sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Entrevista com a psicóloga Mariana Tavares

"Uma sociedade que discute porte de arma está na contramão da prevenção do suicídio"

Psicóloga analisa aumento de casos de suicídio no país, papel da mídia na abordagem do assunto, entre outros temas

Raíssa Lopes 26/9/2018

Brasil de Fato - No mundo do jornalismo, há uma regra de não ter publicações sobre suicídio. Isso é correto?

Mariana Tavares - Na verdade, isso de que o jornalista não pode falar sobre o suicídio é uma regra não escrita, é mais um tabu. Em 2006, a Organização Mundial de Saúde [OMS] soltou uma nota orientativa para o jornalismo e a publicação das notícias sobre suicídio. Ela diz para não criar um clima sensacionalista, não abordar o método usado, não ter foto, etc. Isso tudo para não criar, como foi identificado em tempos anteriores, um contágio do suicídio, chamado de Efeito Werther. "Os sofrimentos do Jovem Werther" é um livro escrito no século XVIII pelo alemão Goethe, que conta a história de um amor não respondido e o personagem se suicida. Após a leitura desse livro, houve uma onda de suicídios na Alemanha. Esse seria o motivo pelo qual haveria o impedimento de publicações sobre o assunto. Porém, após a nota da OMS, não é mais estabelecido que não se fale sobre suicídio. O que se sabe hoje é que falar sobre o tema alivia e possibilita que as pessoas possam identificar em si mesmas e na comunidade ao redor o desejo, a ideação suicida. Claro, não é para ter uma cobertura midiática sensacionalista, mas os problemas, as dificuldades, os medos, as inseguranças, a multicausalidade do suicídio e as possibilidades de ver a vida de um novo modo são coisas que podem ser perfeitamente contadas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o oitavo país em número de suicídios no mundo. As estatísticas também mostram que os casos tendem a aumentar até 2020. Existem análises que podem dar conta de fatores relacionados a esse crescimento no nosso país?

O que nos alerta é a rapidez do aumento, que está acontecendo especialmente entre jovens e idosos. Na juventude brasileira, o suicídio oscila entre a segunda e a quarta causa de mortalidade. Entre idosos, os casos aumentam na população com mais de 60 anos. Para fazermos uma análise específica, ainda precisamos percorrer um caminho. Mas o que se sabe em relação aos idosos, por exemplo, é a respeito dos fatores macrossociais, como aposentadoria, a perspectiva de tornar-se improdutivo ou tornar-se um "fardo". Hoje há muito relato de abandono, porque as famílias, nessa batalha pela própria vida, não estão dando conta de cuidar. Mas não podemos olhar pra isso de uma forma moralista, porque é uma questão relacionada a como está a perspectiva macrossocial do cuidado com a população. No Brasil, a melhor forma de prevenir o suicídio é ter políticas públicas de moradia, renda, cultura, educação, entre outras. Em outros países da América Latina, como no Chile, já existem relatos de que o índice dos suicídios entre idosos pode estar se relacionando com o fim da Previdência Social no país - o que nos faz prestar atenção no que vai acontecer no Brasil com a reforma trabalhista e toda essa perda de direitos. É evidente que isso vai bater nas nossas taxas de suicídio (claro que não imediatamente, porque a gente só consegue verificar ao longo do tempo).

São muitos outros fatores possíveis. Quem compõe esse perfil dos idosos são pessoas que trabalharam, que tiveram carreiras profissionais em um mundo que havia emprego e uma identificação forte do sujeito ao trabalho, uma coisa muito importante para a formação da identidade. Hoje, nós vivemos uma "uberização" da economia, em que o conceito de empreendedorismo está crescendo com esse sentido de que é muito legal ser o patrão de si mesmo, que é só você querer que você que consegue. Em uma sociedade que veicula esse tipo de valor, é claro que o individualismo, a competitividade e o imediatismo vão crescer. É uma visão de meritocracia de que o sucesso está nas mãos de cada um, mas ninguém avalia quais são as condições de cada um.

E os cortes de investimentos na saúde mental? Você acredita podem influenciar, um dia, no número de suicídios?

Então, a nossa perspectiva daqui em diante é bem sombria. Podemos ser bastante pessimistas. Há um indicador de que os municípios que têm CAPs [Centros de Atenção Psicossocial] reduzem a taxa de suicídio em 14%. É claro que a existência do cuidado em rede, não só da saúde mental, é um grande fator de prevenção ao suicídio.

No caso da juventude, vemos ultimamente muitos seriados e programas de TV falando de temas como depressão, ansiedade e suicídio. Como você avalia a abordagem dessas produções? 

A gente tem que avaliar isso com muita calma. Eu, pessoalmente, tendo a achar que está ocorrendo uma glamourização, uma estetização, uma espetacularização do suicídio. Existem muitas formas de falar não só sobre a saúde mental, depressão, mas de falar sobre a vida, estratégias comunitárias de valores e pertencimento a grupos.

O que me preocupa bastante no meio de tudo isso é a medicalização da sociedade. A medicalização, que é diferente de medicação, é transformar todos os sentimentos em sintomas biológicos, médicos ou orgânicos. Tem um efeito de tornar algo doença. Pode acontecer de, por exemplo, ao invés de um adolescente falar do seu adoecimento com o intuito de mostrar que deseja ajuda, falar para ter uma espécie de reconhecimento social.

Outra coisa que a gente nota é que compreender o papel da internet é muito difícil. Ainda é um fenômeno pouco estudado porque é de agora e a gente não conhece. É a virtualidade da vida. Inclusive, já existem autores que falam de uma sociedade sem corpo. Ser adolescente é estar saindo de uma situação de proteção, de ser cuidado pelos pais e começar a enfrentar questões relativas à sexualidade, ao amor, à profissão. E isso está se dando de uma forma muito diferente. As relações de amor e de sexualidade estão se virtualizando, o que dá um efeito narcísico e essa falta da troca real da experiência com o outro gera solidão e uma ilusão de autossuficiência.

É comum que quando uma pessoa pratica o suicídio, as pessoas tendam a atribuir a morte a um sentido. Existe um motivo para tirar a própria vida?

É muito importante dizer que a gente pode analisar os aspectos gerais da formação da subjetividade e as taxas de suicídio, analisar o suicídio como um fenômeno macro. Agora, ao falar de cada suicídio, nunca vamos saber exatamente o porquê. Ele é sempre enigmático, multicausal. Não se pode dizer que é porque terminou um casamento, um namoro, porque a pessoa perdeu o emprego. Não dá para fazer afirmações, seria muito leviano e existe sempre uma rede complexa de motivos. Isso mostra o quanto a gente é moralista, o quanto buscamos explicações morais para o fato. É preciso muito cuidado para não arranjarmos culpados imediatos. Numa sociedade tão violenta, competitiva, que faz perder a consciência de classe e de coletivo, a gente também tem que se policiar para não usar esse raciocínio na hora de explicar. Para prevenir, temos que ter um pensamento amplo e não reducionista.

Só se mata quem tem depressão?

Não. E a gente tem que ter muito cuidado porque essa identificação de depressão com o suicídio, em uma sociedade na qual há uma produção de diagnóstico de depressão, é quase uma condenação. O suicídio é de multicausalidade. Pode estar ligado, inclusive, a impulsos. Alguns países conseguiram reduzir os casos porque, dentre outras ações - nunca é só uma -, restringiram o acesso a modos letais, como o veneno, arma de fogo, locais de altura. O que faz perceber que uma sociedade que discute se deve armar as pessoas está completamente na contramão da prevenção do suicídio.

Agora, sobre a depressão: não é uma doença incurável, é tratável e muitas vezes sem necessidade de medicamento. Existe uma confusão muito grande entre processos de perda e luto, que são difíceis mesmo e levam a sentimentos depressivos, mas sem que se caracterize uma depressão. A depressão não é um vírus, é uma coisa que faz parte da narrativa do sujeito, e há a tendência em tornar a depressão uma doença que é culpa do sujeito, da qual ele próprio pode se alienar.

Uma nova profissão que está crescendo ultimamente é o coaching e muita gente acha que tem a ver com terapia. Pode explicar as diferenças?

Bom, existem profissionais sérios em todas as atividades. Porém, o coaching é uma atividade baseada em superar suas dificuldades atingindo metas. Ou seja, é o discurso da produção. E a terapia é encontrar o seu lugar de singularidade, que permite lidar com o seu desejo de uma forma libertária. É uma coisa muito coercitiva do sucesso isso de a gente achar que não tem tempo de construir a própria relação com nós mesmos e entender que as nossas dores são coisas que a gente tem que exterminar.

