os territórios, levando-se em consideração as especificidades locais.

O Ministério da Saúde incluiu máquinas de Eletroconvulsoterapia (ECT) no rol de equipamentos custeados pelo Fundo Nacional de Saúde. Tal medida visava ofertar assistência de qualidade e efetiva a pacientes que padecem de transtornos mentais graves, refratários e que muitas vezes colocam em risco a sua existência.

Não era mais possível aceitar que, baseando-se em questões meramente ideológicas, o sistema público de saúde não reconhecesse a importância da ECT no tratamento dentro do SUS. Tal abordagem terapêutica salva vidas e tem sua efetividade reconhecida por uma infinidade de pesquisas científicas, sendo método terapêutico reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Por exemplo, a ECT apresenta os melhores resultados terapêuticos no tratamento de pacientes com depressão grave, quando comparada a qualquer outra modalidade de tratamento.

É importante ressaltar que as mudanças descritas acima foram realizadas em obediência à Lei 10.2016/2001, que redirecionou o modelo da assistência psiquiátrica no Brasil e estabeleceu direitos dos portadores de transtornos mentais, incluindo dependentes químicos. Vale lembrar aqui que é direito do paciente “ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades”, de acordo com a Lei 10.216/2001, mostrando a necessidade de se ofertar tratamento aos pacientes, de acordo com suas necessidades, e complexidade de seus quadros clínicos. Diante disso, a RAPS foi ampliada, com a inclusão de novos pontos de atenção, com o objetivo de ser mais estruturada e equilibrada na oferta de tratamento e cuidado aos pacientes e seus familiares. Seguiram-se orientações das melhores práticas nacionais e internacionais para o atendimento da pessoa que apresenta transtorno mental, bem como de seus familiares. “A atenção equilibrada é essencialmente comunitária, mas os hospitais têm um importante papel de retaguarda… É importante coordenar os esforços de uma diversidade de serviços de saúde mental” (Thornicroft & Tansella, 2008).

Vale frisar que não há qualquer motivo para privar o paciente com transtorno mental de uma RAPS potente, poliárquica, com serviços de diferentes níveis de complexidade integrados e articulados. Assim sendo, não há nenhuma evidência, por exemplo, de que Ambulatórios de Saúde Mental, Hospitais-Dia, Hospitais Psiquiátricos devam ser excluídos da RAPS, em nenhum lugar do mundo. Basta estudar os Sistemas Públicos de Saúde Mental do Canadá (“British Columbia Mental Health Services”), Austrália (“Australian Mental Health Service Organisations”), França (Relatório Sumário – Saúde Mental na França – OMS), Alemanha (Brochura sobre o Sistema de Saúde Alemão – OMS) e Reino Unido (“National Health Services – UK – South London and Maudsley Trust”), por exemplo. Ou atentar para como são organizadas outras áreas da assistência no SUS, como cardiologia, ortopedia ou oncologia. Os Serviços devem, sim, seguir os princípios básicos de legalidade, ética, atendimento humanizado, qualidade e de atendimento baseado em evidências. As três esferas dos Governos devem atuar de forma orientadora e fiscalizadora, garantindo o seguimento das normativas vigentes. Os Serviços devem sempre ser regulados, fiscalizados e melhorados.

É importante ressaltar que a RAPS foi expandida e fortalecida, sem prejuízo de nenhum de seus componentes.

Novos componentes da RAPS, qualificação técnica dos Serviços e dos profissionais, incorporação das melhores práticas e melhoria da retaguarda para quadros clínicos agudos são medidas a favor dos pacientes e suas famílias e contra a cronificação, o desamparo, o abandono, o encarceramento e a morte precoce, ou seja, em defesa dos Direitos Humanos. Em última análise, são os portadores de transtornos mentais e suas famílias os principais interessados e afetados pela falta de recursos, falta de vagas assistenciais de qualidade e falta de uma Rede que contemple de fato as diferentes necessidades e cenários existentes na Saúde Mental.

Assim sendo, as mudanças e ações da “Nova Política Nacional de Saúde Mental” ocorreram em defesa do SUS, do cidadão e de seu direito a um atendimento efetivo, humanizado e de qualidade em Saúde Mental. O SUS passou a buscar uma Rede assistencial equilibrada, ofertando tratamento, de acordo com as necessidades dos pacientes e seus familiares.

