sábado, 14 de dezembro de 2019

Famosos ajudam a difundir boas ideias e práticas em torno do enfrentamento à depressão e ao suicídio


Luisa Sonza revela depressão e faz desabafo: 'cansada de fingir ser forte'

 

Cantora falou sobre doença em mensagens publicadas em seu Twitter

(13 dezembro 2019)


Luisa Sonza publicou um desabafo e revelou sofrer depressão na noite desta sexta-feira, 13. A cantora é casada com o youtuber Whindersson Nunes, que já falou publicamente sobre a doença em diversas ocasiões.

"Eu não aguentava mais ficar quieta e arrumar desculpa para as pessoas inventando coisas aleatórias quando eu estou nos piores dias", afirmou Luisa em seu Twitter.

Em outro momento, a cantora prosseguiu: "Eu ando tendo que me esforçar mais do que nunca a não desistir de 'ser feliz' e ficar bem... E isso tá me cansando. É uma m***. É uma m*** você querer muito, muito acordar feliz e simplesmente não conseguir".

"Não consigo mais ficar bem por muito tempo, e faz muito tempo que estou assim, mas, por diversas razões, tenho sempre que 'segurar a barra', mas isso já me cansou. Não aguento mais 'ser forte', isso é uma m***", continuou.

"Eu menti para vocês que não tenho depressão, menti que está tudo bem. Não está, faz tempo. E eu estou cansada de fingir ser forte para vocês. Eu não sou tão forte assim e isso me frustra muito", desabafou.

Luisa Sonza parece ter feito referência a uma ocasião em setembro, quando foi questionada por fãs preocupados com um tuíte publicado por ela sobre a doença. "Eu estou bem, não estou com depressão. Não quero que confundam uma doença séria com tristeza. Eu faço terapia, me cuido", afirmou, à época.

Busque ajuda

"A doença mental limita a liberdade da pessoa e a capacidade de escolha. É importante lembrar que o suicídio está na maior parte das vezes atrelado a uma doença passível de tratamento e prevenção", explica o psiquiatra José Alberto Del Porto, pós-doutor pela Universidade de Illinois (EUA) e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento 24 horas a quem está com pensamentos suicidas ou que enfrenta outros problemas.

"Mesmo que você não tenha certeza de que precisa de nossa ajuda, não tenha receios em entrar em contato com a gente. Um de nossos voluntários estará à sua disposição", explica a equipe do site.

Fonte: https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,luisa-sonza-revela-depressao-e-faz-desabafo-cansada-de-fingir-ser-forte,70003125427

13 famosos que desabafaram sobre depressão

(16 abril 2019)

Whindersson Nunes
Na última sexta-feira (12), o youtuber e humorista Whindersson Nunes surpreendeu muitos de seus seguidores ao falar sobre um quadro de depressão que vem enfrentando há algum tempo. "Apesar de tudo de bom que vem acontecendo comigo, de tudo que já conquistei, eu me sinto há alguns anos triste", escreveu o piauiense. E completou: "Eu sinto angústia todos os dias, todos os dias, algumas risadas, algumas brincadeiras e depois lá estou eu de novo com esse sentimento ruim". Depois do desabafo, Whindersson cancelou sua agenda de shows até agosto.

Relembre a seguir outras 12 celebridades que falaram abertamente sobre a depressão.

Padre Marcelo Rossi
Em entrevista ao programa Mariana Godoy Entrevista, padre Marcelo Rossi falou sobre o período em que teve depressão, nos anos 2000: "Não sou padre por profissão, sou padre por missão. Deus me chamou. Durante a depressão, ser padre se tornou uma profissão. Não deixei de ir em nenhum compromisso, mas já não fazia com amor". A doença o afetou tão gravemente que o afastou, inclusive, de sua relação com Deus, segundo o padre: "Eu tinha preguiça de rezar o terço. Já ouviu falar do Terço Bizantino? Fazia o Terço Bizantino porque era mais rápido". O primeiro passo para tratar o problema, segundo o sacerdote, foi vencer seu próprio preconceito em relação à doença: "Achava que era frescura. Durante 19 anos da minha vida, e olha, tirei pessoas da depressão levando-as a Jesus, mas eu não acreditava".

Padre Fábio de Melo
 Em junho de 2018, o padre Fábio de Melo compartilhou em sua conta no Instagram uma tirinha falando sobre depressão e fez um relato sobre a doença: "Há um ano eu enfrentei crise de pânico e quadro depressivo. Foi o pior momento da minha vida. [...] Aprendi muito com o que vivi. Tristeza não é doença, mas, quando se estende no tempo, pode ser. É preciso estar atento à duração dela em nós. Há muita ignorância no trato com pessoas depressivas. É comum escutar que é frescura, exagero, falta do que fazer. Quando de fato se trata de um quadro depressivo, não, não é. Só quem sofre sabe!".

Paula Fernandes
A cantora sertaneja Paula Fernandes também falou publicamente sobre depressão, no programa "Vai, Fernandinha", apresentado pela atriz Fernanda Souza. A artista disse que sofreu com a doença logo no início da carreira: "Foi um conjunto de coisas: ter assumido responsabilidades muito cedo, ter me tornado arrimo de família... Com 18 anos, vi que faltava vida social". Além de um quadro grave de depressão, ela disse que foi afetada, inclusive, por pensamentos suicidas, o que a ajudou a perceber que algo realmente não estava bem: "Avistei a janela e queria pular. Aí vi que o negócio estava feio. Emagreci 7 quilos, cabelo caiu, foi 'uó'". Segundo ela, sua mãe sugeriu um tratamento psicológico e psiquiátrico, mas seu preconceito a impediu de começá-lo: "Achava coisa de gente doida. Quando aceitei o tratamento e os remédios, comecei a melhorar. Fiquei três anos no processo. Voltei a sonhar e as coisas foram acontecendo", contou a cantora.

Selton Mello
Em entrevista à revista Veja, em 2009, o ator Selton Mello revelou que havia superado recentemente um quadro de depressão grave. "Vivi um inferno", definiu o ator. Selton disse que a doença se manifestou quando ele interrompeu o uso de remédios para emagrecer, que fazia havia anos. Pesando mais de 100 kg, ele considerou até mesmo abandonar a carreira: "Isso foi ao auge do desconforto. Estou redescobrindo o prazer de atuar", confessou. Segundo Mello, duas atividades o ajudaram a se recuperar: fazer terapia e encontrar prazer em atividades físicas.

Jorge Pontual

Outro a revelar quadro de depressão foi o jornalista Jorge Pontual. Em participação no programa Bem Estar, da Rede Globo, em janeiro de 2018, Pontual disse que fazia 40 anos que tratava depressão, mas que nunca se sentia plenamente satisfeito com os remédios que tomava, até que fez um teste genético que identificou em seu DNA um gene que o predispunha à depressão e que exigia um medicamento diferente para o tratamento da doença. "Agora minha vida mudou, meu humor ficou estável, sem aqueles altos e baixos, em geral mais baixos do que altos, de antes. A depressão ficou sob controle", contou ele no programa.

Heloísa Périssé
A atriz e humorista Heloísa Périssé mostrou, em entrevista no Conversa com Bial, exibida em agosto de 2018, que é possível lidar com a depressão de maneira bem-humorada. Ao ser perguntada por Bial se estava medicada, a humorista respondeu, brincando: "Eu não estou medicada... Eu sou medicada! [...] Eu acho que é impossível não ser e encorajo todo mundo que às vezes passa por um determinado tipo de situação e fica envergonhado. Nós somos química. Existe uma química dentro do nosso corpo que se desequilibra. É normal. Eu não tenho problema nenhum com isso".

Adriana Esteves
Em entrevista à revista Marie Claire, a atriz Adriana Esteves falou sobre o quadro de depressão que enfrentou aos 23 anos de idade: "Eu havia me separado, comecei a fazer uma novela atrás da outra, com personagens grandes, ganhei exposição e tinha pouca maturidade. Fiquei perdida, não segurei a onda. E aí veio a depressão. Passei pela fase de não conseguir comer, de não sair da cama, de achar um sofrimento tomar banho, de engordar muito com o antidepressivo". Adriana contou que não considerou suicídio, mas que temeu a morte. "A dor da depressão foi tão grande que parecia que eu ia morrer e tive a chance de não morrer. A sensação que ficou é de ter ressuscitado", revelou a atriz.

Nubia Oliiver
A modelo Nubia Oliiver, em entrevista à revista Quem, falou sobre a doença e se mostrou desesperançosa em relação a uma possível cura: "Não me sinto curada e duvido que exista cura para a depressão. Apesar de ter meus médicos capacitados nessa área. Basta um 'gatilho' para voltar tudo de novo e, algumas vezes, pior. Mas descobri também que sou mais forte que isso! Que tenho uma fé inabalável e acredito que consigo ir além e fazer muito mais do que já fiz. Vou continuar lutando, diariamente. Mas hoje sei que posso vencer, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso".

Fani Pacheco
Nem toda depressão é causada exclusivamente por frustrações, decepções, situações e pensamentos negativos e/ou dolorosos. Em março de 2019, a ex-BBB e modelo Fani Pacheco falou sobre seu quadro de depressão endógena, problema que é causado por fatores de origem biológica/hereditária. "Cuido desde os 14 anos e, depois, foi recorrente aos 18, 20 e 22 anos. No meu caso, é genético, tenho de tratar para o resto da vida e é um desequilíbrio bioquímico do meu cérebro. A depressão pode aparecer por um acúmulo de frustrações ou alguma situação que somatiza os problemas e tem um desnível bioquímico no cérebro em que a medicação ajuda a nivelar. A psicoterapia é uma forma de resolver esta situação que ficou pendente, esses comportamentos emocionais que somatizaram, e a depressão não volta a acontecer. Precisa solucionar a causa. O importante é tratar da saúde mental como trata o resto do corpo", explicou ela.

Nesta matéria ainda são citados os ídolos internacionais Adele,Jim Carrey e Demi Lovato.

Fonte: www.bol.uol.com.br/listas/13-famosos-que-desabafaram-sobre-depressao.htm


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Comitê Permanente de Prevenção do Suicídio é instituído no Distrito Federal

Secretaria institui o Comitê Permanente de Prevenção do Suicídio


Foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal desta quarta-feira (11) a Portaria Nº 1.003, que instituí o Comitê Permanente de Prevenção do Suicídio. O colegiado tem como atribuições elaborar, coordenar, acompanhar e avaliar as ações de prevenção do suicídio previstas no Plano Distrital de Prevenção do Suicídio 2020-2023.

Toda a população do Distrito Federal será beneficiada com a instituição e a organização do comitê, uma vez que essas ações ordenadas se tornam mais efetivas. Faremos uma ação de integração com outras secretarias e outras entidades para termos melhores resultados para esse problemática grave de saúde pública”, destaca a diretora de Serviços de Saúde Mental, Elaine Bida.

