sábado, 25 de setembro de 2021

Problemas financeiros e a depressão

Especialista afirma que questões envolvendo dinheiro têm quatro vezes mais chances de provocar depressão do que outras causas

Francisco Teloeken  (24 setembro 2021)

Em 1994, começou, nos Estados Unidos, o movimento da fita amarela, depois que um adolescente americano de 17 anos se suicidou. Desde então, surgiram várias iniciativas de prevenção ao suicídio: a Organização Mundial da Saúde (OMS) chancelou o dia 10 de setembro como data especial para chamar a atenção para o suicídio; no Brasil, em 2015, o Centro de Valorização à Vida (CVV) criou o mês do Setembro Amarelo; em Santa Cruz do Sul, por mobilização dos voluntários do CVV, foi aprovada a lei municipal 7.829, instituindo o Setembro Amarelo; o empresário Cláudio Spengler, autor do livro Viver sempre, autoextermínio nunca, mantém, há vários anos, o “Enxugando Lágrimas – Grupo de Autoajuda no Combate à Depressão” além de dar palestras sobre o assunto. O objetivo de cada uma dessas iniciativas, dentro de suas áreas de atuação e abrangência, é promover a conscientização e prevenção do suicídio.

Trata-se, evidentemente, de um assunto grave e, ao mesmo tempo, triste e delicado, que passa quase despercebido. De acordo com a dra. Cláudia Weine Cruz, que pesquisa casos de suicídio, existem várias vertentes que podem levar ao suicídio: biológicas (depressão e demais transtornos); sociológicas (homens-bomba e esposas de hindus que se imolam junto ao marido morto); e subjetivas (questões psicológicas). Diz a doutora Cláudia que, geralmente, o suicídio vem precedido de um quadro de depressão, durante algum tempo. O potencial suicida sempre emite sinais que as pessoas do entorno não reconhecem, achando tratar-se de frescura ou coisa de alguém que quer chamar a atenção.

Considerada epidemia mundial – o mal do século 21, conforme definiu a OMS –, a depressão ataca os jovens que sofrem mais com bullying, falta de adaptação social, mau desempenho escolar, cobranças; aos idosos, por falta de sentido na vida; e aos adultos, por uma série de problemas, entre eles as dificuldades financeiras.

Para se ter uma ideia, um levantamento do Serasa apurou que o número de pessoas com o CPF negativado nos órgãos de proteção ao crédito chega a 63 milhões, atingindo quase 70% das famílias brasileiras. Já uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), mostrou que cerca de 70% dos inadimplentes sofrem de ansiedade e outros impactos emocionais negativos por não conseguirem manter as contas em dia.

Quando não se consegue pagar todas as contas do mês, no início sempre se acha alguma desculpa: o baixo salário, gastos não previstos, ou, desde março de 2020, a pandemia da Covid-19 que, efetivamente, trouxe ou potencializou inúmeros impactos – principalmente, redução ou perda de renda –, com reflexos na saúde mental das pessoas. Além disso, o aumento dos preços dos alimentos, energia elétrica, gás, transportes e combustíveis diminuem o poder de compra dos brasileiros, sobrando menos dinheiro para pagar dívidas.

Independentemente do motivo, as dívidas começam a se acumular, perdendo-se o controle da situação, e isso, em alguns casos, pode desencadear uma série de distúrbios, como baixa autoestima, insônia, irritabilidade, ansiedade, alimentar e depressão. Conforme diz o psiquiatra dr. Fernando Godoy Neves, a depressão pode levar ao suicídio, embora nem todas as pessoas que sofrem desse mal tenham pensamentos suicidas ou o cometam.

Neste contexto, Reinaldo Domingos – PhD em Educação Financeira, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, além de autor de diversos livros – postou, em seu canal Dinheiro à vista, o vídeo “Educação Financeira e Depressão”. Nele, Reinaldo fala que, quando o assunto é dinheiro – e não é só a escassez, a sobra também – a chance de entrar em depressão é quatro vezes maior que qualquer outra causa. Com problemas financeiros, inadimplente e com o nome sujo a pessoa fica acuada, triste e acaba em depressão. É o momento de pessoas do entorno – da própria família, dos grupos de amizades, religiosos ou mesmo da empresa – procurarem oferecer ajuda.

Em situações mais graves, cabe sugerir ou encaminhar a pessoa que sofre com depressão e outras doenças mentais ou físicas a psicólogo ou psiquiatra. Mas, na maioria dos casos, uma boa conversa já pode ajudar a pessoa com problemas financeiros a mudar o seu foco.

Em seu vídeo, Reinaldo Domingos descreve 5 passos para instruir a conversa com a pessoa que está em depressão, decorrente de problemas financeiros:

1º) conversar com ela: muitas vezes, a pessoa não quer falar sobre o problema específico que a aflige; então, descobrir assuntos que a interessem, como futebol, por exemplo, a partir do que a conversa pode entrar em outros temas, inclusive o que a está preocupando;
2º) atender aos custos: apurar a soma das pendências financeiras, a disponibilidade para parcelar débitos (salvaguardado o valor da renda que atenda ao mínimo existencial), e auxiliar na elaboração de um plano de renegociação das dívidas;
3º) como fazer? Identificar a causa do endividamento; talvez tenha sido a simples falta de controle e organização financeira ou compras sem planejamento: é preciso fazer escolhas para reduzir gastos; cabe também procurar alternativas de ganhos;
4º) comemorar conquistas, mesmo que pequenas: significam que é possível reduzir despesas e poupar dinheiro, por menores que sejam;
5º) ter um projeto de vida – pessoal e familiar – que o motive a levantar toda a manhã e trabalhar por sua realização; às vezes, até pessoas com muito dinheiro não sabem o que fazer com ele porque não tem projetos que as realizem como pessoas.

Por fim, é importante saber que a saúde está muito atrelada à vida financeira. Por isso, é preciso ficar atento a isso e repensar o planejamento financeiro para que a situação volte a ficar reequilibrada. A educação financeira pode ajudar justamente por ser uma ciência que pretende promover mudança de comportamentos, hábitos e costumes em relação ao dinheiro.

Fonte: www.gaz.com.br/problemas-financeiros-e-a-depressao/

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Setembro Amarelo: roda de conversa na base comunitária de Itinga alerta jovens para a prevenção ao suicídio 

Bruno Bahia

“O amparo é uma das formas de evitar o suicídio. Quando as pessoas não se sentem valorizadas e amadas, elas querem matar essa dor e não sabem como. Todo ser humano precisa se sentir amado e esclarecido sobre suas emoções”, disse Elianai Reis. O depoimento da moradora de Itinga refletiu sobre “Saúde Mental na Pandemia'', tema abordado na roda de conversa promovida pela Secretaria Municipal de Juventude (SEJU), nesta quarta-feira (15), na Base Comunitária do bairro.

Com a participação da equipe Psios Psicologia, o diálogo levado aos jovens de Itinga reforçou, dentro da campanha Setembro Amarelo, como o acolhimento é essencial para a prevenção ao suicídio. “Hoje eu aprendi muito. Todos nós somos vulneráveis, e quando não sabemos lidar com as emoções, isso pode gerar a morte. Se a mente estiver doente, o corpo todo sente. E para ajudar outras pessoas precisamos estar bem”, ponderou Elanai ao destacar ser mãe de crianças autistas e desenvolver trabalho voltado para 130 pessoas.

Para chamar a atenção do público sobre como identificar comportamentos de risco e os sinais de alerta da pessoa com intenção de suicídio, a equipe de psicologia realizou dinâmicas de observação e desenho. Segundo Vaniclea Silva, psicóloga de estratégia de saúde da família que atua na rede municipal, por dia 32 pessoas desistem de viver e tiram a própria vida.

“Uma pessoa que está pensando no suicídio, ela não quer morrer, apenas quer acabar com aquela dor. Reparem nas frases do dia a dia, como - eu quero dormir e não acordar mais -, a pessoa necessariamente não precisa falar que precisa morrer. Devemos sim observar o comportamento de cada pessoa”, exemplificou a psicóloga clínica Vaniclea sobre um sinal de alerta. Na pandemia, o comportamento suicida se agravou devido ao isolamento social e contribuiu para a diminuição do autocuidado.

Conforme as palavras da psicóloga e psicopedagoga Ana Reclé, a vida tem altos e baixos, com ou sem pandemia, e a busca de ajuda profissional é fundamental.  “Qual é a melhor forma de ajudar alguém que tem ideação suicida? Dizer que é frescura não irá ajudar. O que ajuda é o apoio, o acolhimento. É o agir que salva a vida. Devemos estar atentos aos sinais. A valorização da vida tem a ver com o que a gente tem de esperança e com os apoios que não podemos perder”, frisou.

Segundo Renildo Cabral, secretário municipal de Juventude, ainda foi discutido na roda de conversa as formas como as emoções se manifestam, e como o exercício de ouvir as pessoas é importante no desenvolvimento da empatia. “A prevenção ao suicídio é uma demanda da juventude. Levar o diálogo para perto é uma das formas de mudar essa tendência, principalmente nesse período complicado de pandemia. Esse serviço de orientação também serve para os pais e responsáveis que carecem de informações”, relatou.

Para apoio emocional e prevenção do suicídio, pessoas podem pedir ajuda através do telefone 188, do Centro de Valorização da vida. O CVV realiza atendimento voluntário e gratuito, 24 horas, para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total privacidade.

Fonte: www.laurodefreitas.ba.gov.br/2021/noticias/setembro-amarelo-roda-de-conversa-na-base-comunitaria-de-itinga-alerta-jovens-para-a-prevencao-ao-suicidio/2744


Especialistas alertam sobre sinais de ideação suicida em adolescentes e crianças

Em referência ao Setembro Amarelo, a  Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), em parceria com Secretaria da Saúde (SESAB), realizou, nesta quarta-feira(15), duas ações para debater a prevenção do suicídio. Pela manhã, no auditório da Escola de Saúde Pública da Bahia, a psicóloga Aline Villafane abordou o tema “Como identificar sinais de ideação suicida em adolescentes e crianças”. À tarde, através do canal do Youtube do Instituto Anísio Teixeira (IAT), foi realizado um debate sobre a “Segurança e o cuidado com a vida”, com membros da Polícia Militar da Bahia.
 