Assim, a política pública passou a se adequar às demandas dos pacientes, e não o contrário.

Fonte: www.alagoas24horas.com.br/blog/tres-anos-da-nova-politica-nacional-de-saude-mental-mudancas-contra-a-desassistencia-ideologica/

domingo, 6 de dezembro de 2020

Refinamento e foco: prevenção do suicídio chegando a públicos específicos

Projeto prevê atenção especial a pessoas com deficiência nas políticas de prevenção ao suicídio


Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostra que, de 2011 a 2016, 25,5% das mulheres que tentaram suicídio, e 27,7% dos homens possuíam algum tipo de deficiência ou transtorno

Fonte: Agência Câmara de Notícias (https://www.camara.leg.br/noticias/710205-projeto-preve-atencao-especial-a-pessoas-com-deficiencia-nas-politicas-de-prevencao-ao-suicidio/)

 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ayahuasca na prevenção do suicídio - das pesquisas às práticas pioneiras

Brasileiros apontam potencial da ayahuasca para prevenir suicídio

Ayahuasca usada no Centro de Recuperação Caminho da Luz, no Acre

Marcelo Leite (19 nov. 2020)

Cerca de 800 mil pessoas se matam por ano no planeta, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). As Américas são a única região do mundo onde a taxa de suicídios aumentava, puxada pelos EUA, e ela poderá subir ainda mais sob os rigores da pandemia de Covid-19. Poderiam os psicodélicos ajudar a prevenir esses atos extremos de desespero?

Duas pesquisas recentes no Brasil indicam que sim, talvez a ayahuasca possa contribuir para isso. Já se comprovou o efeito antidepressivo do chá, mas os novos estudos são os primeiros no exame de seu potencial para desarmar ideações suicidas.

Prepara-se a bebida ritual de religiões como Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal com a cocção de folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis) e do cipó mariri (Banisteriopsis caapi). Por sua condição de sacramento, ela é legal no Brasil, o que facilita a pesquisa com a substância psicoativa proibida dimetiltriptamina (DMT) presente na chacrona.

Fortaleceu-se assim, no país, o campo de investigação da ayahuasca. Em 2019 ele rendeu o primeiro teste clínico controlado por grupo placebo de um psicodélico para tratar depressão resistente, publicado pelo grupo de Dráulio de Araújo no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN).

Os dados sobre tendências suicidas são filhotes desse trabalho pioneiro. Dos 29 participantes do ensaio clínico, 14 tomaram ayahuasca, e 15, uma substância inócua (o placebo). A publicação se deu exato um ano atrás no periódico Frontiers in Pharmacology.

O objetivo primeiro era detectar efeito antidepressivo do chá, o que foi comprovado. Os psiquiatras avaliaram também suas tendências suicidas, numa escala padronizada de 0 (gosta da vida e a aceita como é) a 6 (planos explícitos ou preparação para suicídio). Constataram que as ideações suicidas diminuíram significativamente só no grupo da ayahuasca e que o efeito benéfico se manteve por uma semana.

O segundo estudo sobre suicídio tem dois autores em comum com esse primeiro, Richard Zeifman, da Universidade Ryerson (Canadá), e Jaime Hallak, da USP em Ribeirão Preto. Publicado quase um ano depois, em 29 de outubro, saiu na revista Psychopharmacology.

A diferença é que, neste caso, todos os 17 pacientes avaliados tomaram ayahuasca, ou seja, não houve grupo placebo. Por outro lado, a duração foi maior, 21 dias – e mais uma vez se constatou a permanência da redução das ideias suicidas.

Em ambos os artigos os autores assinalam que são estudos preliminares, realizados com amostra pequena de portadores de depressão grave. Recomendam, em face dos resultados promissores, realizar ensaios com amostras maiores para confirmar o achado. Até lá, não conte com psiquiatras a receitar ayahuasca como estratégia de prevenção do suicídio.

Se confirmado o benefício potencial do chá, entretanto, seria uma opção bem-vinda. Uma dose única de ayahuasca tem efeito imediato, enquanto os antidepressivos hoje disponíveis podem demorar semanas para fazer efeito, e mais de um terço dos pacientes não melhora com eles.

