sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Ayahuasca na prevenção do suicídio - das pesquisas às práticas pioneiras

Brasileiros apontam potencial da ayahuasca para prevenir suicídio

Ayahuasca usada no Centro de Recuperação Caminho da Luz, no Acre

Marcelo Leite (19 nov. 2020)

Cerca de 800 mil pessoas se matam por ano no planeta, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). As Américas são a única região do mundo onde a taxa de suicídios aumentava, puxada pelos EUA, e ela poderá subir ainda mais sob os rigores da pandemia de Covid-19. Poderiam os psicodélicos ajudar a prevenir esses atos extremos de desespero?

Duas pesquisas recentes no Brasil indicam que sim, talvez a ayahuasca possa contribuir para isso. Já se comprovou o efeito antidepressivo do chá, mas os novos estudos são os primeiros no exame de seu potencial para desarmar ideações suicidas.

Prepara-se a bebida ritual de religiões como Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal com a cocção de folhas do arbusto chacrona (Psychotria viridis) e do cipó mariri (Banisteriopsis caapi). Por sua condição de sacramento, ela é legal no Brasil, o que facilita a pesquisa com a substância psicoativa proibida dimetiltriptamina (DMT) presente na chacrona.

Fortaleceu-se assim, no país, o campo de investigação da ayahuasca. Em 2019 ele rendeu o primeiro teste clínico controlado por grupo placebo de um psicodélico para tratar depressão resistente, publicado pelo grupo de Dráulio de Araújo no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN).

Os dados sobre tendências suicidas são filhotes desse trabalho pioneiro. Dos 29 participantes do ensaio clínico, 14 tomaram ayahuasca, e 15, uma substância inócua (o placebo). A publicação se deu exato um ano atrás no periódico Frontiers in Pharmacology.

O objetivo primeiro era detectar efeito antidepressivo do chá, o que foi comprovado. Os psiquiatras avaliaram também suas tendências suicidas, numa escala padronizada de 0 (gosta da vida e a aceita como é) a 6 (planos explícitos ou preparação para suicídio). Constataram que as ideações suicidas diminuíram significativamente só no grupo da ayahuasca e que o efeito benéfico se manteve por uma semana.

O segundo estudo sobre suicídio tem dois autores em comum com esse primeiro, Richard Zeifman, da Universidade Ryerson (Canadá), e Jaime Hallak, da USP em Ribeirão Preto. Publicado quase um ano depois, em 29 de outubro, saiu na revista Psychopharmacology.

A diferença é que, neste caso, todos os 17 pacientes avaliados tomaram ayahuasca, ou seja, não houve grupo placebo. Por outro lado, a duração foi maior, 21 dias – e mais uma vez se constatou a permanência da redução das ideias suicidas.

Em ambos os artigos os autores assinalam que são estudos preliminares, realizados com amostra pequena de portadores de depressão grave. Recomendam, em face dos resultados promissores, realizar ensaios com amostras maiores para confirmar o achado. Até lá, não conte com psiquiatras a receitar ayahuasca como estratégia de prevenção do suicídio.

Se confirmado o benefício potencial do chá, entretanto, seria uma opção bem-vinda. Uma dose única de ayahuasca tem efeito imediato, enquanto os antidepressivos hoje disponíveis podem demorar semanas para fazer efeito, e mais de um terço dos pacientes não melhora com eles.

A cetamina, outra substância psicodélica, tem sido empregada para agir rapidamente contra ideações suicidas. Diferentemente da ayahuasca, requer uso continuado e pode acarretar risco de dependência. A escetamina, composto aparentado, recebeu autorização da Anvisa para uso na forma de spray.

Não se sabe ainda, em detalhe, como a ayahuasca – e outros psicodélicos como a psilocibina de cogumelos  – age contra a depressão e pensamentos suicidas. Eles parecem flexibilizar e enriquecer a comunicação entre áreas cerebrais, o que pode abrir caminho para interromper ruminações.

Essa plasticidade teria origem na formação de novas conexões entre neurônios, e um dos compostos presentes na ayahuasca, a harmina, já demonstrou favorecer a formação de sinapses. Também parece estar envolvido um efeito anti-inflamatório, mas ainda faltam muitas peças nesse quebra-cabeças.

O fato de drogas psicoativas como DMT, LSD e MDMA permanecerem na lista de substâncias proibidas ergue um obstáculo considerável para a rediviva ciência psicodélica. Aplicações para condições como estresse pós-traumático, ansiedade, alcoolismo e anorexia ficam assim desnecessariamente dificultadas, pois esses compostos têm baixa toxicidade e baixo potencial para causar dependência.

Soa particularmente irracional deter a pesquisa de alternativas promissoras contra a perda de vidas para o desespero. O suicídio é a segunda causa de morte para jovens de 15 a 29 anos (depois de acidentes de trânsito e à frente da violência urbana), e eles estão entre os que mais sofrem as consequências da pandemia, apartados do estudo e dos empregos que lhes permitem crescer na vida.

