terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Um exemplo de união profissional em favor da prevenção do suicídio

Há 12 anos rede de profissionais e voluntários atua para prevenção ao suicídio em Adamantina

A psicóloga Ana Vitória Salimon C. dos Santos há 12 anos estuda o assunto e faz parte de grupo que trabalha com a prevenção do problema na cidade e região.

Jornal Impacto (26 jan 2019)

Psicóloga Ana Vitória Salimon (Foto: João Vinícius | Grupo Impacto)

A OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu a meta de reduzir em 10% os casos de mortes por suicídio até 2020. No Brasil, os números são preocupantes: de 2007 a 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do suicídio — em 2016, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde.

Casos divulgados pelas redes sociais e parte da imprensa nas últimas semanas trouxeram a população de Adamantina sensação que o problema é alarmante, no sentido de que qualquer vida perdida por causa externa, seja homicídio, suicídio, acidente de trânsito ou outra situação, pressupõe a necessidade de reflexões e, quando necessário, ações para evitar novas perdas.

Adamantina não está entre as maiores taxas de mortalidade por suicídio do país, apesar de apresentar taxa considerada média. A informação é da psicóloga Ana Vitória Salimon C. dos Santos, que há 12 anos estuda o assunto e faz parte de grupo que trabalha com a prevenção do problema na cidade e região.

Segundo ela, falar sobre suicídio não é necessariamente um problema, porém depende de como, o quê e para quê se comenta.

“Existem materiais disponíveis na internet da Organização Mundial de Saúde e da Associação Brasileira de Psiquiatria que orientam como a questão deve ser abordada na mídia. Considerando que qualquer pessoa atualmente se coloca em meios de divulgação, as recomendações são válidas para todos, como, por exemplo, não divulgar fotos e imagens de suicídios ou tentativas, não colocar em destaque, nem expor pessoas e família, entre outros cuidados”, explica.

A profissional está a frente do Núcleo de Psicologia da UniFAI (Centro Universitários de Adamantina), é membro e articuladora da Rede Promover Vida e co-fundadora da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio.

“Em Adamantina está sendo feito um trabalho há muito tempo de cuidado e prevenção do suicídio. Isso faz também que se tome conhecimento, as autoridades, destas situações. Não necessariamente Adamantina possui um número elevado. Existem lugares no Brasil, como Mato Grosso e Rio Grande do Sul, em que os números são absurdamente maiores. Mesmo se considerarmos somente o estado de São Paulo, Adamantina, a nossa microrregião, não possui o maior número de casos. Talvez por nossos municípios serem pequenos, e agora com as mídias sociais, existe uma rapidez muito grande em se veicular os casos, as vezes propagado de uma forma inadequada. As pessoas postam fotos, comentários, diria que são inadequadas, pois divulgam um pânico e expõem a pessoa que sofreu, que está em uma condição delicada, e seus familiares”, alerta.

Ana Vitória explica que o suicídio não tem uma explicação simplista, por isso deve se ter cuidado ao propagá-lo.  “Geralmente existem comentários: a pessoa se suicidou por um problema afetivo ou por uma questão financeira. Isso é o que chamamos na área de psicologia e psiquiatria de fator precipitante, o que não quer dizer que é a causa que levou ao suicídio. Existe um conjunto de fatores. O suicídio nunca pode ser visto apenas pela ótica individual. Tem que ser visto de forma complexa”.

Fatores sociais e individuais podem levar ao suicídio. “A gente tem que analisar o sentido da vida e da morte dentro de uma cultura, o que são valores para estas pessoas, avaliar as condições sociais e de vida. O que afeta para a pessoa chegar ao suicídio iremos pensar desde questões maiores, do próprio local em que sevive, política e economia, por exemplo, até questões que se aproximam do individuo, como a cultura, a forma de pensar, família, amigos, relações afetivas, religião, um conjunto de coisas”.

Rede de prevenção ao suicídio

Em 2005, os casos de suicídio em Adamantina, e as tentativas, já incomodavam profissionais da área de saúde, autoridades locais e estudantes do curso de Psicologia da UniFAI. “Naquela época não tínhamos a mínima noção de quantas pessoas e quais eram as características das mesmas”, relembra Ana Vitória.

Dois anos depois, uma sequência de suicídios e tentativas motivou mobilização da Secretaria de Saúde com o Núcleo de Psicologia da UniFAI. “Iniciamos o monitoramento em Adamantina e começamos entender se eram adultos ou crianças, gênero, quantos aconteciam, a partir daí o trabalho foi crescente. Em 2007 realizamos este levantamento. No ano seguinte priorizamos o atendimento psicológico destas pessoas no Núcleo de Psicologia e no Posto de Saúde. Um trabalho que foi se construindo”.

Em 2009, recorda Ana Vitória, o projeto começou a envolver a Psicologia da Santa Casa, o Centro de Atenção Psicossocial, que iniciava suas atividades no Município, e outras instituições, formando uma rede de acolhimento, diagnóstico e intervenções necessários.