A cetamina, outra substância psicodélica, tem sido empregada para agir rapidamente contra ideações suicidas. Diferentemente da ayahuasca, requer uso continuado e pode acarretar risco de dependência. A escetamina, composto aparentado, recebeu autorização da Anvisa para uso na forma de spray.

Não se sabe ainda, em detalhe, como a ayahuasca – e outros psicodélicos como a psilocibina de cogumelos  – age contra a depressão e pensamentos suicidas. Eles parecem flexibilizar e enriquecer a comunicação entre áreas cerebrais, o que pode abrir caminho para interromper ruminações.

Essa plasticidade teria origem na formação de novas conexões entre neurônios, e um dos compostos presentes na ayahuasca, a harmina, já demonstrou favorecer a formação de sinapses. Também parece estar envolvido um efeito anti-inflamatório, mas ainda faltam muitas peças nesse quebra-cabeças.

O fato de drogas psicoativas como DMT, LSD e MDMA permanecerem na lista de substâncias proibidas ergue um obstáculo considerável para a rediviva ciência psicodélica. Aplicações para condições como estresse pós-traumático, ansiedade, alcoolismo e anorexia ficam assim desnecessariamente dificultadas, pois esses compostos têm baixa toxicidade e baixo potencial para causar dependência.

Soa particularmente irracional deter a pesquisa de alternativas promissoras contra a perda de vidas para o desespero. O suicídio é a segunda causa de morte para jovens de 15 a 29 anos (depois de acidentes de trânsito e à frente da violência urbana), e eles estão entre os que mais sofrem as consequências da pandemia, apartados do estudo e dos empregos que lhes permitem crescer na vida.

Fonte:  https://viradapsicodelica.blogfolha.uol.com.br/2020/11/19/brasileiros-apontam-potencial-da-ayahuasca-para-prevenir-suicidio/

domingo, 15 de novembro de 2020

Zack Snyder e suas ações beneméritas em favor da vida

Zack Snyder lança camisa de Darkseid para levantar fundos para prevenção a suicídio

Renan Barcellos (11 novembro 2020)

O diretor Zack Snyder lançou outra nova campanha para beneficiar a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio. Lançando uma nova camiseta inspirada no visual de Darkseid em sua versão da Liga da Justiça, Snyder disse aos apoiadores que deseja arrecadar cerca de $70.000 dólares em vendas.

Darkseid (personagem fictício da DC Comics)

Esse montante colocaria os fãs do #ReleaseTheSnyderCut acima da marca dos $500.000 dólares em dinheiro arrecadado para a Fundação, já que os fãs começaram a escolher o grupo como sua instituição de caridade preferida. Essa luta é algo muito caro para Snyder; a razão pela qual ele deixou Liga da Justiça na primeira vez foi o suicídio de sua filha durante a produção.

Snyder compartilhou a imagem, com arte de Alex Pardee, com uma nota aos apoiadores que dizia: “Juntos, já arrecadamos mais de $430.000 dólares para a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio e seu trabalho incrivelmente importante. Esperamos que você possa ajudar nós alcançamos meio milhão de dólares! “
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O pai da suicidologia


Gustavo Bastos

Edwin Shneidman nasceu em New York, em 1918, e morreu em Los Angeles, em 2009. Este estudioso, que é considerado por muitos como o pai ou o fundador da Suicidologia, foi um psicólogo de formação, e como um dos expoentes principais na investigação intelectual e empírica na área do suicídio e da tanatologia, trouxe muitas contribuições em caráter pioneiro que culminaram nas ações preventivas contra o ato suicida.

Shneidman foi um dos pioneiros do Centro de Prevenção do Suicídio de Los Angeles e da Associação Americana de Suicidologia, foi professor na Universidade da Califórnia, e ajudou na fundação da revista Suicide and Life-Threatening Behavior. As obras principais de Shneidman são: The definition of suicide, de 1985, Suicide as psychache, de 1993, e The suicidal mind, de 1996.

