Crise e desemprego não fazem aumentar casos de suicídio, defendem especialistas
A crise econômica e o aumento do desemprego não fizeram crescer os suicídios em Portugal e Espanha, o que pode ser explicado pelas características dos povos dos dois países e a sua “aparente resiliência”, defendem especialistas.
O texto, publicado hoje na revista científica Lancet, responde a um artigo que relacionava o aumento do suicídio e de surtos de doenças infecciosas com as medidas de austeridade na Grécia, Espanha e Portugal, algo que os autores negam.
O artigo sobre o impacto da crise financeira na saúde, assinado em abril por Marina Karanikolos, defende que a Grécia, Espanha e Portugal “adotaram uma austeridade fiscal rígida”, mas as economias destes países “continuam a decrescer e a tensão sobre os sistemas de saúde está a aumentar”.
“Suicídios e surtos de doenças infecciosas estão a tornar-se mais comuns nestes países e os cortes orçamentais têm restringido o acesso aos cuidados de saúde. Em contraste, a Islândia rejeitou a austeridade através do voto popular e a crise financeira parece ter tido escassos ou nenhuns efeitos discerníveis na saúde”, argumenta o artigo.
Na resposta hoje publicada, os especialistas portugueses e espanhol afirmam que a informação oficial de Portugal e Espanha sobre suicídios nos últimos cinco anos “não sustentam” a ideia de que estes estão a aumentar.
Tanto em Espanha como em Portugal, “não é possível identificar um forte efeito sobre o suicídio diretamente relacionado com o desemprego”, referem, admitindo que o mesmo não se pode dizer sobre outros países europeus.
“As políticas em Portugal e em Espanha envolveram cortes substanciais nos gastos com saúde e apoio social, que claramente não tiveram um efeito mitigador. As características da população em Portugal e em Espanha podem ajudar a explicar a sua aparente resiliência no efeito potencialmente fatal sobre a saúde mental de uma crise econômica”, afirmam José L. Ayuso-Mateos, da Universidade Autónoma de Madrid, o psiquiatra Ricardo Gusmão, responsável da Aliança Europeia Contra a Depressão, e o economista e especialista em questões de saúde Pedro Pita Barros.
Para os autores, “a resposta a esta questão é necessária para guiar futuros estudos baseados em dados sobre a saúde mental e a prevenção do suicídio na Europa”.
Na resposta a este texto, a autora do estudo afirma-se “perplexa” com a argumentação apresentada pelos especialistas portugueses e espanhol, alegando terem existido picos do número de suicídios em 2008 e em 2010, “correspondendo ao desemprego”.
“Contudo, o recurso que fazem a taxas de suicídio totais ofusca a magnitude do aumento concentrado em homens em idade ativa, que são mais afetados pela crise financeira”, sustenta.
Fonte: Diário Digital com Lusa (http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=648511)
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