“Ao passo que este projeto acontecia chegávamos mais perto das pessoas com comportamento suicida e/ou afetadas por elas, começamos orientar estas famílias. E de lá para cá só fomos aprimorando. Aumentamos a capacidade de atendimento em Psicologia com estagiários do último ano do curso.Fomos nos especializando em atender pessoas em risco”.

A profissional pontua que a princípio objetivavam que o atendimento deveria ser voltado a psicologia e psiquiatria, pensamento comum da população.

“Quando começamos a entender melhor fomos encontrando pessoas em situação de crise, das mais diversas ordens: financeira, afetiva, social. E começamos a ter clareza que não eram a psicologia e psiquiatria sozinhas que resolveriam a questão. Isso não seria prevenção ao suicídio. Tínhamos que promover uma melhor qualidade de vida”.

Para isso, no ano de 2010, foi realizada primeira reunião da Rede Promover Vida. “Quem tentou suicídio não precisará apenas da psicologia e psiquiatria, pode precisar da Secretaria de Esportes, pois necessita de saúde e lazer, talvez seja alguém que precise de atendimento ou benefício da área da Assistência Social, precisa de Cultura, apoio dos estabelecimentos de Educação, entre outras áreas”.

Neste trabalho de promover qualidade de vida e prevenção do suicídio e outras violências foi formada uma rede com diversos eixos, entre elas secretarias municipais de Adamantina, como de Saúde (órgão gestor, Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, Programas de Estratégias de Saúde da Família, Agentes Comunitários, Setor de Vigilância Epidemiológica, Unidades Básicas de Saúde, Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF), de Educação (Psicologia e órgão gestor) e da Assistência Social (órgão gestor, Centro de Referência em Assistência Social - CRAS, Centro de Referência Especializado em Assistência Social - CREAS, Centro de Convivência da Juventude- CCJ); instituição acadêmica: Centro Universitário de Adamantina, com a cooperação de vários cursos, além da Psicologia (dependendo as demandas: Publicidade, Design, Farmácia, Serviço Social, Enfermagem, Medicina, entre outros), Diretoria Regional de Ensino, Pronto-Socorro municipal, Santa Casa de Misericórdia, Corpo de Bombeiros e Conselho Tutelar. Também colaboram com a rede ex-alunos e ex-funcionários dos órgãos citados.

Participam também com frequência das ações representantes da Polícia Civil e Militar, do Centro de Qualidade de Vida e Saúde do Servidor da Região Oeste - Secretaria de Administração Penitenciária (CQVIDASS/Croeste),Tiro de Guerra, técnicos do Poder Judiciário, representantes de organizações não governamentais, profissionais e órgãos de municípios vizinhos, entre outros.

“Trabalhar a questão do suicídio é trabalhar em rede. Prevenir aquilo que deu sinais e promover qualidade de vida. Trabalhamos em conjunto e cada órgão vai criando independência para desenvolver suas próprias ações”, diz Ana Vitória.

Para ampliar as discussões sobre o tema, todo mês de setembro é promovido o ‘Encontro por uma Cultura de Paz de Adamantina: ações de promoção da vida, prevenção do suicídio e outras violências’ e ‘Simpósio Regional de Prevenção e Posvenção do Suicídio’.

“Tratar a questão do suicídio é sair do lugar de falar qualquer coisa, principalmente na questão do julgamento. A nossa ótica é a do cuidado. Se alguém comentou, disse que pensou ou demonstrou um planejamento do suicídio, é necessário atenção. Ela precisa ser ouvida e cuidada. O que está acontecendo com ela precisa ser entendido”, aponta Ana Vitória.

Outra iniciativa para o cuidado foi articulação para instalar em Adamantina um posto do CVV (Centro de Valorização da Vida). “O Posto do CVV presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, respeito e anonimato”, explica. “Não é um atendimento profissional, não substitui atendimentos na área de saúde, quando necessário, mas é um atendimento humanizado, capacitado para prover apoio emocional”.

O atendimento é pelo telefone 188.

Fonte: http://ginoticias.com.br/ha-12-anos-rede-de-profissionais-e-voluntarios-atua-para-prevencao-ao-suicidio-em-adamantina/

sábado, 26 de janeiro de 2019

Alerta máximo!! Profissionais da saúde em perigo

Suicídio de profissionais da Saúde reforça alerta sobre dificuldades da área em Campo Grande

Profissionais sofrem por jornada exaustiva de trabalho, baixos salários, além dos atrasos recorrentes

Nathalia Pelzi (25 jan 2019)

Horas excessivas de trabalho e também uma carga emocional muito gr

O primeiro, no dia 2 de janeiro, ocorreu com a enfermeira Janaina Silva, 39 anos, que atuava no Hospital Regional Rosa Pedrossian. Agora, o técnico de enfermagem William Flávio Corrêa Franco, 37 anos, cujo corpo foi encontrado na madrugada desta sexta-feira (25), no banheiro da CTI da Santa Casa.

O que eles tinham em comum, além da profissão? Depressão, doença desdenhada e vista como ‘frescura’ por muita gente, que infelizmente atinge muitas pessoas.