A psicóloga Aline Villafane alertou sobre sinais que todos devem estar atentos. “São as mais diversas possibilidades. Precisamos ficar atentos quando a criança e o adolescente ficam inapetentes, quando deixam de se cuidar da maneira habitual, ou seja, vestem qualquer roupa ou ficam repetindo a mesma sem nenhuma preocupação ou quando mudam bruscamente de comportamento e humor. Um outro ponto importante é observar os sinais de automutilação. Normalmente, se escondem com blusas de mangas compridas e fazem cortes em locais diversos, como virilhas e axilas, porque são fáceis de esconder. Ao percebermos os sinais, devemos tentar nos aproximar do adolescente para ver se ele consegue se sentir à vontade para falar do seu sofrimento. Se a pessoa estiver suscetível à conversa, devemos procurar saber dela a melhor maneira de ajudar e construir com ela esse processo de cuidado. Caso não consiga,  precisamos acionar um atendimento especializado”.
 
De acordo com o subsecretário da Educação do Estado, Danilo Souza, que mediou o segundo encontro, o tema delicado precisa ser pautado durante o ano com as comunidades escolares e toda a sociedade. “Estamos conversando sobre a vida, com um debate importante e atual. Vivemos momentos difíceis, com perdas irreparáveis de entes queridos e ainda estamos passando por este processo de pandemia. Temos que pensar em solidariedade e juntar forças para enfrentar a tristeza e os momentos difíceis com esperança e lucidez. Com um olhar fraterno e atento, podemos acolher e cuidar da saúde mental e construirmos um mundo mais justo para todos”.
 
Rosário Muricy, que é superintendente de Recursos Humanos da SEC, participou das duas atividades e ressaltou que a campanha, promovida por meio do Programa de Atenção à Saúde e Valorização do Professor, fortalece ações de escuta e cuidado para prevenção do problema. “O suicídio é uma questão de saúde pública e a educação é algo fundamental para levarmos o conhecimento às nossas redes e podermos identificar e tratar o tema com cuidado e muito zelo. A escola é um espaço onde temos a possibilidade de ler os nossos estudantes, identificando os problemas que indicam que a pessoa precisa de uma ajuda e a rede de Educação é fundamental para promoção de uma maior conscientização no despertar de um olhar sem preconceitos sobre a temática”.
 
Também participaram dos encontros a coordenadora do Programa de Atenção à Saúde e Valorização do Professor, Elisabeth Dias; a major Patrícia Silva; a capitã Maria da Soledade; o cabo Nei Cleber; e a diretora de Gestão de Cuidado da SESAB, Liliane Silveira. A transmissão contou com a tradução em Libras pela intérprete Taiane Alves. Na próxima quinta (22), a campanha continua com a palestra “Criando esperança por meio da ação” com Catarina Dhal, representando a Organização Pan-Americana de Saúde.

Fonte: http://escolas.educacao.ba.gov.br/noticias/setembro-amarelo-especialistas-alertam-sobre-sinais-de-ideacao-suicida-em-adolescentes-e-cr

A compreensão do outro tem relação estreita com a prevenção ao suicídio

Dia 17 de Setembro é o Dia Mundial da Compreensão, data para refletir sobre o nosso olhar para nós mesmos e ao outro

Nice Bulhões

Seja um sol para muitos girassóis. Arte de Giovanna Barreto, usada na matéria sobre Setembro Amarelo em 2020

 - Você quer ver a sua mãe? 

Perguntou-me a enfermeira, numa noite escura e fria, apesar dos 37º C. Não pensei e respondi de imediato. 

- Não. Obrigada. 

Mesmo assim ela insistiu. Mas, neguei novamente. Meu irmão, desesperado, passou como um relâmpago ao meu lado e adentrou pela portinha da UTI do hospital, onde minha mãe já tinha recebido diagnóstico de morte cerebral, mas seguia mantida viva por aparelhos. Os aneurismas já tinham estourado, porém, o coração continuava a bater. 

Eu sabia que poderia ser a última vez que teria a oportunidade de vê-la no plano físico. Mas, não queria me despedir, não queria deixá-la partir, como se coubesse a mim esta tarefa. Na loucura de meus pensamentos, mesmo que lá no fundo a razão tentasse subir à tona e ganhar da insensatez, do desespero e da não aceitação da perda, mantinha minha crença no imaginário. 

Naquela madrugada, estava decidida que queria levar a imagem alegre e cantarolante de minha mãe. O telefone tocou em casa e alguém do outro lado da linha telefônica deu a notícia da morte de mamãe. Não podia entrar naquele túnel sem fim de tristeza. Então, relutei e deixei aquele espiral escondido dentro do meu ser, sabendo que um dia iria ganhar força e se transformar em um mostro. Mas, era preciso... meu irmão, mais novo do que eu, precisava de mim. 

Fazia pouco tempo que nosso pai tinha morrido e a imagem que ficou desse dia foi de meu irmão em cima dele fazendo massagem em seu peito na tentativa de ressuscitá-lo. O câncer havia vencido a batalha. A morte foi a cura para o meu pai, que sofreu muito, mas, na época, questionei Deus. 

Os anos se passaram, e sempre me vinha à cabeça o meu comportamento nas mortes de meu pai e de minha mãe. Achei-me fraca, principalmente, na morte de minha mãe. Aquela memória de não querer vê-la na UTI havia deixado uma ferida em minha mente e, quando a casquinha saía, derramava sobre o meu ser uma ira e uma sensação de dor. Por isso, providenciei que a ferida ficasse bem quietinha por anos.  

Esta semana, ao terminar de ler o livro indicado pela escola ao meu filho, que se chama "O chamado do mostro", de Patrick Ness, minha memória voltou a me cobrar. Mas, foi diferente. Eu já estava com a ideia de escrever sobre o Dia da Compreensão Mundial, comemorado em 17 de setembro, aliado ao Setembro de Amarelo. Então, li a última página do livro e busquei me conectar comigo mesma. 

Abracei minha memória com força, mas de forma carinhosa, e conectei minhas emoções, sentimentos e pensamentos. Busquei não ter vergonha ou receio de relembrar sentimentos negativos. Fiquei ali presente. Lembrei-me, inclusive, o que me incomodava. Não era o fato de eu não ter entrado naquele quarto de hospital, mas, sim, os comentários de algumas pessoas que me culparam por não ter feito isso, sendo que algumas delas eu nem as conheço.

Então, minhas emoções deram passagem à lógica. Eu e minha mãe nos amamos. Ela está em mim; sou parte dela. Naquele quarto, minha mãe não estava mais. Então, a despedida não fazia sentido, mesmo que, na ocasião, não quisesse aceitar a ruptura simbólica. Não queria me despedir com aquela imagem de minha mãe, deformada, cheia de tubos e equipamentos.

Busquei compreender a mim mesma. Liguei o "modo on" da conexão comigo mesma para abraçar minha alma, para me acolher. Por isso, quero falar do Dia Mundial da Compreensão, que também impacta muito no Setembro Amarelo. E, espero do fundo do meu coração, que isso possa de alguma forma te ajudar a encontrar o seu caminho. Cada um faz a sua jornada e escolhe as maneiras como vai atravessá-la.

Dia Mundial da Compreensão

Apesar de não ser instituída por nenhum órgão oficial, e não descobri a sua origem em minhas pesquisas, li postagens que explicam que o Dia Mundial da Compreensão "procura ampliar o entendimento entre as pessoas, ou seja, a paz entre as nações e os povos." Mas, no dia a dia de cada um, essa compreensão trata das diferenças, do respeito e da empatia. Te convido a se conectar consigo mesmo e com os outros, exercitando a compreensão, que requer flexibilidade, tolerância e empatia, inclusive consigo mesmo. 

Se compreender a gente mesmo é difícil, por que achamos ser fácil entender a situação do outro, como se fôssemos donos da razão, e sair julgando? Isso pode implicar em muita tristeza, depressão e até em suicídio. Precisamos de um momento de reflexão. Muitos de nós se tornaram haters ou "odiadores". Opinamos apenas por opinar e muitas vezes apenas para atingir mesmo.  

Fiquei pensando o que é de fato a compreensão? Eu mesma tinha sofrido por deixar de ser empática comigo mesma e apenas levar em consideração as declarações caluniosas quanto à minha não entrada no quarto de minha mãe, então já com morte cerebral. Acredito que todos temos o nosso tempo para tudo, inclusive até para nos entendermos, nos compreendermos.  

Foi por isso que convidei um dos mais renomados psicólogo e psicanalista do país, Ivan Roberto Capelatto, clique aqui para visualizar um breve currículo dele - para falar sobre compreensão e o Setembro Amarelo. Como ele disse: "A compreensão também evolui". Segundo ele, a compreensão sobre nós, seres humanos, pode incluir um aspecto depressivo, diante de tantas notícias ruins, como os feminicídios, mas também deve nos fortalecer quanto à forma como devemos nos comportar junto aos outros.

"Os haters que disseminam o ódio, são, na verdade, pessoas com uma personalidade psicopática. Psicopata é um sujeito que pela educação que teve, principalmente na primeira infância, não conseguiu organizar os componentes de uma vida saudável humana (..) Os que estão disseminando ódio não sentem nem raiva, nem medo, nem culpa. (...) Nós temos criado ao longo da história, principalmente nas últimas gerações do mundo, especialmente no Brasil, pessoas com uma personalidade psicopática bastante avançada (...) são aqueles que fazem o bullying mais terrível (...)".

