domingo, 10 de junho de 2018

Adolescência, suicídio e a ausência de sinais...

“Meu filho nunca deu sinal”, afirma pai de adolescente que se matou em Goiânia

Pai de adolescente de 13 anos participou de painel em fórum sobre o tema realizado em Goiânia e relatou como a morte do filho lhe deu força para discutir o assunto

Fabiana Sousa 8/6/2018

Chrystiano Câmara durante painel em que participou: empresário cita o perigo das novas tecnologias, que afastou as pessoas do convívio familiar (Foto: Fábio Lima / O Popular)

O empresário da área atacadista de moda e pai de Gabriel Carrijo Cunha Câmara, Chrystiano Câmara, de 50 anos, esteve presente no I Fórum de Prevenção do Suicídio - Uma Tarefa para Todos, realizado pela Faculdade de Medicina (FM) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Durante um dos painéis do evento, Câmara compartilhou com os presentes o luto e as experiências que tem vivido com o suicídio do filho, de 13 anos, que teria pulado da sacada do prédio dos avós, no Setor Marista, no dia 21 de fevereiro deste ano.

O evento, que começou ontem e termina hoje, é destinado a discutir o tema com médicos, estudantes e demais profissionais da área de saúde, além de educadores. A programação é composta por palestras de especialistas na área, oficinas de trabalho, rodas de conversa e depoimentos. Uma das coordenadoras do Fórum, a doutora em psicologia e terapeuta familiar Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira explica que um dos objetivos do encontro é conscientizar que não existe um único fator responsável pelo suicídio, e sim, vários. O desafio é preparar as pessoas para lidar com eles. “É preciso que aprendamos a restituir no indivíduo razões para viver”, pontua.

Cristiano, pai de Gabriel, conta que tem recebido com satisfação os convites para conversar sobre o tema e afirma que a morte do filho, agora, é usada por ele para ajudar outras pessoas. “Eu não penso mais no ‘porquê’, senão eu piro. O que eu tenho procurado pensar é no ‘para quê’. E tenho tentado usar a minha dor para que as pessoas discutam o assunto”, explica.

Câmara relata que a morte de Gabriel mexeu completamente com a estrutura da família. “Os especialistas com quem eu já conversei, todo mundo me diz que ele não tinha perfil, que nossa família não tinha perfil. Foi isso que me assustou. Se não tínhamos perfil e aconteceu, o que fizemos de errado?”, questiona. E com isso, tenta passar às pessoas que tem oportunidade que não existe um rótulo nem uma maneira infalível de lidar com o suicídio. “Não pensemos nós que estamos protegidos dentro da nossa caixinha. Não estamos”, alerta. “Meu filho nunca me deu nenhum sinal e pode ter acontecido uma série de coisas que nós não vimos”, desabafa.

Sobre o que teria causado a atitude do garoto, Câmara afirma não buscar mais esse tipo de resposta. “O meu papel de pai eu sei que eu cumpri. Existem esses haters da internet, jogos violentos, cyberbullying, uma série de coisas. Mas quando tudo isso aconteceu eu tive duas escolhas. Ficar tentando entender e entregar a mim e minha família ou reagir”, conta. Cristiano relata que, ao passo que ficou sabendo da morte do filho, se manteve firme para ajudar a família. “Eu apavorei mas não podia me desesperar. Porque senão, ao invés de um, eu perderia quatro”, conta, se referindo à mulher e aos outros dois filhos. “Eu fui levantando um por um. Quando estávamos todos de pé, foi a hora de começar a fazer alguma coisa”, explica.

Dor

Ele admite que a vida não tem sido fácil desde então. “É uma dor que nunca acaba”, desabafa. “Nem eu nem minha mulher estamos cem por cento, mas o que aconteceu com meu filho está sendo motivo para eu ajudar outras pessoas”, conta, emocionado. “Hoje, ao invés de chorar, eu agradeço a ele a oportunidade que estou tendo de falar sobre isso. E, por incrível que pareça, meu filho está mais próximo de mim do que nunca”.

Ele relembra que o garoto de 13 anos nunca apresentou comportamentos depressivos ou qualquer conduta que preocupasse a família. “Meu menino era a criança mais feliz que eu já conheci. Todas as lembranças de felicidade que eu tenho envolvem ele”, conta. Segundo o pai, Gabriel era fã de montaria e estava sempre envolvido com alguma atividade. “Não era uma criança de ficar quieta”.

Durante sua fala, ele advertiu os presentes sobre o perigo da internet na vida de crianças como a de seu filho. “Hoje em dia tem esses grupos aí que se reúnem exclusivamente para causar dor para famílias. É só isso que eles fazem. Para praticar bullying, convencer os meninos a se machucarem. E nós, pais, precisamos ficar atentos a isso”. Além disso, ponderou os pontos negativos que a tecnologia trouxe para o convívio familiar. “Um dia de tecnologia que nós temos equivale a uma vida inteira dos nossos pais, mas isso, que era pra ser bom, tem seu lado ruim também. Depois que inventaram os smartphones, os filhos não conversam mais com os pais, as famílias não se reúnem. Ficou tudo muito distante”, comenta.

Ele fala do amor e do cuidado e afirma serem as únicas coisas que podem mudar os numerosos casos como o de seu filho. “Precisamos fazer uma corrente do bem para cuidar das nossas crianças, dos nossos jovens. Só o amor pode mudar esse mundo”, declara.

E, por fim, declara que o suicídio “está mais próximo do que a gente pensa”. “É preciso preparar professores, médicos, pais, todos. Não podemos ficar de braços cruzados”.

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