À época da morte da enfermeira, o Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) emitiu uma nota em repúdio a qualquer tipo de julgamento em relação à prática do suicídio, e reforçou apoio a todos profissionais da área da saúde que sofrem por patologias relacionadas à saúde mental.

“É imprescindível lembrar que a depressão é um dos principais fatores que levam ao suicídio na área da saúde. Situações de crises profissionais em decorrência de baixos salários, cargas horárias exaustivas (pelo fato do profissional possuir mais de um emprego, em muitos casos), precariedade em materiais e equipamentos, falta de segurança física, entre outros fatores, interferem no emocional dos profissionais de saúde, em especial na enfermagem, ofício este que exige o acompanhamento dos pacientes 24 horas por dia”, reforçou a nota emitida pelo órgão.

Quanto à questão salarial, ao menos 70% dos 1,4 mil funcionários (980) do setor da enfermagem da Santa Casa de Campo Grande, maior hospital de Mato Grosso do Sul, estão sem décimo-terceiro.

“O hospital tem o ano inteiro para programar o 13º e agora diz que não tem dinheiro, por isso é que vamos definir se entramos ou não em greve por tempo indeterminado. É claro que apostamos numa negociação”, afirmou o sindicalista Lázaro Santana, presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de MS).

O Coren-MS  reforça que é preciso união da classe, principalmente na identificação de possíveis profissionais nesta condição. “O Conselho sugere também a toda categoria, sensibilidade na identificação do sofrimento de colegas de trabalho e das pessoas pertencentes aos demais círculos sociais. O intuito é que mais vidas não sejam interrompidas”.

Mesmo com aumento de casos de depressão, e agora suicídio, não há políticas públicas ativas para prevenir e cuidar da saúde emocional destes profissionais.

Segundo registro da Prefeitura de Campo Grande, de 2012 a 2017, houve aproximadamente 65 tentativas de suicídio por mês. Segundo levantamento do Núcleo de Prevenção às Violências e Acidentes e Promoção à Saúde (NPV), neste mesmo período, houve um total de 4.892 tentativas. Este mês é intitulado de “Janeiro Branco” que busca alertar a todos para o tema da saúde mental.

No dia 27 de janeiro ocorre uma mobilização nacional dos profissionais da saúde  para valorização e redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais. Os profissionais se reúnem na Praça do Rádio, no centro de Campo Grande, no domingo, às 9 horas.

SERVIÇO:

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

FONE: 188

Fonte: www.topmidianews.com.br/cidade-morena/quase-pronta/104707/
ande, assim é a rotina de profissionais da área da saúde. Em Campo Grande, em um mês, dois casos de suicídio envolvendo a profissão chocaram a população.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Japão: a música como última chance de prevenir o suicídio

Músico canta para impedir suicídios

Acredita que pode dissuadir aqueles que pretendem acabar com a própria vida e a verdade é que já recebeu mensagens de agradecimento de quem foi ajudado.

Ana João Mamede (24 jan 2019)

Cerca de uma centena de pessoas suicida-se anualmente na floresta japonesa de Aokigahara. É um dos locais no mundo mais procurados por aqueles que pretendem acabar com a própria vida. Kyochi Watanabe, músico que nasceu na região e mora numa cabana nas proximidades do bosque, nunca gostou dessa sombria realidade. No entanto, há oito anos, decidiu tomar medidas para ajudar a mudar a estatística.

Desde então, numa rotina quase diária, Kyochi Watanabe, 60 anos, desloca-se até à entrada da “floresta do suicídio”, como é conhecida no Japão, para, com o poder da música, tentar dissuadir aqueles que pretenderem suicidar-se. As notas de “Imagine”, música de John Lennon, na guitarra de Kyochi são sempre as primeiras a ser entoadas. É uma tentativa de quebrar o silêncio da floresta e de lembrar às pessoas que vão ao bosque com o intuito de se matar que a vida não pode acabar ali. O japonês canta e toca, também, algumas das suas músicas preferidas.

“Eu nasci aqui, tenho que cuidar deste local”, afirma Kyochi Watanabe, convicto que a música é uma boa forma de atingir as pessoas atormentadas. Já viu, inclusivamente, algumas delas a sair da floresta, depois de se encantarem pelo som da guitarra e há mesmo quem lhe envie mensagens de agradecimento depois de terem sido ajudadas.

A má fama da floresta levou a que as autoridades locais colocassem na entrada do bosque uma placa com uma mensagem positiva – “A vida é valiosa. Pense com calma… Nos seus pais, irmãos e irmãs, filhos… Não desespere. Fale com alguém” – e o número de telefone de uma linha de apoio para a prevenção do suicídio.

Já em 2019 o polêmico youtuber americano Logan Paul partilhou um vídeo, filmado no interior da floresta, onde exibia o cadáver de uma vítima de suicídio. As imagens causaram grande indignação, mas também suscitaram a curiosidade de algumas pessoas que, em poucos dias, tornaram Aokigahara como destino… turístico.

Apesar de as estatísticas terem diminuído desde 2016, o suicídio ainda é a principal causa de morte no Japão em cinco grupos etários. Independentemente dos números já serem mais animadores, Kyochi Watanabe não desiste da missão e continua, de guitarra na mão, a fazer tudo o que pode para que Aokigahara deixe de ser a “floresta dos suicídios”.

