Quando a morte pode ser evitada
Diene Batista
De um lado, jovens com idade entre 15 e 24 anos atravessando um período de indefinição: sem autonomia econômica e emocional, eles precisam decidir sobre os rumos da própria vida. De outro, idosos na casa dos 70 anos que perderam a influencia na família e na sociedade. O desejo – muitas vezes levado a cabo – de tirar a própria vida aproxima essas duas faixas da população distantes etariamente.
É entre os jovens e os idosos que o suicídio mais cresce, segundo a psicoterapeuta e psicodramatista Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira. De acordo com ela, a vontade de interromper a existência é resultado de uma complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais.
A prática é considerada problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) porque impacta toda a rede de relacionamentos do indivíduo. “Família, amigos e colegas são os sobreviventes dos suicídios, morte que mais gera problemas emocionais graves e tipo de luto mais difícil de lidar”, detalha.
Fundadora do Inter-Vir Suporte em Perdas, grupo que discute ações de prevenção do suicídio, ela defende que esse é um tipo de morte que pode ser evitada. Para tanto, seria necessário atuar em três frentes: políticas públicas voltadas para a área, a prevenção dessa prática e a capacitação dos profissionais que lidam com indivíduos que tentaram o suicídio.
No contexto brasileiro, entretanto, a perspectiva não é animadora. Segundo a psicoterapeuta, as políticas públicas em relação ao suicídio são raras: há apenas uma Portaria Ministerial define as Diretrizes Nacionais de Prevenção ao Suicídio. De acordo com Célia, na academia, as pesquisas sobre o tema são desdenhadas. O quadro parece ainda pior no âmbito da qualificação profissional, em que a formação visando o atendimento de pessoas que já tentaram suicídio é quase inexistente.
Campanhas
Na última semana, o Inter-Vir realizou em parceria com o Centro de Atendimento em Estudos de Psicodrama (Caep), palestra para esclarecer sobre os riscos e as formas de prevenção do suicídio. A iniciativa contempla o artigo dois das Diretrizes Nacionais de Prevenção ao Suicídio: desenvolver estratégias de informação e de comunicação para mostrar a sociedade que esse é um tipo de morte evitável.
“Existem campanhas para prevenir problemas cardiovasculares, o câncer e os acidentes de trânsito. E campanhas de prevenção ao suicídio?”, questiona o psiquiatra Heisler Lima Vilela. A falta de visibilidade dos debates demostra o quanto o tema ainda é um tabu, apesar estar cada vez mais presente na sociedade.
De acordo com a OMS, nos últimos 45 anos as mortes provocadas intencionalmente aumentaram 60%. Estudos da mesma organização mostram ainda que o suicídio é a 6ª causa de óbito dos adultos com idade entre 15 e 69 anos em todo o mundo.
Vilela lembra que a tentativa de tirar a própria vida é uma maneira de tentar resolver em nível emocional algo que faz o indivíduo sofrer. O psiquiatra ressalta que há um sentimento de ambivalência envolvendo a situação vivida. “Em geral, quem tenta o suicídio não está totalmente decidido. A morte seria uma solução para sua dor, mas, ao mesmo tempo, ele quer viver”, explica.
Levantamento da OMS aponta que 53% das pessoas que planejam e chegam a executar, sem sucesso, um plano de suicídio não seguem o tratamento médico após a 1ª tentativa. Ao ser atendido, porém, nem sempre esse paciente recebe a assistência adequada, como lembra o psiquiatra Thiago Cézar da Fonseca.
Segundo Fonseca, para muitos profissionais de saúde trata-se de uma “demanda indigna”, especialmente em unidades já abarrotadas de doentes, como os prontos-socorros. “Esse paciente chega a ser vítima de piadas e comentários maldosos, que pioram a situação”, descreve.
Além das deficiências profissionais, o psiquiatra vê na ausência de Centros de Referência sobre suicídio uma lacuna que impede o mapeamento mais detalhado da ocorrência desse tipo de situação e dificulta a elaboração de políticas para a área.
Fonte: http://tribunadoplanalto.com.br
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