quarta-feira, 29 de maio de 2013

Palestra

A Experiência do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio da UNB, com Marcelo Tavares.

Para acessar clique aqui: http://www.youtube.com/watch?v=nnkg2ZwI74o

CVV promove debate sobre prevenção do suicídio na Virada Sustentável 2013

Sustentabilidade da própria vida, no dia 8 de junho no Parque da Água Branca, tenta chamar a atenção da sociedade e quebrar tabus

O CVV, entidade que atua gratuitamente há 51 anos na prevenção do suicídio, promoverá no dia 8 de junho um debate com o tema “Sustentabilidade da própria vida – a prevenção do suicídio no foco do ser humano”, como parte da programação da Virada Sustentável 2013.

Com entrada franca, o debate será realizado por quatro profissionais de diferentes formações, visões e percepções, o que permite um ambiente bastante enriquecedor. A participação da plateia, com perguntas, depoimentos e comentários, deverá ampliar a discussão. Os nomes dos debatedores será confirmado em breve.

O suicídio no Brasil

No Brasil, 25 pessoas morrem vítimas de suicídio por dia e ao menos outras 50 tentam tirar a própria vida. De todos os casos, mais de 90% poderiam ser evitados. Segundo pesquisa da Unicamp, 17% dos brasileiros pensaram seriamente em cometer suicídio no decorrer de suas vidas.

Apesar da seriedade do assunto, o suicídio ainda é um tabu na sociedade brasileira o que dificulta a sua prevenção. O CVV acredita que uma forma importante de se evitar novos casos é conversar sobre o assunto para derrubar mitos e quebrar tabus.

Sustentabilidade da própria vida – a prevenção do suicídio no foco do ser humano
Data: 8 de junho, das 15h às 17h
Local: Parque da Água Branca – auditório da administração
Endereço: Avenida Francisco Matarazzo, 455 – Água Branca – São Paulo

Sobre o CVV

O CVV - Centro de Valorização da Vida, fundado em São Paulo em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal em 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os mais de um milhão de atendimentos anuais são realizados por 2.200 voluntários em 18 estados mais o Distrito Federal, pelo telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos 72 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br via chat, VoIP (Skype) e e-mail.

É associado ao Befrienders Worldwide (www.befrienders.org), entidade que congrega as instituições congêneres de todo o mundo e foi reconhecido pelo Ministério da Saúde como a melhor iniciativa não governamental de prevenção ao suicídio no Brasil.

Possui membro na Rede Mundial de Suicidólogos (www.redmundialsuicidiologos.org), entidade sem fins lucrativos com representes de 42 países.

Fonte:
Querido leitor - Rosana Hermann
http://noticias.r7.com/blogs/querido-leitor/cvv-promove-debate-sobre-prevencao-do-suicidio-na-virada-sustentavel-2013/2013/05/28/

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Em tempo: evento de prevenção ao suicídio em Fortaleza-CE


Pravida inscreve para curso de prevenção ao suicídio 

O Programa de Apoio à Vida (Pravida), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, realiza o VI Curso de Prevenção do Suicídio como parte dos esforços de conscientização sobre e prevenção ao suicídio no Ceará. O curso é destinado a estudantes e profissionais de todas as áreas em que o tema do suicídio apareça como questão. Os interessados podem fazer a pré-inscrição no endereço eletrônico tinyurl.com/cursopravida.

O curso acontecerá nos dias 13, 15, 17, 20, 22, 24, 27, 29 e 31 de maio e 3 de junho, das 18h às 22h, no auditório da Pró-Reitoria de Extensão da UFC (Av. da Universidade, 2932, Benfica), em Fortaleza.

Serão abordados temas como "suicídio e os cinco principais transtornos mentais", "suicídio e epidemiologia", "a entrevista psicológica do paciente com ideação suicida", "suicídio e mídia", "como os profissionais de saúde lidam com a morte", "suicídio e aspectos legais", "como proceder com os sobreviventes de tentativa de suicídio", dentre outros.