O Comitê Permanente de Prevenção do Suicídio também é responsável por articular ações de prevenção de suicídio com outros servidores da pasta, em parceria com as demais secretarias do Governo do Distrito Federal e outros setores da sociedade – instituições de ensino superior, sociedade civil organizada, representantes da mídia, lideranças comunitárias, agentes políticos e demais interessados na temática da prevenção do suicídio.

O comitê é composto por especialistas da área. Conta com representantes da Diretoria de Serviços de Saúde Mental, da Subsecretaria de Vigilância à Saúde, da Coordenação de Atenção Primária à Saúde, dos Hospitais Gerais, do Hospital Psiquiátrico e Residência Médica, dos serviços ambulatoriais, de unidades do Centro de Atenção Psicossocial (CAP) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Outras pessoas, servidores ou não da secretaria, poderão ser convidadas a participar do planejamento, da articulação e da execução do plano, a critério do comitê.

* Com informações da Secretaria de Saúde

Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br/cidades/comite-permanente-de-prevencao-do-suicidio-instituido-nesta-quarta/

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Debate sobre prevenção do suicídio na Câmara dos Deputados

Sociedade deve ser sensibilizada sobre prevenção ao suicídio de crianças, dizem especialistas 


Especialistas e deputados apontaram a importância da informação e da sensibilização da sociedade sobre a prevenção das lesões autoprovocadas e dos suicídios de crianças e adolescentes. Eles participaram nesta quarta-feira (4) do seminário “O papel dos educadores na prevenção do suicídio de crianças e adolescentes”, promovido pela Câmara dos Deputados


Cleia Viana (4 dezembro 2019)

O deputado Lucas Gonzalez (Novo-MG), presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio e Automutilação, afirmou que é fundamental promover eventos dessa natureza, em que busca sensibilizar a opinião pública para uma questão que afeta não apenas adolescentes e jovens, mas também suas famílias e amigos.

Assunto foi debatido nesta quarta-feira (4/12/2019) na Câmara

“São fóruns como esse que vão nos levar a uma reflexão maior: que pode ter alguém do meu lado, um colega de trabalho, alguém da minha família, um amigo de muitos anos, que esteja sofrendo na alma, não esteja expressando isso e precise de um abraço, de um sorriso, de um tempo junto, de um apoio”, disse.

Gabriel de Souza Rodrigues, que gerencia um grupo de enfrentamento à depressão e ao suicídio do Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga, no Distrito Federal, contou um pouco sobre o projeto, que promove a saúde mental e é realizado conjuntamente com os estudantes.

“Para nós, enquanto escola, importa esquecer um pouco o boletim para dar um pouco de vida e esperança. Precisamos ensinar que a vida tem valor e que ela não pode acabar num problema que se enfrenta. Trabalhar a questão da depressão e do suicídio perpassa pelo aprendizado da vida. Se a educação trata de questão de futuro, você precisa estar vivo para chegar lá”.

Para o professor, esse trabalho poderia ser ainda melhor caso as escolas contassem com profissionais especializados, como psicólogos, assistentes sociais e psiquiatras.

O profissional de saúde Elias Lacerda lembrou que a derrubada, pelo Congresso, de veto presidencial a projeto que garante atendimento psicológico e de assistentes sociais aos estudantes do ensino fundamental e médio pode contribuir com esse trabalho de prevenção.

Orientação aos professores


Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, informou que um trabalho conjunto envolvendo quatro ministérios deve levar aos professores da rede pública do país educação permanente sobre como atuar em relação ao sofrimento psíquico e às lesões autoprovocadas pelos alunos.

“Elaboramos um conteúdo pedagógico com auxílio da Sociedade Brasileira de Pediatria e a de Psiquiatria para elaborar curso de formação que vai ser entregue em janeiro de 2020 para todas as escolas públicas. Vamos formar os professores através de cursos de EAD e palestras presenciais”.

Mayra disse ainda ser fundamental que o Governo regulamente o mais rapidamente possível a lei que dispõe sobre a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio.

Dentre outros objetivos, a lei busca garantir o acesso à atenção psicossocial das pessoas em sofrimento psíquico agudo ou crônico, especialmente daquelas com histórico de ideação suicida, e promover a notificação de eventos e o aprimoramento de métodos de coleta e análise de dados sobre automutilações, tentativas de suicídio e suicídios consumados para subsidiar a formulação de políticas.

Caps


Mayra Pinheiro lembrou que estatísticas indicam pequena redução de automutilações e suicídios em áreas em que funcionam centros de atenção psicossocial, os Caps, unidades que atendem pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Mas ressaltou que muitas dessas unidades estão desativadas em todo o país.

Reportagem - Eduardo Tramarim
Edição - Ana Chalub

Fonte: www.camara.leg.br/noticias/622285-sociedade-deve-ser-sensibilizada-sobre-prevencao-ao-suicidio-de-criancas-dizem-especialistas/

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Caso de uma sobrevivente suicida, felizmente acolhida e cuidada...

 Tentou o suicídio por quatro vezes


“Rute” (nome fictício) é um dos sete utentes que tiveram comportamento suicidário que a MenteMovimento está a acompanhar no âmbito do Projeto Habitus


Giselia Nunes (28 novembro 2019)

“Queria adormecer e não acordar mais”, repetiu “Rute” várias vezes durante a conversa com a nossa reportagem, de mais de uma hora e meia. Natural do concelho de Oliveira de Azeméis, esta mulher de apenas 45 anos, divorciada e com uma filha, abriu-nos o livro da sua vida, partilhando vivências que não lembram ao diabo! Ao ponto de nos levar a autoquestionar como é que (sobre) viveu até hoje.

Ao labor, “Rute” começou por relatar uma infância “com muitos problemas em casa”. Mesmo após os pais se terem divorciado, as discussões continuaram a ser o “prato do dia” e ela só queria acabar com aquele “pesadelo”. Tanto que, e uma vez que não conseguiu concretizar o sonho de “entrar em Belas Artes”, no Porto, “viu no casamento “uma oportunidade de sair de casa”. Na altura, “já tomava depressivos, havendo dias em que andava completamente noutro mundo”, admitiu ao nosso jornal.

 “Rute” casou um dia antes de completar 22 anos com um rapaz mais velho, amigo de um antigo namorado, e já depois de ter tentado o suicídio pela primeira vez por ingestão medicamentosa. Ao todo, e sempre utilizando o mesmo método porque diz ter “medo da dor”, foram quatro as tentativas que cometeu até ao momento. Nenhuma delas com sucesso, felizmente.
Ao casar, “foi pior a emenda do que o soneto”
Ao casar, “foi pior a emenda do que o soneto”. Além de “possessivo e ciumento”, como já era quando namoravam, o marido também bebia e consumia drogas, o que “Rute” só veio a saber quando foi viver com ele. Um quadro familiar que viria a piorar com episódios de violência doméstica, de tal forma que “chegava a estar noites e noites acordada com medo dele, porque ele tinha uma faca”, com dívidas por causa do álcool, etc.

“Rute” chegou mesmo a ter vergonha de sair à rua até ao dia em que, com a ajuda do pai, abandonou a casa. Também o divórcio não foi fácil. Mas, “após inúmeras tentativas”, “consegui livrar-me dele e nunca mais o vi até hoje”.

Fechado este “capítulo”, não demorou muito tempo a ter outro relacionamento que, de igual modo, deixou muito a desejar. “Rute” conheceu o segundo marido, pai da sua filha, no local de trabalho, o qual “já tinha outra maneira de ser, de estar”. Mas todo este encantamento “foi sol de pouca dura”. “Começámos [também] a ter muitas discussões”, o que complicou quando “Rute” descobriu que tinha cancro da mama. A sua filha tinha quatro anos quando soube que estava doente.
O marido nunca a acompanhou a uma consulta nem sequer aos tratamentos. Como se não bastasse, “quando chegava a casa dos tratamentos muito mal, ele era agressivo”. “Via-me a perder o cabelo, as pestanas, e reagia como se eu tivesse uma simples gripe”, contou “Rute”, que mais tarde viria a confirmar que era traída.

Tentou pôr termo à vida, novamente, já a filha “tinha seis, sete anos”. Só o facto de não poder pegar na menina ao colo devido à doença fê-la sentir que “era um empecilho, que estava ali a mais”. Chegou até a fazer um vídeo de despedida para a filha, que o pai fez questão de lhe mostrar.
Ao fim de quase 14 anos, e de viver mais um “verdadeiro filme de terror”, “Rute” tentou suicidar-se mais duas vezes. Mas (sobre)viveu! Confidenciou ao nosso semanário que, apesar do “enorme vazio que sempre sentiu”, “há uma força” que a mantém agarrada à vida. E essa “força” é a sua filha, de 18 anos, que, presentemente, está com o pai, mas com a qual tem uma boa relação. “O simples facto de querer continuar a lutar deve-se a querer deixar esse exemplo para a minha filha, quero que ela saiba que a mãe sempre lutou, apesar das dificuldades”, garantiu.
“Rute” ficou a saber do Projeto Habitus e da MenteMovimento através do hospital
“Rute” reside em S. João da Madeira (SJM) há alguns anos. Após mais uma relação amorosa fracassada, vive agora sozinha e encontra-se desempregada, tendo voltado “a ter crises de ansiedade, de nervosismo, de querer partir tudo”. No Hospital de Dia de Psiquiatria, instalado na unidade hospitalar de S. João da Madeira, foi-lhe diagnosticada Síndrome de Borderline ou perturbação de personalidade borderline. Após tantos anos de sofrimento, ficou a saber que tem um transtorno mental grave caracterizado por um padrão de instabilidade contínua no humor, no comportamento, autoimagem e funcionamento.

Também no Hospital de Dia de Psiquiatria ficou a conhecer o Projeto Habitus e a MenteMovimento. E abençoada a hora que isso aconteceu.  Nesta associação fundada em outubro de 2016 por um movimento cívico de utentes, profissionais de saúde e cuidadores informais, da qual faz parte há meio ano, encontrou “pessoas amigas, que se preocupam comigo”. Aliás, “Rute” aceitou dar este testemunho ao labor, “porque a MenteMovimento tem-me ajudado muito”. Além disso, esta sua partilha é também um apelo para que “as pessoas não deixem de dar apoio quando alguém pede ajuda, para que não ignorem”.

“Eu e outros como eu podemos nem pedir ajuda verbalmente, mas fazemo-lo através de sinais (partir tudo discutir, multas, dívidas, etc.)”, referiu, acrescentando que “os outros normalmente só julgam quando deviam questionar mais, deviam olhar para este problema com olhos de ver”. Em seu entender, “as pessoas nem se apercebem que um dos maiores problemas da sociedade é a saúde mental”. “A maior parte diz que está bem e não está. Devemos estar mais atentos”, alertou.

MenteMovimento acompanha pessoas que tiveram comportamento suicidário

E realmente o alerta de “Rute” faz cada vez mais sentido.  Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) estamos mesmo perante “uma epidemia” que mata no mundo uma pessoa a cada 40 segundos. De acordo com os dados mais recentes da OMS, o suicídio é responsável por cerca de 800 mil mortes por ano, apresentando uma taxa maior nos homens do que nas mulheres. E – imagine-se! – na faixa etária entre os 15 e os 29 anos, surge como a segunda causa que mais mata, logo a seguir aos acidentes rodoviários.