Fonte:  https://viradapsicodelica.blogfolha.uol.com.br/2020/11/19/brasileiros-apontam-potencial-da-ayahuasca-para-prevenir-suicidio/

domingo, 15 de novembro de 2020

Zack Snyder e suas ações beneméritas em favor da vida

Zack Snyder lança camisa de Darkseid para levantar fundos para prevenção a suicídio

Renan Barcellos (11 novembro 2020)

O diretor Zack Snyder lançou outra nova campanha para beneficiar a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio. Lançando uma nova camiseta inspirada no visual de Darkseid em sua versão da Liga da Justiça, Snyder disse aos apoiadores que deseja arrecadar cerca de $70.000 dólares em vendas.

Darkseid (personagem fictício da DC Comics)

Esse montante colocaria os fãs do #ReleaseTheSnyderCut acima da marca dos $500.000 dólares em dinheiro arrecadado para a Fundação, já que os fãs começaram a escolher o grupo como sua instituição de caridade preferida. Essa luta é algo muito caro para Snyder; a razão pela qual ele deixou Liga da Justiça na primeira vez foi o suicídio de sua filha durante a produção.

Snyder compartilhou a imagem, com arte de Alex Pardee, com uma nota aos apoiadores que dizia: “Juntos, já arrecadamos mais de $430.000 dólares para a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio e seu trabalho incrivelmente importante. Esperamos que você possa ajudar nós alcançamos meio milhão de dólares! “
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O pai da suicidologia


Gustavo Bastos

Edwin Shneidman nasceu em New York, em 1918, e morreu em Los Angeles, em 2009. Este estudioso, que é considerado por muitos como o pai ou o fundador da Suicidologia, foi um psicólogo de formação, e como um dos expoentes principais na investigação intelectual e empírica na área do suicídio e da tanatologia, trouxe muitas contribuições em caráter pioneiro que culminaram nas ações preventivas contra o ato suicida.

Shneidman foi um dos pioneiros do Centro de Prevenção do Suicídio de Los Angeles e da Associação Americana de Suicidologia, foi professor na Universidade da Califórnia, e ajudou na fundação da revista Suicide and Life-Threatening Behavior. As obras principais de Shneidman são: The definition of suicide, de 1985, Suicide as psychache, de 1993, e The suicidal mind, de 1996.

Shneidman partiu para as suas investigações sobre o fenômeno do suicídio tendo como uma das inspirações as teorias da personalidade de Henry Murray, e Shneidman então consolidou a
concepção de que o suicídio seria o resultado final da confluência de um máximo de dor, um máximo de perturbação e um máximo de pressão, uma espécie de modelo cúbico que ficou conhecido como o "cubo suicida de Shneidman".


Neste cubo as variáveis podem aumentar ou diminuir a sua força, o que leva a especificar do que se trata tais variáveis. Ou seja, quando Shneidman se refere à dor, ele fala deste tipo de dor psicológica, que se refere à frustração pela falta das necessidades básicas psicológicas, e que se constitui como o fator central do fenômeno suicida.

No que se refere à concepção sobre a perturbação, engloba todo tipo de distúrbio, que pode ser exemplificado pelas distorções cognitivas e as automutilações. A concepção sobre a pressão se
refere ao que está fora e dentro do indivíduo, que está relacionado às vivências e aos acontecimentos de sua vida.

Shneidman coloca a intencionalidade do suicida em três aspectos que são a morte intencional, que implica num protagonismo consciente do suicida, um ato deliberado de se matar, a morte não intencional, em que pode ocorrer uma morte auto-infligida, mas em caráter acidental, como o disparo de uma arma de fogo de modo involuntário e, também, a morte subintencional, com um protagonismo indireto ou inconsciente do indivíduo, como ocorre, por exemplo, num acidente automobilístico violento.

As 10 características mais comuns aos suicidas, na classificação de Shneidman, tem definições como:


    Propósito - procura de solução;
    Objetivo - parar a consciência;
    Estímulo - dor psicológica intolerável;
    Stress - frustração pela falta das necessidades psicológicas;
    Emoção - desespero-desesperança;
    Estado cognitivo - ambivalência;
    Estado perceptivo - constrição;
    Ação - fuga;
    Ato interpessoal - comunicação de intenção e
    Consistência - de acordo com estratégias de "coping" mal adaptativas do passado.

Shneidman reúne os elementos que podem contribuir para o ato suicida, e que é seu ensaio de um cenário suicida explicativo, colocando o sentimento de dor intolerável, que se refere a necessidades psicológicas básicas que foram frustradas e não realizadas, as atitudes de autodepreciação, baixa auto-estima, que denotam uma auto-imagem que sucumbe ao não suportar uma dor psicológica intensa e profunda.