O valor da inscrição é de R$ 60,00 para estudantes e R$ 90,00 para profissionais. O pagamento pode ser feito à vista, com um dos integrantes do Pravida, ou pelo endereço eletrônico já informado, via PagSeguro (boleto bancário, cartão de débito ou cartão de crédito em até 12 parcelas). Os organizadores esclarecem que, por conta de algumas taxas administrativas da operadora financeira, o pagamento on-line sofrerá um pequeno acréscimo de R$ 10,00, totalizando R$ 70,00 para estudantes e R$ 100,00 para profissionais.

Sobre o Pravida – O Pravida, criado em 2005, é formado por acadêmicos de Medicina e Psicologia, coordenados pelo psiquiatra Fábio Gomes de Matos. O projeto presta serviço de atenção especializada às pessoas que tentaram o suicídio, além de formar um grupo de estudos e de discussão acerca do tema e realizar atos públicos e cursos direcionados para estudantes e profissionais de saúde. Os atendimentos são feitos às quintas-feiras a partir das 14h, no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), na Rua Capitão Francisco Pedro, 1290, Campus do Porangabuçu, em Fortaleza. Saiba mais em pravidaufc.webnode.com.br.

Mais informações: Talita Pinheiro, Psicologia UFC – fone 8801.3785 / Luidianne Araújo, Psicologia UFC – fone 85 8795.2028 / Erick Rebouças, Medicina UFC – 85 8617 1969 / Samanta Medeiros, Medicina UFC – fone: 85 9958 1044.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Mudança de foco na faixa etária de risco do suicídio nos EUA: fenômeno global?


Cresce taxa de suicídio de pessoas de 35 a 64 anos nos Estados Unidos
Governo mostra que índice supera mortes por acidente de trânsito. Alta ocorreu entre não-hispânicos e nativos americanos do Alasca.
Da France Presse

Os suicídios entre as pessoas de 35 e 64 anos nos Estados Unidos aumentaram 28% durante a última década, superando nos últimos anos os acidentes de trânsito como uma das principais causas de morte, segundo as últimas estatísticas oficiais publicadas nesta quinta-feira (1º).

A taxa anual de suicídio neste grupo etário aumentou de 13,7 pessoas a cada grupo de 100 mil, em 1999, para 17,6 pessoas a cada grupo de 100 mil, em 2010.

A alta ocorreu entre os brancos não-hispânicos (40%) e os nativos americanos e autóctones do Alasca (65%), segundo a agência federal dos Centros para Controle e Prevenção de Enfermidades (CDC, siglas em inglês).

Os suicídios, que registraram um aumento em todo o país, totalizaram 38.364 mortes durante esse período, frente a 33.687 mortes por acidentes de carro e motocicleta. Por idade, o maior aumento nos suicídios foi registrado entre os 50 e 54 anos (48%) e entre 55 e 59 anos (49%).

Mais atenção

Durante a última década, o número de suicídios cresceu mais entre as mulheres 35 a 64 anos (32%) do que entre os homens (27%). As estatísticas também mostram um forte aumento dos suicídios por enforcamento (81%), envenenamento (24%) e armas de fogo (14%), indica o CDC.

No entanto, a taxa de suicídios entre os jovens (10 a 34 anos) e mais velhos (mais de 65) se manteve praticamente sem alteração durante o mesmo período. Historicamente, a maioria dos esforços de pesquisa e prevenção do suicídio teve como foco os jovens e maiores de 65 anos.

Este relatório sugere que as pessoas de média idade precisam de mais atenção. "O suicídio é uma tragédia muito frequente e estes números evidenciam a necessidade de investigá-lo para entender melhor os fatores de risco para o desenvolvimento de programas de prevenção', indicou em um comunicado o diretor do CDC, Tom Frieden.

Manual de bolso para profissionais da saúde

O governo gaúcho fez publicar um manual de bolso para os seus profissionais da saúde atuarem nas redes locais.

Seu objetivo está explícito na introdução, ao mesmo tempo em que demonstra a atuação da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e a seriedade que a prevenção do suicídio hoje tem nas terras gaúchas.

Este guia prático tem apenas 13 páginas e te poderá ser útil, leitor.

Para baixar clique aqui.

José Manoel Bertolote denuncia...


