terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Trabalho em rede para a prevenção do suicídio em Santos-SP

Rede de apoio psicossocial e de prevenção ao suicídio tem portas abertas em Santos

14fev2019

Essa é a linha seguida pela Prefeitura, por meio de programas da Secretaria de Saúde, para prevenir e reduzir os casos de atentado contra a própria vida

Informar, auxiliar a reconhecer os sinais de alerta e dar apoio são os primeiros passos para evitar o suicídio. Essa é a linha seguida pela Prefeitura, por meio de programas da Secretaria de Saúde, para prevenir e reduzir os casos de atentado contra a própria vida.

As unidades da rede especializada de Saúde Mental do Município ficam de portas abertas (confira relação abaixo) à população e o atendimento é realizado por equipe multiprofissional formada por psicólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, acompanhantes terapêuticos, entre outros especialistas.

O coordenador do setor na Prefeitura, o psicólogo Paulo Muniz, destaca que não é possível evitar todos os suicídios, mas é possível prevenir muitos deles se houver atenção aos sinais e, principalmente, ao modo de vida daqueles  com quem nos relacionamos.

"Ficar alerta aos sintomas pode ser a diferença para salvar uma vida. O suicídio não envolve apenas uma questão de saúde, mas também educação, a parte social e, principalmente, toda a família".

A questão é muito complexa, segue Paulo, "porque no suicídio a vítima e o agressor são a mesma pessoa. É importante ressaltar que um agravamento da situação costuma ser caracterizado previamente pelo aumento das manifestações, que não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos para um risco real".

Sinais de alerta

Expressão de ideias ou de intenções suicidas:

  • "Vou desaparecer"
  • "Vou deixar vocês em paz"
  • "Eu queria poder dormir e nunca mais acordar"
  • "É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar"

Quando você pede ajuda, você tem o direito de:

  • Ser respeitado e levado a sério;
  •  Ter o seu sofrimento levado em consideração;
  •  Falar em privacidade com as pessoas sobre você mesmo e sua situação;
  • Ser escutado;
  • Ser encorajado a se recuperar.

O que fazer:

Se você acha que uma pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência (Samu 192) e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.

Se a pessoa que o preocupa vive com você, assegure-se de que ela não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.

Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.

Prevenção

A prevenção do suicídio passa principalmente pela produção de vida. Ações, comportamentos e atividades que valorizem a vida como tarefas a executar, objetivos e metas, arte, cultura, lazer, esportes e outras atividades que possam levar as pessoas a se sentirem produtivas e partícipes da sociedade ou de grupos com afinidade são a melhor forma de evitar decisões que possam levar uma pessoa a cometer suicídio.

Desde cedo é importante incentivar as crianças a atividades criativas nas quais elas possam encontrar e desenvolver os aspectos de realização e felicidade em cada fase de suas vidas.

Endereços e telefones para contato - Unidades de portas abertas

Caps ZNO 

Rua Bulcão Viana, 880, Bom Retiro - Telefone 3299-3824

Caps Centro

Av. Rodrigues Alves, 326, Macuco – 3222-1217

Caps Praia

Av. Cel. Joaquim Montenegro, 329, Aparecida – 3232-8411

Caps Vila Mathias

Av. Pinheiro Machado, 718, Marapé -  3225-5796;

Caps Orquidário

Avenida Francisco Glicério, 661, José Menino – 3251-2094

Caps Álcool e Drogas Infantojuvenil 24 Horas: CAPS ADIJ

Rua Campos Melo, 298, Encruzilhada -  3221-8637

Caps Álcool e Drogas Adulto

Rua Silva Jardim, 354, Macuco – 3237-2681

Caps Infantis:

Caps I ZOI

Avenida Bernardino de Campos, 617, Campo Grande – 3271-8235

Caps I ZNO

Praça Maria Coelho Lopes, 395, Santa Maria – 3299-7901

Caps I RCH

Rua Almeida de Morais, 214, Vila Mathias – 3221-2209 / 3221-4944

Fonte:
www.diariodolitoral.com.br/cotidiano/rede-de-apoio-psicossocial-e-de-prevencao-ao-suicidio-tem-portas/122817/

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Uma imagem impacta mais do que um catálogo de informações estatísticas!

Contra o frio número das estatísticas, o impacto de uma só imagem!


226 pares de sapatos foram colocados na escadaria deste pavilhão em Liverpool, representando as crianças que se suicidaram em 2017

Fonte: https://magg.pt/2019/02/09/estes-sapatos-representam-as-criancas-que-se-suicidaram-em-2017/

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Enlutado por suicídio

Do blog Psicologia e Prevenção do Suicídio  




Como ajudar um enlutado por suicídio?

Flávia Andrade

O luto é considerado uma reação humana a perda de algo existencialmente significativo, seja um ente querido ou o rompimento de algum laço afetivo, por exemplo.

Donald Woods Winnicott, psicanalista inglês, considerava o luto como um processo de transformação, uma espécie de transição de uma dor psíquica muito profunda, até uma forma de nostalgia. Em outras palavras, a dor intensa da perda, vai, com o tempo de cada um, de cada sujeito, sendo substituída por saudade, por lembrança.

Para Winnicott é necessário e absolutamente saudável, do ponto de vista psíquico, vivenciar o luto, chorar a dor da maneira com que cada um, singularmente, a sinta. Os limites emocionais são absolutamente individuais e, em decorrência, a dor do luto e a maneira de expressar essa dor, também é absolutamente individual. Não cabe portanto, comparar dores ou minimizar a dor do outro, menos ainda julgar essa dor.

