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sábado, 26 de junho de 2021

Como diferenciar os sinais normais da adolescência de depressão e risco de suicídio

Daniela Dariano (Resenhando - Diário de uma mãe de adolescente)

Se a adolescência é tempo de mudanças físicas, de humor, de gostos, de se afastar da família, de procurar sua tribo, como saber se o jovem, isolado lá no seu quarto, está passando pelas alterações naturais dessa fase ou se está em sofrimento profundo? Faz parte de crescer o sofrer, mas como identificar o limite entre o que é normal e a doença? São perguntas que podem ser difíceis para mães e pais responderem. Às vezes, enchemos o saco do filho perguntando se está tudo bem, quando ele só quer "ficar sozinho, que saco, mãe!"; outras vezes, uma insônia persistente e patológica pode passar despercebida, porque achamos que "adolescente é assim mesmo, só quer dormir até mais tarde".

Desde o início da pandemia, em 2020, o aumento das queixas de transtornos psiquiátricos vem sendo percebido nos consultórios, inclusive de hebiatras, médicos especializados em adolescentes.

A partir do segundo semestre de 2020, houve um aumento de procura para consultas de urgência e telemedicina devido a queixas de transtornos de humor, como depressão e ansiedade, além de episódios de ideações e pensamentos suicidas ou mesmo de tentativas de suicídio – conta a hebiatra Bianca Lundberg, membro do Departamento de Adolescência da Sociedade Paulista de Pediatria.

Por isso, trago hoje para o blog informações que considero importantes para as famílias: os principais sinais de que algo não vai bem com o seu adolescente.

Algumas questões, como mudança de humor, irritabilidade, isolamento são comuns durante a adolescência. Mas mesmo as questões que podem pertencer a essa fase não podem durar muito tempo seguidamente, deve haver momentos de melhora – explica Bianca.

São sinais de alerta, principalmente se se arrastarem por mais de duas semanas:

1. Desinteresse em atividades antes prazerosas

2. Diminuição de contato social pré-existente

3. Alterações de sono

4. Alterações do apetite

5. Falta de asseio

6. Irritabilidade e agressividade

7. Dores de cabeça e de barriga

— Atenção aos sintomas físicos sem justificativa, ou que aparecem sempre ao planejar algo novo, como voltar à escola ou reencontrar os colegas. Não minimize esse sofrimento! – recomenda a médica.

O que fazer

A orientação é levar para avaliação de profissional de saúde habilitado, seja ele psicólogo, pediatra, hebiatra ou psiquiatra. Procurar atendimento especializado para o jovem assim que são percebidas mudanças de comportamento além de duas semanas é essencial para um bom prognóstico nos transtornos de saúde mental, adianta a médica.

Muitos dos pacientes que chegam ao consultório com pensamentos e ideações suicidas e de ações suicidas não são levados a sério pela família; é sempre necessária a quebra de sigilo (entre o hebiatra e o adolescente) nesses casos, pois se trata de uma ameaça à própria vida do adolescente.

Como prevenir

Psicólogos, psiquiatras, orientadores parentais e hebiatras são unânimes: a prevenção do suicídio, mesmo quando há um transtorno psiquiátrico, está na conexão com o adolescente.

Os responsáveis devem ser presentes na vida das crianças e dos jovens sempre, de uma forma genuína. Conhecer seus gostos, preferências, habilidades, ser capaz de argumentar com o jovem sem perder o respeito - isso tudo faz com que ele se sinta valorizado e escutado dentro do núcleo familiar. Dessa forma, terá maior facilidade de recorrer aos responsáveis quando algo está errado. Outra questão importante é não deslegitimar os sentimentos e a fala do adolescente. Adolescer é uma fase de muita transição, estranhamento, e por que não dizer sofrimento?

A especialista explica que a depressão nem sempre aparece no adolescente como no adulto. Por isso, é importante não minimizar nenhum comportamento estranho ou queixa verbalizada.

— Se existe algum antecedente pessoal do jovem ou antecedente de sua família de transtornos de saúde mental, o cuidado deve ser redobrado — alerta a médica. — Se o adolescente se mantiver isolado, insista em conversar sem preconceitos: lembre-se de que ouvir, às vezes, é mais importante do que falar. Esteja presente!

Para seguir a autora desta matéria no Instagram: @danieladariano

Fonte: https://extra.globo.com/mulher/resenhando-mae-de-adolescente/como-diferenciar-os-sinais-normais-da-adolescencia-de-depressao-risco-de-suicidio-rv1-1-25044591.html

quinta-feira, 24 de maio de 2018

13 Reasons Why

Suicídio na adolescência: uma questão cada vez mais urgente

Tema da série "13 Reasons Why", que já teve a segunda temporada disponibilizada, fenômeno é visto como problema em ascensão por profissionais da área

22/05/2018 - Itamar Melo (GaúchaZH)

Em março de 2017, a estreia da série 13 Reasons Why no serviço de streaming Netflix pôs o Brasil inteiro a discutir a problema do suicídio entre adolescentes. Na obra de ficção, uma estudante tira a própria vida depois de vivenciar situações como bullying, violação da privacidade, assédio, incompreensão e estupro. Com cenas explícitas, a série alarmou pais, gerou discussões entre especialistas e levou jovens com quadros depressivos a buscar socorro nos serviços de ajuda.