Em SJM este “problema de saúde pública” não passa ao lado de quem de direito. Há mais trabalho a ser levado a cabo para além do que é feito pelo Hospital de Dia de Psiquiatria. Tanto que “Rute” é um dos sete utentes que tiveram comportamento suicidário que a MenteMovimento está a acompanhar.

Nesta associação sediada na cidade, integra a Unidade Sócio-Ocupacional, um dos eixos de intervenção do Projeto Habitus cuja entidade promotora é a câmara municipal, que tem como população alvo adultos com experiência de doença mental, clinicamente estáveis, que tenham possibilidade de inserção e reabilitação. Ou seja, nesta unidade não são admitidos indivíduos em casos de deficiência intelectual; consumos de álcool e/ou de substâncias ilícitas; sem adesão terapêutica; demências e doenças neuro degenerativas; sem acompanhamento médico; e/ou que apresentem, em crise, comportamentos agressivos, que possam comprometer a integridade física de outros ou do próprio.
Unidade Sócio-Ocupacional tem 34 utentes
 Os objetivos da Unidade Sócio-Ocupacional são – como explicou ao nosso jornal Ana Ferreira, terapeuta ocupacional da MenteMovimento –  apoiar a nível psicossocial pessoas com experiência de doença mental e dos seus cuidadores; promover atividades ocupacionais e grupos terapêuticos; proporcionar um espaço seguro onde a pessoa se possa expressar de forma livre e usufruir da partilha de experiências; e adquirir competências pessoais e sociais com vista à preparação para a integração profissional.

Presentemente, “temos em funcionamento um conjunto de oficinas sócio-ocupacionais e grupos terapêuticos, quer para os utentes quer para os cuidadores informais, que permitem o desenvolvimento de competências funcionais, no sentido de potenciar oportunidades de participação e inserção social, a todas as pessoas que nos procuram”, prosseguiu a responsável.

Fazendo as contas, no total, são 34 os utentes que se encontram em acompanhamento. Provenientes da região de Entre Douro e Vouga (Oliveira de Azeméis, Arouca, Vale de Cambra, S. João da Madeira e Santa Maria da Feira), são maioritariamente do sexo feminino e com idades compreendidas entre os 26 e os 61 anos.

Ainda a propósito, Ana Ferreira avançou que, destes 34, sete tiveram um comportamento suicidário, principalmente por ingestão medicamentosa. Situação que, como adiantou, se verifica “mais no género masculino, com idades compreendidas entre 26 e os 61 anos”. Além disso, informou que todos os utentes (com ou sem comportamento suicidário) foram referenciados pelo médico de família ou médico psiquiatra, através do preenchimento de uma ficha de referenciação.

CHEDV tem Consulta de Prevenção de Comportamentos Autolesivos e Suicidários
O Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (CHEDV) tem a funcionar no Hospital de S. João da Madeira, desde janeiro de 2017, a Consulta de Prevenção de Comportamentos Autolesivos e Suicidários. Criada no âmbito do Projeto de Prevenção do Departamento de Saúde Mental do CHEDV e contando com três profissionais (dois psiquiatras e uma psicóloga clínica), trata-se de uma consulta apenas de referenciação interna, para pessoas que já sejam acompanhadas em consulta de Psiquiatria Geral, com mais de 18 anos e que, pelo quadro clínico, exijam um acompanhamento especializado nesta área.

Em declarações ao labor, a sua coordenadora, Ana Cristina Lopes, não pôde adiantar o número de utentes que estão a ser seguidos. Mas partilhou algumas informações detalhadas sobre o Projeto de Prevenção do Departamento de Saúde Mental que esteve na sua génese. Este – segundo disse a psiquiatra que participou em outubro passado na tertúlia “Prevenção do suicídio: falar é o melhor remédio!”, promovida pela MenteMovimento em S. João da Madeira – surgiu em 2016 enquadrado no Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (2013-2017).
 
Focando-se na articulação com as estruturas da comunidade, de forma a sinalizar e apoiar indivíduos que possam estar em risco na região, este projeto do CHEDV aposta em ações de sensibilização e no trabalho em rede. Além de ações destinadas à população em geral, como a que teve lugar na Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, em outubro de 2017, houve outras direcionadas aos porteiros sociais (psicólogos, professores, assistentes sociais), militares da GNR, agentes da PSP e bombeiros, na Torre da Oliva, em novembro de 2018.

O projeto também colaborou na organização do II Encontro do Fórum Social da União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca, Sanfins e Espargo, este ano, no Dia Mundial da Saúde Mental – Prevenção do Suicídio (10 de outubro) e tem vindo a articular com a Rede Local de Intervenção Social (RLIS). Nota ainda para, em termos de articulação com os cuidados de saúde primários, as ações de sensibilização para profissionais de saúde do ACeS Aveiro Norte (sete sessões replicadas em três centros de saúde – S. João da Madeira, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis), em janeiro de 2018.

No que diz respeito a cuidados especializados hospitalares, além da Consulta de Prevenção de Comportamentos Autolesivos e Suicidários, Ana Cristina Lopes falou-nos ainda da terapia de grupo e da articulação com equipa de enfermagem do Serviço de Urgência para sinalização dos utentes admitidos por comportamentos suicidários e autolesivos. Por último, referiu-se ao desenvolvimento de um projeto de investigação com a Universidade de Aveiro na área da literacia em depressão e suicídio, na sequência de uma candidatura aprovada e financiada no âmbito do Concurso “Comunicar Saúde”.

Fonte: https://labor.pt/home/2019/11/28/tentou-o-suicidio-por-quatro-vezes/

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Amanda Ramalho, do ‘Esquizofrenoias’, dá 6 dicas para manter a saúde mental em dia   

 

Amanda Ramalho se tornou uma referência quando o assunto é saúde mental. Ciente do potencial das novas tecnologias de informação, a comunicadora atrai atenção, sobretudo entre os mais jovens, pela forma descolada e sem estereótipos com que fala sobre assunto delicados como depressão e suicídio.

Ela é a criadora do ‘Esquizofrenoias’, podcast que nasce para discutir as questões da mente sem rodeios. O trabalho fez tanto sucesso, que foi indicado ao prêmio ‘APCA’ como melhor podcast.

 

A ideia do podcast veio da necessidade de falar sobre o tema. Eu convivo com ansiedade e depressão desde minha infância. Fui diagnosticada aos 16 mas, com 5 anos já sentia o coração disparar tanto que minha mãe me levava em cardiologistas. Fiz eletrocardiograma. Evidentemente, não dava nada. Tenho 33 anos e sempre sonhei em abordar o tema. Triste pensar que nesse tempo todo ninguém pensou em falar a respeito da maneira que eu faço, mais leve, livre, sem glamour, quase que didático.

Depois de uma longa entrevista com a jovem paulistana, o Hypeness pediu que Amanda desse seis dicas para melhorar a saúde mental de maneira fácil e prática.

Dicas de Amanda Ramalho


Durante o ‘Esquizofrenoias’ eu e o convidado da semana damos dicas simples para melhorar sua saúde mental de maneira fácil e prática. A convite do Hypeness, selecionei seis delas.

1. Abrir a janela e comer macarrão

É muito comum em dias tristes não abrirmos a janela por autonegligência, esquecimento ou aquela vontade de deixar tudo escuro para dormir mais e mais.

Neste dias, crie coragem, levante da cama e deixe o sol entrar. Quem nunca ouviu sobre os benefícios da vitamina D para a depressão?

O macarrão reabastece nossas reservas de energia. O prato facilita a captação do triptofano, que nada mais é que um precursor da serotonina. Sobre o sol, experimente 20 minutinhos por dia e muita coisa boa vai te acontecer.

2. Ter um animal


Se você decidiu fazer algumas mudanças permanentes para a sua saúde mental, ter uma animalzinho é terapêutico. Eu tenho três. Mas não precisa de tantos assim, tá?

A troca que recebemos de um cãozinho ou um gato é a melhor sensação que alguém pode experimentar. Sei que nem todo mundo pode ter um animal, mas já pensou na dedicação que podemos dar a uma planta? É igualmente satisfatória. É tão visual vê-la crescer forte, acompanhar as evoluções. Dá uma ótima sensação de bem-estar.

3. Higiene do sono

Dormir bem é talvez a atitude mais efetiva que alguém pode tomar para melhorar a vida. Das dicas que dei até agora, essa vai te causar mais resistência. Vamos por partes: qual a cor da lâmpadas do seu quarto?

Se você respondeu brancas, faça o possível para trocá-las por amarelas o mais rápido possível. Por quê? Porque as lâmpadas amarelas trazem sensação de aconchego. São um descanso para os olhos. Diferente das brancas, que significam atenção e foco. Tudo aquilo que não queremos antes de dormir.

4. Modo soneca

Adormecer com o celular na mão é um estímulo para a atenção. Isso faz com que você demore a pegar no sono. Quando acordamos no meio da noite para dar aquela VERIFICADA nos e-mails e nas redes sociais, sem perceber perdemos algumas horas de sono por ficarmos mais alertas.

Dormir bem ajuda no aprendizado e melhora nossa memória de longo prazo. Se você é desses que sempre verifica o aparelho durante a noite, experimente deixar o celular na sala ou na cozinha antes de dormir. Depois me conta os benefícios.

5. Lavanda e aromaterapia

A aromaterapia é uma grande aliada da saúde mental. Uma gotinhas de óleo essencial no seu difusor do quarto ou mesmo no travesseiro ajudam a pacificar o ambiente e deixar o seu cérebro menos ativo. Com isso, você vai ter o almejado sono de qualidade.

Há quem diga que dormir é perda de tempo…

6. Fale, mas ouça

Expor sentimentos nunca é fácil, ainda mais se você não está acostumado. Carregamos fardos desnecessários que quando são verbalizados e divididos, diminuem de tamanho consideravelmente. Você não precisa passar por tudo isso sozinho.

Fale com alguém e quando alguém desabafar com você, apenas ouça. Não julgue. É justamente o medo do julgamento que faz com que a maioria das pessoas prefira sofrer sozinho.

O que te faz mal? Você sabe responder? Muitos desses gatilhos são evitáveis. Por que não mudar seu comportamento? Autoconhecimento é isso, saber os seus limites e o que suas atitudes podem acarretar em você mesmo. Existem muitos gatilhos evitáveis. Por que não evitá-los?

Ficou interessado em saber mais sobre dicas e métodos para manter a saúde mental em dia? Amanda Ramalho conversou com o pessoal do Instituto Vita Alere – que atua na prevenção e posvenção do suicídio – sobre transtorno bipolar, medicação e bem-estar.


O podcast ‘Esquizofrenoias’ preparou um especial sobre o ‘Setembro Amarelo’ tratando de depressão. Na conversa com Verônica Faxina Boa, que depois de enfrentar a depressão, se tornou, talvez, a primeira faxineira criadora de conteúdo.

* Amanda Ramalho é comunicadora e apresenta o podcast ‘Esquizofrenoias’.