Fonte: www.noticiasmagazine.pt/2019/musico-canta-para-impedir-suicidios/

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Convite à formação de novos voluntários em Campo Grande-MS

O GAV (Grupo Amor Vida) está em busca de voluntários para socorrer quem está prestes a tirar a própria vida

Quando o telefone toca no GAV, do outro lado da linha existe alguém que sofre ou tenta acabar com uma dor silenciosa, muitas vezes desconhecida pelos amigos e a família. Voluntários ouvem e passam até duas horas conversando com a mesma pessoa. O serviço não oferece atendimento médico ou acompanhamento em grupo, mas ouvidos acolhedores que ajudam refletir sobre a vida e desarmar o gatilho do suicídio.

"É o trabalho de ouvir o outro como um ser humano. Quando a pessoa compartilha uma dor o sofrimento diminui. É como se você levantasse a válvula de uma panela pressão. Isso fortalece as pessoas porquê boa parte dos casos de suicídio estão relacionamento com a rejeição e os medos da rejeição. Quando você aceita o outro incondicionalmente, isso fortalece e, quando alguém ouve nossos problemas, a gente consegue raciocinar melhor", explica o presidente Gerson Mardine Fraulob, voluntário do GAV desde 2011.

A grupo funciona em Campo Grande há 18 anos e já atendeu cerca de 2,5 mil ligações por mês. Atualmente, as ligações diminuíram porque a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) cancelou o número 141, em que a ligação era gratuita. O atendimento resiste pelo telefone (67) 3383-4112, mas o presidente garante que em breve dois celulares vão contribuir com os atendimentos. "Estamos nos preparando para recuperar os atendimentos instalando números de duas operadoras. Assim, teremos telefone fixo e celulares para ajudar quem precisa", diz Gerson.

O grupo tem 40 voluntários, mas seria necessário dobrar o número de pessoas para conseguir atender 24 horas. "Hoje, atendemos apenas das 7h às 23h. Queremos ampliar o atendimento porque esse é um trabalho realizado no mundo todo. As pessoas ligam e conversam à vontade. Ajudar o outro é gratificante e o serviço pode ser feito por qualquer pessoa".

Seja um voluntário - Para fazer parte do grupo é necessário ter no mínimo 18 anos e fazer um curso de formação que começa no próximo dia 2 de fevereiro [de 2019]. Não é preciso formação profissional, apenas sensibilidade explica o presidente. "Tem que estar disposta a ouvir e em relativo equilíbrio para aceitar o outro incondicionalmente".

Para mais informações: (67) 3383-4112 ou neste link

Fonte: www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/por-telefone-como-evitar-que-um-desconhecido-mude-de-ideia-sobre-a-vida

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Suicídio x câncer

"É no primeiro ano a seguir ao diagnóstico de cancro [câncer] que as pessoas se suicidam mais"

O risco de suicídio aumenta um ano após o diagnóstico de cancro, segundo revela um estudo norte-americano publicado na revista CANCER, da Sociedade Americana de Cancro

Vanda Marques (14 jan 2019)

O risco de suicidio é duas vezes superior em doentes com cancro [câncer] do que a população em geral, revela a psiquiatra Lúcia Monteiro. Por isso, os resultados de um estudo, publicado na revista da American Cancer Society, a Cancer, que revela que os pensamentos suicidas aumentam após o primeiro ano do diagnóstico de cancro, não é surpresa para os especialistas. A investigação indica ainda que é determinante avaliar este risco nos doentes recentemente diagnosticados.

As conclusões baseiam-se numa análise de 4.671 989 doentes e concluíram que 1.585 cometeram o suicídio cerca de um ano após a descoberta da doença. Os doentes que correm maior risco são os que sofrem de cancro nos pulmões e no pâncreas. 

A psiquiatra Lúcia Monteiro, da Unidade de Psiquiatria do IPO, concorda com estes resultados e revela que foi criado um grupo de trabalho multidisciplinar com esse objetivo: "avaliar o risco e sobretudo, implementar medidas intrahospitalares de prevenção do suicídio nos nossos doentes." A diretora do Núcleo de Oncologia Psicossocial IPOLFG explica porque é que este fenômeno ocorre e que o acompanhamento dos doentes é fundamental.

É verdade que, ao fim do primeiro ano, é quando os pacientes ficam mais deprimidos e com mais pensamentos suicidas?
 
Todos os estudos nesta área confirmam que o risco de suicídio nos doentes oncológicos é superior ao da população geral, provavelmente duas vezes superior. Se pensarmos que o cancro é a segunda causa de morte por doença no mundo ocidentalizado, o problema torna-se francamente preocupante.

Confirma-se ainda que é durante o primeiro ano a seguir ao diagnóstico de cancro que as pessoas se suicidam mais (o risco é maior). Acreditamos que esta será também a realidade na população portuguesa embora não tenhamos dados objetivos.  A morte por suicídio é muitas vezes omitida pelas famílias e iludida nos registros medico legais e estatísticas da saúde. Estes estudos afiguram-se  particularmente difíceis de replicar no nosso país.

