terça-feira, 17 de março de 2009

Jornalista do Kuwait alerta para a necessidade de estratégia nacional para prevenção do suicídio em seu país

Necessidade de uma estratégia nacional para a prevenção do suicídio

Khaled Aljenfawi

khaledaljenfawi@yahoo.com

Em artigos anteriores comentei brevemente sobre o aumento do número de suicídios entre empregadas domésticas e trabalhadores imigrantes que trabalham em serviços domésticos, categorias que comumente recebem salários irrisórios. Na oportunidade, chamei a atenção para a necessidade de se criar uma “linha direta” em todo o país acessível às potenciais vítimas de suicídio. Até agora nenhum órgão governamental ou organização da sociedade civil pareceu interessada na criação desta “linha da vida”, para a qual as vítimas possam ligar e pedir ajuda ou aconselhamento. Também sugeri que os voluntários ou funcionários públicos que falam línguas estrangeiros também pudessem colaborem. Precisamos tratar a questão da prevenção do suicídio com mais eficácia.

Por que não estabelecer, por exemplo, um comitê nacional de prevenção do suicídio que utilize estudos científicos e psicológicos mais recentes sobre este fenômeno? A criação desse comitê poderia contribuir para ampliar a consciência geral sobre as causas do suicídio entre pessoas de todas as nacionalidades e grupos de idade diferentes no Kuwait. As causas do suicídio são muitas, porém, a maior parte delas não é descoberta em tempo devido à falta de informação. Muito embora o suicídio possa afetar direta ou indiretamente suas vidas, muitas pessoas no Kuwait ainda não dispõem de conhecimento básico sobre estratégias de prevenção do suicídio. Desse modo, um comitê nacional que se responsabilizasse em organizar programas de esclarecimento seria mais produtivo nestas ações.

Diante do aumento incontestável de casos de suicídio entre imigrantes e trabalhadores de serviços domésticos, o nosso desafio nacional é real, difícil e precisa ser abordado com transparência. Poderemos prover recursos médicos e psicológicos mais eficientes se estabelecermos um comitê cuja única responsabilidade fosse a de fornecer orientação e auxílio às vítimas potenciais do suicídio. Em outros países, os governos e a sociedade civil criaram suas “estratégias nacionais de prevenção do suicídio”, que normalmente tomam a forma de determinados procedimentos para tratar os casos de suicídios potenciais. Infelizmente, parece não haver no Kuwait uma estratégia em âmbito nacional ou qualquer plano semelhante de ação neste sentido. Ainda que exista uma estratégia parecida, ela estaria envolvida pelo silêncio, desconhecida ou possivelmente não seria eficaz. As vítimas do suicídio que sobrevivem à trágica experiência são normalmente tratadas como pacientes de pronto-socorros ou liberadas de imediato.

Em alguns casos, funcionários do hospital enviam as vítimas de suicídio ao hospital psiquiátrico. Tais métodos, porém, não são adequados, seja por não solucionar os problemas, seja por não se buscar as verdadeiras causas por trás das tentativas de suicídio. Além disso, tratar vítimas de suicídio como “casos psiquiátricos” pode intensificar a sensação de vergonha e culpa, produzindo um estigma social nos pacientes. Em outras palavras, temos de adotar critérios mais esclarecedores sobre o suicídio. O grande público no Kuwait desconhece os indicadores básicos do suicídio entre grupos de idade diferentes, pois tais questões são normalmente silenciadas em nossa sociedade tradicional. Estigmatizar vítimas do suicídio como suspeitos ou viciados em droga, ou descrevê-los psicologicamente como “apáticos”, o que nem sempre é o caso, demonstra claramente que devemos experimentar outros procedimentos. Além disso, tal generalização sobre as causas do suicídio não leva em conta os impactos dos desafios reais que muitas destas vítimas enfrentam todos os dias.

Só há pouco tempo o jornal Al-Rai noticiou o caso de um imigrante “cuja identidade não foi revelada, que teria se suicidado por meio de uma corda presa ao teto de sua sala em Jleeb Al-Shuyoukh”. A vítima trabalhava em um restaurante não identificado. A esposa da vítima afirmou que seu marido sofria de distúrbios psiquiátricos (Arab Times, 04/03/2009). Uma vida humana tão preciosa poderia ter sido salva caso existisse algum canal de comunicação por meio do qual as vítimas pudessem se comunicar ou falar sobre seu sofrimento. A criação de um comitê nacional de prevenção do suicídio ou a adoção de uma verdadeira estratégia nacional diante desse fenômeno trará soluções reais para um problema concreto que afeta atualmente a vida de milhares de pessoas no Kuwait e em todo o mundo.

Fonte: http://www.arabtimesonline.com/kuwaitnews/pagesdetails.asp?nid=29540&ccid=9

Tradução: Abel Sidney :: Revisão: Lucas Yassumura

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