Shneidman partiu para as suas investigações sobre o fenômeno do suicídio tendo como uma das inspirações as teorias da personalidade de Henry Murray, e Shneidman então consolidou a
concepção de que o suicídio seria o resultado final da confluência de um máximo de dor, um máximo de perturbação e um máximo de pressão, uma espécie de modelo cúbico que ficou conhecido como o "cubo suicida de Shneidman".


Neste cubo as variáveis podem aumentar ou diminuir a sua força, o que leva a especificar do que se trata tais variáveis. Ou seja, quando Shneidman se refere à dor, ele fala deste tipo de dor psicológica, que se refere à frustração pela falta das necessidades básicas psicológicas, e que se constitui como o fator central do fenômeno suicida.

No que se refere à concepção sobre a perturbação, engloba todo tipo de distúrbio, que pode ser exemplificado pelas distorções cognitivas e as automutilações. A concepção sobre a pressão se
refere ao que está fora e dentro do indivíduo, que está relacionado às vivências e aos acontecimentos de sua vida.

Shneidman coloca a intencionalidade do suicida em três aspectos que são a morte intencional, que implica num protagonismo consciente do suicida, um ato deliberado de se matar, a morte não intencional, em que pode ocorrer uma morte auto-infligida, mas em caráter acidental, como o disparo de uma arma de fogo de modo involuntário e, também, a morte subintencional, com um protagonismo indireto ou inconsciente do indivíduo, como ocorre, por exemplo, num acidente automobilístico violento.

As 10 características mais comuns aos suicidas, na classificação de Shneidman, tem definições como:


    Propósito - procura de solução;
    Objetivo - parar a consciência;
    Estímulo - dor psicológica intolerável;
    Stress - frustração pela falta das necessidades psicológicas;
    Emoção - desespero-desesperança;
    Estado cognitivo - ambivalência;
    Estado perceptivo - constrição;
    Ação - fuga;
    Ato interpessoal - comunicação de intenção e
    Consistência - de acordo com estratégias de "coping" mal adaptativas do passado.

Shneidman reúne os elementos que podem contribuir para o ato suicida, e que é seu ensaio de um cenário suicida explicativo, colocando o sentimento de dor intolerável, que se refere a necessidades psicológicas básicas que foram frustradas e não realizadas, as atitudes de autodepreciação, baixa auto-estima, que denotam uma auto-imagem que sucumbe ao não suportar uma dor psicológica intensa e profunda.

Tem, ainda, a incapacidade do indivíduo de dar conta de sua vida prática, de suas tarefas diárias, também incluindo a sensação de isolamento, e o desespero e a desesperança, em que o indivíduo já não vê o que fazer para sair de sua situação difícil, além da fuga, em que a cessação da existência é o que resta como solução para uma dor intolerável.

Em 1987, Shneidman escreve: " No Ocidente, o suicídio é um ato consciente de auto-aniquilação, melhor compreendido como uma doença multidimensional num indivíduo carente que acredita ser o suicídio a melhor solução para resolver um problema".

Em 1996, por sua vez, Shneidman vai além dos famigerados marcadores biológicos e centraliza o foco do suicídio como um fator de fracasso da sociedade. Em 2001, ele afirma: "O suicídio é um drama da mente… quase sempre relacionado com a dor psicológica, a dor das emoções negativas".

Shneidman estará também na elaboração do que será chamado de autópsias psicológicas, uma metodologia de investigação empírica sobre casos de suicídio. Este termo surgiu em 1958, se ligando ao esclarecimento de mortes após a realização da autópsia médico-legal, numa colaboração entre médicos-legistas e a Psiquiatria e a Saúde Mental.

Saindo de Los Angeles para o mundo, esta metodologia de investigação reuniu dados mundiais que apontaram a realidade da existência, referindo-se a estudos que envolveram milhares de suicidas, de patologia psiquiátrica em cerca de 90% dos casos e depressão em mais de 50% dos suicídios.

No que se refere ao cuidado da família dos suicidas, a intervenção de Shneidman foi designada pelo próprio como "pósvenção", que é, então, a intervenção específica sobre os familiares e amigos, sobretudo no auxílio aos processos de luto, no direcionamento de sua resolução.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

Fonte: www.seculodiario.com.br/colunas/o-pai-da-suicidologia

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Duas cartilhas, uma mensagem de alento!

Enquanto houver sol, ainda há de haver saída...

