sábado, 24 de fevereiro de 2018

Padre Lício publica livro sobre prevenção do suicídio

Filho de suicida, padre lança livro sobre o tema

O menino tinha 13 anos, estava entrando na adolescência, quando o pai, Elias Pereira Vale, se matou. A notícia chegou disfarçada. Disseram que ele, militar e músico da Polícia Militar do Estado de São Paulo, havia sido atropelado por um caminhão. Foi a versão que o menino, agora padre Lício de Araújo Vale, de 60 anos, carregou até os 18 anos, quando lhe contaram a verdade.

"No dia 28 de abril de 1970, sem falar nada a ninguém, meu pai beijou minha mãe e saiu de casa para trabalhar. No caminho, jogou-se debaixo de um caminhão", escreveu padre Lício, ao contar a história no livro E Foram Deixados Para Trás, uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio, quem será lançado nesta sexta-feira, 23 [de fevereiro de 2018], na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, pelas Edições Loyola.

Sacerdote desde 1983, o autor foi secretário executivo do setor Regional Sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e atualmente é pároco da igreja da Sagrada Família de Vila Praia, na Penha, em São Paulo.

O luto pelo suicídio do pai resultou em anos de sofrimento e revolta para padre Lício. "Por quê?", perguntava-se ele, como todos os parentes de uma pessoa que se mata, ao se sentirem abandonados, deixados para trás. Sua lembrança: "Meu pai, que nunca havia tentado o suicídio antes, era um homem muito sensível, bondoso, generoso, porém alcoólatra. Começou a beber compulsivamente por volta dos 25 anos e, sob efeito do álcool, transformava-se num homem agressivo e violento. Minha mãe contava que, antes de eu nascer, ele chegava em casa bêbado e, não poucas vezes, quebrava tudo. Porém, nunca bateu nela. Bateu violentamente em mim uma única vez, para eu não mais esquecer, quando eu tinha 7 anos, porque numa brincadeira de criança xinguei a professora da escola com um palavrão".

Padre Lício foi convidado a escrever o livro depois de participar de uma entrevista na Rede Vida de Televisão na noite de 9 de setembro de 2016, véspera do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Ao saber do tema, já no estúdio da emissora, ele disse que estava feliz por estar ali, porque era filho de um suicida. "Meu pai tirou a própria vida, quando eu tinha 13 anos de idade", contou ao amigo e apresentador Dalcides Biscalquin, antes do programa. Mais tarde, após anos de terapia, revelou que sua mãe também tentou o suicídio. Ela era bipolar e tomou uma caixa de comprimidos.

A reflexão sobre o suicídio do pai e sobre as consequências da perda dele para a família é mais do que um socorro de autoajuda para pessoas que enfrentam a mesma situação. Padre Lício incorpora sua experiência ao trabalho pastoral, lembrando como superou ou ainda tenta superar uma tragédia pessoal. Inicialmente odiou o gesto do pai e demorou a perdoá-lo por ele se ter matado abandonando aqueles que o amavam. A terapia foi importante nessa caminhada, mas o que parece ter sido essencial foi a busca de uma explicação na misericórdia divina.

"Várias pessoas que tiveram casos de suicídio na família recorreram a mim, como relato no livro", disse padre Lício ao jornal "O Estado de S. Paulo". Os personagens aparecem com nomes fictícios, mas as circunstâncias são narradas com detalhes. "Uma vez, fui chamado antes da polícia e vi o corpo de um suicida que se enforcou dependurado no quarto", revela o padre.

Em suas pesquisas, que incluíram especialistas na área da saúde, dados estatísticos mundiais sobre o suicídio e depoimentos de pessoas atingidas, padre Lício ouviu líderes religiosos sobre o comportamento de suas religiões em relação ao suicida. Sem exceção, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas, umbandistas e seguidores do candomblé condenam o suicídio, mas mantêm uma atitude de compreensão e misericórdia, ao analisar o gesto de quem se mata. Antes destinados automaticamente à condenação do fogo eterno, os suicidas já não discriminados como décadas atrás, quando eram sepultados em alas isoladas dos cemitérios.

http://hojeemdia.com.br/primeiro-plano/filho-de-suicida-padre-lan%C3%A7a-livro-sobre-o-tema-1.600924/e-foram-deixados-para-tr%C3%A1s-1.600932

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Suicídio e imitação: o potencial de aumento dos casos

Morte de Robin Williams coincide com aumento de suicídios nos EUA, aponta estudo

Por João Vitor Figueira 13/02/2018

Principais vítimas foram homens e pessoas entre 30 e 44 anos.

A morte de Robin Williams em agosto de 2014 causou comoção mundial. Com vários sucessos em sua carreira diante das câmeras, especialmente em papéis cômicos, foi um choque descobrir que um artista que provocou tantas risadas no público tirou a própria vida. Quase quatro anos depois, um levantamento revelou um triste impacto do falecimento do ator na sociedade americana.

Em um artigo publicado na revista científica Plos One, foi constatado que o número de suicídios nos Estados Unidos aumentou 10% nos cinco meses que seguiram a morte do ator vencedor do Oscar por Gênio Indomável (1997).