Você acha que a nossa sociedade não sabe lidar com a tristeza?

Sim… Ela é parte da vida. Essa é mágica das relações de consumo, que te fazem achar que o que te falta é um objeto. E que esse objeto pode ser comprável, uma mercadoria. Vemos muitos pais não conseguindo lidar com a frustração dos filhos e suprir, dar, dar, consumir. Sempre tampando. Tampando essa falta que é, na verdade, o que nos motiva. Somos uma sociedade que realiza demandas, mas deseja pouco.

Eu conheço alguém que tem pensamentos suicidas. O que devo fazer?

Nunca desqualificar. Nunca dizer "ah, mas você tem uma vida tão boa" ou "você tem uma casa e tem gente que não tem". Sempre leve a sério. Se não souber como ajudar, procure ajuda. Pode ser na escola, no serviço de saúde… Chame essa pessoa para falar o que está acontecendo, em espaços terapêuticos mas também em família, no círculo de amizades. Geralmente, um suicídio é precedido por um pedido de socorro. Dizem até que 90% dos suicídios são evitáveis, porque a pessoa dá pista. O Setembro Amarelo é importante pra alertar e diminuir tabus, mas é uma coisa que tem que ser feita sempre. E é necessário tomar cuidado pra não associar à doença, ao ato de tomar remédio.

Fonte: www.brasildefato.com.br/2018/09/26/uma-sociedade-que-discute-porte-de-arma-esta-na-contramao-da-prevencao-do-suicidio/

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Os profissionais da saúde frente ao suicídio e aos pacientes em crise suicida...

A necessidade de profissionais que enfrentem o suicídio

Kelly G. G. Vedana é professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP
25/09/2018

Setembro Amarelo é tempo de falar sobre suicídio, um tema tabu que agora tem voz, principalmente no que concerne à prevenção e diminuição do número do mesmo, envolvendo diversas modalidades de campanhas. Mas precisamos focalizar também na esfera dos cuidados com quem tem ideação, tentou suicídio uma ou mais vezes, aos familiares impactados por essas tentativas ou pela morte de seus entes queridos. Cuidados também aos profissionais que perdem seus pacientes, apesar do seu esforço, sentindo-se fracassados e culpados pela morte deles.

Muitos profissionais se perguntam o que fazer diante de uma pessoa com ideação ou tentativa de suicídio. Como mecanismo de proteção, para não se confrontar com sua incerteza, se negam a atender pessoas nessa condição, utilizando manobras defensivas. Observamos que alguns falam mais do que ouvem, julgam clientes e em atitude contratransferencial descontam neles sua incapacidade, dúvida, incompetência, raiva e outros sentimentos, perdendo a possibilidade de escuta. Essa atitude precisa ser revista.

Há profissionais que se negam a receber pessoas que tentam suicídio afirmando que não podem perder seu tempo tão corrido atendendo pessoas que querem morrer, já que precisam se dedicar àqueles que preferem viver. É muito categórico dizer que todas as pessoas que não suportam mais viver a vida atual querem de fato morrer. Há aqueles que não desejam mais viver essa vida, mas aceitariam continuar vivendo, se pudessem eliminar sua dor, sofrimento, humilhação, vergonha, incapacidade e tantas outras razões. Tratar todos os pacientes que chegam aos seus cuidados como se fossem realizar o ato suicida para morrer, é escutar os seus próprios pensamentos e ideias pré-concebidas, sem conseguir entrar em contato com quem estão buscando cuidar.

Tentativas de suicídio podem ser vistas como ações que têm como objetivo chamar a atenção, enfatizando seu aspecto manipulador. Se vistas como ações somente para atrair atenção, podem conduzir a um não cuidado, já que o aspecto manipulador é o que predomina. Entretanto, sob uma outra visão, o ato suicida tem o objetivo sim de chamar atenção para algo que não vai bem na vida da pessoa e, nesse caso, seu aspecto de comunicação é que fica ressaltado, demandando escuta e cuidados.

Encontramos essas dificuldades mais frequentemente em profissionais que atendem pessoas que buscam os prontos-socorros com sequelas do ato suicida. Chegam assustados, impactados pelo seu ato, ambivalentes por vezes, com profundo sentimento de fracasso, afirmando que não têm capacidade nem para se matar. Ao receber desprezo, preconceito, pessoas que se questionam se vale a pena viver terão mais uma razão para desistir da vida. Trata-se de iatrogenia, formas de atendimento que aumentam o sofrimento.

Há hospitais em que não há atendimento de profissionais de saúde mental, sem proposta de continuidade dos cuidados a quem chega após tentativa de suicídio. Pessoas que realizam o ato suicida voltam ao seu ambiente sem respaldo ou cuidados de saúde mental, desgastados, o que pode estimular a recorrência de tentativas que podem ser letais. Infelizmente a proposta de continuidade de atendimento de saúde mental, como proposto pela agenda de prevenção do suicídio e diminuição de danos de 2006, muitas vezes não é colocada em prática.

O projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS) denominado Estudo Multicêntrico de Intervenção ao Comportamento Suicida (SUPRE-MISS) demonstrou como é importante ajudar pessoas que tentam suicidar-se. No Brasil o projeto foi coordenado por Neury Botega, da Unicamp, com resultados significativos na prevenção da reincidência de tentativas de suicídio. Pessoas que tentaram suicídio foram convidadas a participar da pesquisa. Houve uma divisão em dois grupos, no primeiro eles foram avaliados e encaminhados a serviços na rede de saúde. No segundo grupo, além do encaminhamento, os pacientes também receberam informações sobre suicídio e fatores que podem levar à tentativa de suicídio. Além disso, o grupo 2 recebeu nove ligações da equipe que os atendeu no hospital, com intervalos crescentes durante um ano e meio e nessas ligações havia estímulo para que procurassem ajuda. Ao fim do estudo, no primeiro grupo 2,2% morreram por suicídio e no segundo, 0,2 % (Zorzetto e Fioravanti, 2009). É uma diferença muito significativa, que deve ser considerada nos atendimentos para pessoas que tentam suicídio em serviços de pronto socorro. Além de cuidados humanizados, o encaminhamento e continuidade de cuidados parecem ser a melhor combinação para ajudar pessoas com ideação e tentativa de suicídio.

Para um bom cuidado a pessoas com ideação e tentativas de suicídio precisamos nos dedicar à formação de profissionais de saúde com especialização na área. São poucas as disciplinas que se propõem a discutir o tema do suicídio nos cursos de graduação na USP. No Instituto de Psicologia, a disciplina Psicologia da Morte (PSA 3512), aborda o tema suicídio em três aulas. Em 2018 observamos uma grande procura da disciplina por estudantes de várias unidades da USP, chegando ao número de 333 interações no sistema Júpiter da USP, o que demonstra o quanto estudantes de várias áreas se interessam ou precisam discutir o tema. Pudemos acomodar 100 estudantes na maior sala do IP. Cabe ressaltar também que o maior interesse dos estudantes é sobre o tema do suicídio, o que ficou confirmado pelas respostas sobre a motivação para frequentarem a disciplina e pela escolha do tema suicídio para realizar o trabalho de conclusão do curso. A partir desses dados, apontamos a importância de desenvolver o tema nas disciplinas em vários cursos da USP, enfatizando uma perspectiva multidisciplinar. Além da graduação, é preciso desenvolver o tema também na pós-graduação e estimular pesquisas na área. Oferecemos a disciplina “A Questão da Morte nas Instituições de Saúde e Educação” (PSA 5861) no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano, em que o tema suicídio comparece em várias aulas. Temos ainda orientado dissertações e teses sobre o tema. É um grão de areia na tarefa essencial de oferecer formação na maior universidade de nosso país. Ainda ampliando esse grão, em 2016 oferecemos a disciplina “Suicídio: Prevenção e Luto” (PSA 5921-1) no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia USP na pós-graduação a partir do pós-doutorado de Karina Fukumitsu (bolsista PNPD/Capes) “Cuidados e Intervenções para Sobreviventes Enlutados por Suicídios”. Foi oferecida uma vez, pois era uma das atividades do pós-doutorado de Karina.

