sábado, 24 de outubro de 2020

Quando o problema alheio é semelhante ao nosso... Suicídio como problema grave de saúde pública

Novo México enfrenta com terapia aumento do suicídio de crianças e adolescentes

Cláudia Collucci (Folha de São Paulo)

Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.

Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo – ou o mesmo – líder americano terá de lidar.

Quem observa um grupo de adolescentes sentado no chão de uma escola vazia em Santa Fé, no Novo México, não imagina que a conversa animada seja sobre um tema que tanto assombra as autoridades americanas de saúde: o suicídio infantojuvenil.

Na faixa etária entre 10 e 24 anos, a taxa dessas mortes aumentou de 7 para 11 em cada grupo de 100 mil, entre 2007 e 2018, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).

O Novo México figura entre os cinco estados com maior incidência, com taxa de 20,9 mortes por 100 mil, quase o dobro da média nacional. O Alasca lidera, com 36 mortes por 100 mil.

O temor das autoridades de saúde é que os casos de suicídios cresçam ainda mais no pós-pandemia, já que os sinaisde depressão e ansiedade entre os americanos triplicaram desde o início da crise sanitária, segundo pesquisas.

O isolamento social é a chave para desacelerar a disseminação do vírus, mas também é fator de risco para vários transtornos psiquiátricos, incluindo o suicídio, diz o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A situação já era preocupante antes da pandemia. O Bark, um aplicativo que alerta os pais quando os filhos acessam conteúdo online suspeito, analisou a atividade de mais de 1 milhão de pré-adolescentes em 2019 e revelou que 55% deles conversaram sobre depressão, e 35% estavam envolvidos em episódios de automutilação ou ideias suicidas.

Uma das iniciativas para o enfrentamento dessa crise acontece desde 2015 em Santa Fé. Semanalmente, estudantes se reúnem em escolas sob a mediação de conselheiros do projeto Semicolon (ponto e vírgula, em inglês), voltado à prevenção do suicídio.

É uma espécie de terapia em grupo, em que os jovens têm liberdade para expressar suas angústias e recebem apoio de acordo com o grau da ideação suicida.

“Cruzamos um limiar. Todas as dificuldades emocionais e problemas de relacionamento que costumávamos ver com os jovens de 16, 17, 18 anos, agora vemos em crianças mais novas”, diz Apryl Miller, diretora executiva do Sky Center, clínica responsável pelo Semicolon.

A preocupação não se resume aos jovens. O CDC vem documentando um aumento na taxa nacional de suicídio: de 10,7 por 100 mil pessoas em 2001 para 14, em 2018.

Entre os americanos em idade produtiva (16-64 anos), o índice cresceu 40% no mesmo período. O suicídio é uma das dez principais causas de morte nos EUA e é responsável pela maioria das mortes por armas de fogo.

Os dois principais candidatos presidenciais oferecem planos de prevenção ao suicídio, mas priorizam apenas os veteranos de guerra, subgrupo com maior risco do que a população em geral.

O site de campanha de Donald Trump destaca a criação de uma força-tarefa dedicada à prevenção de suicídios entre veteranos, e seu orçamento proposto para 2021 aloca cerca de 30% a mais de recursos para prevenção de suicídio nesse grupo. Não há referência à prevenção de suicídio entre jovens.

O plano de prevenção do suicídio de Joe Biden também é focado nos veteranos, com promessa de financiamento de serviços de saúde mental, início precoce de tratamentos e aumento de profissionais. Biden diz que fortalecerá programas de prevenção de suicídio entre adolescentes LGBTQ+, mas não fornece detalhes.

 

8 passos para identificar pessoas com pensamento suicida

 

1. Isolamento: jovens que estão passando por um momento difícil tendem a se isolar. O mesmo ocorre com aqueles que enfrentam bullying.

2. Mudanças de humor: agressividade, tristeza ou ansiedade que não passam durante um longo período são sinais de alerta. A agressividade aparece especialmente nos meninos.

3. As chances de uma pessoa tentar se suicidar novamente após uma primeira tentativa são altas. Por isso os primeiros dias após o ocorrido demandam conversa com o jovem e atenção ao seu comportamento.

4. Despedir-se de amigos e doar objetos importantes podem anteceder um suicídio. Deve-se observar o objetivo da ação. Doar pode ser sinal de renovação da vida, mas também de fechamento de um ciclo.

5. Descuido com a aparência em jovens que sempre foram vaidosos ou negligências que envolvam a rotina básica de higiene são preocupantes. Em meninas, perfeccionismo e autocobrança são mais frequentes.

6. O uso excessivo de drogas pode ser tanto um sinal de que a pessoa não está bem como um fator de risco. Quem está em sofrimento pode ficar mais sensível aos efeitos de substâncias que alterem a consciência.

7. Sono e alimentação desregulados: é comum que adolescentes durmam e comam muito ou pouco, de acordo com a fase em que estão. É importante observar se há mudanças de outros hábitos.

8. Pessimismo e desesperança: adolescentes que acreditam ser um peso na vida dos outros e falam muito em morrer precisam de ajuda. Com a internet, é importante observar também como o jovem tem se expressado nas redes sociais.

Fonte: www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/novo-mexico-enfrenta-com-terapia-aumento-do-suicidio-de-criancas-e-adolescentes.shtml

 

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