Quanto ao suicídio, Capellato disse que o Brasil está liderando no ranking mundial na faixa etária dos 9 aos 25 anos. "O sujeito chega ao ponto que não existe mais o segundo seguinte de esperança e, geralmente, é cometido por pessoas que não têm nenhuma ou pouca resistência à frustação. Que pelo sofrimento não encontram reserva psíquica dentro de si para enfrentar a dor e passar por ela.(...) É cometido por crianças que não ganharam o joguinho prometido pelos pais, por aquele adolescente que começou a gostar da amiguinha que não gosta dele e ele se enforca. A gente também está criando, junto com os psicopatas, uma geração pobre no quesito resistência à frustação."  

Ouça a entrevista dele na íntegra, dividida por temas. 

Compreender as diferenças de pensamentos, sejam eles filosóficos, ideológicos, sexuais, éticos, religiosos, entre outros, é respeito ao próximo, principalmente, aos seus sentimentos. E isso não significa se anular e, consequentemente, concordar com o outro. O problema é que nós, seres humanos, de uma maneira geral, gostamos de mostrar conhecimento, capacidade, ou seja, gostamos mais de ensinar do que aprender. Afinal, aprender implica em ter de derrubar alguns preconceitos impregnados em nossas almas. 

Para a psiquiatra Carmen Sylvia Ribeiro, membro do Departamento de Psiquiatria e do Comitê Permanente de Prevenção ao Suicídio, ambos da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), o dia 17 de setembro nos faz refletir sobre a "prioridade de compreender o próximo e o respeito às diferenças entre os seres humanos em aspectos físicos, comportamentais e culturais".  

Segundo a psiquiatra, compreender "é praticar o exercício da paz e propagar o respeito, olhar ao outro e a si mesmo com os olhos plenos de amor e compaixão". Clique aqui para ler seu artigo completo sobre esta data. Compreender o outro tem relação estreita com a prevenção ao suicídio. Por isso, associei os dois temas.  

Setembro Amarelo 

Em 24 de setembro do ano passado, escrevi "Setembro amarelo, seja um sol para alguém na primavera". Foi meu primeiro post. E terminei o texto fazendo a seguinte sugestão: "Quero que o Setembro Amarelo seja apenas a explosão da primavera. Então, se você pensa como eu, seja um sol para alguém." Seja o cuidador de um jardim de girassóis, se estiver bem. Caso não esteja, procure ajuda. Não tenha vergonha.

Uma dica são as lives da SMCC, que já foram realizadas, mas você pode conferi-las ao longo deste post. A primeira foi realizada na última terça-feira (14). O tema foi "Conexão Brasil-Chile na compreensão do risco emocional em crianças e adolescentes", com a participação da psicóloga e terapeuta familiar e transpessoal Cibele Passos, que atua no Chile; do psiquiatra infantil e coordenador do Departamento de Psiquiatria da SMCC, Osmar Della Torre; e do pediatra José Espin Neto, coordenador do Departamento de Pediatria da SMCC e professor da PUC-Campinas. Confira abaixo.  

 Na quarta-feira (15), o foco da live foram os profissionais de saúde. A psiquiatra Karina Barbi, professora do Departamento de Psiquiatria da PUC-Campinas, falou sobre os "Efeitos da pandemia na saúde mental dos profissionais da saúde: o sofrimento inevitável". Também participaram dessa live a psiquiatra Carmen, e o médico Jorge Carlos Machado Curi.  

A palestra de encerramento, nesta quinta (16), teve como tema "Ao avançar da idade, a pulsão de vida está comprometida? Como cuidar da vitalidade no aspecto emocional?" A live contou com participação da psiquiatra e psicogeriatra Flávia Brandão, da psiquiatra e médica da família Isabele Martins e do psiquiatra Fábio Martins Fonseca. 

A SMCC informou que dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. Por ano, mais de 700 mil suicídios acontecem em todo o planeta. Em 2019, mais de uma em cada 100 mortes (1,3%) foi resultado de suicídio. No Brasil, são registrados mais de 12 mil suicídios, e os números só têm aumentado nos últimos anos. 

Serviços gratuitos 

A SMCC conta com um Grupo de Acolhimento para familiares de vítimas de homicídio. Por conta da pandemia, o grupo está se reunindo apenas no formato on-line, sempre na 2ª segunda-feira do mês, das 19h30 às 21h30. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas pelo WhatsApp (11) 96035-7707. O grupo é coordenado pelas psicólogas Jéssica Silveira, Iva Siqueira e Ana Luiza Cassiani. 

Outro atendimento é o Centro de Valorização da Vida (CVV), um serviço gratuito. Para conversar com um voluntário basta ligar para o 188, que funciona 24 horas por dia ou acesse www.cvv.org.br, para conversar por e-mail e pelo "chat abraço". Em 10 de setembro, Dia Internacional da Prevenção do Suicídio, o CVV lançou a campanha #ConteúdoSensível, que busca conscientizar a sociedade sobre cuidados e saúde mental. Assista abaixo o vídeo da campanha. 

Fonte: www.acidadeon.com/circuitodasaguas/blogs/alma-inclusiva/BLOG,0,0,1666975,a-compreensao-do-outro-tem-relacao-estreita-com-a-prevencao-ao-suicidio.aspx

Diálogo familiar previne incidência de depressão em idosos

Manter uma rotina de consultas e exames pode trazer prevenção e preparo para o idoso

Em setembro, desde 2015, é realizada uma campanha de prevenção do suicídio pelos profissionais da saúde com o objetivo de conscientizar a população sobre o tema. Com os anos, o "Setembro Amarelo" foi ganhando mais força e trazendo ainda mais apoio para pessoas que sofrem de depressão.

Contudo, ainda há um mito que ronda o assunto que insiste em afirmar que essa é uma patologia desta geração e que os mais velhos não sofrem com este mal, porém, quem acredita nisso está enganado. Segundo o Ministério da Saúde, a taxa do suicídio entre idosos a partir de 70 anos, nos últimos seis anos, aumentou, ou seja, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes por 100 mil nesse período.

Além disso, 51% dos casos de suicídio no Brasil ocorrem dentro de casa, aponta outro dado da FioCruz, o que é o fator principal de risco para os casos de suicido dos idosos, segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Para a psicóloga Tais Fernandes, da Said Rio, empresa de cuidadores de idosos, é muito importante levar essa informação e esses dados à sério. "Na terceira idade, homens e mulheres enfrentam muitos desafios, que podem ser desde a dificuldade em manter o convívio social, até as limitações físicas. Apesar dessas incapacidades serem consideradas normais a partir dos 60 anos, isso gera desconforto nos idosos que até então eram independentes e agora precisam de cuidados especiais"
Pensando nisso, a profissional resolveu listar 5 dicas para evitar a depressão nos mais velhos:

• Estimular um estilo de vida saudável

Poucos sabem, mas manter uma vida regrada com uma boa alimentação e prática de exercícios físicos podem evitar o surgimento dessa doença, isso porque, esses hábitos estimulam os hormônios da felicidade e fazem com que o idoso se sinta melhor consigo mesmo e até mais disposto.

• Formação de grupos

O item acima pode ajudar neste tópico. Ao começar a praticar uma atividade do gosto do idoso, ele pode conhecer pessoas da mesma idade e com interesses em comum, assim, ele terá com quem conversar e não se sentirá deslocado.

O mesmo vale para a família, procurem se unir mais com os pais e os avôs de idade, conversem sobre assuntos que eles também conheçam, isso evita que eles se distanciem do contato social.

• Trabalhar a aceitação

Isso pode até não ser uma tarefa fácil, mas é uma das principais a serem trabalhadas com o grupo da terceira idade. Para alguns é mais difícil que outros aceitar que a velhice chegou, mesmo que sabemos que isso é um fato e que vai acontecer.

Por isso, converse, explique, mostre para seu familiar e amigo, que isso é normal, e que assim como em todas as outras fases da vida, o envelhecimento também tem seus charmes e vantagens.

• Mantenha uma rotina com seu médico

Nessa fase da vida, o surgimento de doenças se torna comum, por isso manter uma rotina de consultas e exames pode trazer prevenção e preparo para o idoso. Além disso, ele poderá ter consciência do que acontece com o corpo dele e isso trará uma sensação de segurança e independência.

• Se necessário, procure a ajuda de um profissional

Mesmo com todas as dicas de prevenção, nem sempre conseguimos controlar o que irá ou não acontecer. Por isso, o mais importante é estar atento aos sinais e procurar ajuda profissional quando necessário. Não tenha receio do prognóstico, confie que a melhor solução e tratamento virá de uma pessoa que entende do assunto.

"Hoje em dia, os tabus em volta da depressão e do suicídio estão cada vez menores e precisamos usar isso para prevenir essa doença que atinge pessoas de todas as idade. Atente-se aos sinais, alterações de humor e hábitos, diminuição de autoestima e da capacidade de sentir felicidade, cansaço, pensamentos negativos recorrentes, entre outros. A família e os amigos podem salvar vidas", finaliza a psicóloga Tais.

Fonte:  https://folhabv.com.br/noticia/SAUDE/Saude/Dialogo-familiar-previne-incidencia-de-depressao-em-idosos/79861



Educação financeira para prevenção ao suicídio é tema de roda de conversa

O endividamento financeiro é apontado como um dos complicadores que levam ao suicídio

Além de traumas emocionais, depressão, alcoolismo, uso de drogas proibidas, bullying e diagnóstico de doença grave, o endividamento financeiro é apontado como um dos complicadores que levam ao suicídio, pois trata-se de uma das principais causas de depressão. Com base nisso, o IFRR (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima), por meio do CAM (Campus Amajari), promove, nesta sexta-feira, dia 17, uma roda de conversa com o tema “Setembro Amarelo e a Educação Financeira”.