Ressaltamos que o cuidado a pessoas com ideação e tentativas de suicídio e a familiares enlutados é tarefa para profissionais especializados numa perspectiva multidisciplinar. É importante que o País, nas suas diversas instituições de saúde, constitua um corpo de profissionais que possa coordenar as propostas de cuidados à população com sofrimento existencial nas suas necessidades específicas. Junto com as campanhas que desenvolvem atividades para a prevenção do suicídio, com cartilhas e programas de valorização da vida, é necessário o mesmo empenho para compor equipes multidisciplinares de cuidados nas várias instâncias de saúde mental em nosso país, a destacar os ambulatórios de saúde mental, os CAPS e UBS em todo o País. Essa é a meta proposta pelo Ministério da Saúde na sua Agenda Estratégia em 2016. Quanto à USP, espera-se que possa compor um grupo de especialistas que teria para si a tarefa de empreender a formação de estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais para estabelecer discussões e reflexões sobre o tema. E também para elaborar programas de cuidados para a população de estudantes, funcionários e docentes da própria Universidade, mas, e principalmente, também oferecer subsídios para muito além da USP, à população brasileira, subsidiando políticas públicas não só de prevenção do suicídio, mas também da posvenção, entendida como cuidados que se propõem a diminuir o impacto das tentativas de suicídio para quem consuma o ato e para familiares que vivem o processo de perda de pessoas pelo suicídio.

Bibliografia

ZORZETTO, R., FIORAVANTI, C. (2009). “Por um fio”. Pesquisa Fapesp, Edição Impressa, 158.

BOTEGA, N. J. (2006). Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006.

WERLANG, B.G., BOTEGA, N.J. (2004). Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed Editora.

Fonte: https://jornal.usp.br/artigos/a-necessidade-de-profissionais-que-enfrentem-o-suicidio/

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Um panorama breve sobre como prevenir o suicídio

Psicólogos defendem discussão responsável sobre suicídio

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo mundo, anualmente. Só no Brasil são 12 mil casos por ano, o que significa que a cada 24 horas 38 pessoas se suicidam. Os números podem ser ainda maiores, uma vez que nem sempre o suicídio é notificado. 

De acordo com dados divulgados pelo ministério da saúde na última quinta-feira (19), o Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio no ano de 2016, uma média de um caso a cada 46 minutos. O número representa um crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior, quando 11.178 pessoas tiraram a própria vida. 

Delicado, o tema é uma questão de saúde pública. Para ampliar o debate e quebrar tabus, o CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) iniciaram em 2015 a campanha do Setembro Amarelo. Neste mês, que marca a discussão sobre o tema, especialistas apontam quais ações podem ser importantes para superar esse problema. 


Para a psicóloga Sephora Cordeiro, falar sobre pode ser a melhor solução."O indivíduo que pensa em atentar contra a própria vida passa por um sofrimento emocional muito intenso e, sem dúvida, sofre de algum transtorno psiquiátrico, como depressão", pontua Sephora. Também de acordo com a psicóloga, a pessoa que tem esse tipo de pensamento, às vezes, precisa do apoio das pessoas que estão ao seu redor para que percebam seu sofrimento e a ajudem a reconhecer que precisa buscar um
profissional. 

Sephora lembra que há um grupo vulnerável e que pede uma atenção especial, como os que passam por um sofrimento emocional, principalmente quando associado a um transtorno psicológico ou psiquiátrico. Pessoas vítimas de preconceitos, como LGBTs, vítimas de machismo, de bulliyng ou que vivenciam eventos extremos, como os refugiados. "Muitas vezes é possível perceber indícios de que a pessoa está  enfrentando problemas quando usa frases como "eu não devia ter nascido", "não vejo mais sentido na vida", "queria dormir e não acordar mais", entre outras", afirma a psicóloga. 

De acordo com a psiquiatra Gisele S. Teixeira Bellinello, há ainda algumas variáveis, isoladas ou associadas, que podem ampliar o risco de suicídio, como depressão grave, transtorno afetivo bipolar, síndromes psicóticas, impulsividade, dependência de álcool ou outras substâncias psicoativas, traumas de infância, violência sexual e física, perda ou separação dos pais, Para as duas profissionais, a melhor forma de ajudar e prevenir o suicídio é buscar ajuda e informações sobre o sofrimento psicológico e transtornos psiquiátricos. "É importante que se fale mais sobre suicídio de modo responsável, desmistificando o tema e acabando com o preconceito que ainda existe, estimulando o tratamento", lembra Gisele. 

Com informações da Assessoria. Sob a supervisão de Rafael Fantin. Mariana Sanches, estagiária.

Fonte: https://www.bonde.com.br/saude/saude-e-ambiente/psicologos-defendem-discussao-responsavel-sobre-suicidio-483664.html

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A REPORTAGEM DO ANO DE 2018 EM PREVENÇÃO DO SUICÍDIO!


Sem dúvida, a melhor reportagem sobre prevenção do suicídio em 2018, até agora.

O órgão informativo que a publicou foi o NDOnline - portal de notícias do jornal Notícias do Dia, do grupo RIC Record Santa Catarina.

O acesso pode ser feito neste link.

Ficha técnica
Reportagem: Gustavo Bruning
Edição: Beatriz Carrasco e Schirlei Alves
Fotos: Flávio Tin
Arte: Cristina Oliveira


Entre fatos desconcertantes e a esperança que se renova (mesmo!)...

Um raio-x dos casos e das ações de prevenção ao suicídio no Brasil

Números mostram que mortes por suicídio aumentaram 2,3%, mas ações para mudar o cenário estão em desenvolvimento

Clara Cerioni 20/9/2018

Em 2016, o Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio. O índice é 2,3% maior em comparação com o ano anterior, quando foram registradas 11.178 mil vítimas.

No entanto, é possível que esses números sejam maiores. Segundo Fátima Marinho, diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, há um “subdiagnóstico” de 20% em mortes por suicídio no país.

CVV contra o suicídio (Tânia Rego/Agência Brasil)
A estimativa leva em conta casos de “intenção não determinada”, quando não se sabe se foi um acidente ou realmente uma decisão premeditada de tirar a própria vida.

Os dados foram apresentados pelo Ministério da Saúde, nesta quinta-feira (20), durante uma entrevista coletiva em Brasília.

Para fazer o levantamento, o órgão federal usa o banco de informações do Instituto Médico Legal e boletins policiais de todos os estados brasileiros.

De acordo com Luiz Scocca psiquiatra no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) 97% das pessoas que se suicidam nos dias de hoje têm alguma doença mental.

“Isso mostra que é necessário tratarmos das doenças da mente, como depressão e transtornos de personalidade. O suicídio é um problema de saúde pública e as ações de prevenção são essenciais”, explica.

Quem são as vítimas

Os registros mostram que a população masculina tem uma maior taxa de mortalidade nos casos de suicídio.

Entre os homens, tirar a própria vida é a terceira causa com mais vítimas no país (atrás de violência e acidentes de trânsito), com um crescimento de 20% nos últimos dez anos. Entre as mulheres, é a oitava.

Já a população feminina é a que mais apresenta tentativas de suicídio, mas a que tem menor mortalidade.

“As mulheres tentam, mas não necessariamente querem morrer. Há uma questão familiar, onde a mãe tem um papel fundamental na estrutura e isso é determinante para elas”, explica Fátima.

No entanto, a especialista afirma que é preciso analisar mais profundamente todas as variáveis para compreender com mais precisão esse cenário.

Por distribuição de idade, os jovens são as principais vítimas. A faixa etária com maior número de casos se estende entre 15 e 29 anos.

Já em relação a raça, a população branca é a que mais morre. Em média são 5,9 casos por 100 mil habitantes. Entre os negros e pardos, o índice médio é de 4,7 para 100 mil habitantes.

Em dez anos, estados do Norte e do Nordeste apresentaram um crescimento expressivo de casos de suicídio.

Entre as mulheres, houve alta no Amazonas (88,3%), Rondônia (65,5%) e Alagoas (45,8%). Já entre os homens, o aumento foi em Rondônia (120%), Maranhão (58,8%) e Piauí (48,8%).

Suicídio entre indígenas dispara

A morte de indígenas por suicídio no Brasil é a que mais preocupa os agentes de saúde do governo. A média de casos mortais por 100 mil habitantes chegou a 15,2 no levantamento de 2016. Além disso, os adolescentes, de 10 a 15 anos, representam 40% dessa estimativa.

Na coletiva, Luana Kumaruara, presidente distrital do Conselho Local de Saúde Indígena, explicou que determinantes sociais são fatores responsáveis pela alta taxa de suicídio nesses povos. “A violência, os estigmas e os preconceitos que os indígenas sofrem são algumas das causas.”

Ela afirmou que hoje há 10 mil agentes fazendo a prevenção do suicídio em praticamente todas as aldeias do Brasil. “Todos eles são indígenas e vivem nos territórios”, finalizou.

