Conversar talvez seja a melhor maneira de expulsar esse problema gigante que pode estar na nossa frente, mas fingimos não enxergar
Gustavo B. Rock - reportagem@kzuka.com.br
Por diversas razões o assunto suicídio continua sendo tabu, vindo à tona somente quando ocorrem casos envolvendo pessoas famosas – como a morte do baixista Champignon (Charlie Brown Jr) este mês – ou anualmente em 10 de setembro, o Dia Mundial de Combate ao Suicídio. Mas é preciso falar.
A taxa de suicídios vem crescendo a cada ano no Brasil. De 1990 a 2010, o número de casos envolvendo jovens entre 15 e 24 anos aumentou 60% de acordo com o Datasus do Ministério da Saúde. O assunto é delicado como um elefante numa loja de cristais, mas não pode ser ignorado.
– É um fenômeno complexo, no sentido de que temos causas previsíveis e imprevisíveis, ou seja, não temos controle de todas as variáveis, são vários elementos que interferem no processo – diz o psicoterapeuta Carlos D’Oliveira, coordenador da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio (Rebraps).
O problema é muito relacionado a transtornos mentais, como depressão e esquizofrenia, e pode se agravar quando o paciente ainda abusa de álcool e drogas. Outro vilão é a falta de informações.
Petra Costa tinha apenas sete anos quando a irmã mais velha, Elena, tirou a própria vida. Agora, mais de 20 anos depois, lançou um documentário, que leva o mesmo nome da irmã, para tentar entender o que se passava com Elena, além de promover o diálogo sobre o assunto.
– Já se fala muito em depressão, bipolaridade, mas não sobre suicídio. Os jovens recebem muito pouco apoio para falar sobre suas dúvidas existenciais. Mas acho também que faltam políticas públicas para tratar desses assuntos em escolas e universidades – conta a atriz e diretora.
Quanto mais o assunto ficar escondido atrás de tabus, há menos possibilidade de troca de informações que podem salvar vidas.
Petra, que antes costumava falar abertamente sobre a morte da irmã apenas com a mãe, tem compartilhado sua experiência na esperança de ajudar outras Elenas. Para D’Oliveira, a falta de diálogo pode levar o potencial suicida a acreditar que a sociedade jamais entenderá seus problemas.
Atenção aos detalhes
Não é fácil identificar alguém que esteja pensando em cometer suicídio, pois os sinais muitas vezes são confusos. Dependendo do contexto, falta de perspectivas, dificuldade de comunicação e isolamento – querer ficar sozinho ou ser desprezado por grupos sociais – são alguns fatores que podem levar o sujeito ao limite.
É preciso estar atento quando alguém faz menção ao assunto. Ao contrário do que muitos acreditam, perguntar se a pessoa está pensando realmente em suicídio não faz, necessariamente, ela decidir seguir esse caminho.
– Não se pode desvalorizar essa informação. É um momento que exige cuidados, algum tipo de atendimento. O maior problema é com aquele que já tentou fazer isso antes, pois é grande o risco de fazer uma segunda tentativa – explica o psicoterapeuta Carlos D’Oliveira.
Saúde Pública
O psicoterapeuta Carlos D’Oliveira acredita que essa é uma questão de saúde pública e que o governo precisa definir isso para ajudar as famílias nos processos de atenção, assistência e acompanhamento.
– No país, existe uma fragilidade dos sistemas de atendimento, o acesso a informações é bastante difícil e a pessoa logo acha que não existe uma resposta para o seu sofrimento – explica ele.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados se, no trabalho preventivo, fosse oferecida ajuda a tempo.
– Elaborar uma estratégia nacional de prevenção é um trabalho árduo, que temos que fazer constantemente, e a participação da sociedade é essencial. Estou convencido de que nos Estados Unidos o tema consegue recursos específicos porque a sociedade participou e influenciou bastante para levar o tema ao Congresso – diz D’Oliveira, que também atua como voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV).
A diretora de cinema Petra Costa planeja a criação do Instituto Elena, com o objetivo de promover debates relacionados ao assunto.
– Com o filme, trabalhamos para mobilizar as pessoas em relação a temas como saúde mental, juventude, condição feminina. Nós fizemos uma parceria com o Instituto Vitalere, em São Paulo, que está tentando formar profissionais para dar apoio a quem pensa em se suicidar e a sobreviventes. A ideia é potencializar esse trabalho de ressignificar dor e sofrimento e transformar em potência e força – diz.
O CVV oferece apoio 24 horas pelo telefone 141 e pelo site.
Fonte: http://kzuka.clicrbs.com.br/lifestyle/
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