O evento, que contará com a participação do economista e doutorando em Políticas Públicas Cícero Thiago Reis, professor do IFRR, e da especialista em Psicologia Clínica Gisele Garcia de Souza Lírio, será realizado por meio da plataforma digital Google Meet, a partir das 16 horas, e é aberto ao público. Os interessados em participar devem efetuar inscrição por meio do link bit.ly/EducacaoFinaceiraSA.

Segundo um dos integrantes da comissão organizadora, Francisco Moura, o objetivo do encontro virtual é fornecer dicas sobre como se manter livre de dívidas e como se organizar para sair do “vermelho”. “O que queremos com isso é contribuir para a prevenção do suicídio e redução do índice desse grave problema de saúde pública, colaborando com a valorização da vida”, declarou.

PROGRAMAÇÃO – No último dia 13 de setembro, dentro da programação especial em alusão ao Setembro Amarelo, foi abordada, em roda de conversa, a temática do alcoolismo e do uso de outras drogas. Para o próximo dia 24 está programada a roda de conversa “Yoga, saúde em equilíbrio, corpo, mente e espirito”. Nela, será abordada a questão da alimentação e das atividades físicas voltadas para a prevenção ao suicídio.

Fonte: https://folhabv.com.br/noticia/SAUDE/Saude/Educacao-financeira-para-prevencao-ao-suicidio-e-tema-de-roda-de-conversa/79829




A violência contra a mulher e o suicídio

Wagner Cinelli de Paula Freitas

O suicídio, responsável por mais de um milhão de mortes por ano, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), é um grave problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, é uma das principais causas de óbito no planeta, matando mais do que HIV, malária ou câncer de mama.

A ABP e o CFM, visando à conscientização e à prevenção do suicídio, lançaram a campanha Setembro Amarelo, criada em 2014. Cartilha publicada pelas duas entidades indica que a relação entre suicídio tentado e consumado é distinta do ponto de vista do gênero. Há aproximadamente três vezes mais mulheres do que homens a tentar o suicídio, mas os homens, em proporção similar, superam as mulheres em número de óbitos.

Um dos fatores para essa diferença é a letalidade dos métodos usados pelos homens, que estão mais familiarizados com armas de fogo e têm mais acesso a elas, escolhendo esse instrumento eficiente com mais frequência do que as mulheres.

Durkheim escreveu o clássico "O Suicídio" em 1897 e muitos estudos já foram realizados, mas continuamos a saber pouco sobre esse tema, que, como a morte em geral, é um assunto tabu.

Postas as diferenças de gênero e também o conhecimento limitado sobre a questão, examinemos o que é sabido sobre uma parcela desse universo, a das mulheres que são vítimas de companheiros abusivos e se autolesionam.

A professora Sylvia Walby, diretora do Centro de Violência e Sociedade da City University of London, aponta que no Reino Unido, com relação ao suicídio de mulheres, a média anual é de dez mil tentativas e 200 consumações, sendo que uma em cada oito tem histórico de violência doméstica e abuso.

Essa fotografia, entretanto, é provavelmente ainda mais contundente, pois essas pesquisas costumam enfrentar obstáculos, como investigações criminais que não avançam muito — a permitir que muitos suicídios não tenham a motivação esclarecida —, ou que, ainda que eventualmente, acabem classificando erroneamente um feminicídio como suicídio.

O Saúde Brasil 2018, publicado pelo Ministério da Saúde, traz diversos estudos e, quanto ao risco de óbito para mulheres com notificação de violência, considerado o período de 2011 a 2016, indica que a lesão autoprovocada foi um importante tipo de violência apurado, notadamente entre as mulheres adultas (30 a 59 anos) e idosas (60 anos ou mais). Aponta também que a violência crônica tem sido considerada um fator de risco para lesão autoprovocada, o que, a seu turno, é fator de risco para o suicídio.

Vejamos dois casos notórios ocorridos em diferentes países e que bem representam a relação mulher vítima de violência e autoextermínio.

Alexandra Reid, enfermeira, 30 anos, foi encontrada morta em sua casa em Anfield, Liverpool, em 24/2/2020, uma semana após ter procurado a polícia para reportar as violências que sofria do companheiro, Peter Yeung. As investigações indicaram que houve suicídio e que o ato extremo ocorreu exatamente em razão dessas agressões, que eram físicas, emocionais e financeiras, e que a vítima temia que não lhe dessem credibilidade. Peter foi réu em ação criminal que resultou na sua condenação por três infrações penais, sendo duas agressões e um crime de dano, recebendo penas de seis meses, quatro meses e um mês de prisão.

Alex, como era conhecida, não foi assassinada. Tirou sua própria vida. Mas o processo criminal que tramitou no Magistrate's Court de Liverpool deixou evidente que ela era uma vítima contumaz do companheiro, a indicar tenha sido esse o motivo de seu desespero, empurrando-a para o ato fatal.

Outro caso de suicídio bastante divulgado foi o da jovem marroquina Amina Filali, que foi estuprada aos 15 anos de idade e obrigada a se casar com o criminoso para que ele se livrasse da ação penal. Infeliz com aquele destino e se sentindo isolada por todos, tomou veneno, pondo fim à sua vida, o que provocou movimento que culminou na alteração do Código Penal do Marrocos em 2014, retirando-se dali o benefício que favorecia o estuprador.

A violência de gênero, como visto, ainda se faz presente nas várias sociedades e a mulher vítima de violência, especialmente aquela que se repete, está mais sujeita a se autolesionar e a repetição da autolesão é um dos caminhos que leva ao suicídio.

É através da igualdade de gênero que ocorre o processo de libertação, a significar mais mulheres trabalhando, ocupando postos-chave e também menos mulheres vítimas de violência de gênero. Logo, menos vítimas fatais, seja de feminicídio, seja de suas próprias ações motivadas tantas vezes pelo isolamento e pelo desespero.

A conscientização a respeito de tão grave problemática é fundamental para a alteração da triste estatística que a envolve. Conscientizar para reduzir o suicídio, de homens e de mulheres. Quanto a essas, cabe a todos nós apurarmos nossos sentidos para percebermos os pedidos de socorro que ocorrem no silêncio, especialmente os das vítimas crônicas de companheiros violentos, para que nossas ações não sejam tardias.

Fonte: www.conjur.com.br/2021-set-21/wagner-cinelli-violencia-mulher-suicidio

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Campanha de prevenção ao suicídio envolve comunidade em Hospital da USP em Bauru

Com a participação de mães e acompanhantes em espera cirúrgica, atividades no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais buscam esclarecer sobre intervenções eficazes para prevenir o suicídio

Distribuição de material informativo faz parte das atividades do Setembro Amarelo

.Desde o início do mês, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP em Bauru vem promovendo várias atividades de conscientização e orientação sobre a prevenção do suicídio. O objetivo é colaborar com as ações do Setembro Amarelo, uma campanha nacional que tem o apoio de várias instituições de saúde como o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria.

No HRAC, o tema é lembrado com cartazes e decoração especial na cor amarela em vários locais do hospital, como ambulatórios e recreação. A confecção da decoração e dos laços amarelos contou com a participação de mães e acompanhantes em espera cirúrgica e equipe do Serviço de Educação e Terapia Ocupacional.

Nas salas de espera do hospital, foi realizada ação de orientação sobre a prevenção do suicídio, com leitura de mensagem informativa e de conscientização elaborada pelos residentes de Serviço Social e Psicologia, e esclarecimento sobre a disponibilidade dessas duas especialidades diante de possível demanda.

Durante a atividade, também foram entregues aos pacientes e acompanhantes folders informativos, marcadores de página e fitas amarelas doadas pelo CVV de Bauru, além de marcadores de página confeccionados pelas mães e acompanhantes em espera cirúrgica.

As ações da campanha são realizadas pelo Grupo de Trabalho de Humanização e Educação Permanente e pelo Serviço Social em parceria com o Serviço de Educação e Terapia Ocupacional e a Seção de Psicologia, todos do HRAC.
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Atividades com acompanhantes de pacientes durante o Setembro Amarelo 

Principal causa de morte no mundo

O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo responsável por uma em cada 100 mortes. Além disso, estudos demonstram que a pandemia ampliou os fatores de risco associados ao suicídio, como perda de emprego ou econômica, trauma ou abuso, transtornos mentais e barreiras ao acesso à saúde.

Ainda de acordo com a OMS, o estigma, os recursos limitados e a falta de conscientização continuam sendo as principais barreiras para a busca de ajuda, destacando a necessidade de alfabetização em saúde mental e campanhas antiestigma.

Criando esperança por meio da ação é o tema da campanha de prevenção ao suicídio deste ano, organizada pela Associação Internacional para a Prevenção ao Suicídio (Iasp) e endossada pela OMS, com o objetivo geral de aumentar a conscientização sobre a prevenção ao suicídio em todo o mundo.

Sinais de alerta

A maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta verbais ou comportamentais, como falar sobre o desejo de morrer, sentir grande culpa ou vergonha ou se sentir um fardo pelos outros. Outros sinais são sensação de vazio, desesperança, de estar preso ou sem razão para viver; sentir-se extremamente triste, ansioso, agitado ou cheio de raiva; ou com dor insuportável, seja emocional ou física.

Mudanças de comportamento; afastar-se dos amigos, despedir-se, distribuir itens importantes ou fazer testamentos; fazer coisas muito arriscadas, como dirigir em velocidade extrema; mostrar mudanças extremas de humor; comer ou dormir muito ou pouco; usar drogas ou álcool com mais frequência também podem ser sinais de alerta.

Intervenções eficazes para prevenir o suicídio estão disponíveis. Em um nível pessoal, a detecção precoce e o tratamento da depressão e dos transtornos por uso de álcool são essenciais para a prevenção ao suicídio, bem como o contato de acompanhamento com aqueles que tentaram o suicídio e o apoio psicossocial nas comunidades. Se uma pessoa detectar sinais de suicídio em si mesma ou em alguém que conhece, deve procurar a ajuda de um profissional de saúde o mais rápido possível.