Ações de prevenção

Recentemente, o Ministério da Saúde liberou 6,5 milhões de reais para desenvolver pesquisas e ações de prevenção ao suicídio.

O dinheiro tem sido distribuído em pesquisas sobre risco de suicídio em pessoas portadoras do vírus do HIV, projetos na área de prevenção no SUS e atendimento humanizado para pessoas que tentaram tirar a vida.

Além disso, Rio Grande do Sul, Amazonas, Piauí, Mato Grosso do Sul e Roraima receberam, cada um, um incentivo de 1,4 milhão de reais para desenvolver ações de prevenção, porque as taxas de suicídio nessas regiões se descolam do restante dos estados.

A gratuidade das ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV) também surtiu efeito positivo. Em 2017, o centro recebeu 2 milhões de ligações de brasileiros em busca de ajuda. O número é o dobro do registrado em 2016.

Para Luiz Scocca da USP, falar sobre o assunto é uma das melhores atitudes para auxiliar quem tem pensamentos suicidas. “O medo e o tabu sobre o tema está acabando. É preciso falar disso, na mídia, claro que com seus cuidados, nas famílias e nas escolas”, conclui.

*Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 188, para o CVV – Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar.

Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/um-raio-x-dos-casos-e-das-acoes-de-prevencao-ao-suicidio-no-brasil/

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Falar em prevenção do suicídio é...

Algumas pessoas julgam mal quem comete o suicídio

Falar em prevenção do suicídio é se colocar no lugar de alguém que busca uma saída, e que não quer morrer, mas 'viver' melhor

Por Renata Brasil Araujo, psicóloga, coordenadora do Programa de Dependência Química do Hospital Psiquiátrico São Pedro e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

E se, em um dia qualquer, em que você se sentisse triste, desesperado com sua vida e sem esperanças, aparecesse alguém que lhe oferecesse uma viagem a um país desconhecido, mas que você imagina que seja um lugar tranquilo, no qual residem pessoas amigas, você iria? Você não se sentiria, ao menos, tentado a ir?

E se essa viagem não oferecesse passagem de volta? E se esse alguém fosse sua própria voz, aquela vozinha interior que se preocupa com você e que jamais lhe daria um mau conselho, mudaria sua opinião?

Falar em Setembro Amarelo e em prevenção do suicídio é se colocar no lugar de alguém que busca uma saída, e que não quer morrer, mas "viver" melhor, mesmo se não houver vida (perdoem-me o paradoxo). Ele pretende viver em outro mundo, que ele sonha que exista, onde mora um Deus bondoso, que vai lhe oferecer paz e perdão. E, se ele não acreditar nisso, por seu ceticismo, deve acreditar que a morte é, pelo menos, o fim para seu estado atual de "nada".

Existem pessoas que julgam mal quem comete o suicídio, mas deve ser porque não percebem o desespero que envolve fazer essa viagem sem volta. A dor do resultado do suicídio, na mente desses que são julgados, parece ser menor do que a dor de viver, e é justamente isto que os impele a tentar. Eles precisam que compreendamos que estão sofrendo e que devem urgentemente receber tratamento especializado para tal. Eles necessitam ser validados nas suas dores, mas também, ser apoiados a não agirem movidos por elas, sendo auxiliados a encontrar alternativas que lhes permitam ser felizes, pois devemos lembrar que há uma associação positiva entre grau de desesperança e risco de suicídio.

Assim, o que resumidamente precisamos fazer é nunca subestimar a dor do outro (este outro que pode estar aí, bem perto de você), mas ouvi-lo, ajudando-o na busca por tratamento e lhe oferecendo a esperança de uma vida melhor. Esse, sem dúvida alguma, é o jeito mais efetivo para prevenirmos o suicídio e diminuirmos os altos índices deste tipo de morte em nosso país.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2018/09/algumas-pessoas-julgam-mal-quem-comete-o-suicidio-cjm59w2sw03qp01pxe4z1vknd.html

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Twitter anuncia novo serviço para prevenção do suicídio
Redação O Estado de S. Paulo  10/9/2018 

O dia 10 de setembro marca o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, e o Twitter aproveita a data para anunciar uma nova parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), para ajudar e dar informações a pessoas que estejam vulneráveis ou propensas ao suicídio.

O serviço #ExisteAjuda funciona assim: ao buscar por termos relacionados relacionados ao suicídio ou automutilação, o usuário vai receber uma mensagem oferecendo ajuda e mais informações sobre como contatar o CVV.


"Você pode obter ajuda. Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil ou em crise, vocês não estão sozinhos. Nosso parceiro CVV pode ajudar. Ligue gratuitamente 188 de qualquer lugar do Brasil", diz a mensagem, que tem um botão para contatar diretamente o serviço.

"O Twitter tem demonstrado preocupação e envolvimento com a causa da prevenção do suicídio no Brasil, dando exemplo para outras organizações. O #ExisteAjuda deve acrescentar ainda mais nesse sentido, fazendo o CVV chegar próximo a pessoas que talvez desconhecessem o serviço, ou mesmo nem pensassem ser possível pedir ajuda para evitar o suicídio. São mais de 30 brasileiros mortos diariamente vítimas do suicídio, o que demonstra que ações como esta são urgentes e necessárias. O CVV atua gratuita e voluntariamente há 56 anos, e sabemos muito bem que quebrar os tabus em relação ao suicídio exige coragem e força de vontade”, afirma Adriana Rizzo, voluntária e porta-voz do CVV.

Em outros países, a mensagem vai dar informações sobre como contatar a central semelhante local. Além do Brasil, o #ExisteAjuda também está sendo implantado na Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Espanha, Hong Kong e Austrália, e já existia nos Estados Unidos, Japão e Coreia.

Além disso, a rede social também se uniu à Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (WSPD, pela sigla em inglês) para lançar um emoji especial com o símbolo oficial da campanha - um laço.  A imagem poderá ser visualizada em tuítes publicados entre os dias 7 e 16 de setembro com as hashtags em português #DiaMundialDaPrevençãoDoSuicídio, #PrevençãoDoSuicídio, e #SetembroAmarelo, além da hashtag #WSPD2018.

https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-estar,twitter-anuncia-novo-servico-para-prevencao-do-suicidio,70002496036

sábado, 8 de setembro de 2018

Faltam estudos científicos sobre o suicídio no Brasil

Os suicídios resultam de uma complexa interação de fatores, diz a Organização Mundial da Saúde

Fred Santana

Resistência da sociedade em tratar do tema faz com que o Brasil seja um dos países com menos estudos científicos sobre suicídio em todo o mundo.

Ao ouvir a palavra suicídio, é muito comum as pessoas que estão ao seu redor reagirem de forma desconfortável, insegura. Afinal, para muitos, é absolutamente inconcebível a ideia de uma pessoa tirar a própria vida. E justamente esta resistência em lidar com o tema por parte da sociedade brasileira que torna o suicídio um tabu em comparação ao resto do mundo. É a constatação feita pela socióloga Maria Cecília Minayo, pioneira sobre o tema.

A pesquisadora esteve em Manaus, na última semana, para apresentar os resultados do estudo “É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação de atuação do setor saúde”. O projeto foi realizado entre os anos de 2010 a 2012, com o objetivo de compreender a magnitude e a significância do suicídio na população brasileira acima dos 60 anos ou mais, cujas mortes ocorreram  no período de 1989 a 2009 no Brasil. Uma das primeiras constatações é justamente que o Brasil está atrasado em relação ao resto do mundo.

“Quando buscamos material de pesquisa no exterior, temos esse assunto amplamente abordado e documentado. Onde realmente há escassez de informações é no Brasil”, lamenta Cecília.

Para a socióloga, o principal culpado por essa negligência é o critério de classificação dos casos de suicídio pelo governo federal. “Ao inserir os casos de suicídio na mesma categoria de crimes, cuja incidência é estatisticamente maior, o poder público faz parecer que o problema é menor do que realmente é. Esse é o nosso calcanhar de Aquiles”, alerta.

Além do atraso do Brasil no trato do tema, a situação de cada faixa etária também foi foco da palestra. Tema central do estudo, o suicídio dos idosos tem como a desatenção o seu principal fator de risco.

“Os idosos são abandonados pela família e não possuem atenção do Estado. Isso leva muitos a se questionarem sobre que tipo de vida estão levando. Ou acabam se sentindo um peso para a sociedade, perdendo assim a motivação de viver. Isso tudo acelera o processo”, observa.