Há uma nefasta glorificação do suicídio

José Manoel Bertolote, consultor da Organização Mundial da Saúde, lança livro sobre a prevenção do suicídio e defende que se fale mais do tema
Fernanda Aranda , iG São Paulo | 06/05/2013 6:00

Enquanto a imprensa não fala do tema, as políticas preventivas titubeiam e os médicos varrem o assunto para baixo do tapete, 1.339 pessoas do Brasil foram internadas nos dois primeiros meses do ano após tentarem o suicídio.

Os dados do banco virtual abastecido pelo Ministério da Saúde – levantados pelo iG Saúde – apontam 22 casos por dia só nos dois primeiros meses de 2013.

Em meio ao sigilo imposto para tratar do suicídio, o psiquiatra professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) , José Manoel Bertolote, quer falar aos quatro cantos do planeta.

Ele acaba de lançar um livro (O Suicídio e sua Prevenção) com as estratégias para prevenir o evento que figura entre os líderes de causas de morte em vários países do mundo. No Brasil, é o quarto motivo mais incidente entre os óbitos por causas externas, atrás de homicídios, acidentes de transporte e causas não identificadas.

Em entrevista ao iG , Bertolote afirma que o silêncio e o tabu que marcam o assunto não impediram o surgimento de um “nefasto glamour em torno do suicídio”.

“São inúmeros sites na internet que ensinam, de forma muito didática, as pessoas a cometerem suicídio. Estes endereços eletrônicos disseminam comportamentos perigosos e precisam ser combatidos. Há uma glorificação atual da morte provocada. São músicas, clipes, filmes que apresentam o suicídio de uma forma artística, como uma moda a ser seguida”, afirma.

Para reverter o quadro, o especialista neste assunto proibido defende articulação e um debate com os líderes religiosos e com a Justiça – que ainda considera os suicidas criminosos.

Bertolate diz ainda que são necessárias mudanças na rede de saúde, com um trabalho forte para identificar os mais vulneráveis às lesões autoprovocadas.

Segundo ele, as pesquisas científicas atestam que, na maioria das vezes, há arrependimento em quem provoca a morte intencionalmente e nem sempre há chance de reverter o dano provocado.

“É penoso assistir a estes casos”. Leia a seguir a entrevista.

iG: A sociedade e a imprensa lidam com reservas com o assunto suicídio. Para a medicina o tema também é tabu?

Bertolote: Os médicos não são treinados para enfrentar a morte em geral, não só na questão do suicídio. Existe um mito de que a medicina é uma luta contra a morte. Os médicos têm uma tradição de sempre agir como se a morte fosse evitável, o que é um erro. Ninguém escapa da morte. Diante de um óbito, os profissionais reagem mal. Os estudantes não são preparados para falar sobre a morte com os seus pacientes, como se o perigo de morrer não existisse.

Talvez, isso seja fruto de um distanciamento necessário para a classe dar conta de enfrentar as situações nas emergências, nas unidades de terapia intensiva. Mas o fato é que essa distância acaba exagerada e o assunto é varrido para baixo do tapete. A questão do suicídio está inserida nesse panorama. O médico não detecta os sinais prévios do suicídio e se surpreende quando ele acontece.

Qualquer morte é uma tragédia familiar, mas quando ela é resultante das causas naturais e de doenças crônicas, com evolução lenta, há uma preparação familiar para o acontecimento. O suicídio, invariavelmente, é um acidente inesperado. Pega de surpresa e desperta dois sentimentos nos que ficam: perplexidade que desemboca em culpa. É comum os familiares se perguntarem: ‘onde eu falhei?’, ‘o que foi que eu não vi?’. Mas também é despertada uma raiva: ‘por que ele fez isso comigo’. São duas sensações, de fracasso e de raiva, que atrapalham muito a recuperação desta família.

iG: O senhor é um grande defensor da prevenção do suicídio, tema do seu último livro. Existe uma estratégia universal de prevenção?

Bertolote: Não é possível prever todos os casos. O suicídio continua sendo um evento raro, ainda que subestimado. Isso significa que o custo para aplicar uma estratégia de prevenção universal, fazendo uma avaliação de toda a população, seria muito alto diante das estatísticas de morte não tão numerosas.