Porque é que os doentes com cancro se suicidam?

Poderemos considerar fatores de risco de 3 naturezas: epidemiológicos, oncológicos, psicossociais. Têm maior risco de suicídio:

- os doentes sexo masculino, 3ª idade (> 65 anos), raça branca, não-casados (solteiros, divorciados, viúvos)

- os doentes com cancro pulmão, estômago, pâncreas e cabeça/pescoço; os doentes em fase avançada ou metastática da doença  (tumores com pior prognóstico e menor taxa de sobrevivência); os doentes com dor persistente e mal controlada (mais frequente na doença avançada)

- a depressão é a principal causa de suicídio na população geral. No doente com cancro reduz  os seus recursos adaptativos e acentua o sofrimento psicológico; afeta a resposta ao a imunidade e a resposta biológica aos tratamentos, mas também a motivação e a adesão ao plano de cuidados. Em consequência ultima, aumenta exponencialmente a desesperança e o risco de suicídio.
Outros fatores psicossociais de risco são o isolamento e deficiente suporte social, os consumo patológico de álcool ou outras substâncias, história de doença mental ou tentativas de suicídio prévias (do doente ou na sua família).

O que é mais importante para prevenir o suicídio nos doentes com cancro?

É fundamental o treino dos profissionais - sobretudo dos médicos - em comunicação, saber dar más noticias. A forma como se dá a notícia do diagnóstico de um cancro ou se explica o que há a fazer na fase avançada de doença, condiciona decisivamente o estado emocional do doente, as suas expectativas para o futuro e o seu empenho em continuar a viver.

Importante informar o doente e a família sobre o tipo de cancro e o seu prognóstico, o plano de tratamentos e as suas sequelas, ajudar a pessoa a ter expectativas realistas e adaptar-se a uma nova realidade de doença crónica (e não imediatamente mortal e dolorosa).

Reforçar a disponibilidade da equipe e a abertura para estratégias terapêuticas alternativas e personalizadas – a pessoa sentir-se-á acompanhada e protegida mas mantendo a autonomia e a dignidade.

Importante evitar que problemas transitórios de adaptação à doença evoluam para síndromes psiquiátricos graves ou situações sociais de maior risco.

Se nas consultas iniciais o doente apresentar stress elevado, insônia, ansiedade antecipatória, desânimo e pessimismo , problemas familiares ou dificuldades sociais deverá ser de imediato referenciado para acompanhamento psicossocial específico – consulta de psicologia ou psiquiatra e/ou avaliação social.

A depressão major e a ideação suicidária são situações de urgência em oncologia.

As equipas oncológicas – médicos, enfermeiros, terapeutas – devem estar sensibilizados para a perigosa associação cancro e depressão, saber comunicar com o doente deprimido e detetar sintomas depressão e ansiedade patológica; de imediato referenciar este doente ao médico psiquiatra de ligação/ psicooncologista).

Na crise suicidária são mandatórias a vigilância clínica do doente, o claro aviso à família e cuidadores, a intervenção psicossocial imediata e enérgica com tratamento antidepressivo e ansiolítico, psicoterapia breve e focada, avaliação do suporte social e comunitário; se necessário, internamento hospitalar protetor.

No IPO Lisboa criámos recentemente um grupo de trabalho multidisciplinar/task force com a missão de avaliar o risco e sobretudo, implementar medidas intra-hospitalares de prevenção do suicídio nos nossos doentes.

NOTA: fizemos a adaptação do presente artigo jornalístico ao português do Brasil para facilitar a leitura

Fonte: https://www.sabado.pt/vida/detalhe/o-primeiro-ano-a-seguir-ao-diagnostico-de-cancro-que-as-pessoas-se-suicidam-mais

Suicídio x armas de fogo

Decreto de armas pode aumentar suicídios no Brasil, temem especialistas

Atualmente, armas de fogo são utilizadas em 8,4% dos casos no país

Luiz Fernando Vianna (14 jan 2019)

De 2007 a 2016, o índice de suicídios registrados no Brasil subiu 18%. Foram 11.433 casos em 2016 – os dados dos últimos dois anos ainda não foram divulgados. O Ministério da Saúde estima uma subnotificação de 20%, pois nem sempre há como assegurar que a pessoa provocou a própria morte.

A facilitação da posse de armas de fogo, tema do decreto que o presidente Jair Bolsonaro assinará nesta semana, pode ser um ingrediente a mais no aumento dos suicídios no país.

“Eu acho que é grande a possibilidade de haver mais casos”, afirma a psicóloga Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, de São Paulo. “Como o suicídio costuma ser um ato impulsivo, o método estando à mão contribui. E é um método mais letal, a capacidade de sobreviver é menor e, quando a pessoa sobrevive, as sequelas são mais graves.”

O psiquiatra Neury Bortega, autor de livros e programas sobre prevenção de suicídio, não tem a mesma impressão.