Apesar do estudo ter como foco a terceira idade, Cecília afirma que todas as faixas etárias estão expostas ao problema. “Jovens estão expostos em virtude do início da sua vida amorosa e sexual. O fim de relacionamentos nessa faixa etária é problemático e leva um número considerável a tentar ou cogitar o suicídio. Os homossexuais também são um grupo de grande incidência por conta do bullying que sofrem”, analisa.

No caso de crianças, a desestruturação familiar é o principal vilão. “As brigas de família tem forte impacto nas crianças”, destaca.

O que acontece

De acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), os suicídios resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais. Detectar rapidamente os sinais de alerta, além de fazer o encaminhamento para especialistas e monitorar o comportamento do suicida são passos importantes na prevenção. O desafio está justamente em identificar as pessoas que estão em risco e a que eles são vulneráveis para entender as circunstâncias que influenciam o seu comportamento auto-destrutivo.

Por exemplo, no Japão, o suicídio, até pouco tempo, tinha um significado de valor e estava ligado à salvação do nome da pessoa, à questão da honra. Já nos países ocidentais, sempre esteve mais associado a desordens mentais. Na verdade, o suicídio reflete uma ausência de motivos para continuar vivendo, quer sejam reais ou imaginários.

Nesta era globalizada, os valores econômicos são superestimados e os seres humanos estão sendo classificados como ganhadores ou perdedores, contrariando os preceitos de uma constituição que assegura a todos o direito de uma vida com um padrão mínimo de saúde, cultura e dignidade. Isto fica particularmente comprometido entre nações em guerra, onde todos os direitos assegurados são completamente esquecidos. Este total desrespeito à vida humana tem um preço, e não só em dinheiro, mas também em saúde mental.

Números

A OMS e a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (Iaps, em inglês) instituíram o dia 10 de setembro como o Dia Mundial para Prevenção do Suicídio. Em 2015, a OMS divulgou dados do primeiro Relatório Global para Prevenção do Suicídio, revelando que mais de 800 mil pessoas dão fim à própria vida todos os anos no mundo. E para cada suicídio consumado, há aproximadamente 20 tentativas sem sucesso. O país com maior índice de suicídios é a Rússia, com 39 vítimas a cada 100 mil habitantes. França, Alemanha, Canadá apresentam uma taxa ao redor de 15.

Ainda de acordo com a OMS, o suicídio é um grande problema de saúde pública e aproximadamente 75% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda. O Brasil é o oitavo país, nas Américas, em número de suicídios. “Tem havido um crescimento expressivo do suicídio no mundo inteiro. No Brasil, a taxa é alarmante porque não se falava abertamente nisso, mas se sabe do problema”, afirma o pesquisador da Iaps, Paulo Amarante.

“Esse mito de que o Brasil é um país alegre não é real. Na verdade, o que está acontecendo é um processo muito grande de individualismo e tudo tem a ver, estruturalmente, com as ideias de suicídio”, ressalta.

http://www.emtempo.com.br/os-suicidios-resultam-de-uma-complexa-interacao-de-fatores-diz-a-organizacao-mundial-da-saude/

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

"Uma palavra pode salvar uma vida"!

Núcleo de prevenção ao suicídio atendeu mais de mil pessoas em 2017 em Rio Branco: ‘uma palavra pode salvar uma vida’

Psicóloga Josiane Furtado participou do Bate Papo do G1 desta quarta (5). Setembro Amarelo debate a prevenção do suicídio com programações.

Diego Torres Rio Branco-AC 6/9/2018 

Uma palavra, uma atenção maior e apoio são alguns dos fatores que podem ajudar uma pessoa que pensa em suicídio. Para debater o tema, a psicóloga Josiane Furtado deu dicas e falou sobre o Setembro Amarelo, mês escolhido para prevenção ao suicídio, no G1.


A profissional compõe a equipe do Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb). Os dados do núcleo mostram que no primeiro semestre de 2018 foram atendidos 509 pessoas, que tentaram o suicídio ou que tinham a tendência. Em 2017 foram mais de mil ao londo do ano.

Josiane aproveitou para convidar a comunidade para a 2ª jornada da Prevenção ao Suicídio que ocorre nos próximos dias 10,11 e 12 no auditório da FAAO.

A programação do mês tem ainda uma parceria com o Cine Clube Opiniões, com exibições de filmes na Filmoteca Acreana, anexo da Biblioteca Pública, aos sábados.

"O núcleo tem psicólogos e é livre demanda, qualquer pessoa ou familiar que queira orientação pode ir lá, sendo que não fazemos psicoterapia nesse plantão, a gente encaminha para unidades básicas, clínicas escolas e onde tem as demandas. Caso um desses que a gente atenda precise ser internado, passamos para a classificação de risco, volta para o médico, que avalia junto com a gente e encaminha para os leitos de saúde mental, no Huerb", explicou a profissional.

A psicóloga explicou ainda como surgiu o setembro amarelo. Segundo ela, a campanha iniciou nos Estados Unidos por uma família de um jovem que tinha tentado suicídio.

"Ele tinha um mustangue amarelo que gostava muito e, após essa tentativa de suicídio, a família, ao invés de ficar fechada, viu que tinha que fazer alguma coisa e começou uma campanha familiar e na comunidade para que as pessoas começassem a perceber o outro, perceber o próprio filho, o vizinho em quadro de depressão, de angústia ou de um pânico", relembrou.

O núcleo serve também para ouvir o paciente e detectar o grau de risco de suicídio.

"Se está em um risco fica internado, se não, tentamos colocar esse paciente na rede. Não existe perfil de pessoas que se suicidam. Existem pessoas que demonstram, outras que não e quando a família sabe já até tentou. Atendemos de crianças a idosos sendo que na maioria, 70%, são de até 29 anos e não tem classe social, não tem idade e nem grau de escolaridade", afirmou.

Grupos de autoajuda

Ainda segundo a profissional, existem grupos de pacientes que se reúne no intuito de oferecer ajuda e se auto ajudar no tratamento. Um desses grupos se reúne no Horto Florestal há cada 15 dias. Josiane falou sobre a importância desses encontros, que são promovidos de forma independentes.

"Os pacientes que se internam no Huerb têm o número uns dos outros e eles mesmo ligam e é uma prevenção. Esses grupos de autoajuda são muito importantes, mas existem poucos ainda aqui no Estado", complementou.

'Gatilhos'

Conforme Josiane, as pessoas que tentam suicídio passam por um longo processo até chegar ao extremo de querer tirar a própria vida. Segundo ela, a pessoa não adoece do dia para noite e nem sempre tem um fator ou doença que serve como ‘gatilho’ para resultar no suicídio.

“Existem pessoas que tentam suicídio que não tem depressão, não é esquizofrênico e aconteceu algo na vida dele que não suportou e tentou suicídio. Existem pessoas que podem ter tendência a depressão, mas não têm [tendência ao suicídio], mas aí aconteceram coisas na vida dele e um dia acontece algo que é a gota d’água e o gatilho para que fizesse”, falou.

Outro ponto abordado na conversa foi que nem toda pessoa que tentou suicídio vai tentar novamente.

"Uma vez suicida não sou sempre suicida. Posso ter tentado aquela vez e não tentar de novo. Se tiver feito um tratamento e está em em consigo mesmo um ambiente familiar, escolar porque é todo um contexto ele vai aceitar isso bem", argumentou.

Ajuda da sociedade

Ajuda da família, amigos e conhecidos é importante, mas qualquer pessoa da sociedade civil pode ajudar e contribuir para o tratamento dessas pessoas. Josiane deu dicas de como ajudar uma pessoa com tendência ao suicídio.

"Aprender a ouvir essa pessoa porque hoje estamos em uma correria tão grande que não ouvimos as pessoas. Ouvir sem julgar e perguntar se quer ajuda, se pode ajudar", destacou.

Toda ajuda é bem-vida, mas segundo psicóloga o paciente precisa assumir que precisa dessa ajuda. Josiane explicou uma das principais barreiras enfrentadas é a da aceitação.

"A negação é um dos principais problemas porque se ele não se vê doente não tem como tratar. Não podemos obrigar, tem o direito de escolha", concluiu.

Para assistir a entrevista clique aqui.

Fonte: https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2018/09/06/nucleo-de-prevencao-ao-suicidio-atendeu-mais-de-mil-pessoas-em-2017-em-rio-branco-uma-palavra-pode-salvar-uma-vida.ghtml

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Projeto para uma política nacional de prevenção ao suicídio é lançado na Câmara Federal

Deputado de MS apresenta projeto que estabelece política nacional de prevenção ao suicídio

De autoria de Fábio Trad, o projeto institui diretrizes intersetoriais para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento à pessoa com comportamento suicida e de sua família

4/9/2018 

O deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) apresentou nesta terça-feira (4) um projeto que institui uma política de prevenção ao suicídio em todo o País.