Tem, ainda, a incapacidade do indivíduo de dar conta de sua vida prática, de suas tarefas diárias, também incluindo a sensação de isolamento, e o desespero e a desesperança, em que o indivíduo já não vê o que fazer para sair de sua situação difícil, além da fuga, em que a cessação da existência é o que resta como solução para uma dor intolerável.

Em 1987, Shneidman escreve: " No Ocidente, o suicídio é um ato consciente de auto-aniquilação, melhor compreendido como uma doença multidimensional num indivíduo carente que acredita ser o suicídio a melhor solução para resolver um problema".

Em 1996, por sua vez, Shneidman vai além dos famigerados marcadores biológicos e centraliza o foco do suicídio como um fator de fracasso da sociedade. Em 2001, ele afirma: "O suicídio é um drama da mente… quase sempre relacionado com a dor psicológica, a dor das emoções negativas".

Shneidman estará também na elaboração do que será chamado de autópsias psicológicas, uma metodologia de investigação empírica sobre casos de suicídio. Este termo surgiu em 1958, se ligando ao esclarecimento de mortes após a realização da autópsia médico-legal, numa colaboração entre médicos-legistas e a Psiquiatria e a Saúde Mental.

Saindo de Los Angeles para o mundo, esta metodologia de investigação reuniu dados mundiais que apontaram a realidade da existência, referindo-se a estudos que envolveram milhares de suicidas, de patologia psiquiátrica em cerca de 90% dos casos e depressão em mais de 50% dos suicídios.

No que se refere ao cuidado da família dos suicidas, a intervenção de Shneidman foi designada pelo próprio como "pósvenção", que é, então, a intervenção específica sobre os familiares e amigos, sobretudo no auxílio aos processos de luto, no direcionamento de sua resolução.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

Fonte: www.seculodiario.com.br/colunas/o-pai-da-suicidologia

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Duas cartilhas, uma mensagem de alento!

Enquanto houver sol, ainda há de haver saída...

 Zelia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

“Teve um momento e­m que, após ter testado positivo para a Covid-19, e de ter ficado bem ruim, achei que seria o fim. Você não imagina como é quando o ar não vem, e a gente precisa ser entubado, com risco de morrer. E o pior foi que, além disso, me lembrei de que estava brigado com meu pai, me sentia tão triste, mas tão sem chão, que cheguei a procurar suicídio. E diante da ameaça de morte pelo vírus, percebi que eu ainda poderia lutar para ficar bem com meu pai, e vencer os demais problemas em vez de buscar o suicídio, porque me dei conta de que, mesmo quando parecia não haver saída, haveria uma saída”.

O depoimento desse jovem, nominado aqui João Batista, me fez buscar estatísticas de suicídios. Nas Américas, por exemplo, segundo dados da OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 100 mil pessoas se suicidam anualmente. Conforme dados de 2016, são mais praticados por homens (em 78% dos registros), entre 25 e 44 anos (36%); e de 45 a 59 anos (26%).

Em Santa Catarina, conforme o Ministério da Saúde, 400 pessoas já morreram por suicídio em 2020. A maior parte das vítimas eram homens entre 20 e 59 anos. Os que tentaram e não morreram foram 2.678, destes, 764 jovens entre 20 e 29 anos.

Renato Oliveira e Souza, chefe da Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OPAS, considera fundamental que a prevenção do suicídio seja um trabalho conjunto. E você me pergunta: “Como assim? Porque eu não saberia o que fazer quando percebesse, antecipadamente, que uma pessoa quer se suicidar”. Ah, você saberá, sim, depois que ler os itens a seguir, que são elencados pelos CVV – Centros de Valorização da Vida (Ligue 188), que fazem atendimentos voluntários 24 horas, gratuitos e sigilosos:

a) ofereça escuta ativa, aquela que realmente dá o tempo para a pessoa se expressar, conforme for se sentindo à vontade.

b) diante da manifestação da pessoa estar depressiva ou dizer que a vida não tem jeito, por estar cheia de problemas, jamais a reprima dizendo “não faça isso, é pecado”. Escute-a, ajude-a, ofereça ajuda e suporte profissional.

Não conhece os sinais de alerta? A OPAS lembra que a pessoa:

a) fala sobre querer morrer, sentir grande culpa de algo;

b) sente raiva ou dor insuportável, física ou emocional;

c) come ou dorme muito pouco, usa álcool com mais frequência.

d) pesquisa na internet maneiras de morrer ou sobre planos de suicídio.

E você, já fez algo para prevenir o suicídio de alguém? Não é porque setembro terminou que os suicídios diminuíram. Por isso, “enquanto houver sol, sempre haverá saída”, e mesmo “a sós, ninguém está sozinho, é caminhando que se faz o caminho” (Titãs). Vamos nessa? Inspire-se, ouça a canção e acesse o livro Suicídio na Pandemia Covid-19. Eis uma das cartilhas. 

A outra é a Acolha a vida Porque a vida vale a pena! Orientações para famílias sobre automutilação e suicídio produzida sob a batuta da Angela Gandra, Secretária Nacional da Família.