O CVV presta apoio emocional e de prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188 (sem custo de ligação) ou pelo site www.cvv.org.br.

Fonte: https://jornal.usp.br/universidade/campanha-de-prevencao-ao-suicidio-envolve-comunidade-em-hospital-da-usp-em-bauru/

Luto pelo suicídio: dois artigos relevantes

Como lidar com o luto após um suicídio

Eliane Regina Ternes Torres

Lidar com o luto após um suicídio pode ser bastante difícil. Muitas vezes, há diversos sentimentos e questionamentos envolvidos. Em alguns casos, o apoio da família e de amigos pode ajudar. No entanto, em outros, pode ser necessária a ajuda profissional. Neste post, abordamos informações que podem auxiliar a lidar com esse momento.

O suicídio no mundo

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 9 em cada 10 suicídios podem ser evitados. Para tanto, são necessários: identificação precoce em relação ao risco de suicídio para que sejam realizados os encaminhamentos adequados; capacitação de profissionais envolvidos nos cuidados em saúde; e campanhas informativas que desmistifiquem o comportamento suicida. Além disso, ninguém previne o suicídio sozinho. Deve ser realizado um trabalho em parceria com a família e entre profissionais de saúde, bem como com redes de apoio da comunidade.

Ainda assim, dados apontam que mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, o que significa uma morte a cada 40 segundos. E para uma  pessoa que morre por suicídio, estima-se que haja 6 outras diretamente afetadas por essa perda. A essas pessoas costuma-se chamar de “sobreviventes enlutados por suicídio”, pelo grande impacto que esse evento gera em quem fica. Além disso, porque o luto após um suicídio é diferente de outros lutos e costuma envolver elementos específicos para sua elaboração.

Luto após um suicídio

Entre os elementos que envolvem o luto após um suicídio, estão as muitas dúvidas relacionadas aos possíveis “porquês” do suicídio. Há questionamentos sobre se teria sido possível fazer algo para evitá-lo, ou mesmo pensamentos sobre como possíveis sinais de alertas podem ter passado despercebidos. Os sobreviventes enlutados podem também experimentar raiva por se sentirem abandonados ou mesmo injustiçados por se experimentarem deixados, questionando-se, por exemplo, se a pessoa que morreu não pensou na dor que iria causar aos sobreviventes. Por outro lado, são frequentes sentimentos de culpa, ainda que se possa compreender que os motivos para a ocorrência de um suicídio sejam complexos.

Também é frequente que pessoas que perderam alguém por suicídio tenham mais dificuldade para falar sobre seu luto. Isso pode acontecer por vergonha, por medo de julgamento, por receio de expor a pessoa que morreu. O suicídio ainda é alvo de estigma social e julgamentos. Isso pode causar isolamento dos sobreviventes enlutados, dificultando ainda mais a expressão da dor e a elaboração da perda, que são fatores que colocam as pessoas em risco para um luto complicado.

Orientações ao enlutado e a quem oferece apoio

Para quem vivencia o luto após um suicídio, alguns aspectos são importantes:

  • Respeite seu luto e o tempo que precisar para elaborá-lo; 

  • Escolha com quem gostaria de conversar e com quem não quer falar sobre sua perda; 

  • Busque informações que auxiliem a desmistificar o suicídio e compreender esse fenômeno, bem como conhecer como se dá o processo de luto; 

  • Realize rituais de despedida se assim desejar; 

  • Elabore memoriais ou formas de homenagear seu ente querido;  

  • Não se isole. Grupos de apoio organizados por profissionais ou outras pessoas que vivenciam ou vivenciaram o luto após um suicídio costumam ser uma importante fonte de acolhimento.

  • Para quem deseja apoiar pessoas próximas que estejam passando por um luto por suicídio, estas são algumas orientações:

  • Escute atentamente e seja empático, acolhendo todos os sentimentos e expressões de sofrimento que o enlutado necessitar expor; 

  • Respeite o tempo do luto de cada pessoa, não “apressando-a” a caminhar nesse processo; 

  • Procure estar presente e manter contato com o passar do tempo, pois muitas vezes o sofrimento aumenta após o choque inicial passar; 

  • Fale da pessoa que morreu, pois não é preciso evitar o assunto; 

  • Pergunte do que a pessoa precisa e de que forma ela gostaria de ser ajudada; 

  • Proporcione momentos de descontração e relaxamento, pois quem vive o luto após um suicídio pode ter dificuldade para permitir-se voltar a fazer atividades prazerosas sozinho ou por iniciativa própria.


Posvenção

Na área da saúde, denomina-se posvenção o acompanhamento e as intervenções específicas para aqueles que passam pelo luto após um suicídio. É necessário considerar que as pessoas impactadas pela perda de alguém pelo suicídio não incluem somente a família, mas amigos, profissionais e colegas, pessoas que realizaram os primeiros socorros e pessoas que possam ter testemunhado o evento ou encontrado a pessoa logo após o ato.

Tendo em vista que o suicídio envolve uma morte inesperada, abrupta e, por vezes, violenta, é importante que os profissionais de saúde estejam preparados para apoiar os enlutados, auxiliando-os na elaboração de sentimentos que ocorrem após estas perdas. Especificamente, trabalha-se para reduzir efeitos do estresse temporário comum após o suicídio de alguém ou eventuais transtornos de estresse pós-traumático, favorecendo o trabalho do luto, prevenindo o desenvolvimento de um luto complicado e, ainda, prevenindo riscos de suicídio nos sobreviventes enlutados. Desta maneira, o cuidado aos sobreviventes de um suicídio é uma forma de prevenção de outras mortes autoprovocadas para quem fica e para futuras gerações.

Busca por ajuda no luto após um suicídio

É preciso considerar que nem todas as pessoas que vivenciam o luto após um suicídio precisam de ajuda profissional. A maioria dos enlutados encontra suporte para enfrentar o luto sendo apoiado pela sua família, por amigos e pessoas próximas. O luto não deve ser encarado como uma doença ou um problema, mas como uma reação esperada diante da perda. Também não há um tempo definido para o luto “terminar”. O fundamental é verificar se há avanços no processo, se é possível ir retomando projetos e outras relações aos poucos, religando-se à vida e a expectativas de futuro.

Ainda assim, o trabalho de profissionais de saúde pode auxiliar que vivencia o luto após um suicídio na elaboração de sentimentos complexos e na reorganização de seus projetos, visto que os mesmos são profundamente afetados quando uma perda de alguém muito próximo acontece. Portanto, busque ajuda sempre que precisar.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Brasília. v. 48, n. 30, p. 1-14, 2017.

Posvenção: orientações para o cuidado ao luto por suicídio [livro eletrônico] / [Karen Scavacini…[et al.] ; ilustração Kamguru Design]. São Paulo: Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, 2020.

KREUZ, Giovana; ANTONIASSI, Raquel Pinheiro Niehues. Grupo de apoio para sobreviventes do suicídio. Psicol. Estud., v. 25, e42427, 2020.

Fonte: https://conscienciapsicologia.com.br/luto-apos-um-suicidio/

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Como lidar com o luto pelo suicídio de um ente querido

Diario de Pernambuco - 11 setembro 2021

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realizam a campanha Setembro Amarelo, desde 2014, com o objetivo de conscientizar a sociedade para a prevenção do suicídio. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que aproximadamente 1 milhão de casos de óbito por suicídio são registrados por ano em todo o mundo.

Para prevenir o suicídio, é importante que a sociedade fale corretamente sobre o tratamento dos transtornos psiquiátricos, considerados as principais causas que levam uma pessoa a tirar a própria vida.

Segundo a psicóloga do luto, Simône Lira, a dor e o sofrimento de quem era próximo de alguém que se suicidou carrega muitas particularidades. “O suicídio de um ente querido coloca os familiares diante de uma dor intensa e questionamentos infindáveis e torturantes. Sentimentos como culpa, medo, tristeza, revolta, sensação de abandono, impotência e vergonha podem tomar conta dos que ficam”, afirma ela.

Embora haja uma busca incessante pela causa ou culpado, é importante ajudar os enlutados na compreensão de que as reais motivações se foram com aquele que partiu. “Mesmo que soubéssemos a motivação, isso não garantiria que compreendêssemos a dimensão da dor do outro a ponto de levá-lo a tirar a própria vida”, frisa ela.

O luto por suicídio é cercado de fatores que podem aumentar o risco do desenvolvimento de um processo traumático e duradouro. “O preconceito diante da ocorrência de mortes por suicídio pode fazer com que haja um silenciamento por parte do enlutado e tudo permaneça em segredo. Isso pode causar constrangimento quando há a necessidade de explicações de como se deu a morte do ente querido, especialmente em famílias com crianças e adolescentes em que comumente são atribuídas outras causas ou doenças para justificar a morte”, explica.

“Essas circunstâncias fazem com que o luto por suicídio se encaixe no que chamamos de lutos não reconhecidos pela sociedade, dificultando a possibilidade de expressão e validação da dor, o que se pode tornar um fator de risco para adoecimentos físicos e ou psíquicos”, revela. “Há poucos espaços na sociedade para falar sobre a morte, tornando difícil a preparação das pessoas a lidar também com o suicídio. A morte por suicídio é estigmatizada, imersa em tabus sociais, religiosos e culturais. Por exemplo, há um grande medo de falar sobre suicídio e esse ser um gatilho para que pessoas que pensam em suicídio possam vir a morrer dessa forma”, informa ela.

Para dar apoio emocional e conforto para quem perdeu um ente querido por suicídio a lidar com tamanho sofrimento, a primeira atitude é não se afastar dos enlutados na tentativa de protegê-los. “Muitos precisam falar e não encontram espaço e suporte social aumentando assim a sensação de desamparo e abandono o que aumenta sua vulnerabilidade. Falar de forma honesta e clara sobre o assunto pode ajudar os enlutados diante do processo de luto”, orienta Simône Lira.

