Na
edição de 2 de novembro de 2008 de Cambio (www.cambio.com.co), na seção 10
Perguntas, Miguel de Zubiría conversa sobre o seu livro Cómo
prevenir la soledad, la depresión y el suicidio en niños y jóvenes.
O
título da matéria originalmente é "Estamos formando unos hijos
ineptos". Deixamos o adjetivo ineptos tal como está no original e
apresentamos abaixo o seu significado, conforme o Aulete:
.
Diz-se daquele que não tem habilidade(s) ou aptidão (para algo).
.
Que não é inteligente; a quem falta inteligência; IDIOTA; IMBECIL; PARVO.
.
Que denota falta de inteligência, estupidez ou ingenuidade.
Segue
abaixo a entrevista completa.
Estamos
formando filhos ineptos
Cambio: Por que você
escreveu o livro "Como prevenir a solidão, a depressão e o suicídio em
crianças e jovens"?
Miguel
de Zubiría: Porque desde 1945 o suicídio era uma exceção entre exceções, mas
suas taxas vêm crescendo com consistência em todos os países, sobretudo entre
jovens entre 15 e 25 anos.
C: A
decisão de escrever este livro teve alguma motivação pessoal, específica?
M:
Sim, a perda de vários amigos, pessoas com um imenso potencial, e por descobrir
que o que faz a diferença entre os seres humanos não são as atitudes, mas as
paixões.
C:
Qual a causa do aumento do suicídio?
M:
Passamos de famílias extensas, com muitos irmãos e primos, a famílias
reduzidas. As crianças, hoje, têm pouca capacidade de socialização. Não há quem
as oriente, corrija e por isso são pessoas pouco competentes neste sentido. Nós
também acreditávamos que o paraíso era a geladeira e o armário cheios, porém as
evidências mostram que quanto maior a abundância, mais infelicidade se tem.
C:
A permissividade é um caldo de cultura para o suicídio?
M:
Sim. Hoje, os pais se consideram bons à medida que tornam fácil a vida dos
filhos. Não se dão conta que estão educando uma pessoa para viver em um mundo
que não existe. Quando a criança chega à escola encontrará gente egoísta,
agressiva, cruel, exigente... E isso acaba criando um contraste muito forte
entre a liberdade que se tem em casa e a violência da vida real. Uma criança
que só faz o que quer se torna um inadaptado; a vida, para ele, se torna um
peso e pode levá-lo à ideia de que não vale a pena viver.
C:
Isto quer dizer que não perdeu sentido o famoso ditado “por tanto te querer acabo
te sufocando”?
M:
Neste sentido, funciona sim. Nunca na história da humanidade os pais têm amado
tanto os seus filhos. Antes do movimento hippie, o papel dos pais era formá-los;
a educação das crianças tinha por base obrigações e deveres. É uma hipótese
ousada, mas acredito que a criança que receba tão somente amor e carinho pode
ser a origem desta tragédia.
C:
Você afirma que são três as causas fundamentais do suicídio: fragilidade,
solidão e depressão. Analisemos uma por uma:
Fragilidade
M: É a característica de uma pessoa que não sabe
se defender quando agredida. É provável que tenha sido criada por pais que não
entenderam que sua tarefa era formar seus filhos para uma vida, que na maioria
das vezes, não é nada fácil. Estamos
formando crianças e jovens ineptos, incapazes de arrumar a própria cama, a
comprar alguma coisa na padaria, a fritar um ovo, a fazer coisas mínimas do nosso
cotidiano.
Solidão
M:
A solidão é a epidemia do século XXI, um tema que ainda a psiquiatria não tem abordado
com a profundidade que se faz necessário. Mas temos que fazer a distinção entre
ser só e estar só. Estar só é um estado apropriado à reflexão, à meditação,
enquanto ser só é não conseguir amigo ou namorado. É o fruto de uma incompetência,
de ser filho único, de não ter tido a experiência de partilhar suas coisas, de
não ter aprendido a negociar, de ser incapaz de exercitar-se na arte mais
refinada que existe: a de estabelecer interação íntima com outro ser
humano.
Depressão
M: A
depressão sinaliza o mesmo que a solidão, mas o foco está voltado a alguém
muito importante: você mesmo. É a incapacidade de se valorizar, de acordar e
dizer: “Que bom viver mais um dia!” A pessoa depressiva não consegue gostar de
si mesma e se for solitária e frágil o mecanismo do suicídio poderá ser ativado
em face de ocorrências como: não passar de ano, perder o namorado, ir à
falência nos negócios ou até mesmo sofrer um constrangimento qualquer.
C:
Como preparar os filhos para enfrentar as adversidades?
M:
Ajudando-os a enfrentá-las gradativamente. Não é possível escalar altas montanhas
antes das de baixa altitude. Só possível tocar em um concerto de Mozart se
começarmos com os pequenos exercícios ao piano. É isso o que os pais “amorosos” de hoje não
entendem.
C:
As taxas de suicídio são mais altas em países ricos, desenvolvidos?
M:
Esta relação não é direta: maior riqueza, maior taxa de suicídio. As sociedades
mais desenvolvidas tem abandonado a as
raízes familiares, rompido os vínculos com a comunidade e criado condições de
vida que tem se mostrado ruins. Um estudo muito interessante e que nos serve de
exemplo é o do psicólogo Martin Seligman. Em um experimento para sua tese de
doutorado ele colocou 50 ratos em uma gaiola e anotou o tempo que eles demoravam
a morrer sem alimento. 45 morreram nas
primeiras 24 horas e cinco deles sobreviveram até 72 horas. Seligman não encontrou
qualquer particularidade biológica entre eles. Um dia, porém, o seu auxiliar de laboratório
lhe forneceu a chave do mistério: quando ele tinha ido comprar os ratos só
havia 45. O vendedor lhe disse que ele esperasse um dia a mais que ele forneceria
os outros cinco. Sabe onde o vendedor os conseguiu? No esgoto. Eles eram justamente
os cinco que haviam sobrevivido. A única particularidade era o fato de que eles
enfrentavam todos os dias a adversidade.
Quem
é Miguel de Zubiría Samper?
Local
e data de nascimento: Bogotá, 9 de fevereiro de 1951.
Estado
civil: casado, dois filhos.
Formação:
Psicologia, Composição musical, Antropologia, Biologia e Matemática.
Percurso
profissional: professor universitário, diretor da Fundação Alberto Merani,
presidente da Liga Colombiana contra o Suicídio.
Área
de pesquisa: Nos últimos anos tem estudo a afetividade e a felicidade em uma perspectiva
científica.
Obras
publicadas: Psicología de la felicidad (2006), La afectividad humana (2006),
Cómo prevenir la soledad, la depresión y el suicidio en niños y jóvenes
(Aguilar, 2007).
Fonte desta entrevista
Cambio
(www.cambio.com.co)
Domingo
2 de noviembre de 2008 :: Inicio/10 preguntas :: "Estamos formando unos
hijos ineptos"
http://www.cambio.com.co/paiscambio/10preguntascambio/738/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR_CAMBIO-3684900.html
Biografia de Miguel de Zubiría na Wikipédia:
http://es.wikipedia.org/wiki/Miguel_de_Zubir%C3%ADa_Samper
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