Fonte: https://amp.hypeness.com.br/2019/10/amanda-ramalho-do-esquizofrenoias-da-6-dicas-para-manter-a-saude-mental-em-dia/

Profissionais de segurança recebem apoio emocional


Rede de Proteção à Vida (RPV) realiza trabalho com a Polícia Civil e agentes da Penitenciária Feminina 


As estatísticas mostram números reflexivos. A maior causa de mortes entre os profissionais de segurança não é por confronto. É pelo suicídio. É uma categoria que está exposta a uma rotina difícil que reflete em transtornos psicológicos.  A 13ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que 75% dos casos de mortes de policiais não ocorreram durante operações. O suicídio se tornou uma situação grave. Neste ano o 19º Batalhão da Polícia Militar no Vale do Araranguá fez um trabalho junto a Rede de Proteção à Vida (RPV), depois foi a vez do 9º Batalhão de Polícia Militar atingir toda a corporação em Criciúma. Novembro é o mês de serem realizadas ações junto a Polícia Civil de Criciúma e a Penitenciária Feminina.

Ao longo do mês de novembro, integrantes da Rede de Proteção à Vida (RPV) desenvolvem encontros semanais com os profissionais da segurança que foram divididos em escala, tanto na Polícia Civil que findou os trabalhos na última semana, quanto na Penitenciária feminina.
O ciclo de palestras possui objetivo de promover a reflexão e o bem estar emocional dos profissionais de segurança. Todos os policiais civis integrantes da Delegacia Regional de Criciúma participaram de um encontro, fruto da sensibilidade do delegado regional Vitor Bianco Junior, que viu a necessidade de estender este olhar aos policiais. Realizaram as atividades da RPV na Polícia Civil o palestrante Jefferson Sotero, as psicólogas Geisa Rosso e Marcia Helena Pereira Fedalto, o policial civil Almir Fernandes de Souza e o músico Paulo Araújo.


A diretora da Penitenciária feminina, Bárbara Santos de Souza, também organizou grupos de profissionais a fim de todos participarem do momento de reflexão, autoestima e acolhimento.  As atividades são desenvolvidas no presídio pelo palestrante Jefferson Sotero e o músico Paulo Araújo. O voluntário Eduardo Schaucoski realizou os registros fotográficos tanto na Civil quanto no presídio.
O desafio de cuidar é grande, tanto que o cuidador também precisa de cuidados. Surge então a atenção ao cuidador da área de segurança pública. A necessidade do cuidado para quem dedica a sua vida a proteger a vida dos outros. A equipe da RPV possui embasamento para trazer à tona o debate em torno da saúde do trabalhador  com cuidados a sua saúde mental.
RPV

A Rede de Proteção à Vida (RPV) é um movimento voluntário e cidadão, com foco na valorização da vida e prevenção do suicídio, sem credos, sem partidos. Busca sensibilizar a sociedade sobre a importância do tema. Fazem parte: Polícias Militar/Civil, ACIC, Assoc. Criciumense para Saúde Mental/Ceres, Serv. de Psicologia Aplicada Esucri/SPAE, Núcleo de Prevenção às Violências e Promoção da Saúde/Nuprevips, SAMU, Compev, Centro de Valorização da Vida – CVV, GASS – Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio, Sociedade de Psicologia de Criciúma, FIESC/Sesi. Acesse o site: www.protecaoavida.com.br, e conheça o trabalho. Seja voluntário. E-mail: contato@protecaoavida.com.br. As redes sociais com informações regionais são o Facebook: facebook/redeabraceumavida/ e o Instagram: @rpv_vida.

Fonte: https://www.uaaau.com.br/imprensa-livre/profissionais-de-seguranca-recebem-apoio-emocional

sábado, 9 de novembro de 2019

Suicídio no futebol: a luta de Teresa Enke para que tragédias como a do seu esposo não se repitam

"Tenho de dar significado à tragédia". Dez anos depois, Enke vive pela voz da mulher, Teresa, que luta para que a história não se repita


Mariana Fernandes (9 nov 2019)

A 10 de novembro de 2009, Enke pôs termo à própria vida. Dez anos depois, é a mulher, Teresa, que luta todos os dias para que a história sem final feliz do guarda-redes alemão não se repita.

Tem de existir sempre um ponto de viragem. Um acontecimento que marca um antes e um depois. Que altera as perspetivas, obriga a mudanças, torna preponderante uma reviravolta no que tinha existido até aí. Para Teresa Enke, é por isso que o marido é um mártir. Para Teresa Enke, a utilização da palavra forte e dura é correta porque tudo mudou desde que o marido morreu. Pode não ter mudado de repente, pode não ter mudado de um dia para o outro e pode ainda estar a mudar, uma década depois: mas tudo mudou. Há 10 anos, Robert Enke perdeu a defesa da própria vida e suicidou-se numa estação de comboios na Alemanha. E Teresa Enke carrega esse dia todos os dias para “dar significado à tragédia”.

A 10 de novembro de 2009, o mundo parou em choque para ouvir a notícia da morte de Robert Enke. O mundo do futebol, o mundo do desporto e o mundo no geral ficaram incrédulos a olhar para televisões, a ler jornais e a ouvir rádios quando souberam pela primeira vez que Robert Enke tinha morrido. Não só porque tinha 32 anos, não só porque era o guarda-redes titular do Hannover, não só porque era o principal candidato à baliza da seleção alemã no Mundial da África do Sul: mas porque o que tinha acabado de acontecer era diferente de tudo aquilo que conhecíamos até então. Enke, com uma carreira que tinha passagens pelo Benfica e pelo Barcelona e que parecia estar finalmente a ter reflexo na seleção, tinha colocado termo à própria vida. A crueldade da situação, a frieza com que tudo aconteceu — sem aviso, sem preparação –, deixou-nos em pânico. Como é que Enke, que parecia ser mais um ao lado de todos os outros jogadores de futebol, tinha feito aquilo?

Os dias que se seguiram trouxeram respostas. Todas dadas, sem pruridos, sem receios, por Teresa. “É uma loucura porque agora tudo se sabe, de qualquer forma. Pensámos que conseguíamos fazer tudo e fazer tudo com amor mas nem sempre se consegue. Foi o medo daquilo que as pessoas iriam pensar quando se tem uma criança e o pai sofre de depressão. Sempre lhe disse que isso não era um problema. O Robert cuidou da Leila com amor, até ao fim. Depois da morte da Lara tudo nos aproximou. Tentei dizer-lhe que há sempre uma solução. Levava-o aos treinos. Queria ajudá-lo a ultrapassar tudo. Mas ele já não queria ajuda”, disse a mulher do guarda-redes no dia do funeral. Lara, a primeira filha do casal, morreu devido a uma problema cardíaco; em maio de 2009, seis meses antes de morrer, Enke e a mulher adotaram Leila. Foi o incontrolável medo de perder a filha que impediu o jogador de revelar que estava a lutar contra uma grave depressão.

Teresa Enke é fundadora e presidente da Fundação Robert Enke

Depressão essa que não era propriamente uma novidade. Ainda que o ano de 2009 tenha sido o mais complexo, existiram outros alertas ao longo do tempo: o ataque de pânico que teve logo depois de assinar pelo Benfica e que quase o fez desistir de se mudar para Portugal; a forma pouco saudável como reagiu ao facto de ser suplente de Víctor Valdés no Barcelona; o bloqueio que sofreu durante um jogo ao serviço do Fenerbahçe; o estado depressivo em que se afundou logo depois da morte da filha, em 2006. Tudo isso, embora com altos e baixos, culminou naquele dia há 10 anos porque se arrastou e avolumou como uma bola de neve. “Ele sofria de depressão e medo de falhar. Apesar de fazer terapia diária durante meses, não conseguiu evitar o suicídio”, explicou Valentin Markser, médico que acompanhou o guarda-redes na passagem pelo Barcelona. Segundo o especialista, Enke pediu desculpa à família e aos profissionais de saúde na carta que deixou por ter mentido deliberadamente de forma a fazê-los acreditar que estava melhor.

Dez anos depois, o mundo do desporto atravessa uma fase de viragem e de autêntica revolução no que toca à saúde mental. Se a NBA inovou com a criação de um plano obrigatório e transversal a todas as equipas para evitar e prevenir situações de risco, são cada vez mais os jogadores de futebol que revelam que ultrapassaram depressões, ansiedades, ataques de pânico. Buffon, Ederson e Marcelo estão entre os mais recentes mas também Gary Neville, Ferdinand e Iniesta já confessaram ter sofrido de situações semelhantes. Na Alemanha, o país de Enke, todas as academias de todos os clubes de futebol têm equipas de psicólogos e terapeutas preparadas para lidar com jovens jogadores e convencê-los, desde muito novos, de que é normal e aceitável admitir que não está tudo bem. No futebol profissional, porém, as coisas não são assim tão sim

A base do problema é que tudo o que tem a ver com saúde mental ainda é abordado com ansiedade. Tem tudo a ver com a forma como as pessoas maquilham a própria mente. Tendem a tentar continuar a funcionar para lá do problema durante o maior período de tempo que conseguirem, mesmo quando já estão a sofrer. A dor mental é muito diferente da dor física”, explicou Marion Sulprizio, uma psicóloga desportiva, durante uma conferência organizada pela Fundação Robert Enke. A Fundação, criada por Teresa Enke, tem como objetivo combater o preconceito contra as perturbações mentais no desporto no geral e no futebol em particular e organiza várias ações de sensibilização para aprofundar o tema.

Há dois anos, por ocasião daquele que seria o 40.º aniversário de Enke, Teresa deu uma entrevista ao Telegraph onde revelou que o plano do alemão, depois de terminar a carreira, era regressar a Lisboa com a família e tornar-se treinador de guarda-redes no Benfica, onde passou “um dos períodos mais felizes”. Dez anos depois da morte de Enke, é Teresa quem tenta prolongar o legado do jogador para “quebrar o estigma, quebrar o tabu, mostrar que a doença mental é algo que pode ser curado e que não há nada de errado em admitir que temos um problema”, como explicou ao jornal inglês. Enke vive através da filha, que tem agora oito anos, através do futebol e através da memória de todos aqueles que a 10 de novembro de 2009 pararam em choque em frente a uma televisão, a uma rádio ou a um jornal. Mas vive principalmente através de Teresa, que o honra e homenageia nos mais simples pormaiores: como o facto de, há poucas semanas, ter enviado pessoalmente uma carta ao maquinista do comboio que acabou por atropelar o alemão. “Não sei o seu nome mas queria dizer-lhe que o Robbi nunca quis envolver mais ninguém na sua própria morte. Peço imensa desculpa. E sei que o Robbi diria exatamente o mesmo”, escreveu.

Fonte: https://observador.pt/2019/11/09/tenho-de-dar-significado-a-tragedia-dez-anos-depois-enke-vive-pela-voz-da-mulher-teresa-que-luta-para-que-a-historia-nao-se-repita/



quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Um gol de placa, a serviço da vida!