Mesmo assim, há casos em que o enlutado deve procurar ajuda profissional. “Seria bom que o enlutado pudesse ter o suporte assim que possível após o evento traumático, pois indivíduos que perdem um ente querido por suicídio fazem parte do grupo de risco para o comportamento suicida. Sabendo que a intensidade do sofrimento é variável e nem todos apresentarão este tipo de comportamento”, diz a psicóloga.

“Em hipótese alguma devem ser adotadas posições de julgamento em relação ao ente que morreu por suicídio e seus familiares, possibilitando que os enlutados compreendam que sua dor está sendo respeitada e dessa forma se sintam autorizados a falar sobre como se sentem”, aconselha Simône Lira.

Fonte: www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2021/09/como-lidar-com-o-luto-pelo-suicidio-de-um-ente-querido.html

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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Prevenção do suicídio: ‘esperançar’ outra pessoa com ação e empatia 

Paulo Bogler

Voluntária do Centro de Valorização da Vida em Foz, Mariana Hernandes aborda o Setembro Amarelo e como apoiar quem precisa de ajuda.

O assunto ainda é considerado tabu, mas os números são alarmantes. No ano passado, ocorreram 12.895 suicídios no Brasil – ante 12.745 em 2019 –, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o que representa uma ocorrência a cada 41 minutos. Diante dessa realidade, o Setembro Amarelo é um mês inteiro dedicado à preservação da vida, e 10 de setembro marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

A importância de cuidar da saúde mental é todos os dias, e o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece serviço gratuito para ouvir pessoas em momentos de crise, nas 24 horas do dia e nos 365 dias do ano. O programa Marco Zero, produção do H2FOZ e da Rádio Clube FM, entrevistou a voluntária Mariana Hernandes. Assista à entrevista.

A escuta fraterna é feita pelo telefone 188, por chat ou e-mail (acesse Quero Conversar), sendo totalmente sigilosa e sem gravação da conversa. Uma das organizações não governamentais mais antigas do país, que completará 60 anos em 2022, o CVV conta com um posto em Foz do Iguaçu, que reúne 13 voluntários.

“O Setembro Amarelo é fundamental para se quebrar com o tabu em torno do suicídio, pois assim se buscam maneiras de prevenção, de colocar a população a par e criar um ambiente mais seguro e acolhedor para tratar sobre o tema”, afirmou Mariana. Esses tabus vão desde a religião aos limites estabelecidos por famílias impactadas por casos de suicídio, elencou.

“O que a gente pode fazer? Escutar empaticamente.”

Conforme a voluntária do CVV em Foz do Iguaçu, as pessoas em geral dão sinais em relação ao suicídio, demonstrações que podem ser muito sensíveis e até imperceptíveis. “É necessária a colaboração de todos ao perceber que uma pessoa não está legal. O que a gente pode fazer? Escutar empaticamente”, sublinhou Mariana.

“A gente pode escutar e apoiar livre de julgamentos, não criticar e não dar conselhos do tipo ‘comigo é muito pior’. É necessário criar um ambiente em que a pessoa se sinta confortável para falar da dor que está sentido”, explicou.

Neste ano, o tema do Setembro Amarelo é: “Criando esperança por meio da ação”. “A mensagem quer dizer que todas as pessoas podem ‘esperançar’ alguém, com escuta amorosa ou olhar atento. É ajudar o outro por meio da ação”, exemplificou a voluntária do Centro de Valorização da Vida.

Tornar-se mais inclusivo e olhar para as pessoas que estão ao redor, em casa, no trabalho ou no círculo de amizades, para perceber que alguém passa por dificuldade, deve ser preocupação diária. “A partir no momento que passamos a agir, a olhar com atenção às pessoas que estão ao nosso redor, abrimos uma porta para deixá-las desabafar aquilo que no momento está muito difícil. Todo dia ruim pode ser seguido por outro bom”, relatou.

Em todo o país, o CVV realiza nove mil atendimentos diários e quase três milhões por ano. De acordo com Mariana Hernandes, o número de ligações não sofreu grande impacto no período pandêmico. “Mas percebemos que o assunto da pandemia tornou-se muito presente nos atendimentos, é um tema que traz muita ansiedade, expectativa e medo entre as pessoas”, concluiu
Outros dados

No Paraná, os suicídios aumentaram 9,1% em 2020, na comparação com o ano anterior, passando de 629 para 691 casos, sendo o estado o 16º com o maior número de registros entre as unidades da federação. Esses dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos. Para cada caso, há mais pessoas que tentam o suicídio. Em relação às ocorrências mundiais, 79% dos suicídios são em países de baixa e média renda, embora aconteçam em todas as regiões. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.

Fonte: www.h2foz.com.br/entrevistas/prevencao-do-suicidio-esperancar-outra-pessoa-com-acao-e-empatia/

Setembro amarelo: o suicídio no mundo contemporâneo

Rafael Polakiewicz

O suicídio é um grave problema de saúde no mundo. O ato interrompe um processo natural da vida, sendo este ocasionado por diversos sentimentos conflituosos, onde a plenitude da vida se torna cada vez mais distante. Gostaria de chamar atenção não para os fatores subjetivos inerentes ao sujeito, que se relacionam com o suicídio, mas sobre a doutrina materialista em que vivemos, que corrompe muitas pessoas ao ato. O distanciamento do “Ser” e a aproximação do “Ter”, pode estar provocando um colapso nas proposições de vida e um distanciamento de uma vida feliz. O desgosto pela vida, onde muitos sentem que não há mais razões para viver, pode estar provoca o suicídio. 

Fato é que, os sentimentos são criados pelo mundo externo aliado a vulnerabilidade do indivíduo. No mundo atual há a estranha necessidade de sucesso, vendida todos os dias como ato necessário para viver  provoca sensação de que subindo degraus, sempre ganhando, sempre melhorando nossa vida material, sendo mais rico ou mais bem sucedido, chegaremos a condição de felicidade. Quando não alcançado, a compreensão de vitória ou de ser bem sucedido, podemos cair em  uma crise existencial, provocada pela pressão desenfreada do mundo. Quando esses fatos são aliados ao desamparo social e possuem a impulsividade do sujeito relacionada, temos um amplo caminho para a perda de nossa identidade, de nossa alegria e do nosso propósito de vida. 

Propósito é ato constante na vida feliz. É importante dizer que não é todo propósito que é bom ou que é benéfico para a pessoa. Muitos caminhos que tomamos nos levam direto a busca de resultados e isso quer dizer que nasce uma pressão para o comportamento perfeito. Nunca usamos tanto a palavra FOCO! Objetivo é sempre a concentração na apropriação quase sempre material. Poucas vezes vemos a palavra sugerida ao foco na felicidade, foco na família, foco nas coisas boas da vida. Nesse movimento, a sociedade vai gerando um sinônimo entre felicidade e chegar ao topo. Mas será que esse movimento tem gerado boas coisas à sociedade? Bom, bem sabemos em nossas vidas pessoais, que a pressão por melhores resultados nos trás sentimentos como estresse, ansiedade, raiva etc. Quando não alcançamos bons resultados, desenvolvemos frustrações que podem até nos levar a uma compreensão que a vida não vale a pena. 

O atual cenário, onde milhares de pessoas no mundo cometem suicídio, pode se aproximar de um ritual japonês denominado Haraquiri. Iniciado com os Samurais esse ritual consistia na reparação da honra pelo suicídio. Na Segunda Guerra Mundial, generais que não conseguiam vitória em guerra, também tiravam a própria vida, por se sentirem indignos e desonrados com as derrotas.  No mundo atual, o suicídio parece estar ligado a vulnerabilidades psíquicas e ao sentimento de derrota, de impotência diante do sucesso. Muitos se afetam no caminho natural do viver em sociedade que preserva a moralidade, honra e outros atributos ligados à vitória e ao sucesso, não sei se nos distanciamos muito dos antigos samurais, mas sei que temos mais recursos também para lidar com essas questões. 

suicídio

O Setembro Amarelo como iniciativa para discutir o suicídio

O suicídio é um terrível mal que deve ser combatido pela humanidade. A trágica solução que alguns encontram para o sofrimento leva famílias e toda a sociedade ao sofrimento. O Setembro Amarelo veio como forma de resposta. No dia 10 de setembro temos o dia mundial de combate ao suicídio. Discussões são realizadas em todo mundo com objetivo de diminuir a incidência de suicídio. No Brasil, a iniciativa ficou famosa no mês de setembro, mas sabendo as autoridades da importância de se discutir o assunto em todos os meses do ano. Desde 2014, o setembro amarelo faz parte do calendário de atenção do Ministério da Saúde e inicia-se com campanhas de instituições e conselhos de classe dos trabalhadores da saúde do Brasil. Os casos atingem mais os jovens e, por isso, requer atenção da população e do estado. Mas não é o bastante, com a pandemia há necessidade do aumento de iniciativas para a diminuição dos casos de suicídio no Brasil.

Algumas informações sobre o assunto são importantes

Principais fatores de risco:

– Doenças mentais
 
Tentativa prévia 
 
– Pessoas jovens

As doenças mentais elevam a vulnerabilidade para o suicídio. Damos atenção aqui à depressão que aparece como uma das doenças que mais leva os jovens a buscar o fim da própria vida. A tentativa prévia aparece na maioria dos casos de suicídio, sendo que 8 em cada 10 pessoas que cometeram o suicídio já realizaram alguma tentativa ao longo da vida. Os jovens são vulneráveis ao Suicídio. Esses são suscetíveis às mudanças fisiológicas, pois estão em fase de amadurecimento físico e psíquico. Quem convive com um adolescente, sabe que as mudanças nem sempre são fáceis. Nós sabemos que tudo isso vai passar, mas para isso precisamos trabalhar juntos em prol da criança ou do jovem que está precisando da nossa ajuda

Como identificar que o jovem está precisando de ajuda? 