Mas o fato é que algumas pessoas são mais vulneráveis ao suicídio do que outras. E para estas vulneráveis é imprescindível que sejam dirigidas ações preventivas, o que não é feito. Já está embasado que doenças como depressão, alcoolismo e esquizofrenia aumentam a vulnerabilidade ao suicídio. Existem condições que não são doenças – no sentido do termo – mas transtornos de comportamento que também ampliam o risco. Além delas, sabemos que doenças físicas, crônicas, incuráveis e de natureza dolorosa também estão mais associadas ao fenômeno.

O exemplo da aids é contundente, com estudos muito bem-feitos. Na época em que não existiam tratamentos para o HIV, as taxas de suicídios entre os soropositivos eram muito mais altam e foram diminuindo com o surgimento de terapias efetivas contra o vírus. Hoje, sabemos que ainda é necessário um trabalho preventivo com os pacientes de aids e também com os portadores de doenças neurológicas degenerativas, certas formas de câncer e até cefaleias (dores de cabeça muito fortes) crônicas.

Outro ponto de atenção é para as demências senis, quando estão no início do quadro. Os idosos que preservam certa lucidez no começo dos sintomas também estão mais vulneráveis por não saberem lidar com as limitações impostas pela doença.

iG: Esta associação com doenças crônicas pode ser uma das explicações para os casos de suicídio estarem mais concentrados na população maior de 60 anos?

Bertolote: Sim. O suicídio é um fenômeno masculino, característico de idosos e não de jovens, apesar de também acontecer entre os mais novos. No final da vida, são acumuladas mais doenças e limitações. Elas ficam penosas com o passar dos anos e estão associadas com este fenômeno.

iG: É possível classificar o suicídio como uma doença ou um sintoma?

Bertolote: Suicídio é uma causa de morte. Existem as causas naturais, as causas acidentais, os homicídios e os suicídios. Não é uma doença. Mas é certo que é uma causa de morte frequentemente associada a certas doenças. É bom lembrar que nem todos os depressivos são suicidas, por exemplo.

iG: Um dos temores ao falar sobre suicídio é que o fato pode desencadear comportamentos semelhantes em cadeia. Sua experiência mostra que isso realmente ocorre?

Bertolote: Existe o fenômeno social da imitação e também o fenômeno do contágio. Há um emprego cada vez mais frequente de tentativas de suicídio que são mais letais, que não existiam antes. Até anos atrás não havia a facilidade existente hoje para conseguir uma arma de fogo. Com isso, aumentaram as tentativas de suicídio usando este método que acabam resultando em mortes que antes não seriam exitosas para o óbito, já que as tentativas eram menos letais.

Outra mudança que eu considero nefasta é que hoje também existe uma glorificação do suicídio. São inúmeros sites na internet que ensinam, de forma muito didática, as pessoas cometerem suicídio. Estes endereços eletrônicos disseminam comportamentos perigosos e precisam ser combatidos. Há uma glorificação atual da morte. São músicas, clipes, filmes que apresentam o suicídio de uma forma artística, glorificada.

Assim como num passado recente existiu o culto às doenças mentais, disseminados por filmes do Woody Allen, por exemplo. Virou ‘cult’ ter uma doença psíquica. Hoje, usando mecanismos muito parecidos, vejo que há uma cultura que ostenta a morte provocada como algo ‘in’, que está na moda. É algo nefasto porque as pessoas acabam embarcando nisso.

iG: O senhor considera que está glorificação é resultante de quais fatores?

Bertolote: Talvez seja um reflexo do desencanto com o contemporâneo. Digo isso sem embasamento científico nenhum ou estudo aprofundado, mas a minha avaliação é que a glorificação do suicídio é influenciada por essas transformações rápidas do mundo atual, sejam das formas de comunicação ou de tecnologia. As pessoas não se adaptam, não acompanham. A mensagem que fica é que a vida perde a graça muito fácil e neste contexto é perigoso que as músicas, os videoclipes e a arte apresentem o suicídio de maneira tão glamourizada.