“Não podemos afirmar categoricamente que vá aumentar o número de suicídios”, diz. “O método muda de cultura a cultura. No Brasil, não é tão comum o suicídio por armas de fogo. O impacto maior [da facilitação] deverá ser sobre os homicídios e sobre as matanças, como as que ocorrem em outros países.”

Cerca de 800 mil pessoas se matam todos os anos no mundo – uma a cada 40 segundos. Nos Estados Unidos, são 22 mil, sendo quase mil crianças e adolescentes, de acordo com dados dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças, agência do Departamento de Saúde. Armas de fogo são usadas em metade dos suicídios. No Brasil, essa taxa está em 8,4%.

Como é fácil adquirir armas legalmente na maioria dos estados americanos, há o temor de que o decreto de Bolsonaro impulsione aqui o método de suicídio mais adotado nos EUA.

O escritor americano Andrew Solomon é autor do best-seller sobre depressão O demônio do meio-dia. Em livro recém-lançado no Brasil, Um crime da solidão – Reflexões sobre o suicídio , ele afirma que “o suicídio é, com frequência, um ato impulsivo e, se os meios não estiverem à mão, o impulso passa e as pessoas vão em frente e vivem bem”.

Solomon defende restrições à posse de armas. “Quem precisa procurar por uma arma em geral acaba tendo tempo para refletir melhor antes de usá-la, ao passo que alguém que pode agarrar uma arma num momento de raiva não dispõe desse tempo.”

Em reportagem de novembro passado, a revista inglesa The Economist mostrou que, de 2000 para cá, a taxa de suicídios no mundo caiu 29%, mas nos EUA subiu 18%. “A medida mais efetiva [para reduzir os suicídios] é limitar o acesso a armas”, defendeu o texto.

Com 15,3 casos por 100 mil habitantes, os EUA estão apenas em 27º lugar no ranking divulgado em 2018 pela World Population Review. O Brasil está em 106º, com 6,5 casos. No topo estão Lituânia (31,9), Rússia (31), Guiana (29,2), Coreia do Sul (26,9) e Bielorrúsia (26,2).

https://epoca.globo.com/decreto-de-armas-pode-aumentar-suicidios-no-brasil-temem-especialistas-23370882

sábado, 12 de janeiro de 2019

Camiseta inspirada na Liga da Justiça para campanha de prevenção do suicídio

Liga da Justiça | Snyder lança camiseta para campanha de prevenção do suicídio

Campanha foi iniciada por fãs

Julia Sabbaga (11 jan 2019)

Zack Snyder revelou no Twitter uma camiseta inspirada em Liga da Justiça, criada para uma campanha de prevenção do suicídio. O item traz os símbolos dos heróis de Liga da Justiça e uma frase de Joseph Campbell na parte de trás: "Todos os deuses, todos os céus, todos os infernos estão dentro de nós".

Na publicação, o diretor explicou: "Minha contribuição à campanha de arrecadação criada por fãs. Todo o dinheiro arrecadado desta camiseta será destinado à Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio".

A filha de Snyder, Autumn, cometeu suicídio aos 20 anos durante a pós-produção de Liga da Justiça.

Joss Whedon assumiu as filmagens de Liga da Justiça depois da saída de Snyder, mas a reação negativa em torno do filme estimulou os rumores em torno da versão original do longa.

Liga da Justiça foi lançado em novembro de 2017. O filme arrecadou cerca de US$ 657 milhões no mundo, enquanto esteve em cartaz.

Fonte:wwww.omelete.com.br/filmes/liga-da-justica-snyder-lanca-camiseta-para-campanha-de-prevencao-do-suicidio

Uma terna história em dois momentos

A SALVAÇÃO

Psicóloga salva rapaz que ameaçou cometer suicídio em ponte de Teresina nesta sexta (19)

Elias Lacerda (19 jan 2018)

A imagem de uma mulher dando os braços em gesto de acolhimento e em seguida um abraço expressam bem o sentimento de gratidão por ter salvo uma vida. Ela é a psicóloga Thais Linhares que teve hoje um dia diferente ao impedir que um jovem se jogasse de uma ponte em Teresina. Emocionada,  a recém-formada em Psicologia conta que passava pelo local e, ao perceber o que estava acontecendo, parou para ajudar.

“Estava passando, vi a situação e procurei colocar em prática as técnicas que aprendi na faculdade. Graças a Deus, tive um bom êxito, pois não é fácil quando uma pessoa está em uma crise de suicida. É muito complicado até a gente conseguir manter a confiança. Graças a Deus, ele conseguiu essa confiança em mim, conseguiu passar a perna e deu tudo certo”, disse emocionada a psicóloga.

O diálogo até conseguir salvar a vida do rapaz durou cerca de 20 minutos. Anteriormente, policiais militares já tinham tentado convencer o jovem a não se jogar da ponte, mas as negociações não avançaram.

O caso, que poderia ter tido um desfecho trágico, ocorreu na manhã desta sexta-feira (19), na Ponte Anselmo Dias, na zona Sudeste de Teresina.

O momento em que o rapaz resolve atravessar a mureta e caminhar em direção à psicológa foi aplaudido por quem acompanhava o resgate. Thais Linhares conta que viu “a necessidade de ajudar” e pretende continuar acompanhando a situação do jovem.