 Zelia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

“Teve um momento e­m que, após ter testado positivo para a Covid-19, e de ter ficado bem ruim, achei que seria o fim. Você não imagina como é quando o ar não vem, e a gente precisa ser entubado, com risco de morrer. E o pior foi que, além disso, me lembrei de que estava brigado com meu pai, me sentia tão triste, mas tão sem chão, que cheguei a procurar suicídio. E diante da ameaça de morte pelo vírus, percebi que eu ainda poderia lutar para ficar bem com meu pai, e vencer os demais problemas em vez de buscar o suicídio, porque me dei conta de que, mesmo quando parecia não haver saída, haveria uma saída”.

O depoimento desse jovem, nominado aqui João Batista, me fez buscar estatísticas de suicídios. Nas Américas, por exemplo, segundo dados da OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 100 mil pessoas se suicidam anualmente. Conforme dados de 2016, são mais praticados por homens (em 78% dos registros), entre 25 e 44 anos (36%); e de 45 a 59 anos (26%).

Em Santa Catarina, conforme o Ministério da Saúde, 400 pessoas já morreram por suicídio em 2020. A maior parte das vítimas eram homens entre 20 e 59 anos. Os que tentaram e não morreram foram 2.678, destes, 764 jovens entre 20 e 29 anos.

Renato Oliveira e Souza, chefe da Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OPAS, considera fundamental que a prevenção do suicídio seja um trabalho conjunto. E você me pergunta: “Como assim? Porque eu não saberia o que fazer quando percebesse, antecipadamente, que uma pessoa quer se suicidar”. Ah, você saberá, sim, depois que ler os itens a seguir, que são elencados pelos CVV – Centros de Valorização da Vida (Ligue 188), que fazem atendimentos voluntários 24 horas, gratuitos e sigilosos:

a) ofereça escuta ativa, aquela que realmente dá o tempo para a pessoa se expressar, conforme for se sentindo à vontade.

b) diante da manifestação da pessoa estar depressiva ou dizer que a vida não tem jeito, por estar cheia de problemas, jamais a reprima dizendo “não faça isso, é pecado”. Escute-a, ajude-a, ofereça ajuda e suporte profissional.

Não conhece os sinais de alerta? A OPAS lembra que a pessoa:

a) fala sobre querer morrer, sentir grande culpa de algo;

b) sente raiva ou dor insuportável, física ou emocional;

c) come ou dorme muito pouco, usa álcool com mais frequência.

d) pesquisa na internet maneiras de morrer ou sobre planos de suicídio.

E você, já fez algo para prevenir o suicídio de alguém? Não é porque setembro terminou que os suicídios diminuíram. Por isso, “enquanto houver sol, sempre haverá saída”, e mesmo “a sós, ninguém está sozinho, é caminhando que se faz o caminho” (Titãs). Vamos nessa? Inspire-se, ouça a canção e acesse o livro Suicídio na Pandemia Covid-19. Eis uma das cartilhas. 

A outra é a Acolha a vida Porque a vida vale a pena! Orientações para famílias sobre automutilação e suicídio produzida sob a batuta da Angela Gandra, Secretária Nacional da Família.


 

sábado, 24 de outubro de 2020

Quando o problema alheio é semelhante ao nosso... Suicídio como problema grave de saúde pública

Novo México enfrenta com terapia aumento do suicídio de crianças e adolescentes

Cláudia Collucci (Folha de São Paulo)

Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.

Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo – ou o mesmo – líder americano terá de lidar.

Quem observa um grupo de adolescentes sentado no chão de uma escola vazia em Santa Fé, no Novo México, não imagina que a conversa animada seja sobre um tema que tanto assombra as autoridades americanas de saúde: o suicídio infantojuvenil.

Na faixa etária entre 10 e 24 anos, a taxa dessas mortes aumentou de 7 para 11 em cada grupo de 100 mil, entre 2007 e 2018, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

O Novo México figura entre os cinco estados com maior incidência, com taxa de 20,9 mortes por 100 mil, quase o dobro da média nacional. O Alasca lidera, com 36 mortes por 100 mil.

O temor das autoridades de saúde é que os casos de suicídios cresçam ainda mais no pós-pandemia, já que os sinaisde depressão e ansiedade entre os americanos triplicaram desde o início da crise sanitária, segundo pesquisas.

