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sexta-feira, 29 de junho de 2012
Álcool e Suicídio
Alcoolismo e suicídios
Gláucio Soares (Pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ)
Uma pesquisa de Pridemore sobre as relações entre alcoolismo e suicídio na Rússia mostra a existência de dimensões importantes que ajudam na compreensão dessas relações e na prevenção do suicídio. Foram analisadas as regiões russas, 78 no total. Como o sexo e a idade influem tanto sobre o alcoolismo, as variáveis tinham que ser controladas. E o foram.
A escolha da Rússia não é acidental. A Rússia é importante em muitos estudos. Em primeiro lugar, a Rússia é um país onde se bebe muito. Nemsov e Treml, separadamente, estimaram o consumo anual de álcool em 15 litros por pessoa, mais do dobro dos Estados Unidos. Em segundo lugar, a Rússia tem alta taxa de suicídios, cerca de 38 por 100 mil habitantes, abaixo apenas da Lituânia. Em terceiro lugar, a política da Rússia em relação ao alcoolismo oscilou muito no tempo, desde uma regulamentação estrita em toda a União Soviética, implementada por Gorbatchov, até um abandono dessas práticas, logo em seguida, por Yeltsin.
Estudiosos como Norström e Ramstedt distinguem culturas “molhadas” de culturas “secas”. Nas molhadas, o hábito de beber é frequente. Essas categorias diferenciam países com taxas mais altas de suicídio dos com taxas mais baixas.
Um conceito muito importante é o de binge drinking. Para o estudo do suicídio (e de outros comportamentos violentos), são importantes tanto o que se bebe quanto o como se bebe. Uma cultura com tradição vinícola, em que o vinho acompanha as refeições, tende a ter níveis de embriaguez mais baixos, com aumento muito menor do risco de comportamentos violentos, do que culturas em que a bebida é destilada.
As pesquisas de Belarus e Razvodovsky deixaram claro que a associação com o suicídio é menos intensa no caso de vinho e cerveja e mais intensa no caso de bebidas destiladas, como gin, vodca, rum ou cachaça. Na Rússia, a vodca responde por 75% do álcool consumido. Binge drinking, convencionalmente, se define por beber cinco ou mais doses em seguida, no caso de homens, e quatro, no caso de mulheres.
O alcoolismo atinge níveis que o caracterizam como problema de saúde pública. Notzon e equipe demonstraram que 12% da baixa na esperança de vida observada entre 1990 e 1994 se deveram ao álcool. Em alguns casos, os anos de vida perdidos são de tal magnitude que alguns definem o alcoolismo como problema de segurança pública.
Há outro fator importante nessa análise, ainda que mais difícil de medir: como a cultura (seja do país, da região, do estado, da cidade, do bairro, da etnia etc.) trata a embriaguez e os alcoólatras. Há muita variância: algumas culturas punem social e psicologicamente os que se embebedam, ao passo que outras são lenientes.
A Rússia, lembra Pridemore, não é apenas grande, é variada. Os hábitos também variam muito: as mortes por envenenamento alcoólico variam, assim como as taxas de suicídio. As taxas seguem, de maneira algo infiel, dois padrões: aumentam do sul para o norte e do oeste para o leste. Há, na Rússia, grandes diferenças nas taxas de suicídio, que variam de 7 a 93 por 100 mil habitantes entre as regiões. É usual medir as taxas de alcoolismo indiretamente, por meio das taxas de envenenamento alcoólico.
A análise mostra que o alcoolismo se relaciona tanto com o suicídio masculino quanto com o feminino. Vários autores chegaram aos mesmos resultados: consumir bebidas mais fortes, embebedando-se (querendo ou não), se associa com vários comportamentos violentos, como a violência doméstica, as brigas e agressões, os homicídios e os suicídios.
Correio Braziliense (Opinião)
Fonte: http://www.uniad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14626:alcoolismo-e-suicidios&catid=29:dependencia-quimica-noticias&Itemid=94
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