– Fique atento às modificações do corpo ou mudanças fisiológicas que levam ao desencadeamento de doença psíquica. Essa fase é de constante modificação e devemos ter muita atenção; 
 
Analisar se a pessoa possui vulnerabilidades sociais ou genéticas. As vulnerabilidades sociais são fatores de risco. Mas não é apenas avaliar a condição socioeconômica, mas questões que levam a pessoa a um detrimento da saúde mental; 
 
Fique atento aos sinais. Os pais, professores, parentes e amigos podem ser fundamentais nessa identificação. Algumas alterações de comportamento quando observadas podem salvar vidas; 
 
– Observe se o jovem fica isolado, se possui impulsividade de reação, tristeza constante, dificuldade em se relacionar com pessoas, crises de raiva ou agitação, problemas com autoestima, se gosta de comportamento de risco, se utiliza álcool ou outras drogas em excesso. 
 
– Observe se o jovem provoca automutilações, que é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão a si próprio, sem intenção de suicídio. É um fator de risco, mesmo não sendo objetivo, o suicido. Esse evento nos mostra que o adolescente pode não saber lidar com situações.

O acolhimento, a empatia e a criação de vínculos são dispositivos importantes para qualquer contato com o jovem. Lembre-se que no mundo de hoje, a pressão por resultados chega cada vez mais cedo na vida dos jovens. Por isso, essa discussão se torna cada vez mais necessária nos ambientes escolares e nos territórios. É importante criar redes de acolhimento dos jovens, impedindo que doenças tratáveis possam se tornar um perigo real. Os profissionais de saúde, principalmente enfermeiros que são o maior número de profissionais da linha de frente, devem investir na prevenção do suicídio. Para isso, torna-se necessário que os diversos atores da sociedade possam refletir também sobre a lógica de vida, de estudo e trabalho dos jovens. 

Autor

Referências

Maia RS, Rocha MMO, Araújo TCS, Maia EMC. Comportamento suicida: reflexoes para profissionais de saúde. Rev. bras. psicoter. 2017;19(3):33-42. Disponível em: http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=234 
 
Martínez Cárdenas Alberto, González Sábado Rita, Tabernilla Guerra Odalis Norma, Domínguez Morales Wendy, Reytor Ballester Danaysis. Satisfacción estudiantil sobre el manual “Prevención de la Conducta Suicida” en Medicina General Integral. EDUMECENTRO. 2021 Sep;  13( 3 ): 119-131. http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2077-28742021000300119
 
Razzouk Denise. Por que o Brasil deveria priorizar o tratamento da depressão na alocação dos recursos da Saúde?. Epidemiol. Serv. Saúde. 2016  Dez;  25( 4 ): 845-848. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742016000400018

Fonte: https://pebmed.com.br/setembro-amarelo-o-suicidio-no-mundo-contemporaneo/

Centro de Valorização à Vida lança projeto de apoio à saúde mental em estação de metrô em

O 'Plantão de Escuta' será aberto na sexta-feira (10), com atendimento na Estação Acesso Norte. 
 
Voluntários fazem escuta ativa e afetiva na estação da Lapa nesta quarta-feira

O Centro de Valorização da Vida (CVV) em parceria com a CCR Metrô Bahia, concessionária que administra o sistema de metrô em Salvador, vai lançar o projeto 'Plantão de Escuta'. A iniciativa, que terá início na sexta-feira (10), contará com uma sala na Estação Acesso Norte onde sempre haverá um voluntário do CVV disponível para quem precisar conversar.

A ação faz parte do 'Setembro Amarelo', mês de prevenção do suicídio e de incentivo aos cuidados com a saúde mental. Uma proposta semelhante começou na Estação da Lapa, também em Salvador, nesta quarta (8), e segue até o próximo dia 28. 

O Plantão de Escuta vai funcionar de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h. A interação será por videoconferência, para evitar a disseminação do coronavírus.

Além do espaço que será inaugurado, a rede do CVV funciona 24 horas por dia pelo telefone 188 ou pela internet, através do site.

Fonte: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/09/08/centro-de-valorizacao-a-vida-lanca-projeto-de-apoio-mental-em-estacao-de-metro-em-salvador-veja-detalhes.ghtml



Programa Vidas Preservadas realiza evento para discutir a relação entre redes sociais, prevenção e suicídio entre jovens

A conscientização sobre a prevenção ao suicídio perpassa por várias áreas do conhecimento, especialmente nesse momento em que as redes sociais têm assumido papel importante nas relações interpessoais. Para reunir diversos atores sociais no mês que marca as discussões sobre o tema, o Programa Vidas Preservadas, do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), promoverá, no dia 17 de setembro, às 13 horas, o evento “Real e Virtual: redes sociais e prevenção do suicídio na infância e na juventude”.

O encontro será transmitido ao público pelo canal do Ministério Público do Ceará (MPCE) no Youtube e terá a participação de membros do MP, pesquisadores, profissionais de saúde e executores de atividades preventivas no âmbito local.

O coordenador do Programa Vidas Preservadas, promotor de Justiça Hugo Porto, fará a abertura oficial do evento, especificando como o projeto que nasceu no MP está fortalecendo ações preventivas em Fortaleza e em diversos municípios cearenses. Estão entre os pontos a serem abordados as atividades como a efetivação dos Planos Municipais de Intervenção, Prevenção e Posvenção ao Suicídio e o projeto de instalação de proteções mecânicas em pontes e viadutos de Fortaleza.

O encontro contará com a realização de duas palestras. Uma será proferida pela psicanalista Fabiana Vasconcelos, que é responsável pelo desenvolvimento das metodologias de Educação e Prevenção do Instituto DimiCuida desde 2015. Fundado em 2014, o Instituto atua no sentido de preservar e valorizar a vida de jovens, especialmente em temas relacionados às chamadas brincadeiras perigosas e a desafios de Internet que colocam a vida em risco.

Haverá também palestra com a professora e fundadora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Alessandra Xavier, que coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisas e Intervenções sobre a Saúde da Criança e da Adolescência (Nusca) e é autora de livros e artigos sobre desenvolvimento humano, psicanálise, psicoterapia e suicídio. Ela aprofundará as relações entre redes sociais e a incidência de suicídios entre crianças, adolescentes e jovens.

O encontro também contará com a participação dos médicos Davi Queiroz, coordenador de Saúde Mental do Estado, e Arildo Sousa de Lima, coordenador da Célula de Saúde Mental de Fortaleza. Entre os temas a serem discutidos pelos profissionais de saúde estão a Central de Acionamento do Estado para Questão de Saúde Mental e Prevenção do Suicídio do Estado do Ceará e o Mapa da Saúde, bem como a atual situação do fluxo de prevenção ao suicídio em Fortaleza. Também fará contribuição no evento a representante da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDMCE), Suellen Pinheiro, que falará sobre a adesão do Programa Vidas Preservadas nos municípios cearenses.

Setembro Amarelo 2021

A campanha do Setembro Amarelo de 2021 do Ministério Público do Estado do Ceará é coordenada pelo programa Vidas Preservadas, do Ministério Público do Estado do Ceará. Este ano, o tema trabalhado será “Real e virtual: redes sociais e prevenção do suicídio na infância e na juventude”, com ações e eventos promovidos pelo MPCE e parceiros. O Programa, criado em 2018, visa, a um só tempo, capacitar os mais variados agrupamentos, trazendo informações preciosas para atores sociais estratégicos, e garantir recursos públicos prioritários capazes de fazerem surgir e de fortalecer políticas públicas intersetoriais e efetivas para a prevenção do suicídio

Serviço:
Real e virtual: redes sociais e prevenção do suicídio na infância e na juventude
Data: 17 de setembro de 2021
Horário: 13h
Transmissão: Canal do MPCE no YouTube

(*) Com informações Ministério Público do Ceará

Fonte: https://cearaagora.com.br/programa-vidas-preservadas-realiza-evento-para-discutir-a-relacao-entre-redes-sociais-prevencao-e-suicidio-entre-jovens/

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Setembro Amarelo: Suvisa divulga painel sobre lesão autoprovocada e suicídios

A Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde (SUVISA) e a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP), através da Coordenação de Doenças e Agravos não Transmissíveis (CODANT), elaborou e divulgou o painel sobre lesão autoprovocada e suicídios, enviado aos Núcleos e Bases Regionais de Saúde (NRS/BRS). Em alusão ao mês de “Prevenção ao Suicídio e Valorização da Vida”, a iniciativa tem o objetivo de subsidiar a realização de atividades de mobilização junto aos municípios das suas áreas de abrangência.

Foi elaborado ainda um infográfico contemplando dados e informações sobre as lesões autoprovocadas e os suicídios registrados no Estado da Bahia. Internamente, a CODANT enfatizará a importância e a necessidade de conscientização sobre a temática, disponibilizando durante este mês, na sala de espera da DIVEP, o banner com dados e informações sobre a temática e o acesso ao infográfico através de QR-code disponibilizado em cartazes afixados na unidade.


Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).

O suicídio é o resultado de uma convergência de fatores de risco genéticos, psicológicos, sociais e culturais e outros, às vezes combinados com experiências de trauma e perda. Pessoas que tiram a própria vida representam um grupo heterogêneo, com influências causais únicas, complexas e multifacetadas que precedem seu ato final.

Todos os anos, o suicídio aparece entre as 20 principais causas de morte em todo o mundo para pessoas de todas as idades. É responsável por mais de 800.000 mortes, o que equivale a um suicídio a cada 40 segundos. Na Bahia no período de 2009 a 2021, foram notificados no Sistema de Informação de Agravo de Notificações (SINAN) 12.416 casos de lesão autoprovocada (autoagressões e tentativas de suicido) e no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) 6.698 suicídios.

Para ter acesso ao painel, clique aqui.

Segue abaixo um dos gráficos do painel. Parabéns à equipe da Suvisa!