O isolamento social é a chave para desacelerar a disseminação do vírus, mas também é fator de risco para vários transtornos psiquiátricos, incluindo o suicídio, diz o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A situação já era preocupante antes da pandemia. O Bark, um aplicativo que alerta os pais quando os filhos acessam conteúdo online suspeito, analisou a atividade de mais de 1 milhão de pré-adolescentes em 2019 e revelou que 55% deles conversaram sobre depressão, e 35% estavam envolvidos em episódios de automutilação ou ideias suicidas.

Uma das iniciativas para o enfrentamento dessa crise acontece desde 2015 em Santa Fé. Semanalmente, estudantes se reúnem em escolas sob a mediação de conselheiros do projeto Semicolon (ponto e vírgula, em inglês), voltado à prevenção do suicídio.

É uma espécie de terapia em grupo, em que os jovens têm liberdade para expressar suas angústias e recebem apoio de acordo com o grau da ideação suicida.

“Cruzamos um limiar. Todas as dificuldades emocionais e problemas de relacionamento que costumávamos ver com os jovens de 16, 17, 18 anos, agora vemos em crianças mais novas”, diz Apryl Miller, diretora executiva do Sky Center, clínica responsável pelo Semicolon.

A preocupação não se resume aos jovens. O CDC vem documentando um aumento na taxa nacional de suicídio: de 10,7 por 100 mil pessoas em 2001 para 14, em 2018.

Entre os americanos em idade produtiva (16-64 anos), o índice cresceu 40% no mesmo período. O suicídio é uma das dez principais causas de morte nos EUA e é responsável pela maioria das mortes por armas de fogo.

Os dois principais candidatos presidenciais oferecem planos de prevenção ao suicídio, mas priorizam apenas os veteranos de guerra, subgrupo com maior risco do que a população em geral.

O site de campanha de Donald Trump destaca a criação de uma força-tarefa dedicada à prevenção de suicídios entre veteranos, e seu orçamento proposto para 2021 aloca cerca de 30% a mais de recursos para prevenção de suicídio nesse grupo. Não há referência à prevenção de suicídio entre jovens.

O plano de prevenção do suicídio de Joe Biden também é focado nos veteranos, com promessa de financiamento de serviços de saúde mental, início precoce de tratamentos e aumento de profissionais. Biden diz que fortalecerá programas de prevenção de suicídio entre adolescentes LGBTQ+, mas não fornece detalhes.

 

8 passos para identificar pessoas com pensamento suicida

 

1. Isolamento: jovens que estão passando por um momento difícil tendem a se isolar. O mesmo ocorre com aqueles que enfrentam bullying.

2. Mudanças de humor: agressividade, tristeza ou ansiedade que não passam durante um longo período são sinais de alerta. A agressividade aparece especialmente nos meninos.

3. As chances de uma pessoa tentar se suicidar novamente após uma primeira tentativa são altas. Por isso os primeiros dias após o ocorrido demandam conversa com o jovem e atenção ao seu comportamento.

4. Despedir-se de amigos e doar objetos importantes podem anteceder um suicídio. Deve-se observar o objetivo da ação. Doar pode ser sinal de renovação da vida, mas também de fechamento de um ciclo.

5. Descuido com a aparência em jovens que sempre foram vaidosos ou negligências que envolvam a rotina básica de higiene são preocupantes. Em meninas, perfeccionismo e autocobrança são mais frequentes.

6. O uso excessivo de drogas pode ser tanto um sinal de que a pessoa não está bem como um fator de risco. Quem está em sofrimento pode ficar mais sensível aos efeitos de substâncias que alterem a consciência.

7. Sono e alimentação desregulados: é comum que adolescentes durmam e comam muito ou pouco, de acordo com a fase em que estão. É importante observar se há mudanças de outros hábitos.

8. Pessimismo e desesperança: adolescentes que acreditam ser um peso na vida dos outros e falam muito em morrer precisam de ajuda. Com a internet, é importante observar também como o jovem tem se expressado nas redes sociais.

Fonte: www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/novo-mexico-enfrenta-com-terapia-aumento-do-suicidio-de-criancas-e-adolescentes.shtml