O Projeto de Lei 10781/18, de sua autoria, estabelece diretrizes intersetoriais para o desenvolvimento de ações, políticas e atendimento à pessoa com comportamento suicida, incluindo-se aí os membros de sua família. 

"Esse projeto nasceu da união de esforços de psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, juristas, sociólogos e pessoas direta e indiretamente envolvidas na questão do suicídio. Portanto, eu me orgulho em apresentar um projeto bem elaborado, consistente e que vai contribuir para salvar vidas, evitando tragédias inomináveis que hoje infelizmente frequentam os lares brasileiros", disse o deputado Fábio Trad. 

A promoção do debate, reflexão e conscientização sobre o tema e a participação da sociedade civil na aplicação e desenvolvimento de ações voltadas à prevenção do auto-extermínio também constam no texto, o que deve ocorrer a partir de programas que desenvolvam habilidades e conhecimento nas pessoas da comunidade para que identifiquem indivíduos sob risco de cometer suicídio.

O projeto também estabelece os direitos da pessoa que tentou suicídio, como acesso a serviços de saúde, de forma integral, incluindo atendimento multiprofissional e medicamentos, bem como a sua família.

Outro destaque do texto é a criação de um serviço telefônico nacional disponível vinte e quatro horas, oferecido por operadores devidamente capacitados para atenção e momentos de crise com risco de ocorrência de suicídio.

"Para isso, temos de incentivar a formação e capacitação de profissionais especializados no atendimento a pessoas que vivem em estado de profunda desesperança, vazio e perda de sentido existencial", acrescentou.

Em defesa da vida 

De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016 um total de 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no País, sendo 79% delas homens e 21% mulheres. A média nacional é de 8,7 a cada 100 mil habitantes e no Mato Grosso do Sul os números são ainda piores: 13,3.

Sensível a esta triste realidade, o deputado Fábio Trad tem se notabilizado na Câmara Federal também por apresentar projetos que abordem a temática da prevenção ao suicídio.

No último dia 14 de agosto, o parlamentar protocolou um projeto que cria o "Prêmio Nise da Silveira de Boas Práticas e Inclusão em Saúde Mental", que pretende contribuir na superação de preconceitos e estigmas das pessoas consideradas doentes mentais e no reconhecimento dos seus direitos como seres humanos e cidadãos.

O prêmio, que leva o nome da médica reconhecida por humanizar o tratamento psiquiátrico no Brasil, privilegia ações em que a pessoa em sofrimento psíquico possa ser tratada com dignidade no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, trabalho e comunidade, assim como como ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis, previstos na Lei Federal 10.216/2001.

"Com base em dados de estudos de especialistas, sabemos que todos os casos de autoextermínio estão relacionados a algum tipo de transtorno mental. Portanto, a atenção aos pacientes que apresentam esse problema é uma das iniciativas mais eficientes na prevenção do suicídio", disse Trad.

Fonte: http://www.msnoticias.com.br/editorias/politica-mato-grosso-sul/deputado-de-ms-apresenta-projeto-que-estabelece-politica-nacional-de/81547/

Tratamento ambulatorial especializado e gratuito em Teresina-PI

Provida oferece atendimento gratuito na prevenção do suicídio

4/9/2018

Há quatro anos, no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10), Teresina recebeu um ambulatório especializado no tratamento deste problema. Se trata do PROVIDA, que disponibiliza psicólogos e psiquiatra para atendimento de pessoas com ideias suicidas ou que tentaram o suicídio recentemente. O serviço é gerenciado pela Fundação Municipal de Saúde (FMS). Em 2017 o ambulatório realizou 2.514 atendimentos psicológicos e médicos e de janeiro a julho de 2018 já foram 1.465 atendimentos.


O PROVIDA funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h no Centro Integrado de Saúde Lineu Araújo. O atendimento é por demanda espontânea, ou seja, não precisa de marcação prévia. O paciente é atendido por psicólogo e psiquiatra e, dependendo do quadro, inicia o acompanhamento no ambulatório.

São admitidos no PROVIDA somente usuários com idade superior a 12 anos, que se encontram em crise suicida. “Definimos uma crise suicida como um breve e intenso episódio de ideação suicida acompanhado de desejo suicida, uma tentativa de suicídio, ou outros comportamentos relevantes ao suicídio”, afirma Ideane Pereira, psicóloga do ambulatório de valorização da vida.

Ela afirma também que o estado de crise é caracterizado por desequilíbrio e desorganização, vivenciado com muito sofrimento psíquico (ansiedade, depressão, raiva, pânico, desespero, desesperança, e/ou dor psíquica, dentre outros), pela ruptura do funcionamento habitual prévio, bem como pela limitação no tempo, podendo durar de quatro a oito semanas. “Se a crise não se resolver com sucesso nesse período, o desequilíbrio pode ser tornar crônico”, explica Ideane Pereira.

De acordo com relatório geral 2017 do PROVIDA, 69% das pessoas atendidas no local foram do sexo feminino, 64% eram jovens de até 29 anos, 68% solteiros, 37% efetivamente tentaram suicídio, 8% planejaram, 55% tinham ideação suicida, sendo que os que tentaram realizaram o ato em suas residências e 88% dos casos pediram ajuda após o ato.

O tratamento no PROVIDA é realizado através de acompanhamento semanal durante três meses, que inclui ainda a orientação a familiares e entes queridos para auxiliar em momentos de crise. Após esse período, de acordo com avaliação médica, a pessoa pode ser encaminhada para complementação do tratamento.

Fonte: https://cidadeverde.com/noticias/281607/provida-oferece-atendimento-gratuito-na-prevencao-do-suicidio

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Vínculos afetivos e o seu auxílio na prevenção do suicídio

Fortalecimento de vínculos auxilia na prevenção do suicídio

Bárbara Nóbrega Mangieri 2/9/2018

Resiliência é uma característica que pode ser aprendida e aperfeiçoada. Na opinião do psiquiatra Ivo Pinfildi Neto, é essencial para prevenir que mais pessoas tentem tirar a própria vida. “Ser resiliente é suportar ou ser capaz de passar por dificuldades e extrair delas a força necessária para seguir adiante”, reflete.

Dar um significado à vida é parte crucial do desenvolvimento dessa característica, segundo o médico. “É preciso criar vínculos sólidos. A gente cada vez menos se apega às pessoas e às filosofias de vida. Isso dá um propósito ao ser humano”, diz.

A falta de sentido e de perspectiva é um sintoma que V.S. consegue identificar em sua história. A jovem de 25 anos tentou tirar a própria vida em fevereiro do ano passado. Ela já lidava com uma depressão diagnosticada há cinco anos, que tratava com terapia e medicamentos controlados, mas um deles a deixava muito agitada. “O médico trocou por outro remédio e, nessa fase de adaptação, comecei a ter ataques de pânico. Aí os pensamentos suicidas apareceram com mais frequência”, diz.

Ela confessa que às vezes questionava seus sintomas. “Convivo há anos com a depressão. Tenho familiares e amigos com quem posso falar abertamente sobre o assunto e, mesmo assim, minimizei a gravidade do problema”.

Pinfildi ressalta, porém, que a presença de uma doença mental não é pré-requisito para o pensamento ou a tentativa de suicídio. “O risco para quem sofre com um distúrbio é maior, mas as causas são multifatoriais. Uma situação pontual pode deixar a pessoa com a sensação desesperadora de que não há outra saída”, explica o médico.

NÚMEROS

Considerado um problema de saúde pública, o suicídio vem aumentando em todas as camadas da sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa tira sua própria vida a cada 40 segundos no mundo. No Brasil, houve aumento de 15% nos últimos 12 anos. Só em Jundiaí, a média é de 20 suicídios por ano, segundo o Centro de Atenção Psicossocial (Caps).

Este ano, a cidade já notificou 10 casos, sendo oito homens e duas mulheres. Pinfildi, porém, ressalta que homens aparecem com mais frequência nas estatísticas porque costumam escolher métodos mais drásticos.

“O número de mulheres que tentam se matar é maior, ou seja, não tem um gênero que sofre mais”. O problema também não tem idade. “Entre os idosos, os números estão aumentando. Eles têm que lidar com questões relacionadas ao fim da vida e muitas vezes possuem uma doença crônica, o que aumenta o risco”, diz. Já entre os mais jovens, o suicídio é a segunda principal causa de morte e, para o psiquiatra, o uso irrestrito da tecnologia está relacionado.