Campanha de prevenção ao suicídio do Fortaleza Esporte Clube é finalista em premiação 

Uma série de notícias a respeito de pichações nos muros do Fortaleza Esporte Clube viralizou há uns tempos atrás justamente porque ninguém entendeu o que estava acontecendo de errado. O time seguia por uma boa fase, com 3 títulos em 6 meses, havia acabado de receber a taça da Copa do Nordeste, quem poderia fazer aquilo? Acontece que o próprio foi responsável pelas pichações.



As pichações traziam frases como “acabou a paz”, “desisto, é o fim” e “eu não aguento mais” e faziam parte de uma campanha de prevenção ao suicídio elaborada em parceria com o Ministério Público. Com o nome de “Virando o Jogo” a campanha veio para mostrar que mesmo que pareça estar tudo bem, ainda é possível que não esteja.

Após serem notadas e repercutidas, as frases foram substituídas por mensagens de apoio à prevenção do suicídio. No Brasil, uma vida é interrompida a cada 45 minutos e Fortaleza é a segunda capital com o maior índice de suicídio. O que no futebol é a metade de uma partida, para muitas pessoas pode representar o fim.

A ação foi criada pela Agência Delantero e foi escolhida como finalista do El Ojo de Iberoamérica, o maior festival criativo da América Latina e prêmio de marketing mais importante da América Latina, Portugal e Espanha, como um dos cinco mais relevantes do mundo. A premiação acontece nos dias 6, 7 e 8 de novembro de 2019.

Até o momento a ação gerou mais de R$ 1,2 milhão em mídia espontânea e repercutiu em mais de 45 plataformas de comunicação, inclusive internacional, em TV, rádio, impresso e web, gerando mais de 41 milhões de pageviews.

Fonte: https://geekpublicitario.com.br/41937/prevencao-ao-suicidio-fortaleza-esporte-clube/

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Anjos na ponte: salvando vidas na Golden Gate

Os 'anjos' que já salvaram milhares de vidas impedindo suicídios em ponte dos EUA

Fernando Duarte - BBC World Service (16 outubro 2019)

Os policiais Kevin Briggs e Mia Munayer passaram as duas últimas décadas trabalhando na Golden Gate, em São Francisco, onde mais de 1,7 mil pessoas se mataram desde 1937, e impediram muitos de fazer o mesmo.

"Nenhuma pessoa que vem à ponte para pular quer morrer. Elas só querem saber que alguém se importa", diz Kevin Hines, que tentou dar fim à sua vida saltando da Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos, em setembro de 2000.

Embora várias pessoas o tenham visto na ponte pouco antes e uma turista tenha até pedido para ele tirar uma foto dela, ninguém percebeu que Hines estava angustiado ou perguntou se havia algo errado. Então, ele pulou.

Por um milagre, Hines sobreviveu à queda de 75 metros nas águas frias do Pacífico. No entanto, mais de 1,7 mil pessoas morreram ao pular da mesma ponte desde sua inauguração em maio de 1937, segundo dados oficiais.

A Golden Gate é a ponte mais visitada do mundo e também é um dos principais pontos de suicídio do planeta, a ponto de ter sua própria equipe de voluntários, a Bridgewatch Angels (anjos da brigada da ponte, em tradução livre), dedicada a detectar potenciais suicidas e salvar suas vidas com um método simples: ouvir o que têm a dizer.

Só em 2018, 214 pessoas tentaram pular. O fato de apenas 27 terem feito isso de fato é um sinal do sucesso do trabalho conjunto destes voluntários com a polícia.

O suicídio é um assassino global em grande escala. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que ocorram cerca de 800 mil mortes por este motivo no mundo a cada ano .

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a principal agência de saúde pública dos Estados Unidos, 47 mil pessoas tiraram suas próprias vidas no país em 2017, de acordo com os dados mais recentes disponíveis. O suicídio é hoje a segunda principal causa de morte entre os americanos com idades entre 10 e 34 anos.

Uma pessoa pode elaborar muitas razões para se matar, mas há uma forte ligação disso com problemas de saúde mental, especialmente depressão: 90% das pessoas que morrem por suicídio têm algum problema deste tipo ou teriam consumido substâncias químicas de forma abusiva no momento da morte, de acordo com a Save, uma organização americana de conscientização e prevenção de suicídio.

"Tinha que fazer algo para ajudar"


Embora a depressão seja um distúrbio de saúde mental tratável, o suicídio costuma ser um ato impulsivo. O que os Bridgewatch Angels procuram fazer é impedir que o suicídio inviabilize esta possibilidade de recuperação.

Apesar de viver na região, a policial Mia Munayer não tinha conhecimento do legado sombrio da Golden Gate, até assistir em 2010 ao documentário The Bridge (A ponte, em inglês), sobre o assunto.

"Tinha que fazer algo para ajudar a impedir que mais pessoas morressem", diz ela, que fundou então a Bridgewatch Angels. Desde 2011, os voluntários percorrem a ponte em datas importantes, como Dia dos Namorados ou véspera de Natal, e são treinados para abordar qualquer pessoa que achem que possa estar em perigo.

Munayer gastou mais de US$ 10 mil (R$ 41,5 mil) do próprio bolso para financiar as campanhas, que incluem seminários para pessoas interessadas em ajudar a patrulhar a ponte em épocas de maior preocupação.

A policial treina os voluntários para lidar com aqueles que parecem isolados e angustiados. Eles aprendem a detectar os sinais de alerta e maneiras de reagir a isso. Os voluntários fazem perguntas que podem começar com um simples "você está bem?". É uma questão de estimular a pessoa a falar.

"Conversamos com as pessoas. Mostramos que não estão sozinhas. Nós ouvimos. Às vezes, essa é a melhor resposta. Mas é importante tentar não tocar nos assuntos sensíveis e apenas mantê-las conversando", diz Munayer.

O guardião da Golden Gate


O sargento aposentado Kevin Briggs realizou paralelamente um trabalho semelhante. Ele não teve escolha ao se envolver com essa questão: por quase 20 anos, a Golden Gate fez parte de sua rota diária de patrulha.

Ele teve seu primeiro encontro com alguém que tentava se suicidar em 1994. "Na época, os policiais não tinham treinamento formal para lidar com essas situações. Fiquei aterrorizado quando vi uma jovem subindo no beiral", diz Briggs.

Ele começou então a ler sobre como lidar com suicidas no seu tempo livre. "Foi uma boa ideia, porque, por quase 20 anos, tive de lidar com essas situações com muita frequência."

"Às vezes, eu me questionava sobre as pessoas que salvei, como se fosse uma pesquisa. 'O que eu disse de bom? O que eu disse ou fiz de ruim?'", explica ele.

Ele ficou conhecido como "o guardião da Golden Gate" por ter convencido mais de 200 pessoas a não saltar. Fracassou em apenas duas ocasiões. "Você costuma se lembrar mais das pessoas com quem falhou do que daquelas que ajudou", diz ele, que mais tarde lidaria com um distúrbio de estresse pós-traumático por causa deste tipo de trabalho.

O ex-policial ganhou fama com um resgate de 2005 amplamente documentado pela imprensa local. Kevin Berthia tinha 22 anos, enfrentava uma depressão e tinha uma dívida de US$ 250 mil (R$ 1,03 milhão) por causa do tratamento de sua filha prematura. Briggs o encontrou prestes a saltar da ponte. "Conversamos por mais de 90 minutos, e ele desistiu", lembra ele.

As imagens desta intervenção foram reproduzidas pela mídia em todo o mundo. Berthia entregou oito anos depois a Briggs um prêmio concedido pela Fundação Americana para Prevenção do Suicídio.

"A Golden Gate é apenas um sinal do que está acontecendo nos Estados Unidos. O problema de saúde mental tornou-se grande demais para ser ignorado", acredita Briggs.

Essa visão também parece ser compartilhada pelas autoridades que administram a ponte. Após décadas de discussão sobre a instalação de uma barreira física para as tentativas de suicídio, a construção desta estrutura começou no final de 2017.

Uma rede de seis metros de largura ficará localizada seis metros abaixo da ponte. O site oficial da Golden Gate alerta que as pessoas que caírem ou saltarem "ainda poderão ficar feridas" ao fazer isso. A um custo de US$ 200 milhões (R$ 829,9 milhões), ficará pronta em 2021.

As estatísticas apontam ser improvável que potenciais suicidas da Golden Gate tentem se matar novamente. Munayer cita um estudo do psiquiatra Richard Seiden, que acompanhou pessoas que desistiram de pular da ponte entre 1937 e 1971. Seiden descobriu que, dos 515 indivíduos dissuadidos, apenas 25 se mataram mais tarde.

Mitos do suicídio


Munayer acredita que iniciativas como o documentário The Bridge tocam em um ponto sensível e confrontam o que ela chama de "mitos do suicídio".

"Às vezes, o simples ato de iniciar uma conversa casual pode ser suficiente para dissuadir alguém de tirar a própria vida. "Então, por que não deveríamos debater essa questão mais abertamente na sociedade?", questiona Munayer.

Poucas pessoas que saltam sobrevivem para contar sua experiência. Pular da ponte Golden Gate significa atingir a água a quase 140 km/h. A taxa de mortalidade é de mais de 95%, segundo dados oficiais.

Os poucos sobreviventes que falam publicamente sobre isso invariavelmente dizem ter lamentado a decisão de pular imediatamente após o salto. Alguns fazem parte do lobby para aumentar as medidas de segurança na ponte. "Essa ponte é uma mensageira da morte", disse Kevin Hines, que pulou em agosto de 2000, à emissora CNN.

"Eu não teria feito isso se alguém tivesse me abordado. Eu estava chorando e desorientado. Ninguém parou para perguntar o que estava errado. Finalmente, uma turista me parou. Ela queria uma foto sua. Concordei, e cinco cliques depois, eu ainda estava chorando, e ela foi embora. Eu sabia que ninguém se importava. Dei um passo para trás e me joguei."

Hines agora fala sobre sua experiência e é um ativista em questões de saúde mental e prevenção de suicídios, usando o slogan #BeHereTomorrow (#EstejaAquiAmanhã, em inglês).

"Se você vê alguém sofrendo, é seu dever se envolver e tentar fazer a pessoa se abrir e compartilhar o que está acontecendo em sua mente. Você pode ser um agente de mudança."

Precisa de ajuda?


O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece serviços de apoio emocional e prevenção de suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/10/16/os-anjos-que-ja-salvaram-milhares-de-vidas-impedindo-suicidios-em-ponte-dos-eua.htm

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Plano de aula para dois temas que se entrelaçam: automutilação e suicídio

Automutilação e suicídio: como abordar com a turma

Bárbara Rubira e Mariana Hallal (15 outubro 2019)

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que determina que hospitais e escolas devem notificar, de forma sigilosa, casos de automutilação e suicídio. A legislação instituiu também a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Segundo dados divulgados em setembro do ano passado pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou 5,8 suicídios por 100 mil habitantes em 2016, com um caso a cada 46 minutos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo todo. A entidade elaborou um Manual para Professores e Educadores, dedicado aos profissionais considerados fundamentais no combate ao problema entre adolescentes.