“Foi um desafio porque pela primeira vez eu participei de algo tão chocante. Graças a Deus, tive êxito. Vou tentar acolher da melhor forma possível e encaminhá-lo aos órgãos competentes porque a ética da minha profissão vai para toda a vida”, ensina a psicóloga.

Ajude a salvar vidas

Em Teresina, existem algumas instituições que atuam no apoio emocional e prevenção do suicídio. Uma delas é o Centro de Valorização da Vida (CVV) que atende voluntário e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. Informações sobre o atendimento pelo número 188.
Fonte: https://eliaslacerda.com/destaques/psicologa-salva-rapaz-que-ameacou-cometer-suicidio-em-ponte-de-teresina-nesta-sexta/

O REENCONTRO

Superação: estudante reencontra psicóloga que o salvou há quase um ano
Graciane Sousa (31 dez 2018)

Um novo ano se aproxima, momento de reflexão. Algumas datas desse ano que se despede não serão esquecidas como o 19 de janeiro de 2018. O que você fez neste dia? Provavelmente, a maioria das pessoas não lembra. Mas, foi justamente nesse dia que o destino uniu a psicóloga Thaís Linhares e o estudante Israel Araújo, 17 anos. Não por acaso, desde então, o jovem renasceu para o amor, para a vida, para esperança e para as pessoas quando desistiu de tirar a própria vida se jogando de uma ponte em Teresina. Um abraço mudou a vida do estudante. Quase um ano após o caso que teve repercussão nacional o vínculo entre a psicóloga- que passava pela primeira vez sobre aquela ponte e salvou a vida do garoto- continua e se tornou uma amizade edificada no sentimento de gratidão.

"Todo o fardo que eu carregava caiu naquele dia no rio e eu fiquei de pé. Acredito que tudo aconteceu para que eu pudesse contar minha história e salvar também outras pessoas. Tudo na minha vida mudou: o social, o emocional. O Israel antes do dia 19 de janeiro era uma pessoa enfadada, carregada de problemas, extremamente depressiva, antissocial porque eu não gostava de sair, conversar com as pessoas. Agora, eu me tornei uma pessoa totalmente diferente, resolvi deixar para trás tudo o que aconteceu, no momento em que desisti de me jogar da ponte", conta Israel.

UM ABRAÇO QUE MUDOU A VIDA

As memórias do dia em que os dois foram unidos pelo destino ainda são fortes, mas duas ficaram mais marcantes na cabeça do estudante.

"Ela chegou lá e falou uma única coisa: meu nome é Thaís. Posso te ajudar? Isso, parece tão simples, mas me marcou bastante porque quando se está numa situação dessas [falo por experiência] as pessoas que estão ao redor querem falar dos seus problemas. Mas quem está do outro lado, como eu estava, não está interessado em saber do problema dos outros, quer um alívio. A doutora chegou com uma simplicidade e passou o tempo todo repetindo isso. Percebi que ela era diferente que passava simplicidade, serenidade, amor", relembra o estudante.

Das lições de vida aprendidas, Israel conta que despertou para a necessidade de mais afetividade.

"Quando vi uma foto da gente se abraçando. Nossa! Não tem abraço que se iguale com aquele. Nem um abraço de avó, de mãe, de ninguém. Foi um abraço sobrenatural porque me senti acolhido quando desisti daquela ideia e ela me abraçou. Acho que foi naquele momento que, realmente, comecei  a ver o mundo de outra forma, as pessoas de forma diferente, a entender que as pessoas têm problemas e que precisam falar e pedir ajuda. Nem todo mundo tem essa oportunidade de aparecer alguém que mude sua vida. Um dos momentos mais marcantes foi quando eu passei a perna para o outro lado e abracei a Thaís que chorou junto comigo", conta o jovem.

PROMETEU, CUMPRA!

Além da gratidão, o sentimento de amizade surgiu entre Israel e Thaís. Quase 12 meses após o encontro, a psicóloga ainda mantém contato com o estudante, agora como uma amiga.

"Existe uma coisa que a gente usa muito dentro da Psicologia: prometeu, cumpra. Se eu prometi, vou cumprir. Vou acompanhá-lo até ele dizer, chega! O que existe agora é um vínculo, uma amizade. É tão tal que não posso atendê-lo mais como terapeuta, pois criou um vínculo entre a gente e entre a família dele também. Hoje eu sou uma pessoa para ouví-lo", diz Linhares.

Para a psicóloga, a história de Israel pode ser resumida em uma palavra: SUPERAÇÃO

"Eu vejo ele como uma superação muito grande e um exemplo muito forte para os demais que estão passando por essa situação e podem ver também que existem todas as outras possibilidades. Não é só tirar a vida. Existem outras formas de resolver uma situação e é procurando ajuda, nunca desistindo da vida. A vida é essencial. Não existe um problema grande o suficiente que não possa ser resolvido. Às vezes o que falta é uma orientação, uma pessoa que chegue e diga: não vá por aí não. Existe outro caminho para você seguir", orienta Thaís Linhares.