“As respostas são muito imediatas e a autoestima pode ser afetada pelas relações virtuais, já que o cérebro deles ainda não está totalmente formado”, diz. “Eles são biologicamente mais vulneráveis e ficam sem recursos para lidar com a perda, a dor e a frustração”.

Os adultos também não estão imunes. Para Pinfildi, este grupo está tão focado em questões cotidianas que acaba perdendo conexões significativas. “Toda a energia e o foco estão direcionados às preocupações com segurança, aluguel, saúde, comida etc”, exemplifica. O propósito por trás das atividades desempenhadas se perde e as relações ficam em segundo plano. “Mas sem isso, ficamos sem chão quando ‘a casa cai’”, reflete. O fator comum entre todos os grupos, como se vê, é a falta de ferramentas emocionais para lidar com a dor.

DIÁLOGO COM O CVV

O Centro de Valorização da Vida (CVV) aposta no diálogo aberto e na escuta ativa como uma possível solução. “As pessoas precisam desabafar antes que o copo transborde e elas tomem uma atitude irreversível”, afirma a coordenadora do CVV Jundiaí, Maria Bernadete Amaral Carneiro. Por isso, a entidade atende ligações – de forma gratuita e anônima – através do número 188, de qualquer lugar do Brasil.

Segundo Bernadete, os 27 voluntários do CVV Jundiaí atendem cerca de 1.600 pessoas por mês, seja por telefone, chat online e e-mail. “São jovens, adultos e idosos que muitas vezes não têm a intenção de tirar a própria vida, mas estão passando por um momento difícil e não têm com quem conversar”, revela.

COMO AJUDAR

Todos os entrevistados são categóricos sobre a importância de escutar sem julgamentos. “Não diga o que se deve ou não fazer. Apenas seja alguém confiável para que a pessoa ponha suas angústias para fora”, afirma Bernadete.

Pinfildi ressalta que, ao abrir um canal de diálogo, você pode indicar que a pessoa busque ajuda profissional. “Às vezes o indivíduo não reconhece aquela dor como um problema de saúde”. Ele diz que falar de dor e sofrimento é um tabu que precisa ser derrubado.

A Prefeitura de Jundiaí e o CVV vão colocar o tema em debate durante o 3º Encontro de Valorização da Vida. O evento faz parte da programação da campanha Setembro Amarelo e será realizado dia 14 de setembro, no Teatro Polytheama.

Fonte: www.jj.com.br/noticias/fortalecimento-de-vinculos-auxilia-na-prevencao-do-suicidio/

domingo, 2 de setembro de 2018

Suicídio de adolescentes - três matérias do jornal Zero Hora


Suicídio de adolescentes: conselhos para professores, pais e amigos

Levantamento acendeu alerta sobre o problema entre alunos da rede estadual. Campanha busca discutir o assunto e divulgar ações preventivas

Acesse aqui

Suicídio de adolescentes: conheça a "aula de vida" criada em escola de Guaíba

Meta de professora é auxiliar os alunos a se tornarem mais autoconfiantes. Campanha Setembro Amarelo busca discutir o assunto e divulgar ações preventivas

Acesse aqui 

Suicídio de adolescentes: "O grupo da escola me salvou"

Levantamento inédito acende alerta sobre tentativas de suicídio e casos de automutilação entre alunos da rede estadual. Campanha Setembro Amarelo busca discutir o assunto e divulgar ações preventivas

Acesse aqui

Suicídio de adolescentes: conselhos para professores, pais e amigos

Levantamento acendeu alerta sobre o problema entre alunos da rede estadual. Campanha busca discutir o assunto e divulgar ações preventivas

Na escola
  • Ao primeiro sinal de depressão, chame a família. Se a família não tomar nenhuma medida, informe ao Conselho Tutelar e à rede de saúde local. 
  • Crie espaços de fala, de expressão de sentimentos e dúvidas que possam ser acolhidos e compartilhados pelo grupo.
  • Crie momentos de conversa com os alunos enfatizando a vida.
  • Desenvolva ações de prevenção do bullying.
  • Elabore, em parceria com outros setores, projetos voltados para a realidade da sua escola.
  • Faça parcerias com as universidades e/ou com as unidades básicas de saúde da área da sua escola, solicitando a participação dos profissionais dessas unidades em palestras e debates.
  • Falar sobre o suicídio não faz com que a pessoa decida se matar, mas dá a ela a oportunidade de conversar sobre seu sofrimento e assim obter ajuda.
  • Insira a vigilância, a prevenção do suicídio e a promoção da vida no projeto político pedagógico da escola.
  • Leve os alunos ao cinema, teatro, exposições, ou crie com eles uma exposição de trabalhos sobre o tema (seguido de debates), estabelecendo parceria com as secretarias de educação, saúde e cultura.
  • Trabalhe o tema de forma lúdica, desfazendo mitos e abrindo possibilidades de discussão.
  • Previna o comportamento desafiador e a violência escolar.
Em casa 
  • Dialogue com o filho e tenha um espaço para convivência. É preciso tirar um tempo para a família.
  • Não deixe o filho isolado. Tenha contato com ele.
  • Uma criança ou adolescente muito isolado, que mude seu comportamento de base, que altera sua dinâmica, pode estar em sofrimento. São sinais de alerta, mas não significam necessariamente doença. Neste momento, o ideal é conversar com o filho, dizendo que você se preocupa e que percebeu que ele está diferente. Mesmo que ele não queira conversar, é sempre importante, de maneira sincera, dizer que você está disponível para ajudar caso ele precise, mesmo que pareça um assunto difícil.
Se está acontecendo com um amigo seu
  • Geralmente, o primeiro a perceber é o amigo.
  • Avise os próprios pais para que eles acionem a família do amigo.
  • Acione alguém da escola, professor ou orientador educacional.
  • Guardar segredo não ajudará o amigo. O ajudar é poder repartir.
Preste atenção

Sintomas de depressão
  • Alteração de padrão de sono – dorme mais
  • Alteração de padrão de apetite
  • Alteração de humor: pode ter choro frequente ou apenas demonstrar a alteração em atitudes mais impulsivas (se era uma criança ou adolescente calmo e passa a demonstrar irritação com situações comuns da rotina) 
  • Sentimentos de desesperança, desamparo e desespero
  • Desânimo
  • Queda no rendimento escolar
  • Pensamento negativo
  • Diminuição de prazer
  • Isolamento 
  • Tédio (não tem nada para fazer)
  • Uso contínuo de roupas compridas em períodos de calor
  • Uso de pulseiras para esconder os braços
Causas que podem desencadear a depressão 
  • Abuso de substâncias
  • Abuso físico e sexual na infância
  • Bullying
  • Desemprego, perda recente do emprego ou endividamento dos pais
  • Dificuldade de integração e socialização na escola
  • Dificuldades em relação a identidade e orientação sexual
  • Histórico familiar de transtorno psiquiátrico
  • Problemas emocionais, familiares e sociais
  • Rejeição familiar
  • Situações de luto
  • Situações de assédio moral
  • Trabalho infantil
  • Violência familiar
Colaboraram: psiquiatras Berenice Rheinheimer, Sara Sgobin e Christian Kieling, psicóloga Claudia Weyne Cruz e manual de bolso do Comitê de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio do RS.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/noticia/2018/08/suicidio-de-adolescentes-conselhos-para-professores-pais-e-amigos-cjli2tn6q05r301n0o9urfgdy.html

sábado, 1 de setembro de 2018

Suicídio e transtornos mentais

Mais de 90% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais

Neste Setembro Amarelo, campanha digital alerta sobre a depressão e a possibilidade de prevenir essas mortes

Se por um lado as discussões relacionadas ao suicídio vêm ganhando mais espaço na sociedade e no âmbito da ficção, ainda é preciso avançar no entendimento dos aspectos médicos diretamente relacionados a esse problema. Mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E os transtornos de humor, entre os quais se destaca a depressão, representam o diagnóstico mais frequente nesses casos, presente em 36% das vítimas. Também estão relacionados ao problema a dependência de álcool (em 23% dos casos), esquizofrenia (14%) e transtornos de personalidade (10%).