Mas também existe um grupo que não sabe lidar com o sofrimento e que encara o suicídio como uma possibilidade de solução. Para estas pessoas, a morte provocada pode ser influenciada por um modelo de transmissão. Por exemplo: caso alguém de destaque, que sirva como uma referência, como um pai, um avô, um ídolo, cometa suicídio, a mensagem para esta parcela é de que este pode ser um caminho a ser seguido. Por isso, precisamos falar, sem tabus, mas de forma coerente e contundente sobre o assunto.

iG: Este modelo de transmissão é o que pode explicar vários casos de suicídio em uma família? Não existiria uma explicação genética para um núcleo familiar em que o pai comete o suicídio e anos depois o filho também, por exemplo?

Bertolote: Sim, existe esta influência da transmissão do suicídio como alternativa que pode explicar os casos em família. Outro ponto é que apesar de não herdarmos o ‘gene’ do suicídio, se herdam vários genes, que estão associados a outras doenças, que deixam a pessoa mais vulnerável e predisposta a esta causa de morte.

iG: O senhor afirma com convicção científica que parte considerável dos suicidas não quer morrer. Isso reforça a importância da prevenção?

Bertolote: O suicídio é uma situação de ambivalência. Não está em questão apenas se a pessoa quer viver ou morrer. Ela quer escapar de uma situação desagradável, angustiante, de sofrimento absoluto. E quase sempre, quando opta pelo suicídio, percebe que não é uma boa escolha.

O arrependimento está muito catalogado em todas as pesquisas que se propuseram a estudar o tema. São trabalhos de extrema qualidade, feitos no Japão, em vários países da Europa, no Islã, que entrevistaram pessoas que tentaram o suicídio, foram hospitalizadas após a tentativa, muitas em estado grave e irreversível para a sobrevivência. É penoso demais atestar que a maioria estava arrependida, desesperada ao constatar que a morte era irreversível. Enfim, todos os estudos concluem que o arrependimento é muito presente e sim reforça a necessidade de prevenção.

iG: Desde que o senhor passou a pesquisar o suicídio, quais mudanças pontuaria na forma de encarar este fenômeno?

Bertolote : A transformação mais importante, ainda em curso, é a maneira como os religiosos passaram a encarar o suicídio. Muitas religiões, independentemente do ponto de vista médico ou jurídico, consideram o suicídio um pecado imperdoável. Este é um ponto em comum do catolicismo, do judaísmo (que prevê até cemitérios diferentes para quem se mata) e do islamismo, que coloca o ato como o pior dos pecados. Enquanto estive na Organização Mundial de Saúde (OMS) insistia com frequência em trabalhar com as lideranças religiosas para que eles entendessem este fenômeno como um processo patológico em vez de punir as famílias e resignar aqueles que tentaram o suicídio como um pecador imperdoável.

Busquei informações sobre esta condenação religiosa do suicídio e constatei que há teólogos que elaboram o suicídio como pecado, mas essa determinação ficava mais a critério de cada um. Por isso, fiz inúmeras reuniões com bispos, líderes protestantes e islâmicos, do judaísmo e com muita satisfação percebia que eles ficavam menos resistentes ao tema e já vejo uma mudança de postura, de acolhimento e não de rejeição. Este comportamento por parte das religiões implica também em mudar as leis. Em muitos países, inclusive no Brasil, suicídio ainda é considerado crime. Porém, há pelo menos 30 anos, não tenho conhecimento de nenhum processo jurídico aberto para julgar um caso desses. Felizmente.

iG: Além da mudança comportamental, o senhor acredita que a estrutura de saúde também precisa ser transformada para prevenir o suicídio?

Bertolote: Sem dúvida. Os médicos precisam ser treinados para identificar os sinais prévios ao suicídio e também ficar atentos aos casos mais vulneráveis. Aqui em Botucatu (interior de SP), onde atuo por meio da Faculdade de Medicina, tomamos uma decisão: se uma pessoa comparece com sinais de depressão a qualquer unidade de saúde, seja um posto, um hospital ou um serviço de saúde da família, a orientação é para que ela seja acompanhada até um serviço especializado e não encaminhada para que faça isso com as próprias pernas. Acompanhar é diferente de encaminhar, sugerir. Se ela for apenas encaminhada, pode ser que não chegue.

Fonte: http://saude.ig.com.br/minhasaude/2013-05-06/ha-uma-nefasta-glorificacao-do-suicidio.html