No caso de luto por suicídio, justamente pelo que o próprio suicídio representa e invoca em termos de estigmas morais (especialmente os secundários a dogmas religiosos), a dor do luto pode ter alguns agravantes e especificidades.

O suicídio em muitos casos deixa uma situação de dor e violência extrema escancaradas. Em alguns casos,os entes da pessoa que se foi se deparam com a cena da morte e isso pode ser devastador. Além disso, o suicídio pode suscitar naqueles que ficam a culpa, a auto-acusação e especialmente o desejo de obter respostas.

É muito comum que haja ainda sentimento de vergonha, o que pode fazer essas pessoas esconderem o fato e se isolarem com suas dores enormes, sem saber o que fazer com elas.

É preciso acolher a dor dos enlutados
principalmente em três aspectos: autorizar a dor, desmistificar a questão da culpa e a questão da vontade de obter explicação, pois, como esclarecem Fukumitsu e Kovacs (2016), muitas vezes, a verdade foi embora com aquele que morreu.

É imperativo assinalar que o suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, multicausal, e ainda que suscite dúvidas e muitas angústias e perguntas em quem fica, é um ato individual. Seria praticamente inviável responder porque alguém tiraria a própria vida; isto é um processo individual complexo e de muita angústia para se obter uma única explicação.

Um fenômeno como o suicídio é multifatorial e não poderia ser explicado por um acontecimento único e pontual. A construção de uma angústia como a que leva a um ato como esse só pode ser algo de complexidade tal, que não caberia tentar desenrolar o nó perguntando “porque?”

Prevenimos o suicídio enquanto há vida, pois refletir sobre suicídio e sobre morte em geral é pôr em pauta, antes de qualquer outra coisa, a significação e o sentido próprio do viver. Há tempos, os filósofos sabem que a morte não é um tabu, (como passamos a encará-la socialmente), mas sim um tema que nos faz pensar no modo que escolhemos viver. Pensar a morte é refletir sobre a vida. Do mesmo modo, Camus (filósofo argelino/francês) já admitia considerar o suicídio como a questão filosófica essencial. O suicídio, diz Camus, é o que nos faz refletir sobre se a vida vale a pena ser vivida. Nesse sentido, entendemos que decidir o que vale a pena na vida é do âmbito individual, significado e sentido de vida, é algo que cada um busca construir, reinventar e transformar para si, constantemente. E é talvez isso que o suicida deixe de conseguir, em determinado momento; se torna angustiado a tal ponto que não vê mais a oportunidade de reinventar significados para a própria existência. É justamente por isso que podemos entender que o enlutado apenas intensifica o sofrimento ao perguntar porquê? Porque nós talvez jamais entendêssemos os motivos de alguém tirar a própria vida. O suicídio se previne em vida, mas infelizmente, nem sempre é possível evitar totalmente que ocorram.

De acordo com Fukumitsu e Kovacs (2016), os enlutados por suicídio enfrentam, além da dor da perda por morte, a dor da culpa, da vergonha (pelos fatores morais aos quais o suicídio se relaciona) e muitas vezes das autoacusações, uma vez que o enlutado nesse caso pode ser levado a pensar que poderia ter agido de modo a evitar o ato suicida.

Se autoacusar ou procurar respostas pode ter o efeito de apenas aumentar a dor do luto e da perda, que já e imensa. É preciso sim, autorizar o choro, o luto e a despedida, mas sem intensificar atitudes ou dores que só irão machucar ainda mais.

É preciso que os enlutados por suicídio saibam que merecem apoio, afeto e acolhimento para suas dores. E principalmente, que é possível reconstruir sua história e retomar suas vidas, apesar desse processo tão doloroso. Para resumir, quando me perguntam o que dizer a alguém que está enlutado, geralmente respondo que nesses casos pode ser mais necessário ouvir do que falar. E agir de modo a mostrar-se disponível; abraçar, acolher o choro, não julgar. Dizer, com ações, a frase: “onde dói e como posso te ajudar?’

* Flávia Andrade Almeida – Psicóloga clínica e hospitalar, especialista em prevenção do suicídio. Mestranda em filosofia com o tema “Suicídio segundo Michel Foucault". Autora da fan page Psicologia e Prevenção do Suicídio.

Abaixo links úteis e a relação dos grupos de apoio aos sobreviventes (enlutados) por suicídio.

Caso precise de ajuda ligue CVV (Centro de Valorização da Vida) 188 – ligação gratuita em todo o território nacional.

Referências 

CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo . Rio de Janeiro: BestBolso, 2013.

FUKUMITSU, Karina Okajima e KOVACS, Maria Júlia. Especificidades sobre processo de luto frente ao suicídio. Psico (Porto Alegre) [online].2016, vol.47, n.1, pp. 03-12. ISSN 1980-8623. http://DX.doi.org/10.15448/1980-8623.2016.1.19651

WINNICOTT, Donald Woods. Privação e delinquência. São Paulo: Martins Fontes, 2014

Links úteis

Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio (GASS)

Cartilha da Organização Mundial da Saúde - Prevenção do suicídio

Cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria - Suicídio, informando para prevenir

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Fonte: https://jornalggn.com.br/entenda/como-ajudar-um-enlutado-por-suicidio-por-flavia-andrade/