terça-feira, 18 de outubro de 2011

É tempo de fazer luz sobre o tabu do suicídio


Opinião de Luís Costa Ribas
Correspondente SIC Notícias em Washington

Os meios de comunicação social preferem ignorar o suicídio a procurar uma forma elevada de fazer a cobertura de um problema que mata 3.000 pessoas por dia.

Passou praticamente despercebido, a 10 de Setembro, o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Em Portugal, há uma "política" de não noticiar suicídios, com receio de incentivar mais pessoas a por fim à sua própria vida. E de facto, estudos científicos apontam certa forma de noticiar suicídios como um factor de risco. Mas esses estudos também fazem notar que há uma forma certa de noticiar suicídios.

O assunto pode e deve merecer a atenção da sociedade civil e esta deve pressionar os órgãos de comunicação a prestar-lhe apropriada atenção. Como se pode ignorar um problema que, segundo as organizações de prevenção do suicídio, mata UM MILHÃO de pessoas por ano? Este ano, no Dia da Prevenção do Suicídio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um alerta aos governos sobre a necessidade de mais e mais eficazes medidas de prevenção.

O suicídio pode ser prevenido e evitado, se for dada respostas às suas causas, invariavelmente ligadas à saúde mental. 90% das vítimas de suicídio sofriam de uma doença do foro psiquiátrico quando morreram. É comum esses problemas serem acompanhados pela toxicodependência – um grave factor de agravamento.

Não é possível reduzir o número de suicídios  sem pressão sobre os Governos, exercida pelo público e pelos média, para que o problema não seja esquecido. E por muito grave e importante que seja a crise actual, nada justifica o egoísmo de ignorar o sofrimento de milhões de pessoas em famílias  destruídas pela morte prematura e procurada de um dos seus.

A organização Suicide Prevention International recomenda que as notícias sobre suicídios e sobre o fenómeno do suicídio evitem pormenores sobre o método utilizado, especulações sobre o estado de espirito da vítima,  apresentação do suicídio como resposta natural a certos problemas, e declarações exaltadas de familiares.

Recomenda-se que a cobertura aborde o fenómeno em vez de casos específicos,  progressos no tratamento, histórias de sucesso em que o reconhecimento de sinais de alerta e tratamento salvaram vidas,  desmascarar mitos sobre o suicídio, e falar sobre intervenções humanas que salvaram vidas.

Arrisco-me a calcular que alguém que lê estas linhas sofreu, ou conhece quem sofreu, um suicídio na família.  E, por isso, sabem que não sendo impossível,  é muito difícil  travar uma pessoa decidida a por termo à sua vida. Por isso, todo tempo urge.

O primeiro passo é procurar mais informação.  Um destino óbvio, é a Sociedade Portuguesa de Suicidologia, que se dedica ao estudo e prevenção deste grave problema de saúde pública. Pode aceder ao site para tentar saber mais sobre o suicídio e a sua prevenção.

Os jornalistas interessados podem consultar um documento da Organização Mundial de Saúde e da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, com sugestões sobre formas aceitáveis de abordar o suicídio e os suicídios.

O suicídio propaga-se com o silêncio. Que se faça luz e barulho... Muito barulho! Porque enquanto o leitor percorria estas linhas quatro pessoas puseram fim à sua própria vida!

Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/opinionMakers/luis_costa_ribas/2011/10/14/c-tempo-de-fazer-luz-sobe-o-tabu-do-suicidio

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