quinta-feira, 12 de março de 2009

Um bom exemplo de como abordar o suicídio na mídia!!

Enfrentar, comentar, esclarecer... É isso que faz a jornalista Flávia Saad, do jornal A Tribuna Online.

Transcreveremos, na íntegra, sua reportagem:

Aumento da depressão em crianças e jovens leva a suicídio

FLÁVIA SAAD 


No filme Milk - A voz da igualdade, que está em cartaz nas salas da Cidade, o protagonista Harvey Milk (interpretado por Sean Penn, que ganhou o Oscar pela atuação) recebe um telefonema crucial na noite em que aguarda o resultado de sua eleição para o cargo de supervisor em São Francisco (Califórnia).

Do outro lado da linha, um jovem do interior dos Estados Unidos ameaça se matar por não conseguir lidar com o preconceito que sofre por ser gay. Sem saber a quem recorrer, liga para Milk, cuja foto viu em um jornal. O político e ativista conversa por alguns momentos com o garoto, mas oferece a ele exatamente o que ele precisa: alguém que o escute.

Na tela, a cena cumpre o propósito de emocionar (e também de incrementar a história). Mas, na vida real, não é tão simples assim. Crianças e adolescentes enxergam no suicídio uma opção para fugir da escuridão em que vivem - e da qual acreditam que não conseguirão sair.
De acordo com Adriana Pereira, psiquiatra infantil e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), o número de suicídios entre os jovens aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Segundo a médica, mais de 3 milhões de jovens pensam em se matar todos os anos. Entre 1993 e 1998, o índice subiu 40% no Brasil.

Assim como o crescimento dos casos de depressão na infância e na adolescência, as taxas de suicídio também estão ligadas à fragilidade dos laços afetivos e à solidão de um mundo em que crianças e jovens vivem sozinhos na multidão. Adriana chama esse problema de "privação emocional".

O psicólogo Hélio Alves, professor da Universidade Católica de Santos (UniSantos), acredita que esse sentimento também se manifesta com outras agressões. Bulimia, anorexia e o uso de drogas também são formas de acabar com a própria vida - a insegurança e a falta de relacionamentos confiáveis geram a busca pela autodestruição.

A CADA 40 SEGUNDOS

O ato de acabar com a própria vida ainda representa um tabu na sociedade. Mas hoje, o suicídio está mais próximo de nós do que nunca. Em uma busca simples pela palavra na internet, o site Google mostra quase oito milhões de referências a esse termo, com especificações: "como cometer suicídio", "tipos de suicídio" e até mesmo "fotos de suicídio". Em todo o mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata.

"Um grande problema dosuicídio infantil e juvenil é a notificação", afirmou Adriana. Isso porque, muitas vezes, os pais, médicos e professores não sabem (ou não querem) reconhecer a tentativa da criança ou adolescente de tirar a própria vida. O aumento no número de intoxicações por ingestão de remédios ou venenos pode ser um indicativo das intenções que se escondem por trás de um "acidente". Muitas crianças e adolescentes exteriorizam sua depressão por meio de dores físicas (de cabeça ou de estômago, por exemplo).

A especialista alerta que o ato de se matar é capaz de afetar de maneira negativa até seis outras pessoas, entre amigos e familiares da vítima. "É um choque muito difícil de se recuperar".

LONGO CAMINHO

Adriana explica que, embora a adolescência seja um período conturbado para a maioria das pessoas, por conta das mudanças orgânicas e emocionais dessa época da vida, alguns jovens são mais propensos a sentimentos depressivos. "Um jovem não decide se matar de uma hora para a outra. Há um longo caminho entre o desejo de morrer e a conclusão".

Segundo Alves, o perigo da depressão ­ e o consequente suicídio ­ pode passar despercebido por pais e professores. "A negação acontece. É mais fácil não olhar e não admitir a própria culpa".

É importante ter um espaço em casa para as discussões entre pais e filhos. "O grupo de amigos nunca vai substituir o diálogo com a família. Mesmo com a nossa vida agitada, o ideal é prevenir esses problemas e não deixar para o dia seguinte", conclui Alves.

Como identificar

Falta de interesse nas atividades habituais
Declínio geral nas notas
Diminuição no esforço/interesse
Má conduta na sala de aula
Faltas não explicadas e/ou repetidas, ficar "matando aula"
Consumo excessivo de cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso de
drogas (incluindo maconha)
Incidentes envolvendo a polícia e o estudante violento
Tentativas prévias de suicídio
Depressão
Confronto com adultos
Agressões diretas ou indiretas a pais e professores
Fonte: Organização Mundial de Saúde

Iniciativa
Em 2006, o Governo Federal publicou a Portaria 1.876/06, que declara o suicídio como problema de saúde pública. Uma das justificativas foi o aumento do comportamento suicida entre jovens entre 15 e 25 anos, em todas as camadas sociais. Desde então, ficou estabelecido que as três esferas de gestão (federal, estadual e municipal) deveriam atuar juntas na prevenção do problema e garantir o acesso a tratamento, cuidados e recuperação.

Eles e elas
As meninas costumam tentar mais o suicídio, mas são os garotos que são mais bem-sucedidos, porque lançam mão de métodos mais letais, como enforcamento e armas de fogo. Já elas optam pela ingestão de medicamentos.

Procure ajuda

O professor Hélio Alves faz trabalho de psicoterapia breve gratuito em crianças e adolescentes (e seus pais) nas comunidades das igrejas Valongo, São Benedito, Aparecida, Sagrado Coração de Maria e no Centro Comunitário São Judas (em Santos), Nossa Senhora da Lapa (em Cubatão) e Santo Antônio (Praia Grande).

A clínica psicológica da UniSantos atende por uma taxa simbólica na Rua da Constituição, 321, de segunda a sexta, das 7 às 20 horas e aos sábados, das 8 às 15 horas. O telefone é 3221-2307.

Fonte: http://atribunadigital.globo.com/bn_conteudo.asp?cod=401707&opr=512

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