sexta-feira, 29 de julho de 2011

Replicando artigo sobre "suicídio, depressão, familia e relações interpessoais"

Suicídio, Depressão, Família e Relações Interpessoais

A Organização Mundial de Saúde estima que um milhão de pessoas cometem suicídio Anual,ou seja, aproximadamente 2740 pessoas por dia no universo. Dados da Estimativa da OMS, ainda de 2002 revelam números assustadores quanto ao avanço das doenças Neurológicas,
Psiquiátricas e Psicológicas afirmando que 154 milhões de pessoas sofrem de Depressão; e mais 15 milhões sofrem de transtornos causados pelo uso de bebida alcoólica e outras drogas, lembre-se, esses dados são de 2002.


O Brasill está entre os dez países do mundo no ranking do suicídio, cerca de 8.000 casos por ano. Vamos conversar sobre esta patologia associada a outras doenças que podem agravar esta estatística, contribuindo para sua manifestação que resulta em tristeza familiar e social.

Porém é importante acrescentar que muitas mortes não são registradas como suicídio, além de não se ter de forma precisa dados estatísticos de tentativas infrutíferas de auto extermínio, que, segundo estima a OMS podem estar na esfera de 20 vezes superiores aos casos consumados.

Aqui vale citar que o Sistema de Saúde Brasileiro, o chamado SUS, aquele que todos pagamos através de inúmeros impostos, ocupa a 125ª posição no ranking internacional de bom desempenho dos sistemas públicos de saúde.
Estamos na UTI institucional chamada Saúde, visto que nossa péssima colocação nos reporta aos níveis inferiores de países como El Salvador, que ocupa a 115ª posição.
Só para citar alguns dos melhores países em assistência a Saúde no mundo, está: França, Itália, Singapura, Espanha, Áustria e Japão. (World Health Report (2000) Organização Mundial de Saúde, p. 153).
No Brasil, segundo o psiquiatra Carlos Felipe Almeida, coordenador das Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, isto mesmo, existe este cargo no Ministério da Saúde. Este profissional avalia que também existem diferenças entre regiões quando se fala em suicídio, faixa etária, gênero e até etnias no Brasil: "Há lugares que têm mais fatores de risco ao suicídio, como o uso abusivo de álcool e drogas. Em contrapartida, há outros que têm mais fatores de proteção, como qualidade de vida".

Em relação aos indígenas, Almeida diz que em todas as etnias, as taxas são altas, o que eleva os índices nos locais onde vivem essas populações. "A taxa em Dourados, no Mato Grosso do Sul, é elevada por causa da mortalidade entre os Guarani-Kaiowá".

Segundo Carlos Almeida, o que acontece, por exemplo, em Macapá, dados de 2004 do Ministério da Saúde, revelam que esse estado lidera o ranking de mortalidade por suicídio masculino entre as capitais: 13,6 mortes a cada 100 mil homens. E justifica: "Como no Amapá cerca de 70% da população vive na capital, é natural que lá o índice seja maior que entre outras cidades do estado”. Porém o mesmo Ministério da Saúde revela que no Rio Grande do Sul, levantamento realizado em 2004, ou seja, no mesmo período, que esse estado apresenta a maior mortalidade masculina por suicídio do país: 16,6 mortes a cada 100 mil homens. Em último lugar está o estado do Maranhão, com 2,3 mortes a cada 100 mil homens.

Em relação às mulheres, Mato Grosso do Sul ocupa o primeiro lugar, com taxa de 4,2 mortes a cada 100 mil mulheres. Em último lugar estava o Rio Grande do Norte, com mortalidade de 0,6 a cada 100 mil mulheres.
Em 2004 a média nacional era de 4,5 mortes por 100 mil habitantes, de acordo com um estudo feito pelo Ministério da Saúde, em parceria com universidades públicas e privadas, sem informar quais são estas universidades.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Japão, a média é de 25 mortes por 100 mil habitantes, enquanto que em países como Espanha, Itália, Irlanda, Egito e Holanda, é de menos de dez mortes a cada 100 mil habitantes.

O suicídio está entre as três principais causas de morte em idades entre os 15 e os 34 anos. Em alguns países da Ásia e Europa, o suicídio ocupa as primeiras e segundas posições entre as principais causas de morte para ambos os sexos.


Observe como é complexa a questão do suicídio, quando comparada as principias causas de morte na China e Europa:

China:
1ª - Suicídio;
2ª - Acidentes de veículos motorizados;
3ª - Câncer.

