domingo, 3 de junho de 2012

ALERTA: cyberbulling e suicídio juvenil em um caso concreto na Bahia


Adolescente morre após fim de namoro virtual com avatar

O que fazer quando são as palavras da pessoa que seu filho julga amar e que, a todo custo, quer proteger, que levam um adolescente de 15 anos a se matar? Essa é a pergunta que tentam responder os familiares do jovem C. M., que se suicidou no começo do mês passado, em Salvador, após iniciar namoro virtual por meio de um jogo. Os pais procuraram A TARDE para relatar o caso e alertar outras famílias sobre o risco. Este relato foi confirmado por uma fonte dentro da Justiça baiana. Informações como a identidade dos envolvidos foram preservadas para não prejudicar investigações policiais.

Familiares contaram que, desde a infância C. tinha dificuldade de expressar sentimentos. Chegou a fazer análise por duas vezes. “Era um menino muito tímido, mas depois da terapia melhorou”, lembra a mãe. Para a família, C. sempre foi introvertido, porém carinhoso, e apaixonado por música e tecnologia. “Lembro uma vez em que estava no computador e tudo travou. Ninguém conseguia dar jeito, mas em menos de cinco minutos, C. resolveu e, à época, ele era uma criança”, exclamou a avó. “Meu neto sempre gostou de computador, também aprendeu sozinho a tocar violão e a falar inglês”, acrescenta.

Talvez por isso, quando C., no final do ano passado, começou a se retrair ainda mais – não querer se alimentar nem ir à escola e a varar madrugadas em frente ao computador –, os pais pensaram que se tratava de apenas uma crise da adolescência. “Cheguei a falar em levá-lo ao psicólogo, mas ele disse que não queria”, lamentou o pai.

Ciúmes - Por trás da nova fase, estava o início de um namoro virtual com uma garota conhecida por meio da rede social IMVU – site que reúne salas de bate-papo com personagens em 3D e acúmulo de créditos a serem trocados por roupas, móveis, bebidas. Além disso, há interações que vão desde a troca de olhares até sexo virtual. Para usufruir da realidade alternativa, basta cadastrar e-mail, escolher idade, gênero e aparência. Foi o bastante para o jogo cair nas graças dos mais jovens: é comum encontrar nos ambientes virtuais – que simulam boates, praias, bares – avatares que dizem ter de 8 a 19 anos.

Um mundo atraente e fácil de dominar para C. M., conforme relata a mãe: “Descobrimos que ele era popular no jogo, tinha salas bem movimentadas e muitos créditos”. A situação ganhou contornos de problema quando, em novembro do ano passado, o jovem passou a namorar um avatar feminino que afirmava ter 14 anos. Após alguns meses de relacionamento, C. passou a ser acusado de traição por ter conversado com outras ‘garotas virtuais’.

Desde então, a menina começou uma série de ameaças de que o namoro estava terminado e de que ela iria se matar. Na manhã de 6 de maio, a família foi acordada pelo grito de um tio de C. ao ver o garoto enforcado na entrada do próprio quarto. “No dia da morte do meu filho, encontramos mensagens da garota dizendo que ele era um traidor, que iria queimar no inferno e que ela iria tirar a própria vida. Achamos que ele se matou por pensar que ela também havia feito o mesmo. A última mensagem dele dizia: 'vou provar meu amor por você'”, contou a mãe de C. Familiares ainda tentaram contato com o avatar. “Por mensagem, ela disse que ele tinha mesmo que 'queimar', por ser um traidor. Conseguimos ligar uma vez, mas a voz era distorcida. E ela não entrou mais no jogo”.

Para os pais, houve cyberbulling – perseguição e ataques sistemáticos por meio de novas tecnologias. O caso está sob investigação policial como possível incitação ao suicídio, crime que prevê pena de 2 a 6 anos de reclusão (dobrada se a vítima tiver menos de 18 anos).

http://atarde.uol.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5842384&t=Exclusivo:+Adolescente+morre+apos+fim+de+namoro+virtual+com+avatar

Mais sobre o caso (I):

Conversas e mensagens devem ser analisadas
Tássia Correia

Segundo o advogado Leandro Dissoli, especializado em direito digital, as conversas via internet e celular entre o adolescente C. M. e a namorada devem ser analisadas para descobrir se houve indução ao suicídio: “A pessoa tem que estimular ou ajudar a outra a se matar para configurar crime”, disse.

O especialista alerta ainda que pais devem estar atentos aos “cliques” dos filhos: “Os Termos de Acordo do IMVU , por exemplo, informam que menores de idade precisam de autorização dos pais para usá-lo. Isso é um indício importante”, acrescentou.

Centro de prevenção - Coordenadora do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (Neps), Soraya Carvalho, destacou que é preciso avaliar ainda a forma com que o adolescente se ligava a outras pessoas. “Quando uma relação se desfaz é natural que se sofra, mas existem os que passam a vida inteira buscando alguém que lhes diga quem eles são. Então, o fim do namoro, por exemplo, representa para alguns perda de identidade", explicou.

Contato do Neps: 0800 284 4343

http://atarde.uol.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5842390&t=Exclusivo:+Conversas+e+mensagens+devem+ser+analisadas

Mais sobre o caso (II):

Ambiente criado por site pode incitar confusão mental
Tássia Correia

Avatares acumulam, gastam créditos e interagem

O ambiente criado pelo jogo IMVU também estaria ligado ao suicídio de C. , segundo afirma o pai. “Com o tempo, ele se transfigurou em seu avatar. Pintou e alisou o cabelo, passou a usar alargador na orelha e roupas semelhantes às do personagem. Acho que, para ele, aquele dia representou a morte do avatar, porque meu filho não estava ali há muito tempo". O comunicólogo Felippe Thomaz, integrante do Grupo de Pesquisa em Interação, Tecnologias Digitais e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, explica que essa transposição é mais comum em jogadores com problemas de autoestima e falta de aceitação. “No mundo virtual, essa pessoa consegue se mostrar de forma distinta do real. É mais fácil controlar aparência e gerenciar a própria impressão perante os outros. Ali, ele não é reconhecido por características físicas, mas pela habilidade em ajudar os outros e realizar tarefas”, complementou.
Apesar disso, Thomaz destaca que o ambiente criado pelos jogos pode influenciar essa relação: “A maioria dos games que simulam realidade virtual possui classificação acima dos 16 anos, pois entende-se que, abaixo dessa faixa, a pessoa ainda não tem capacidade para diferenciar os mundos e se portar naquele ambiente”.

Proteja seu filho

Atenção - Desinteresse absoluto, distúrbios de sono e alimentares, variações de humor, interesse por sites sobre suicídio e frases como “Não aguento mais essa vida” são sinais de que um adolescente pode estar pensando em se matar

Diálogo  - A ideia de que seu filho pode estar cogitando um suicídio assusta, mas evite frases como “esqueça isso, que absurdo, eu jamais faria algo assim”. Experimente falar sobre como essa fase também foi difícil para você e como sofreu com fins de relacionamentos. Compartilhe suas falhas

Ajuda  - Mesmo que o jovem não demonstre interesse, fale sobre atendimento psicológico e procure um psicoterapeuta. Faça isso rápido, não espere o momento crítico da depressão

Fonte Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio/Sesab

http://atarde.uol.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5842388&t=Exclusivo:+Ambiente+criado+por+site+pode+incitar+confusao+mental

Nenhum comentário:

Postar um comentário