Conduzida por David S. Fink, Julian Santaella-Tenorio e Katherine M. Keyes, a pesquisa compilou informações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês). Foram analisados os dados sobre suicídios no país entre 1999 e 2015 e a partir daí os pesquisadores identificaram matematicamente como foi a progressão de casos assim ao longo dos anos.

"Nossas estatísticas indicavam que deveríamos esperar 16.849 suicídios entre agosto e dezembro de 2014; entretanto, nós observamos 18.690 suicídios neste período, o que sugere um acréscimo de 1.841 casos (9,85% de aumento). Apesar do aumento nas taxas de suicídios terem sido observadas em grupos de diferentes gêneros e idades, homens e pessoas entre 30 e 44 anos tiveram as maiores taxas de suicídios no período", diz o levantamento. "Este foi o primeiro estudo a examinar as consequências do suicídio de uma celebridade na era digital", afirmou David S. Fink, pesquisador com pós-doutorado em epidemiologia que liderou o estudo na Columbia University, em Nova York.

Pesquisas semelhantes já haviam comprovado que suicídios de celebridades costumam impactar a vida de pessoas comuns de forma tangível. "Quando outras pessoas veem uma pessoa que elas conhecem, podem acabar se identificando com essa experiência. Elas adquirem a habilidade de agir. É aí que a imprensa entra. Quanto mais pessoas ficarem sabendo de detalhes específicos, haverá, em potencial, um número maior de casos de identificação", avaliou Fink.

O estudo pontua que a Organização Mundial da Saúde orientou a imprensa reportar casos de suicídios de celebridades muito famosas sem sensacionalismo e sem entrar em detalhes desnecessários sobre os métodos que a vítima usou para tirar a própria vida. Além disso, era recomendado que notícias sobre casos de suicídio viessem acompanhadas de mensagens consistentes sobre prevenção e ajuda para pessoas que podem pensar em realizar tal ato. O levantamento diz que "é questionável" se a imprensa americana seguiu essas diretrizes ao noticiar a morte de Williams.

A morte da estrela de Uma Babá Quase Perfeita é comparada com a morte de Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, que se suicidou no auge de sua popularidade, em 1994. "Houve um impacto mínimo da morte de Cobain nas taxas de suicídio de Seattle, nos Estados Unidos, e evidências disponíveis para a consulta indicam que reportagens restritivas sobre a morte, assim como mensagens consistentes relacionadas à prevenção do suicídio durante a cobertura da imprensa podem ter ocupado um papel importante para impedir suicídios subsequentes."

Os pesquisadores afirmaram que não era possível cravar com certeza que o aumento da taxa de suicídios nos EUA entre agosto e dezembro de 2014 pode ser atribuída somente a morte de Robin Williams. Entretanto, a conclusão do estudo diz que é "improvável" que outros eventos tenham tido mais influência nas taxas de morte auto-infligida no país durante o período analisado.

http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-137784/

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Música na prevenção do suicídio: o caso do rapper Logic

Performance de Logic no Grammy triplicou ligações para Prevenção do Suicídio

Seguindo o desempenho da Logic no fim de semana passado no Grammy, a linha direta de prevenção ao suicídio viu um grande aumento nos telefonemas


Odeie-o ou ame-o, não há como negar o fato de que Logic está fazendo alguma música significativa e impactante ultimamente. Seu último sucesso com Alessia Cara “1-800-273-8255”, é uma música sobre o relógio da prevenção do suicídio e é uma tentativa de alcançar as pessoas necessitadas e deixá-las saber que não estão sozinhas. A música se transformou em um sucesso maciço e não só obteve a Logic uma indicação no Grammy para “Canção do Ano”, mas também permitiu que ele performace a música ao vivo com Alessia Cara e Khalid no domingo passado no Grammys, onde ele entregou um político e discurso de capacitação no final.

Bem, verifica-se que, seguindo o desempenho capacitador de Logic, o National Suicide Prevention Lifeline, que é uma linha nos Estados Unidos para ajudar na prevenção do suicídio e que o número é o nome da música, viu as ligações triplicar em chamadas em uma janela de 2 horas. Um porta-voz disse à  TMZ que nas duas horas após o rapper ter performado a música, a rede nacional de atendimento telefônico respondeu três vezes mais quantidade típica de chamadas na janela de duas horas.

A NSPL diz que o desempenho da Logic foi “um momento incrível na prevenção do suicídio”, e ele ajudou a demonstrar em todo o mundo que “a cura está acontecendo todos os dias para as pessoas em crise e que há ajuda disponível”.

Este não foi o único impulso nas chamadas que a linha direta viu devido a Logic. Em abril, quando ele lançou pela primeira vez a música, as chamadas para o Lifeline aumentaram 50% e houve um impulso similar ao performar no VMAs em agosto. Então, parece que sempre que Logic executa a música na televisão nacional, ele está ajudando a salvar algumas vidas.

https://portalrapmais.com/performance-de-logic-no-grammy/