Sobre o gesto de nobreza, a profissional não esconde que demorou "cair a ficha" e acredita em coincidência do destino e uma "pitadinha de Deus".

"Eu me preparei durante cinco anos na faculdade e na semana da minha formatura me deparei com uma situação extrema. Jamais podia imaginar que isso pudesse acontecer, eu sempre procurei fazer o bem, mas a situação mexeu muito comigo como profissional e como pessoa. De toda forma, só fiz aquilo que qualquer profissional deveria fazer. Quando a gente se forma, faz um juramento que deve ser cumprido. Acredito que foi coincidência do destino eu estar ali naquela hora e que também existiu uma pitadinha de Deus que não conseguimos explicar, que fez com que a gente conseguisse fazer com que ele não desistisse da vida".

FAZER O BEM, NÃO IMPORTA A QUEM

A história em que uma psicóloga teve seu dia de heroína foi importante não só para Thaís e Israel como também para inúmeros desconhecidos. Ela conta que, após a repercussão do caso, além de mensagens de agradecimento, inclusive vindas de fora do país, recebeu inúmeros pedidos de ajuda.

"Foi uma enxurrada de pessoas ligando, me enviando mensagens, dizendo que estavam em crise e queriam minha ajuda. Cheguei até me sentir impotente diante de tantos pedidos. Recebi mensagens até dos Estados Unidos. Tudo isso mexeu muito comigo, mas acho que continuo a mesma como pessoa, de estar sempre ali para ajudar, tentar fazer o bem. As pessoas que passaram a me ver diferente. Provavelmente, a gente conseguiu ajudar outras pessoas, quem sabe alguém desistiu de tirar a própria vida por acreditar que existe o bem, existe o outro. Isso é muito gratificante", disse Thaís que relembra que também recebeu críticas.

"Algumas pessoas criticaram dizendo que a gente combinou, que se conhecia, que fiz para me promover. A maldade também existe e faz parte do ser humano. A gente vive em um mundo onde as pessoas são tão rejeitadas, tão manipuladas, existe tanta injustiça que acreditam que as pessoas não possam fazer o bem. Contudo, esse lado ruim não me incomodou, pois sei o que eu fiz, quais foram minhas intenções, qual era o meu propósito", desabafa.

VIVER VALE A PENA

Prestes a completar 18 anos de idade, Israel - que começou a cursar Relações Humanas e não descarta estudar Psicologia - surpreende com a maturidade de acreditar que pode fazer a diferença e ajudar outras pessoas. Ele segue fazendo acompanhamento psicológico/medicamentoso e diz que "viver vale a pena".

Já a psicóloga [a quem o destino encarregou de salvar uma vida no momento em que ia ao supermercado e passava pela primeira vez naquela ponte] reforça que "não há problemas grandes o suficientes que não possam ser resolvidos". Por fim, Thaís Linhares diz que não existe um motivo para o suicídio e que sempre existem pessoas para fazer o bem.

"O preconceito sempre existiu. Não existe um motivo para o suicídio, mas um aglomerado de situações em que uma única coisa se torna a gota d'água. Não foi uma opção sexual que levou a pessoa a tirar a própria vida. O que existe é uma sociedade que está ali sufocando uma pessoa por conta de escolhas. Há também o lado social, o psicológico e o biológico, por isso as medicações são necessárias para se manter o equilíbrio. As pessoas querem achar um motivo externo que não existe. O organismo que está debilitado. A depressão e a crise suicida são deficiências do organismo.  A terapia com o uso da medicação é sempre o mais indicado. A pessoa que está em uma situação de crise precisa se conhecer para aprender a lidar com a situação e pedir ajudar. A pessoa sempre dá sinais. Não é só o psicólogo que vai ajudar, tem que ter a medicação, a família por perto, o psicólogo, a medicação, a religião, os amigos, a igreja [...] todos têm que estar envolvidos. É preciso unir forças; É preciso mais amor ao próximo", finaliza Thaís Linhares.

Em Teresina existem várias organizações filantrópicas que contribuem com a prevenção do suicídio.
-Centro de Valorização da Vida (CVV) – Telefone: 188

O CVV atua na prevenção do suicídio, prestando apoio emocional, através de uma conversa amiga. O atendimento pode ser feito por telefone, por meio do número gratuito 188, que funciona 24 horas, todos os dias.

-Centro Débora Mesquita (CDM) – Telefone: (86)99827-3343/ 98894-5742

O CDM é uma ONG que tem como objetivo informar a sociedade sobre causas, sintomas e tratamentos disponíveis aos transtornos psíquicos, atuando diretamente na prevenção e posvenção do suicídio.

-Grupo Contato Apoio Contato e Esperança (GRACE) – Telefone: (86)3237-0077/3237-0202

O GRACE atua na prevenção do suicídio, disponibilizando duas linhas telefônicas. O Grupo também atende presencialmente no bairro Vila Bandeirantes II e faz visitas domiciliares.

Fonte: https://cidadeverde.com/noticias/290209/superacao-estudante-reencontra-psicologa-que-o-salvou-ha-quase-um-ano