Uma reportagem feita pela repórter Júlia Marques mostra que a preocupação com o problema já tem mobilizado ações em escolas, consultórios e universidades. Algumas iniciativas partem inclusive dos próprios estudantes, que formam grupos de apoio com a orientação de especialistas.

Usando a reportagem e o manual da OMS, desenvolva discussões em sala de aula sobre os principais fatores de risco, sinais de alerta e maneiras de prevenir o suicídio.

Propostas de atividades 


1 – Sociologia


Discuta com os alunos: como as ideias de Émile Durkheim sobre o suicídio, elaboradas na França do século 19, se relacionam com o tema nos dias de hoje?

2 – Políticas públicas


Proponha um debate: as iniciativas do poder público no combate e prevenção à automutilação, ao suicídio e a outros problemas relacionados são eficientes? Que outras ações e projetos os alunos conhecem? O que mais poderia ser feito?

3 – Transtornos psicológicos


Pergunte aos os alunos o que eles sabem sobre depressão e ansiedade. Depois, peça a eles que pesquisem sobre o tema e desenvolvam um trabalho com suas percepções sobre o assunto. O objetivo é desmistificar essas doenças e quebrar preconceitos.

4 – Sem rótulos


Proponha uma atividade para debater os rótulos que são impostos aos adolescentes e discuta as consequências que isso pode ter no desenvolvimento de cada um. É um bom momento para trabalhar as diferenças e as particularidades dos alunos, mostrando que ser diferente é normal.

5 – Internet


Questione os alu
nos sobre o uso das redes sociais pelos adolescentes. Eles acham que o uso exagerado e certos comportamentos influenciam na autoestima? A realidade mostrada por personalidades das redes sociais pode deixá-los descontentes com a sua própria realidade? O que eles podem fazer para diminuir esses efeitos negativos das redes sociais?

6 – Habilidades socioemocionais


Proponha atividades que incentivem trabalhos em grupo e fortaleça a empatia entre os alunos. As habilidades socioemocionais também podem ser trabalhadas em conjunto com o psicólogo da escola ou da comunidade, por meio de palestras explicativas sobre temas pertinentes à saúde mental da turma (depressão, ansiedade, uso de álcool e drogas, entre outros). Aproveitar momentos de grande debate sobre o tema, como o Setembro Amarelo, é uma opção.

Banco de dados e materiais sobre o tema


Vídeo para trabalhar a vida no Instagram versus vida real (em inglês)

Guia do Instituto Ayrton Senna sobre competências socioemocionais no cotidiano das escolas
Centro de Valorização da Vida

Manual de prevenção do suicídio da Sociedade Brasileira de Psiquiatria

Instituto Vita Alere, que trabalha com suicídio, prevenção e posvenção

Projeto Cuca Legal, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Associação Americana de Suicidologia (em inglês)

A repórter Júlia Marques fala sobre a produção da matéria foi feita nesse vídeo.


Disciplinas envolvidas: Sociologia, Filosofia, Biologia.

Anos em que as habilidades podem ser trabalhadas: ensino médio

Referências na BNCC: Ciências da Natureza e suas Tecnologias – EM13CNT207*

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – EM13CHS502*; EM13CHS503*; EM13CHS605*

*(EM13CNT207) Identificar, analisar e discutir vulnerabilidades vinculadas às vivências e aos desafios contemporâneos aos quais as juventudes estão expostas, considerando os aspectos físico, psicoemocional e social, a fim de desenvolver e divulgar ações de prevenção e de promoção da saúde e do bem-estar.

*(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana (estilos de vida, valores, condutas etc.), desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade e preconceito, e propor ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às escolhas individuais.

*(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.

*(EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.

O material teve a colaboração de Luciana Cardoso, psicóloga e professora de Filosofia da escola Imaculada Conceição (Pelotas/RS).

Fonte: https://educacao.estadao.com.br/blogs/estadao-na-escola/2019/10/15/automutilacao-e-suicidio-como-abordar-com-a-turma/

Alerta: o Brasil na contramão...

Suicídios caem no mundo, mas crescem no Brasil


Paulo Ritter (9 outubro 2019)

No dia 9 de setembro, véspera do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou um relatório com dados alarmantes. No dia seguinte, lançou, com dois parceiros internacionais, a campanha “40 segundos de ação”, cujo ponto culminante será no Dia Mundial da Saúde Mental, em 10 de outubro, com o foco este ano justamente na prevenção do suicídio.

Os dados do relatório foram amplamente divulgados pela grande mídia. A cada ano, quase 800 mil pessoas se suicidam no planeta – uma morte a cada 40 segundos.  O suicídio foi a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas dos acidentes de trânsito. Apesar desses números, entre 2010 e 2016 a taxa global caiu 9,8%, mas a região das Américas registrou um aumento de 6%, relacionado segundo a OMS ao acesso a armas de fogo. Parte do declínio da taxa mundial se deve ao fato de mais países terem investido em estratégias de prevenção.

Na contramão da tendência mundial, o suicídio no Brasil aumentou 7% de 2010 a 2016 – último ano da pesquisa da OMS. Entre os adolescentes o aumento foi ainda maior. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a taxa nesse grupo etário, nas grandes cidades brasileiras, aumentou 24% entre 2006 e 2015.  Em 2016, 32 pessoas se suicidaram por dia em nosso país – uma morte a cada estarrecedores 45 minutos –, ou seja, mais brasileiros se mataram naquele ano do que morreram de doenças como AIDS e câncer.

O suicídio está intimamente ligado aos quadros depressivos. Ainda segundo a OMS, 5,8% da população brasileira sofriam de transtornos depressivos em 2015 – um total de 11,5 milhões de brasileiros. O Brasil foi o país com o maior número de deprimidos na América Latina e o segundo nas Américas, atrás somente dos Estados Unidos

O suicídio está intimamente ligado aos quadros depressivos. Ainda segundo a OMS, 5,8% da população brasileira sofriam de transtornos depressivos em 2015 – um total de 11,5 milhões de brasileiros. O Brasil foi o país com o maior número de deprimidos na América Latina e o segundo nas Américas, atrás somente dos Estados Unidos, com 5,9% de deprimidos. Em relação aos transtornos de ansiedade, frequentemente associados às depressões, nosso país foi recordista mundial em 2015, com 9,3% da população apresentando algum transtorno desse tipo, totalizando 18,6 milhões de pessoas ansiosas.

Essas questões dizem respeito ao campo da saúde mental – expressão cara ao contexto brasileiro. Esse campo de atuação profissional e assistência à saúde surgiu a partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciada na década de 80, quando o modelo assistencial em psiquiatria passou a ser reconfigurado em suas linhas fundamentais. O modelo tradicional baseado na figura do médico e no hospital psiquiátrico – modelo hospitalocêntrico – passou gradativamente a dar lugar aos chamados serviços substitutivos de base territorial. Foi nesse contexto que surgiram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as Residências Terapêuticas, os Consultórios de Rua etc. –, serviços de saúde espalhados pelas cidades que formam uma rede de cuidados direcionada às pessoas com transtornos psíquicos graves.

A Reforma Psiquiátrica brasileira é reconhecida internacionalmente como uma experiência rica e pujante, exitosa na substituição de uma visão estritamente médica da loucura por uma visão mais complexa e plural. Com a mudança do modelo assistencial, a loucura deixou de ser uma questão exclusiva da psiquiatria e passou a ser objeto de outros saberes. O campo da saúde mental, portanto, criado a partir da Reforma Psiquiátrica, comporta múltiplos saberes: psicologia, psicanálise, psiquiatria, assistência social, justiça, antropologia, sociologia, artes, cultura etc.

Como tantas outras políticas públicas no Brasil, a Reforma Psiquiátrica também está sendo desconstruída nos últimos anos. O movimento progressista, articulado com a defesa dos direitos humanos em seus vários aspectos, tem sido desmantelado ostensivamente pela chamada “Nova” Política de Saúde Mental. O grande hospital psiquiátrico – o manicômio – voltou à cena, assim como as comunidades terapêuticas passaram a receber dinheiro público a partir deste ano. Estas, similares aos manicômios, voltadas para a dependência química, em sua absoluta maioria estão ligadas a grupos religiosos e preconizam um tratamento baseado na abstinência, na contramão dos avanços mundiais.

Diante do crescimento do suicídio e dos números recordes relativos aos quadros depressivos e ansiosos, podemos perguntar como a assistência pública de saúde no Brasil está enfrentando esses desafios. Os quadros de depressão e ansiedade – como os demais quadros psíquicos – não são como doenças naturais, enraizadas no organismo e independentes do contexto cultural, necessitam, portanto, de estratégias complexas de enfrentamento de suas causas.

Uma das faces mais agudas da depressão é o sentimento de desesperança, no qual o futuro não vale mais a pena. Já a ansiedade é um dos nomes da angústia, aquele afeto próximo do medo que nos invade em situações de perigo, como uma espécie de excesso intraduzível em palavras. Só mais alguns passos, portanto, e podemos entender nossas primeiras posições em relação ao suicídio e aos quadros depressivos e ansiosos.

Freud costumava dizer que a cura em psicanálise vinha pelo amor, no sentido pleno dessa palavra, no sentido de pulsão de vida, dos laços que nos unem aos outros e ao trabalho. Uma análise, portanto, deveria ser capaz de restabelecer a capacidade de trabalhar e amar do sujeito. Atingido esse objetivo, ela poderia ser concluída. Ora, trabalhar e amar ainda são possíveis no Brasil de hoje?

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há atualmente cerca de 13 milhões de desempregados. Os números de subutilizados e desalentados – que simplesmente desistiram de procurar emprego – atingiram o recorde de toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 2012; a informalidade também é a maior já registrada. Esses números indicam que um em cada quatro brasileiros em condições de trabalhar está desempregado, trabalhando menos horas do que gostaria ou desistiu de procurar emprego. Não à toa, alguns estudos indicam que vivemos a maior fuga de cérebros da nossa história. Se não há esperança no futuro, melhor ir procurá-lo em outro lugar.

Restaria o amor, constitutivo dos laços que nos unem aos outros, à família, aos amigos, aos parceiros amorosos. Basta, no entanto, uma rápida olhada no noticiário diário ou nas redes sociais para descrermos também desse caminho.

Diante dessa situação, não admira que os números relativos ao suicídio, à depressão e aos transtornos ansiosos estejam nas alturas. Para enfrentá-los, precisamos de políticas públicas de saúde que entendam a complexidade desse fenômeno e, sobretudo, a complexidade do campo da saúde mental. Não será retornando a uma visão exclusivamente médica dos problemas psíquicos que diminuiremos esses números.

Fonte: https://projetocolabora.com.br/ods3/suicidios-caem-no-mundo-mas-crescem-no-brasil/

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Detecção dos sinais de depressão por meio do Twitter

UnB: pesquisador usa Twitter para identificar sinais de depressão


Tendo como base informações públicas da plataforma, o estudante constatou que em 80% dos casos analisados foi possível diferenciar os sinais


Manoela Alcântara (8 outubro 2019)

Pesquisa de um estudante da Universidade de Brasília (UnB) mostrou ser possível identificar sinais de depressão a partir das redes sociais. Tendo como base informações públicas extraídas do Twitter, o bacharel em ciência da computação Otto von Sperling diferenciou sinais em usuários com sintomas da doença e aqueles que não apresentam indícios em 80% dos casos analisados.

