sábado, 1 de agosto de 2009

Adolescência e suicídio em pesquisa da Fiocruz

Depressão, agressões e negligência são as maiores causas de suicídios

Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Pelo menos seis em cada 100 adolescentes em idade escolar na rede pública da região metropolitana de Porto Alegre já planejaram suicídio. O uso de drogas pelos amigos e o pequeno número de amigos próximos aumentam em, respectivamente, 90% e 66% o planejamento suicida. Esses adolescentes sentem-se incompreendidos pelos pais, negligenciados pelos mesmos quando trata-se do desempenho escolar e costumam ser agredidos por familiares ou colegas.

É o que mostra pesquisa inédita divulgada pela Fundação Fiocruz, que ouviu quase dois mil adolescentes entre 14 a 17 anos. O comportamento suicida em adolescentes vem sendo alvo de várias pesquisas, mas essa chama atenção por ter focado a fase em que o jovem não apenas pensa, mas já planeja como acabará com a própria vida.

– A adolescência é um periodo na vida muito tumultuado – afirma uma das autoras do estudo, a psicóloga Denise Rangel – Apesar de o senso comum achar um absurdo um adolescente estar pensando em morte, esse é um pensamento comum nessa fase da vida. O problema mora no alto número dos que chegam na fase de planejar o suicídio.

A pesquisa, também assinada pelas psicólogas Lissandra Baggio e Líliam Palazzo, mostra a necessidade de se diferenciar os pensamentos de morte quanto à gravidade e intencionalidade. Nesse sentido o planejamento suicida aproxima-se da tentativa pois, em geral, de cada cinco pessoas que planejam, três efetivamente tentam o suicídio. Segundo a pesquisa, os meninos planejam o suicídio 40% menos que as meninas. O local onde foi realizada o estudo merece destaque. A Região Sul tem uma média de suicídio, 8,1 para cada cem mil habitantes, que é quase o dobro da nacional, 4,6.

O suicídio constitui-se um importante problema de saúde pública. Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que é a terceira causa de morte no grupo com idade entre 15 e 34 anos. Em todo o mundo, ocorre uma morte por suicídio a cada 40 segundos.

No Brasil, a taxa de mortalidade por suicídio é praticamente nula até os nove anos. De dez a 14 anos, os valores são semelhantes para homens e mulheres, algo em torno de 0,6 por cem mil habitantes. As diferenças entre os sexos começam a partir da faixa etária de 15 a 19 anos. Apesar das mulheres pensarem e planejarem mais, os homens são os que mais acabam com a própria vida.

O sistema público de saúde, no entanto, não está preparado para cuidar dos adolescentes com problema psicológicos. São apenas 101 Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenis cadastrados para fornecer prevenção e tratamento para transtornos mentais em crianças e adolescentes em todo o país. Além de poucos, há problema na distribuição. Os estados de Rondônia, Espírito Santo, Tocantins, Amapá, Acre, Roraima e Amazonas ainda não possuem um CAPSi. Só em 2005 o Ministério da Saúde desenvolveu uma política de prevenção ao suicídio. Os CAPSi são implantados apenas em municípios com mais de 150 mil habitantes.

Gestão ineficiente

Segundo o coordenador do departamento infanto juvenil da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Marcos Mercadante, o país apresenta uma ineficiência gerencial nessa área. E o pequeno número de psiquiatras infantis, são apenas 300 no país, dificulta ainda mais.

– Você não sabe quanto custa tratar uma criança que tenta se matar. Nem quanto custa deixar de tratar. A falta de tratamento acarreta um custo social enorme.

Para Mercadante, em muitos casos, principalmente quando a família é desestruturada, o ideal é internar o adolescente, mas a rede pública não dá condições necessárias.

Segundo as pesquisadoras, a escola, por ser um local onde são reproduzidos os padrões de comportamento e relacionamentos, tem um papel fundamental para a promoção e proteção da saúde dos alunos. E, por isso, é um local privilegiado para a identificação precoce de situações problemáticas.

Mercadante concorda:

– A escola é parceira fundamental. É preciso dar importância para a mudança de comportamento e queda no rendimento escolar. Os adolescentes são muito impulsivos e nessa história, o velho ditado cão que ladra não morre, não cabe.

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/02/20/e200215205.asp

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