quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Suicídio entre jovens: a presença do álcool e da depressão

Álcool e depressão aumentam risco de suicídio entre jovens

Casos de pessoas de 15 a 19 anos que tiraram a própria vida cresceram 45% em 15 anos

Litza Mattos*

A associação entre transtornos psiquiátricos, principalmente a depressão, e o abuso de álcool e drogas constitui uma combinação potencialmente perigosa para a vida. Mais da metade das 1.700 vítimas (61%) analisadas em estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) entre 2011 e 2015 e com faixa etária entre 25 e 44 anos apresentavam álcool no sangue.



Além disso, mais de 90% dos casos de autoextermínio estão ligados a distúrbios mentais, sendo a depressão o diagnóstico mais frequentemente relacionado a esse comportamento – presente em 36% dos casos.

No mundo, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano. No Brasil são 11 mil, em média, o que equivale a cerca de 30 vítimas por dia, uma a cada 48 minutos. A divulgação desses números, na quarta-feira (22), por especialistas em São Paulo faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio. O lançamento oficial da campanha será no dia 1º do próximo mês, juntamente com a hashtag #SaiadaSombra e um vídeo que vai circular pelas redes sociais. A ação é promovida pela multinacional farmacêutica Pfizer em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV).

Apenas no primeiro semestre deste ano, cinco casos de suicídio envolvendo jovens de escolas tradicionais de São Paulo e Minas Gerais ganharam notoriedade no país. O aumento de ocorrências entre o público adolescente e jovem preocupa especialistas, que já tratam como problema de saúde pública. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre os anos 2000 e 2015, os casos de jovens [15 a 19 anos] que tiraram a própria vida cresceram 45%. Globalmente, o problema já representa a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma vez que o álcool provoca um aumento da impulsividade, esse efeito pode ser ainda mais evidente em populações que já apresentam essa característica de forma mais pronunciada, como os adolescentes, segundo o psiquiatra e supervisor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Teng Chei Tung. “A adolescência já é, por si só, um período conturbado. Mas, quando falamos em suicídio, devemos pensar em um fenômeno que traz uma convergência de fatores, o que inclui aspectos fisiológicos, sociais e culturais, combinados”, diz.)

BUSCA POR MÉDICOS É FREQUENTE E INSUFICIENTE

As pessoas que cometem suicídio costumam dar sinais claros de sua intenção e, muitas vezes, chegam a procurar ajuda antes desse desfecho. Um em cada cinco pacientes que tentaram o suicídio passou por uma consulta médica um mês antes do episódio, de acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo [Unifesp] a partir de 80 indivíduos atendidos em um pronto-socorro.

Outra pesquisa australiana, publicada em 2017, mostra que muitos indivíduos tendem a visitar seu médico nos meses anteriores ao episódio. Cerca de 75% dos depressivos suicidas tinham tratamento psiquiátrico anterior, 66% no ano prévio e 50% no momento do suicídio. Outros 20% procuraram um médico no dia da tentativa, 40% na semana anterior, 66% nos três meses anteriores, e 3% estavam tomando antidepressivos em dosagens adequadas no momento do suicídio, sendo que 7% estavam em psicoterapia.

O trabalho aponta ainda que grande parte desses pacientes não chega aos serviços médicos por meio do psiquiatra, o que evidencia um grande desafio para os profissionais da atenção primária. “Muitas vezes quem está em contato com esse paciente é o clínico geral, o ginecologista, o cardiologista”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.

Para a neurologista Elizabeth Bilevicius, a depressão ainda é cercada de mitos, por isso é preciso vencer o preconceito e incentivar um diálogo mais aberto a respeito do assunto. “Tem muita evidência científica de que depressão não é ‘mi-mi-mi’, não é frescura, não é interesse de um grupo específico, e merece atenção e tratamento”, diz.

CENTRO ATENDE MAIS DE 3 MIL ANUALMENTE

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um serviço gratuito para apoio emocional e prevenção do suicídio sob total sigilo, disponível 24 horas, por ligação gratuita (número 188) e outros canais, como o site (cvv.org.br), e-mail, chat e Skype.  O CVV realiza em média 3 milhões de atendimentos por ano, segundo o presidente da entidade, Robert Paris. “O serviço é prestado eminentemente por voluntários. São 2.600 pessoas espalhadas pelo Brasil que fazem um trabalho de apoio emocional a quem precisa. Pessoas que estão sozinhas, desesperadas e não têm com quem conversar”, diz.

*Repórter viajou a convite da Pfizer

www.otempo.com.br/super-noticia/interessa/álcool-e-depressão-aumentam-risco-de-suicídio-entre-jovens-1.2018825

Nenhum comentário:

Postar um comentário