“Muitos acreditam que o suicídio resulta de uma escolha livre, como um exercício da liberdade entre escolher a vida ou a morte. Mas, na verdade, em quase 100% dos casos ele está associado a uma doença mental. Os dados da OMS mostram, por exemplo, que em apenas 3,2% dos casos não foi possível identificar um diagnóstico preciso entre as vítimas. Esses transtornos mentais alteram a percepção da realidade e podem interferir no livre-arbítrio”, afirma o psiquiatra José Alberto Del Porto, pós-doutor pela University of Illinois at Chicago (EUA) e professor-titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Setembro Amarelo

Para desmistificar o assunto, desde 2014 o Brasil participa da campanha mundial Setembro Amarelo, com foco no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado no próximo dia 10. Neste ano, considerando a estreita relação do problema com os quadros depressivos, a Pfizer firmou uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV) para desenvolver uma ação digital de conscientização sobre a doença. Por meio de um videocase criativo e vinculado ao universo do teatro, que será disseminado a partir da hashtag #naoesotristeza, a ideia é desconstruir os estereótipos associados à depressão, esclarecendo que se trata de uma doença complexa e reconhecida pela OMS, que apresenta vários componentes biológicos e deve ser tratada adequadamente.

“Considerando a relação entre os transtornos mentais e o suicídio, o diagnóstico precoce dessas doenças deve ser a prioridade. E desmistificar o assunto, aumentando o debate e encorajando as pessoas na busca por auxílio médico, é uma forma de contribuir com toda a sociedade”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia. “Vale destacar que estamos falando de doenças para as quais existe tratamento, o que significa que o suicídio, em grande parte, pode ser prevenido a partir da adoção de medidas adequadas”, complementa.

Presidente do CVV, Robert Paris destaca a importância do suporte social a esses pacientes. “O apoio emocional e o estimulo à inclusão em grupos e vivências sociais que valorizem a pessoa são fundamentais”, afirma. Reconhecido pelo Ministério da Saúde, o CVV presta um serviço gratuito de prevenção do suicídio. A equipe de voluntários fica disponível para acolher e atender qualquer pessoa que busque apoio emocional, sempre de forma sigilosa, seja de forma presencial, em algum posto do CVV, ou por telefone (141) e canais da instituição na internet (chat, skype e e-mail), que podem ser acessados por meio do site http://www.cvv.org.br/.

Perfil

Ainda que a prevalência da depressão seja maior nas mulheres em relação ao público masculino¹, o suicídio é muito mais comum entre os homens em todo o mundo.  No Brasil, um estudo sobre a mortalidade por suicídio no Estado de São Paulo, realizado pela Fundação Seade, reforça esse perfil. O trabalho, que levou em conta as certidões de óbitos dos Cartórios de Registro Civil de todos os municípios paulistas, aponta que 80% das vítimas de suicídio ao longo biênio 2013-2014 eram homens e que 72,3% deles tinham entre 15 e 64 anos de idade.

A literatura médica² relaciona alguns fatores considerados protetores para as mulheres em relação ao suicídio, como taxas menores de dependência de álcool, religiosidade mais pronunciada, maior propensão a buscar ajuda em momentos de crise, percepção precoce dos sinais de depressão e participação mais ativa em redes de apoio social. “Já os homens, em geral, expõem-se mais a mortes violentas, como o suicídio. E isso ocorre tanto por razões culturais como pelo fato de geralmente apresentarem mais fatores de risco, entre eles o alcoolismo e o uso de substâncias psicoativas”, comenta Del Porto.

Sob o ponto de vista cultural, o médico destaca outras especificidades do comportamento masculino que podem estar relacionadas às taxas elevadas de suicídio nesse público. “Os homens, de fato, sofrem mais pressão para que se mostrem fortes e tendem a procurar menos ajuda do que as mulheres. Além disso, sofrem mais com alguns estressores sociais, a exemplo do desemprego, das instabilidades econômicas e da perda do “status” social”, afirma o psiquiatra. “Vale destacar, contudo, que o suicídio é a consequência final de um processo e não deve ser atribuído, como muitas vezes se faz, a fatores desencadeantes imediatos, como uma perda recente, por exemplo”, complementa.


Embora os homens sejam mais propensos ao suicídio do que as mulheres, há outros fatores de risco relacionados ao problema, como um histórico familiar para a doença, poucos vínculos sociais e solidão, além de desemprego, traumas e episódios de abuso ou maus-tratos na infância, bem como a presença de doenças clínicas não psiquiátricas, entre elas câncer, aids, enfermidades neurológicas e reumáticas. “Tentativas prévias de suicídio também devem ser consideradas nesse contexto. Cerca de 50% das vítimas de suicídio fizeram ao menos uma tentativa anterior”, afirma Del Porto.

Sazonalidade

Os meses mais quentes do ano, sobretudo o início da primavera, em setembro, são aqueles que registram o maior número de casos de suicídio, segundo o estudo da Fundação Seade. Trata-se de um padrão já observado em outros países, a partir de estudos americanos e europeus³. A literatura médica aponta algumas hipóteses para esse cenário, como o fato de a vida social ser, geralmente, mais intensa nos meses mais quentes, o que poderia desencadear situações de estresse em pessoas com depressão. Alguns estudos sugerem ainda que a exposição à luz solar, mais intensa no calor, poderia interferir nos níveis do neurotransmissor serotonina, impactando os comportamentos e as emoções, especialmente no que se refere à impulsividade e à agressividade4 5.

Em outra frente, alguns psiquiatras discutem a “teoria das promessas quebradas”6 como forma de justificar a sazonalidade dos casos de suicídio, sugerindo que a primavera, feriados e fins de semana promovem uma expectativa de acontecimentos agradáveis – que, na prática, nem sempre se concretizam, o que teria um forte impacto para indivíduos vulneráveis. Essa hipótese também é utilizada para explicar a concentração de casos aos domingos e segundas-feiras. No estudo da Fundação Seade, por exemplo, 32% dos casos foram registrados nesses dois dias. Globalmente, grande parte dos estudos internacionais aponta a segunda-feira como o dia com a maior concentração de óbitos relacionados ao suicídio7.

Saúde pública
A cada ano, são registrados no mundo cerca de 800 mil casos de suicídio, que já é considerado a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, segundo a OMS.  De acordo com a entidade, o Brasil é o oitavo país do mundo em número de suicídios, com uma média de 5,8 casos a cada 100 mil habitantes. “Estamos diante de um verdadeiro problema de saúde pública, mas a prevenção não se limita à rede de saúde e deve levar em consideração aspectos biológicos, psicológicos, políticos, sociais e culturais, de forma que o indivíduo seja considerado como um todo em sua complexidade”, afirma Del Porto.

Na avaliação do psiquiatra, é preciso estimular um debate aberto sobre o tema, que ainda é tratado como tabu até mesmo entre os médicos. “Teme-se, muitas vezes, perguntar ao paciente sobre assuntos relacionados ao suicídio por pensar que a simples pergunta poderia sugerir a ele ideias de morte. Mas, na verdade, abrir espaço para o paciente falar sobre o tema poderá, muitas vezes, prevenir o problema. Perguntas mais genéricas sobre as perspectivas de vida e os planos desse indivíduo para o futuro podem ajudar a introduzir a temática com leveza”, conclui.

Referências

1 BAPTISTA, Makilim Nunes; BAPTISTA, Adriana Said Daher  e  OLIVEIRA, Maria das Graças de. Depressão e gênero: por que as mulheres deprimem mais que os homens?. 1999, vol.7, n.2
2 Qin P, Agerbo E, Westergard-Nielsen N, et al. Gender differences in risk factors for suicide in Denmark. Br J Psychiatry 2000;177:546-550.
3 GABENNESCH, H. When Promises Fail: A Theory of Temporal Fluctuations in Suicide. Social Forces Journal, Oxford University Press, n. 67, 1988.
4 LAMBERT, G.W. et al. Effect of sunlight and season on serotonin turnover in the brain. The Lancet, London, v. 360, n. 9.348, p. 1.840-1.842, Dec. 2002.
5 DE VRIESE, S.R.; CHRISTOPHE, A.B.; MAES, M. In humans, the seasonal variation in poly-unsaturated fatty acids is related to the seasonal variation in violent suicide and serotonergic markers of violent suicide. Prostaglandins, Leukot Essent Fatty Acids (PLEFA-Journal), Belgium, v. 71, 2004.
6 GABENNESCH, H. When Promises Fail: A Theory of Temporal Fluctuations in Suicide. Social Forces Journal, Oxford University Press, n. 67, 1988.
7 BANDO, D.H. Sazonalidade, efemérides e a mortalidade por doença coronariana, AVC, insuficiência cardíaca, acidente de transporte, suicídio e homicídio na cidade de São Paulo, 1996 a 2009. 106 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Medicina, USP, São Paulo, 2012.

Fonte: www.pfizer.com.br/content/Maioria-dos-casos-de-suicidio-estao-relacionados-transtornos-mentais