Europa:
1ª - Acidentes de Tráfego;
2ª - Suicídio;
3ª - Câncer.

Porém, "quando comparamos a média brasileira à de outros países, pode parecer que não há problema", diz o coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e de Prevenção Suicídio da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Tavares. "Por localidades, no entanto, existem muitas diferenças, e há lugares em que as taxas são comparadas à gravidade de outros países".

Apesar desta confusão de dados estatísticos, o técnico do Ministério da Saúde tenta explicar a necessidade dos números, que mesmos imprecisos objetivam segundo Almeida: “... ser levado em consideração para que se possam organizar políticas de intervenção e prevenção ao suicídio".

Realmente tudo no Brasil é muito difícil, até apresentar dados estatísticos do mesmo Ministério da Saúde, isto o torna um Ministério de Dados SUS-peitos, pois estamos apresentando números de 2004, visto que a política pública para ser tratada de forma precisa, necessita primeiro que seus números sejam atuais e assim se compartilhem com a sociedade, dados com consistência científica para que a população possa saber das reais condições dessa patologia em nosso país.

Mas como diz Boris Casoy: “Isso é uma vergonha”!

Não há uma explicação conclusiva e nem convincente para essas taxas, visto o suicídio ser um fenômeno pessoal e social, ou seja, há uma combinação de fatores biológicos, psicológicos, psiquiátricos, sociais, econômicos e ambientais que podem estimular uma pessoa a tirar a própria vida. Porém buscar estudar esse fenômeno e nos preocupar com o mesmo, tem sido um grande desafio para os estudiosos do comportamento humano, visto que todos nós, durante nossa existência, iremos encontrar famílias acometidas por traumas, em função de um ente querido ter tirado sua própria vida, diante de um ato de fuga de contato extremado e sem uma explicação maior, pois a vida é o único bem comum ao ser humano, e diante dessa consciência, somos o regente de nossa orquestra chamada vida, embalados por sentimentos e valores sociais, que no compasso da angustia de viver, causam efeitos dialéticos e expressa o empírico do ser a convicção de nossa própria morte.
Sabemos do vasto avanço do uso de drogas ilícitas em nossa sociedade, e como me disse recente um amigo policial: “o tráfico tomou conta das cidades brasileiras”. Mas nossas autoridades estão querendo discutir altos investimentos para a copa do mundo, trem bala entre Campinas-Sp e Rio de Janeiro, Rj, e assim se constrói uma nação em que o maior marketing político é o velho pão e circo. Ou seja, comida e diversão, sem necessariamente se discutir qualidade de vida, assistência integral e real a saúde da população brasileira.

Para aprofundar a discussão sobre o Suicídio, temos que analisar a associação entre depressão, alcoolismo e impulsividade, sendo estes alguns dos fatores que podem ajudar na perversa estatística da patologia.


A depressão é um transtorno mental, que atinge a pessoa como um todo. Famílias com histórico de depressão tendem a manifestar um sentimento de menos valia por seus filhos, possibilitando o agravamento maturacional da personalidade, expondo ao risco patológico. Nesse sentido se faz necessário uma ação terapêutica de medicação e psicoterapia, objetivando combater a depressão e assim impedir o impulso suicida.

O alcoolismo é uma patologia que pode chegar a elevar o risco de suicídio, visto sua impulsividade ser severa, contribuindo para o agravamento da patologia.

O traço comum a essas duas patologias está na impulsividade que se caracteriza como uma disposição a reações rápidas e não planejadas, motivadas por estímulos internos ou externos, que ocorrem sem a devida atenção quanto à conseqüências negativas futuras para o indivíduo ou para os outros e seus familiares. O que torna a impulsividade patológica é exatamente a incapacidade sistemática de resistir a ela, ou seja, evitar que o comportamento venha a ocorrer novamente.

A força e a natureza dos impulsos suicidas não são mais que um dos fatores que determinam se um indivíduo tentará ou não o suicídio. Algumas pessoas desenvolvem forte aversão ao assassinato de outra pessoa, bem como sua imagem narcisista reflete uma consciência em ser contra o suicídio. Porém quando as pessoas estão diante de maiores dificuldades existenciais, ou enfrentando vergonhas públicas, ou ainda período de perda de ente querido, que por ventura tenha se suicidado, ou subitamente veio a falecer, estes fatores podem gerar um rompimento com os valores estabelecidos anteriormente em sua personalidade, possibilitando o devaneio e impulso em buscar da morte, o que no sentido Freudiano, seria a vitória de Thanatos, Deus da Morte, sobre Eros, o Deus do Amor.