“Comecei a pesquisa motivado pelos casos de suicídio que via entre os colegas. Em cinco anos, foram casos após casos. Quis desenvolver uma ferramenta para ajudar as pessoas a identificarem a depressão e ajudar os profissionais com o tratamento”, afirmou o autor da pesquisa ao Metrópoles.

Segundo ele, existem diferenças nos sinais deixados nas redes sociais que são correlacionados com o mal em diversos estudos. O autor explica que a literatura sobre modelos computadorizados que ajudam a detectar, analisar e entender sinais de distúrbios de saúde mental nas mídias sociais têm prosperado desde os anos 2000 em língua inglesa.

No Brasil, essa área de pesquisa é promissora, com uma variedade de nichos a serem explorados. No trabalho elaborado por von Sperling, foi construído um cenário a partir de 2.941 usuários do Twitter. Entre eles, 1.486 depressivos e 1.455 sem depressão. Diante dessas informações, foram induzidos modelos de inteligência artificial para captar os sinais dentro do Twitter.

“Para atingir nosso objetivo, extraímos sinais medindo o estilo linguístico, os padrões comportamentais, os tweets e perfis públicos dos usuários. Os modelos resultantes distinguem com sucesso o grupo positivo (depressivo) e de controle (não depressivo), com escores de desempenho comparáveis ​​aos resultados da literatura”, ressaltou o estudante.

A expectativa é que a descoberta possa ser um trampolim para que mais metodologias sejam aplicadas ao serviço da saúde mental. “De forma alguma estou afirmando que consigo diagnosticar depressão. Não tenho como verificar se o autorrelato é verdadeiro ou não. A intenção é ajudar a compreender os sinais”, diz.
Próximo passo

A ideia é que o estudo seja usado por psicólogos e pelo governo para auxiliar na elaboração de políticas públicas com caráter preventivo. Todos os dados analisados são de perfis e mensagens públicas. “Profissionais de psicologia, por exemplo, podem ter uma visão mais completa do que o paciente precisa”, ressaltou.

A pesquisa foi baseada em propostas da literatura das áreas de psicologia, psiquiatria e sociolinguística, que capturam alguns dos sinais subjacentes do comportamento depressivo. Assim, foi possível ratificar resultados da literatura estrangeira no Brasil, além de distinguir o grupo depressivo do não depressivo.

“Ao fazer isso, demonstramos a utilidade das mídias sociais para detectar traços relevantes de comportamento e estado de espírito dos usuários no Brasil. Como trabalho futuro, propomos estender o conjunto de sinais extraídos dos dados de mídias sociais para captar traços exclusivos dos brasileiros”, diz o estudante na conclusão da pesquisa.

Depressão e suicídio


De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. Uma das maiores causas do suicídio, o assunto foi amplamente debatido durante o Setembro Amarelo. O Brasil é o país da América Latina com a maior quantidade de pacientes diagnosticados. Em média, 32 brasileiros tiram a própria vida por dia, o equivalente a uma pessoa a cada 45 minutos. No mundo, ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Os números dão dimensão da gravidade.

Segundo o Informativo epidemiológico de violência autoprovocada no Distrito Federal, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. No período de 2013 a 2018, foram notificados no Sinan/DF 19.388 casos de autoagressão na capital da República. Desse total, 3.816 (19,7%) foram relativos à prática de lesão autoprovocada, sendo 2.691 (70,5%) em mulheres e 1.124 (29,5%) entre homens.

Segundo a pesquisa, as tentativa de suicídio ocorrem em sua maioria entre pessoas de 20 a 39 anos. Além disso, a análise qualitativa mostra que os casos estão relacionados a transtornos em 49% das ocorrências em pessoas no sexo feminino e 18% do masculino.

Debate na Secretaria de Segurança do DF


O tema desperta preocupação também nas forças policiais do Distrito Federal. Por isso, nesta terça-feira (8/10/2019), a Secretaria de Segurança Pública do DF, em parceria com o PNUD, promove o Seminário Nacional de Prevenção ao Suicídio para Profissionais de Segurança Pública.

O evento será no auditório da Academia de Bombeiro Militar, no Setor Policial Sul, a partir das 9 horas. O debate contará com três mesas-redondas: O suicídio como desafio para as políticas públicas institucionais; A vitimização dos profissionais de segurança pública e avaliação de risco; e Experiências exitosas de prevenção ao suicídio.

A SSP/DF e o PNUD escolheram debater o tema uma vez que a quantidade de suicídios entre policiais civis e militares no Brasil cresceu nos últimos anos, totalizando 104 casos entre 2017 e 2018, de acordo 13º Anuário de Segurança Pública. O dado mostra que mais policiais foram vítimas de suicídio do que assassinados exercendo a função.

Fonte: www.metropoles.com/distrito-federal/unb-pesquisador-usa-twitter-para-identificar-sinais-de-depressao

Unioeste auxilia em protocolo de prevenção ao suicídio

Amanda Alves (19 Agosto 2019)

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) do campus de Foz do Iguaçu, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMMA), desenvolveram um fluxograma de processos para o atendimento da idealização e tentativa de suicídio. O diagrama conta com novos fluxos para atendimentos e manejo de pacientes dentro da rede pública.

A intenção é melhorar o atendimento da saúde pública aos pacientes com intenções de suicídio e a vítimas de autoextermínio. De acordo com dados epidemiológicos do suicídio, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo, sendo a segunda maior causa de mortes em jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, são 11 mil óbitos por ano.

Por isso, a iniciativa dos novos protocolos busca garantir encaminhamentos adequados, utilizando a política correta para a prevenção do suicídio. Isso surgiu a partir de um projeto de extensão sobre o tema, coordenado pela professora Dra. Elis Maria Teixeira Palma Priotto, que é professora da Unioeste do curso de Enfermagem, e após a apresentação do projeto, recebeu o apoio do Secretário Municipal de Saúde de Foz do Iguaçu, Nilton Bobato.

De acordo com a professora, a integração entre as equipes de saúde é fundamental. “Essa é a fase de debates dos itens do protocolo que estudamos no projeto de extensão, e foi muito bom discutir com os profissionais da rede que atuam na ponta e conhecem os fluxos dos atendimentos, realizamos várias pesquisas junto aos alunos dentro do projeto e houve a necessidade da formalização de um protocolo para o devido encaminhamento dos pacientes atendidos e internados por tentativa de suicídio ou ideação suicida”, conta Elis.

A proposta foi apresentada e debatida em um encontro realizado no último dia de julho, no auditório da Vigilância Sanitária de Foz. Participaram as equipes das Diretorias de Assistência Especializada, Atenção Básica, Urgência e Emergência, Vigilância Sanitária e Epidemiológica, Samu, Hospital Municipal, Assistência Social e o curso de Enfermagem da Unioeste.

https://oparana.com.br/noticia/saude-e-unioeste-lancam-em-foz-protocolo-de-atendimento-a-vitimas-de-tentativa-de-suicidio/


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

InspiraAção - um site a serviço da vida

Plataforma oferece orientação para quem está com a saúde mental vulnerável

Pedro Ezequiel (Jornal da USP) (2 outubro 2019)

Entender as angústias e sofrimentos que sentimos, ajudar quem está passando por depressão ou mesmo profissionais interessados em informações científicas sobre saúde mental. O site InspiraAção traz conteúdos sobre cuidado, apoio e bem-estar para a vida. As informações são baseadas em pesquisas e artigos publicados ou reunidos por especialistas da USP.


"A ideia foi criar um propósito diferente das postagens que tem na internet. Não só para quem precisa da ajuda, mas também para quem quer ajudar", explica Kelly Graziani, professora da EERP (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo).

Ela coordenou a criação do site desenvolvido em parceria entre o CEPS (Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio) e o LEPS (Laboratório de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Posvenção do Suicídio), ambos da USP.

A plataforma conta com artigos de pesquisadores e professores envolvidos com a área de estudos da saúde mental. Há espaço para a publicação de histórias que inspiram e dão apoio à jornada de cuidados. O acesso a leituras dos textos e ensaios científicos é aberto. Mas, para publicar ou realizar enquetes (sempre de maneira anônima para dar segurança), é necessário fazer um cadastro.

"É uma produção de conteúdo e organização da participação social também. Damos segurança para quem vai postar alguma história. E tudo que criamos no site passa pela análise de especialistas, para evitar os 'conteúdos pró-suicidas'", comenta Aline Conceição, pesquisadora da USP e colaboradora do InspirAção.

O público tem acesso a cartilhas e e-books com orientações para profissionais e para pessoas da comunidade que queiram ajudar de alguma maneira. Há ainda vídeos, filmes e notícias sobre prevenção ao suicídio.

Camila Corrêa, pesquisadora da USP e colaboradora no projeto, destaca que é preciso ter respeito, cuidado e responsabilidade para lidar com a dor do outro. "Entender o suicídio no âmbito social e desestigmatizar como ele é visto hoje. O que fazemos no InspirAção é conhecimento teórico e científico alinhado ao conhecimento prático."

Nos próximos meses, será lançado o Plano de Gestão de Crise. Uma ferramenta individual para a própria pessoa, amigos e familiares identificarem sensores que levam a crises.

A pessoa será atendida no momento em que tiver uma crise que pode desencadear uma situação suicida. Pelo site, serão respondidas questões que foram formuladas através de conhecimentos da literatura médica. No final, serão oferecidos nomes e telefones de profissionais do sistema de saúde e também atividades de psicoeducação. Quem buscar a ajuda não precisará se identificar.

Bruna Marques, aluna de Enfermagem da USP, colabora com o site e explica como é feita a escolha da informação disponível no site. "Cada participante pesquisa uma temática. Depois, dividimos com o grupo e discutimos. É um conhecimento científico para ter contato com a plataforma."

O que é posvenção?


Cuidar de quem perdeu alguém. Esse é o papel da posvenção. No site, o público também tem acesso a informações sobre o acolhimento de quem perdeu alguém através do suicídio.

Segundo a professora Kelly, o termo ainda é pouco usado aqui no Brasil. Mas tem que ser mais difundido. "A proposta é auxiliar no luto pós-suicídio. É uma dor extremamente complicada. As pessoas sentem muito e pensam que não se pode fazer mais nada. Mas é o contrário."

Existe um risco nessa situação de gerar problemas de saúde mental para o núcleo de pessoas da família e de amigos. "A posvenção vem para recomeçar. Para ajudar a redescobrir uma vivência mais saudável para elas. E tem que ser de uma maneira humanizada e acessível", conta a professora da EERP.