Especialistas avaliam que a série, disponibilizada há pouco mais de um ano, teve como efeito positivo mobilizar a sociedade

Passado pouco mais de um ano, não se espera que a segunda temporada da série sobre suicídio na adolescência, recém disponibilizada, provoque a mesma comoção, mas o tema que ela aborda é cada vez mais urgente, dizem os profissionais da área de saúde mental. Embora não existam estatísticas disponíveis, eles têm notado um claro aumento na quantidade de adolescentes que chegam aos hospitais depois de uma tentativa de se matar.

Cada vez mais, insistem os especialistas, é importante romper os tabus e falar abertamente sobre suicídio com a gurizada.

Há cinco anos trabalhando em Arroio dos Ratos, o psiquiatra Rafael Moreno Ferro Araújo afirma que, além do aumento do número de casos, vem notando uma queda na idade dos pacientes atendidos no Hospital São José:

— A cada ano, a unidade vai ficando mais jovem. No início, costumávamos ter um adolescente internado por tentativa de suicídio. Hoje, frequentemente, temos três. Em geral são meninas dos 12 aos 17 anos, com bom rendimento escolar, que tentam o suicídio com medicações, o que deve servir de alerta para os país. Isso apavora a comunidade, onde todo mundo se conhece, porque suicídio era visto como coisa de gente mais velha.

O especialista nota que se destacam, como desencadeantes das tentativas, duas ordens de fatores. De um lado está o bullying, que segundo Rafael ainda é tratado de forma tímida nas escolas - não basta disponibilizar um psicólogo, alerta ele. De outro, surgem os problemas familiares: segredos, conflitos entre o pai e a mãe, negligência, abuso emocional.

— São pais que ofendem o filho, dizem que ele é burro, que não presta. Foca-se muito no abuso sexual, mas mostramos em estudos que há mais casos envolvendo abuso emocional. Especulamos que o problema tenha a ver com a forma como estamos criando nossos filhos.  Eles estão desamparados. Passam pouco tempo com os pais. Não é só a qualidade do tempo que é importante, a quantidade também é — afirma Rafael.

Banco de dados deve ser criado

A coordenadora do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Berenice Rheinheimer, quer montar um banco de dados com os casos, para que seja possível acompanhar as estatísticas. Embora não tenha essa informação, Berenice confirma a percepção de aumento nos atendimentos de adolescentes que tentaram se matar:

— O que não se sabe é se o aumento nos atendimentos ocorre porque há mais tentativas de suicídio ou se decorre de os pais estarem mais atentos, e os adolescentes, mais conscientes. Pessoalmente, acredito que estão aumentando as tentativas, mas não tenho um dado objetivo.

Berenice considera fundamental que escola e família prestem atenção em possíveis mudanças de comportamento do jovem, como queda no rendimento escolar ou ferimentos autoinfligidos. Em caso de doença mental, como depressão, deve-se buscar atendimento profissionalizado, o que funciona como prevenção. Não ter medo de falar do assunto tornou-se uma regra básica:

— Às vezes as pessoas acham que conversar sobre suicídio vai induzir o suicídio. Ficam fugindo do assunto. Mas é justamente o contrário. Falar ajuda.

O efeito positivo

Quando a primeira temporada de 13 Reasons Why estreou, no ano passado, vivia-se também a crise provocada pelo jogo Baleia Azul, que estimularia e facilitaria comportamentos suicidas. Houve grande mobilização da imprensa, das escolas e dos psiquiatras. No caso da série, o que preocupava eram as imagens que mostravam a protagonista a se matar — o que não é recomendável, porque pode fornecer inspiração a quem está fragilizado. Passado um ano, no entanto, profissionais como Berenice e Rafael entendem que a série pode ter tido um efeito benfazejo.

— Naquele momento, houve um exagero, só se falava nisso. Mas depois permaneceram coisas boas. As pessoas falaram no assunto e se mobilizaram. Foi positivo — diz Berenice.

Rafael reforça a crítica à cena que mostrava o suicídio, mas também ressalta esse lado bom:

— Esse assunto estava escondido. E a série fez todo mundo falar dele. E é importante falar.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2018/05/suicidio-na-adolescencia-uma-questao-cada-vez-mais-urgente-cjhi0nezs0aeq01qo5gn67400.html