Diante dessa complexidade que significa discutir o Suicídio vamos avaliar não as teorias das suas possíveis causas, mesmo as citadas por Émile Durkheim, em seu necessário livro Suicídio, mas sim propor uma reflexão que nasça da análise do discurso da sociedade atual, que se propaga como sendo capaz de universalizar a busca da qualidade de vida, potencializando a chamada era do conhecimento e da comunicação, onde é ofertado um mundo on-line, disponibilizando salas de bate-papo e redes sociais, que estão disponíveis para grande parte das nações, inclusive a japonesa, que possui uma das melhores rendas per-capta do mundo, interligando o homem diante do computador, com o celular que também permite acessar a internet, possibilitando um tempo real de comunicação universal, sem fronteiras e sem aprisionamento ideológico.

Todos já ouvimos isso em todas as formas de propagação, e recentemente observamos que as chamadas redes sociais, serviram de instrumento de clamor social e convocação de ações para a queda até de ditadores, como os países árabes acabam de nos presentear com esse belo exemplo em saber usar a tecnologia. Porém o que mantém esse alto índice de suicídio, se podemos até marcar com várias pessoas em uma praça pública para troca de abraços?

Oba, falei abraço!

Vamos analisar empiricamente esta ação, de marcar em praça pública o Dia do Abraço, o Dia do Amigo e assim esses dias que na internet falam da necessidade do calor e atenção humana. Este fato parace ser um sintoma universal de falta, pois se as pessoas tivessem esse comportamento em seu cotidiano, não necessitariam marcar um lugar para conseguir viver esse momento básico e mágico da vida.
E o que está acontecendo conosco? Somos abraçados? Abraçamos alguém hoje?
Mas eu tenho tantos bens materias que agora já posso até dizer que Deus me deu, pois ter fé para algumas pessoas é receber algo material de Deus. Vejo adesivo de carro com a frase: Presente de Deus. Ter carro significa uma ação de Deus em minha vida? E os que não tem carro, estão distantes de Deus, aqui vale lembrar que Jesus não se escreve com $, pois ele não tinha nem um burro para se locomover.

Assim pergunto!

Onde está o valor da vida?

Deus nos concedeu a Vida, não existe nada melhor do que saber viver. Esse é o único e maior patrimônio, porém algumas pessoas optam em materializar a vida e desta forma somos calvinistas de nós mesmos, sendo predestinados a ter e não a ser. Logo, a felicidade passa a ser o que eu e você temos, e não o que eu e você somos, ou seja, o ter assume o horizonte da felicidade, todos em busca do ter, e assim criamos a etiqueta da sociedade material, em detrimento do ser homem e feliz diante da dificuldade de viver.


Como será que está o contato com os nossos familiares, nossas amizades, nossa comunidade, nosso bairro, nossa sociedade? Será que teremos sempre que lembrar as pessoas de que existe o dia do abraço e do amigo e assim por diante. E o que fazer com esta falta de calor humano, que pode estar patrocinando essa onda de suicídio, vamos continuar convocando pessoas através do uso da tecnologia para que possamos nos encontrar na praça, no orkut, no facebook, no twitter, no msn...

O suicídio está aí, como disse anteriormente, preocupante e desafiador, pois essa patologia faz parte de todas as sociedades, significa que está presente no meu bairro, na minha comunidade, na minhas amizades e podendo se fazer presente em minha família.

Fica claro que não podemos viver sem abraçar e isso tem que estar vinculado a família, pois nada substitui os braços que abraçam e formalizam a genética da vida.

Os pais são os elementos da construção da estima e valorização dos filhos, não podem perder esse referência, visto que o sofrimento provido da falta de atenção, amor e respeito familiar são fortes indicadores de sentimentos de depreciação da prórpia pessoa.

Sem amor eu nada seria, já cantava Renato Russo.