O IntegrAção envolve pesquisadoras de doutorado e mestrado, além da graduação. O site foi construído com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Divulgar, aprender e entender


A estudante de Enfermagem da USP Isabelle Wengler e a pesquisadora da USP Larissa Castelo participam da divulgação da plataforma. Elas contam que, no Instagram do IntegrAção, há tutoriais para explicar o cadastro e o login do site. "É mais acessível. Tivemos algumas devolutivas de alguns grupos, no sentido de ver as diferentes faixas etárias demonstrando interesse e curiosidade para acessar o conteúdo."

A escolha da internet como principal canal de comunicação foi feita a partir de monitoramentos feitos no Laboratório de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Posvenção do Suicídio. Eles identificaram blogs e postagens nas redes sociais de pessoas com quadros de depressão e conteúdo sobre o assunto.

No entanto, as informações contêm uma série de elementos negativos, como o estigma em relação à doença e a falta de um apoio real no mundo virtual.

"Fizemos estudos no Twitter, por exemplo. Vimos postagens de riscos e o comportamento suicida, muitas vezes. Essas postagens ganham uma potencialização no ambiente virtual, gerando um novo conteúdo nocivo a quem lê", conta a professora Kelly.

Segundo a colaboradora Danielle Maria Nogueira, entre junho e setembro, foram mais de 4 mil acessos ao IntegrAção de locais como São Paulo, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Japão e Portugal. "A intenção é essa: criar multiplicadores envolvidos com a prevenção. E o site, para nós da academia, é de ampliar o horizonte. Chegar até a comunidade."

Você pode seguir o IntegrAção no Instagram: @inspiracaoleps, no Twitter do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Posvenção do Suicídio (LEPS), no Facebook ou entrar em contato através do e-mail cepsusp@gmail.com do Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (CEPS).

Fonte: www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/10/02/plataforma-oferece-orientacao-para-quem-esta-com-a-saude-mental-vulneravel.htm

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Escola e saúde mental: falando se previne o suicídio

Escola também é lugar para falar sobre saúde mental


Marina Lopes (30 setembro 2019)

Durante todo o mês, a campanha do Setembro Amarelo mobilizou pessoas e organizações do setor público e privado na conscientização sobre a prevenção do suicídio. Entre as medidas preventivas apontadas por especialistas, a educação e o diálogo são apontados como caminhos para tirar o assunto da invisibilidade, o que reforça o papel da escola como um espaço estratégico na promoção de saúde mental. Como um ambiente privilegiado que concentra a maior parte da população jovem do país, ela pode ser uma grande aliada no compartilhamento de informações, na redução de riscos e até mesmo na detecção precoce de sinais que demandam atenção.

Apesar do tema ainda ser visto como tabu dentro de algumas instituições, dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que de 10% a 20% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de transtorno mental e comportamental. Um estudo com jovens de 7 a 14 anos que vivem na região sudeste do Brasil constatou que um a cada oito estudantes apresenta algum tipo de distúrbio psiquiátrico que justifica a necessidade de um acompanhamento especializado.

“Chegamos a um ponto em que todo mundo está se dando conta de que se vamos trabalhar com saúde de crianças e adolescentes, também temos que trabalhar com as escolas”, afirma o psiquiatra especialista em infância e adolescência Gustavo Estanislau, que coordena o projeto Cuca Legal, iniciativa ligada ao Departamento de Psiquiatria da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) com foco na promoção de saúde mental e a prevenção de transtornos mentais em ambientes de ensino.

Para o médico, um dos benefícios de levar esse debate para o ambiente escolar é a possibilidade de tratar saúde mental sem estigmas. “Dentro da escola eu posso falar do ponto de vista de prevenção universal. A partir do momento em que podemos intervir cedo, essas intervenções ficam cada vez menos complexas, menos medicamentosas e trazem benefícios para o rendimento do aluno dentro da escola e também na sua vida pessoal”, menciona.

Se o aluno demonstra algum tipo de risco, como relatar agressão, pensamentos de morte, mencionar uso de algum tipo de droga ou apresentar cortes no braço, isso deve ser registrado e passado adiante

Embora o psiquiatra chame atenção para o fato de que a escola não é o lugar para o tratamento de crianças e adolescentes, ele menciona que algumas posturas são essenciais para todo educador. “Uma coisa básica é o professor ficar atento. Ele precisa estar com os olhos abertos para detectar sinais que demandam atenção.” Mas o que fazer com essas informações? A partir da sua experiência em atividades de formação, Estanislau diz que os educadores, que já tem uma tarefa árdua, não devem se sentir sobrecarregados ou pressionados a intervir em uma situação. Enquanto algumas pessoas têm um estímulo natural para isso, outras já podem contribuir com o simples fato de levar uma informação adiante ou encaminhar um caso para o atendimento especializado.

“Se o aluno demonstra algum tipo de risco, como relatar agressão, pensamentos de morte, mencionar uso de algum tipo de droga ou apresentar cortes no braço, isso deve ser registrado e passado adiante. Esse tipo de informação denota que ele tem uma necessidade que não é pedagógica”, orienta o psiquiatra, que é um dos organizadores do livro Saúde Mental na Escola, que traz dicas, exemplos e conteúdos teóricos em linguagem acessível para educadores que desejam se aprofundar mais no assunto.

A força do compartilhamento


Na Escola Estadual Amélia Passos, localizada no município de Santa Cruz de Minas (MG), foi a partir da leitura dos cadernos de produção textual dos alunos que professora Laila Cristina de Sousa identificou a demanda de conciliar o aprimoramento de habilidades linguísticas e habilidades de lidar consigo mesmo e com realidades internas (psicológicas) e locais (problemas escolares, financeiros e familiares). “Eu comecei a perceber a necessidade de dar espaço durante minha aula para motivar os alunos a aprender o conteúdo e a trabalhar com a leitura de textos que também permitissem falar sobre nossas emoções”, conta.

Após compartilhar com os alunos a sua própria história de superação e de como o esporte foi importante para a sua saúde mental durante o período de tratamento para a depressão, a professora relata que a turma do ensino médio também começou a sentir confiança em dividir suas questões diante da vida, das lutas e dos desafios. Dessa experiência surgiu o projeto alfabetização e educação socioemocional “LaçoLetrando”, que tem a proposta de fortalecer vínculos por meio da leitura e da escrita.

“Através de cadernos de produção de texto, eu comecei a ver que haviam demandas bem mais complexas do que os relatos de identificação com sentimentos ligados ao humor depressivo. Comecei a ver questões de jovens que estavam sofrendo abusos e várias outras situações que fugiam da minha capacidade de ouvir e auxiliar”, menciona. Diante desse cenário, ela diz que buscou orientação da supervisora e deu início a um trabalho de articulação intersetorial com a prefeitura do município de Santa Cruz de Minas para encaminhar estudantes para a avaliação de uma equipe especializada, que inclui psicólogos e assistentes sociais.

O debate sobre saúde mental na escola e a articulação intersetorial, segundo ela, trouxe resultados significativos que podem ser percebidos no clima escolar. “Eles estão se sentindo mais estimulados e fortalecidos”, destaca. Na melhora da relação entre eles, os alunos também começaram a observar que poderiam ajudar colegas que passavam por situações semelhantes. Dessa iniciativa, surgiu o projeto Amélia Influência, que funciona como uma espécie de clube em que os próprios estudantes compartilham suas questões e promovem ações para fortalecer outros colegas.

O que a escola pode fazer?


“Promover espaços de troca entre os pares faz com que os alunos não se sintam tão diferentes. Eles percebem que existem outros colegas na mesma situação, que passam pelos mesmo problemas que eles”, avalia a pedagoga e especialista em psicopedagogia Ana Rita Bruni, que também é professora do Cesmia (Curso de Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência).

O professor, mesmo que tenha uma formação diferenciada, não é um psicólogo. A escola também não é uma clínica terapêutica, mas um olhar diferenciado e cuidadoso deve ser levado em consideração

A disseminação de informações confiáveis também é essencial na hora de desconstruir estigmas e falar sobre saúde mental na escola. Além de discutir o assunto com os alunos, Bruni destaca que é interessante que as instituições promovam momentos de formação, discussão e trocas de experiências entre os professores, que podem compartilhar seus desafios e situações de alerta presenciadas na sala de aula. “A necessidade de fazer treinamentos e capacitações não significa que todo mundo vai sair por aí dando diagnóstico, mas os professores precisam entender as diferenças [entre diferentes transtornos] e quais sinais os alunos podem manifestar que indicam algo em desacordo com o funcionamento padrão”, pontua a pedagoga especialista em psicopedagogia. “O professor, mesmo que tenha uma formação diferenciada, não é um psicólogo. A escola também não é uma clínica terapêutica, mas um olhar diferenciado e cuidadoso deve ser levado em consideração.”

De acordo com ela, em função dos casos cada vez mais frequentes que são observados na sala de aula, as escolas têm se demonstrado mais interessadas tratar aspectos da saúde mental. “Elas precisam aprender a lidar com isso e estão mais abertas em busca de informações assertivas. A escola é o ambiente onde o adolescente passa a maior parte do seu tempo. É nesse ambiente que ele vai começar a manifestar essas questões.”

Da sala de aula para a comunidade


A percepção de que o clima escolar estava pesado e o aparecimento de inúmeros casos de automutilação entre estudantes da Escola Municipal Maria Dias Trindade, localizada em um povoado rural de Paripiranga (BA), levaram o professor José Souza dos Santos a desenvolver um projeto para trabalhar saúde mental na escola. “Primeiro eu conversei com psicólogos para entender como eu deveria proceder. A partir daí, elaborei estudos de caso sobre tristeza, depressão e outras situações que poderiam ajudar os alunos a identificar alguns sinais e saber como poderiam pedir ajuda”, conta o educador que foi destaque no Desafio Diário de Inovações 2019.

Com o engajamento dos alunos, o projeto começou a ganhar força. Foram desenvolvidas pesquisas e ações que poderiam ajudar na prevenção da saúde mental. A convite do professor, uma psicóloga também participou de uma roda de conversa com os alunos para esclarecer dúvidas e trazer orientações. “Começamos a trabalhar com a criação de panfletos, infográficos e a produção de um curta metragem para compartilhar informações”, cita.

Ao perceber que também era preciso desconstruir estigmas sobre transtornos mentais com a comunidade, o educador mobilizou a turma para distribuir materiais informativos e orientativos em uma feira livre que acontecia perto da escola. O trabalho com as famílias também foi um ponto fundamental na hora de trazer esclarecimentos sobre a depressão e ainda tratar da importância de cuidar da saúde mental. “Eu moro no interior da Bahia. Aqui, a informação sobre depressão ainda paira na cabeça das pessoas. Muitos não conseguem ver como uma questão de saúde pública”, observa o professor.

De acordo com ele, o trabalho desenvolvido na Escola Municipal Maria Dias Trindade começou a inspirar outros colégios da região, que antes tratavam o tema como tabu.“Como educador, também precisamos lidar com o currículo oculto da escola. Algumas coisas não conseguimos ver, mas podemos sentir no dia a dia. O histórico familiar do aluno e a vida dele também interferem na aprendizagem.”

Fonte: http://porvir.org/escola-tambem-e-lugar-para-falar-sobre-saude-mental/