Fonte: www.saude.ba.gov.br/2021/09/03/setembro-amarelo-suvisa-divulga-painel-sobre-lesao-autoprovocada-e-suicidios/

 Setembro amarelo: tempo de repensar a vida

Rodolfo Furlan
Laís Kristyna Rocha de Oliveira

“E o que te faz viver?”. De forma simplória, poderíamos elencar vários motivos para manter a engrenagem da chamada “vida”, palavra cheia de significados – ou melhor, de existência – etimologicamente proveniente do latim “vita”.

Seja por amor a algo ou alguém (incluindo desde o “eu” até os demais pronomes relativos utilizados) seja pela ideia de oferecer ajuda à sociedade em geral (motivados pela sua espiritualidade ou não), mantemos o motor da vida em funcionamento, dia após dia, embora muitas vezes não consigamos nomear o real sentido de permanecermos nesta engrenagem.

Na verdade, quando as coisas funcionam sem grandes percalços, raramente paramos para questionar a essência da vida. Antagonicamente a esta realidade, no entanto, quando o medo, a insegurança, a tristeza ou mesmo a apatia tomam conta do sujeito em sua forma mais singular (diga-se de passagem, até mesmo solitária), eis que vem a dúvida: qual o real significado da vida? Tal pergunta fez alguns filósofos, entre eles Albert Camus escreveu em O Mito de Sísifo:

“Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental de filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois. São apenas jogos; primeiro é necessário responder.”
Diante dos questionamentos envolvendo a temática supracitada, devemos atuar ativamente na conscientização da valorização da vida e na prevenção do suicídio, um conteúdo por vezes visto como um tabu e que, em alguns momentos, ainda demanda escritas um tanto caprichosas para burlar o veto dado ao assunto polêmico.

A importância de falarmos sobre o suicídio

Quer queira ou não, as mortes autoprovocadas são um problema de saúde pública mundial (mais de 800 mil mortes por suicídio e mais de 16 milhões de tentativas todos os anos no mundo), que invade os mais diversos ambientes, atingindo desde o colega distante do trabalho, ao frequentador da mesma igreja, ao parente nem tão próximo, esvaecendo até mesmo seu amigo, cônjuge, filho, pai, mãe… ou paciente!  

Enquanto os números caem no mundo, o Brasil não para de crescer nessa sombria estatística. Brasil, México e Estados Unidos são responsáveis por um aumento de 35% no número de suicídios mundiais no século XXI, enquanto, neste mesmo período, o mundo encolheu 30%. E, acredita-se que o número seja ainda mais preocupante, visto que as subnotificações são uma realidade que permeiam muitos países e acabam por interferir na qualidade do gerenciamento dos registros oficiais, incluindo no próprio Brasil.

Haja vista a proporção alarmante de tentativas de autoextermínio, devemos estar aptos a reconhecer os sinais de alerta. Processos de introspecção, com retraimento social, perda de prazer por atividades outrora interessantes, descuido com aparência, piora do desempenho nas atividades laborais ou nos estudos, alterações no sono e no apetite, diminuição da energia, além de pensamentos de morte podem dar fortes indícios de que é hora de cuidar.

Pessoas mais acometidas

Um outro ponto de importante ressalva é o impacto do suicídio nas minorias. Cada vez mais negros, indígenas, gays, transexuais, e mulheres, tentam suicídio todos os anos. Algo precisa ser feito. Como diz a grande socióloga Michelle Alexander em seu livro “Responsibility for Justice”, quando o problema não é de ninguém, ele é de todos. E sim, de todos nós!

Além da necessidade de pôr-se em prática o conceito de integralidade no contexto de prevenção do suicídio, com a atuação dos profissionais de saúde de forma articulada e multidisciplinar diante do indivíduo em situação de vulnerabilidade, também devemos repensar o quão poderoso é o exercício de uma boa escuta, oferecendo um verdadeiro acolhimento do sujeito em sofrimento. Não menos importante, é de extrema relevância a articulação com outros setores na sociedade, promovendo ações preventivas educacionais, sedimentando a luta contra o preconceito, como o bullying, além de campanhas contra o porte e posse de armas, que matam mais e mais pessoas por suicídio em todo o mundo.

Gostaríamos de encerrar com essa frase, que resume o ato de prevenir o suicídio em todas as esferas:

O cuidado é a essência da vida, e o amor é a essência do cuidado.
Currículo dos autores:

Rodolfo Furlan. Médico Preceptor e Doutorando da disciplina de psiquiatria do HC-FMUSP. Psiquiatra do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Israelita Albert Einstein. Membro do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Pro-SER) do HC-FMUSP, do Grupo de Pesquisa em Educação Médica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e atualmente Tutor da disciplina de psiquiatria da FMUSP. Co-organizador dos livros: “Uma Nova Medicina para Um Novo Milênio: A Humanização do Ensino Médico”, “Cartas ao Dr. Bezerra de Menezes”, “Spirituality, Religiousness and Health” e do livro “Compreendendo o Suicídio”, publicado em 2021 pela editora Manole. Revisor técnico da terceira edição do livro “Espiritualidade no Cuidado com o Paciente”, do prof. Harold Koenig e da segunda edição do Tratado de Clínica Psiquiátrica do IPQ-HCFMUSP.

Laís Kristyna Rocha de Oliveira. Médica pela Universidade Estadual do Piauí; Residente do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo.

Fonte: https://pebmed.com.br/setembro-amarelo-tempo-de-repensar-a-vida/

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A diferença entre ouvir e escutar na prevenção do suicídio

Alexandrina Meleiro, psiquiatra 
 
Acender um alerta na sociedade para salvar vidas quando se fala em suicídio é tão complexo quanto o comportamento de uma pessoa com a intenção de tirar a própria vida. Ainda que nem todas as mortes possam ser evitadas, as estatísticas seriam menores com uma intervenção precoce. Mas, normalmente, só há proatividade quando a doença mental já está bem avançada e evidente.


O movimento Setembro Amarelo é um convite para a reflexão sobre a importância de fazer parte de uma rede de apoio que possa ajudar quem precisa e incentivar a busca por auxílio aos mais de 18,5 milhões de brasileiros que convivem com os transtornos de ansiedade e os 11,5 milhões que tentam lidar com diferentes graus de depressão.

Devemos entender por rede de apoio não só familiares e amigos, mas também chefes e colegas de trabalho, escola e faculdade, vizinhos, membros de comunidades religiosas e até mesmo o médico de confiança. Ou seja, todos aqueles que fazem parte do círculo social mais próximo do paciente e que estejam dispostos a ajudá-lo.

Depressão e suicídio são temas sensíveis no Brasil e, com a pandemia de Covid-19, houve um aumento significativo do número de casos. Os motivos vão desde o medo de contágio até o sentimento de perda e luto, fora o estresse causado pelos efeitos do confinamento.

Para mostrar a importância de acolher e ser acolhido, a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) apoia a campanha “Bem Me Quer, Bem Me Quero”, tendo o girassol como o símbolo da vida, que, assim como os seres humanos, precisa do apoio de todo o ecossistema para se manter firme e lindo, mesmo em dias nublados.

Todos os anos são registrados cerca de 12 mil suicídios somente no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Quase a totalidade (97%) desses casos está relacionada a transtornos mentais como a depressão, em primeiro lugar, seguida de transtorno bipolar, abuso de álcool e drogas ilícitas.

Os comportamentos e as emoções de quem pensa em cometer suicídio são vários e não surgem de uma hora para outra. As pessoas dão sinais. O afastamento dos amigos e familiares, o abandono de atividades até então importantes, a mudança drástica de humor, a baixa autoestima e os períodos de tristeza são alguns deles.

Há ainda sentimentos de raiva, falta de perspectiva, discurso negativo e vago, aumento no consumo de bebida alcoólica, uso de drogas, padrão de sono anormal e comportamento imprudente não usual. Além da automutilação, praticada por cerca de 10% dos jovens de 14 a 20 anos de idade que podem vir a tirar a própria vida. Também tem quem escreva uma carta de despedida, doe seus bens ou deixe instruções. Assim, são raras as situações em que esses problemas ficam ocultos ao longo do tempo.

E é importante deixar claro que cometer suicídio não tem a ver com egoísmo, covardia, falta de amor à vida ou fuga dos problemas. Na maioria dos casos, a pessoa busca pôr fim a um sofrimento e aliviar uma dor com os quais não consegue lidar.

Com o mundo virtual, os sintomas tendem a se exacerbar. Uma pessoa com depressão vê nas redes sociais o oposto da realidade que ela vive hoje: as fotos de jantares bonitos, um #TBT das viagens dos sonhos, relacionamentos descritos como uma história de amor sem fim, pessoas que parecem felizes o tempo todo. Esse contraste acarreta uma frustração e também afeta a vontade de viver do deprimido.

É preciso se conscientizar, despir-se do preconceito e do conceito de que depressão é frescura, preguiça ou falta de trabalho. E praticar a empatia, tentar entender a visão do mundo da outra pessoa, como ela o enxerga. Não desafiar quem diz sentir vontade de morrer, mas ouvir sem julgamentos para buscar uma forma de ajudar.

O suicídio costuma ser o desfecho de uma saúde mental já muito debilitada e da falta de perspectivas. E, em geral, quem estava perto não percebeu ou, se percebeu, duvidou do que poderia acontecer.

Para quem está em volta, a escuta ativa ajuda na construção de uma rede de apoio eficaz, que será importante na aceitação de um acompanhamento psiquiátrico e psicológico, contribuirá para a adesão ao tratamento e, consequentemente, para a recuperação do paciente.

Escutar é muito mais do que ouvir. Escutar requer dar atenção, interpretar sinais e, principalmente, oferecer apoio. É o que todos nós precisamos para nos levantar.

* Alexandrina Meleiro é psiquiatra, doutora pela Faculdade de Medicina da USP e membro do Conselho Científico da Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos)
 
Fonte: https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/a-diferenca-entre-ouvir-e-escutar-na-prevencao-do-suicidio/