sábado, 16 de julho de 2016

Suicídio e adolescência: novas orientações

Associação de pediatras dos EUA atualiza orientações sobre prevenção do suicídio entre adolescentes

Ricki Lewis, PhD - 15 de julho de 2016

O suicídio ocupou o lugar do assassinato como segunda principal causa de morte de adolescentes entre os 15 e os 19 anos de idade nos Estados Unidos. Em resposta, a American Academy of Pediatrics (AAP) atualizou suas diretrizes para o rastreamento da ideação suicida entre os pacientes, a identificação dos fatores de risco e o atendimento de jovens em situação de risco.

O novo relatório foi redigido pelo Dr. Benjamin Shain, psiquiatra infantil da NorthShore University HealthSystem, em Illinois, e substitui o relatório da APP de 2007 sobre suicídio e tentativa de suicídio entre adolescentes. O documento atualizado, que destaca o estresse causado pelo bullying e pelo uso "patológico" da internet, foi publicado online em 27 de junho, no periódico Pediatrics.

A American Academy of Pediatrics recomenda que os pediatras incorporem em suas rotinas perguntas sobre se os pacientes pensam em automutilação e rastreiem os outros fatores de risco, e encaminhem os pacientes com tendências autodestrutivas para avaliação psiquiátrica e possível tratamento, que poderá incluir uso de antidepressivos.

Dados anteriores indicam que o número de tentativas de suicídio entre adolescentes ultrapassa o de suicídios efetivados, de 50 a 100:1. Os quatro principais métodos escolhidos são: asfixia, armas de fogo, envenenamentos e pular de lugares altos.

Os fatores de risco de tentativa de suicídio entre os adolescentes são muitos e bastante variados, tais como história de tentativa de suicídio, história de suicídio na família, uso de álcool e drogas, ser do sexo masculino, questões relacionadas com a identidade de gênero, transtornos do humor, relacionamento conturbado com os pais, problemas na escola, não estudar nem trabalhar e história de abuso sexual ou físico.

O bullying (intimidação e/ou exposição com ou sem violência), junto com o cyberbullying (intimidação e/ou exposição pela internet), são fatores de risco cada vez mais reconhecidos de suicídio na adolescência. Outro fator de risco que vem crescendo é a mimetização do comportamento ou da ideação suicida após a veiculação de notícias sobre suicídios ou tentativas de suicídio, especialmente quando relacionadas a outro adolescente.

Outros fatores que aumentam o risco de comportamento suicida são: depressão, transtorno bipolar, transtornos  relacionados com o uso de substâncias psicoativas,  alterações do sono, psicose, transtorno de estresse pós-traumático, crises de pânico, impulsividade, histórico de agressão e uso da internet superior a cinco horas por dia.

De acordo com o relatório, os adolescentes que praticam uma religião e têm bom relacionamento com seus pais, colegas e outros no ambiente escolar apresentam menor risco de ideação suicida.

Embora o número de tentativas de suicídio seja duas vezes maior entre as mulheres, a taxa de êxito letal entre os homens é três vezes maior, pois estes tendem a escolher métodos mais eficientes, como as armas de fogo. A American Academy of Pediatrics identificou que o risco de suicídio na adolescência é alto nas casas onde existem armas de fogo.

O relatório atualizado adverte que, apesar de os fatores de risco serem comuns, o suicídio não é. Por outro lado, a ausência de fatores de risco não significa que o suicídio não seja possível. No entanto,  a intenção é um sinal de alerta de alto risco, assim como a existência de um plano de suicídio, história de tentativa(s) de suicídio – usando algum método letal –, comportamento ou ideação suicida claros com desamparo e/ou agitação, e sintomas graves de transtornos do humor.

Ademais, os médicos devem compreender que os fatores de risco oferecem apenas uma orientação e que o risco de tentativas de suicídio pode ser reduzido, mas não eliminado.

O relatório termina com conselhos específicos para os pediatras:

  • Incluir questões sobre os fatores de risco de suicídio na anamnese de rotina, talvez por meio de uma escala de depressão. O relatório sugere perguntas específicas para iniciar as conversas, abordar a ideação suicida de maneira sensível e instrui sobre como acompanhar as respostas. A American Academy of Pediatrics aconselha que as entrevistas sejam realizadas sem a presença dos pais, mas que os pacientes sejam informados que seus pais serão avisados caso seja identificado algum risco de suicídio.

  • Estar familiarizado e orientar adequadamente os pacientes sobre os possíveis riscos e benefícios do uso de antidepressivos. Reconhecer que os transtornos do humor assumem diversas apresentações entre os adolescentes.

  • Trabalhar em estreita colaboração com os familiares, outros profissionais de saúde e prontos-socorros, a fim de amparar os adolescentes em risco de suicídio.

  • Fornecer informações sobre os recursos locais de prevenção do suicídio.

  • Obter formação complementar em diagnóstico e tratamento do transtorno do humor entre os adolescentes, caso necessário.

  • Identificar as residências onde existam armas de fogo, indagar sobre a forma como essas armas são guardadas e informar os pais sobre o maior risco de suicídio entre adolescentes em casas onde existem armas de fogo.

SHAIN, Benjamin. Suicide and Suicide Attempts in Adolescents. Disponível em
http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2016/06/24/peds.2016-1420. Pediatrics. Jun. 27, 2016.

Fonte: http://portugues.medscape.com/verartigo/6500357

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