O Amor se apresenta diante da vida como uma vitamina genética-afetiva, produzindo uma cascata de prazer hormonal, possibilitando uma ampliação saudável na rede de neurotransmissores, causando uma sensação de bem estar que nos reporta ao estado do bem de viver.
Quando da ausência do amor genético-afetivo, a vida revela um pesar emocional onde se faz necessário produzir medicação antidepressiva como Prozac, Paxil, Zoloft, Luvox, entre tantos outros, que diante da ausência originárias dos afetos familiares existenciais, benéficos do amor, são capazes de trazer de volta o equilíbrio químico cerebral diante de um quadro depressivo e assim ajudam a recomeçar e planejar a vida, podendo também evitar o suicídio. Porém esses comprimidos químicos não libertam a angústia causada pela falta da valorização familiar, que no sentido mais amplo passa pelo amor de pai e mãe, bem como da referência afetiva com os irmãos, tios, avós, etc.

Algumas relações familiares conflitivas são estimulativas à prática da violência entre seus membros, permitindo um jogo de culpa que faz tanto mal, como já cantava Gonzaguinha.

Quando os pais perdem o horizonte de educar, como referência de respeito aos filhos, esses por sua vez usam do mesmo exemplo em suas relações interpessoais com os irmãos chegando a valorizar mais as pessoas de fora do ambiente familiar, causando o abandono genético-afetivo, disseminando um individualismo capaz de olhar o mundo sem ver o interesse de mais ninguém, apenas o seu próprio, pois aprendeu que viver é igual a sobreviver, não importando por isso o sentimento do outro, mesmo que esse seja da família.

O suicídio é uma prática universal, assim como o amor é um sentimento universal, porém estima-se que diante das dificuldades da vida, os que têm maiores capacidades de superação tem algo importante a realizar em seu futuro. Lembre dos atletas que desafiam os limites da dor física em competições universais, eles sempre atribuem suas vitórias às pessoas que são seu ente querido, que por algum motivo não estão na presença, mas não deixa de estar presente no sentimento e na emoção da pessoa do atleta, que sem essa motivação subjetiva presente no momento da competição, sua vida ficaria um eterno abismo no horizonte da vitória.
Não podemos permitir que ainda se entenda que o homem é um ser apenas racional, pois Frejat na música Segredos canta: “procuro um amor que seja bom pra mim..., Eu procuro um amor, uma razão para viver”...ou seja um sentimento que me faça viver. Quantas pessoas você imagina que estão em busca desse momento em suas vidas?


É preciso eliminar a ideologia de que o homem possui um armário que possa guardar seus problemas, bem como precisamos fugir do formalismo técnico e a robotizaçao das relações interpessoais, sendo necessário aquecer o abraço da solidariedade e humanização das relações interpessoais nas instituições como um todo, somos frágeis e ao estarmos distantes de nossa natureza maior que é amar, corremos o risco de suicidar pela falta.

Com isto, temos que avaliar esses expressivos números de Suicídios no Brasil e no Mundo como algo muito desafiador no sentido de tomarmos medidas familiares e sociais capazes de encontrar uma condição de reduzir esse agravo provocado por questões gerais, como: pelos chamados transtornos neuropsiquiátricos, bem como avançar em estudos psicológicos objetivando oferecer tratamento que possam despertar o interesse em mudança de vida e valorização das pessoas diante dos afetos humanos, possibilitando também um maior aumento em investimento científico sem deixar de dar a atenção devida à genética-afetiva.

Mauri Gaspar
Psicólogo e Professor

Bibliografia
ANDREASEN, Nancy C. Admirável cérebro novo: Vencendo a doença mental na era do Genoma. Artimed, Porto Alegre/2005.
CORDIOLI, Aristides Volpato e colaboradores. Psicoterapias: abordagens atuais. 3ª edição, artimed, Porto Alegre/2008.
MACKINNON , Roger A. e MICHELS, Robert. A entrevista psiquiátrica na prática diária. 3ª edição, artes médicas, Porto Alegre/1987.

As fotografias fazem parte do acervo pessoal de obras de artes.

Fonte:  http://mginsight.blogspot.com/2011/07/suicidio-depressao-familia-e-relacoes.html

4 comentários:

  1. Muito interessante o artigo do prof. Mauri Gaspar.
    Gostei da análise filosófica que abrange todo um contexto social e sobretudo humano.
    Continuem divulgando.
    Abraços.

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  2. Grato, Rozi, pela leitura e apoio ao nosso trabalho!

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  3. Excelente texto, tema de super importância nos dias atuais, desde leitores ate pessoas que estudam sobre o tema.

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    1. Obrigado, Naira! Tema verdadeiramente necessário. Quantos dramas temos visto neses tempos difíceis!

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