...as mortes por lesões auto provocadas intencionais
são a maior causa de morte não natural em Portugal, ultrapassando mesmo as
mortes na estrada, com as quais somos capazes de gastar milhões na prevenção.
Ao mesmo tempo que remetemos a sensibilização e prevenção do suicídio para uma
nota de rodapé no orçamento da saúde.
Imaginem qual seria a reação da sociedade se
morressem 10.000 passageiros em desastres aéreos todos os anos em Portugal
(suicídios registados em portugal anualmente ultrapassam esse número). Só
podemos assumir que as consequências políticas e sociais seriam devastadoras, e
que à indústria aeronáutica seriam exigidas medidas de segurança com resultados
imediatos.
A maioria dos indivíduos que se suicidam não
apresenta uma doença mental diagnosticada, são pessoas como eu e vós, que
frequentemente sentem-se isoladas, desesperadas, infelizes e sozinhas. Os
pensamentos suicidas são o resultado do “stress” do dia-a-dia e de perdas que o
individuo pensa que não consegue lidar, levando ao culminar de uma vontade
inescapável de querer de que a dor pare.
São sentimentos com os quais qualquer um de nós
poderá se identificar a um dado momento da nossa vida… são reais, são
diagnosticáveis e tratáveis. No entanto, numa sociedade onde o estigma e a
ignorância dominam em relação às doenças mentais, um individuo que tenha pensamentos
suicidas, frequentemente teme o que os outros irão pensar, de ser etiquetado de
“maluquinho(a)”. Essa pressão social é imensa e impede que o pedido de ajuda
seja feito, que o passo em direção ao diagnóstico e tratamento não seja dado,
com resultados trágicos.
Nós precisamos de algo mais do que estudos ou
avaliações de serviços, precisamos de recursos concretos e dirigidos à
prevenção e tratamento.
O suicídio não é uma escolha, acontece quando a dor
que sentimos é superior aos recursos que temos para lidar com ela…
Publicado por João Cunha em In Concreto
Fonte:
http://inconcreto.blogspot.com/2011/10/suicidio-e-prevencao.html
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