terça-feira, 30 de junho de 2020

Cuidados preventivos para policiais que indo para a reserva... Experiência a se observar em Portugal!

PSP de Coimbra e Faculdade de Psicologia previnem suicídio dos polícias na “saída do ativo”


O Comando Distrital da PSP de Coimbra, em parceria com a Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, lançou hoje o Projeto Phasing-out, que prepara os policias para a fase da “saída do ativo” e início da reforma.

O objectivo é realizar de forma acompanhada, por profissionais de psicologia, a “a saída da vida ativa das pessoas que trabalham no Comando e que passam à situação de pré-aposentação e que, por força das circunstâncias, se veem perante uma nova realidade” divulga a Polícia de Segurança Pública de Coimbra.

A PSP recorda que “ao longo de algumas décadas temos assistido ao progressivo aumento da esperança média de vida na população, assim como da sua capacidade funcional ao longo do processo de envelhecimento”.

Com este projeto, o Comando Distrital  de Coimbra reconhece que “se torna fundamental para os trabalhadores à medida que envelhecem ir estimulando a sua mobilidade, independência e saúde” destacando que se trata de “uma das mais veementes recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU)e recentemente “a mesma preocupação foi plasmada no Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, da DGS e Ministério da  Saúde”.

O conhecimento das “medidas que de preparação para a transição entre a vida ativa e a reforma” é encarado como fundamental pela PSP pois “mais do que uma alteração da rotina” dos polícias em aposentados ou pré-aposentados, “poderá constituir uma crise psicossocial e é uma preocupação da Direção Nacional da PSP e do Comando de Coimbra”.

O projeto o Projeto Phasing-out prevê criar uma “planificação para este período da vida e é fundamental para todos os cidadãos como continuidade da planificação para a vida, devendo ser estimulada” .

Expectativas em relação à saída do ativo, enquadramento jurídico, institucional, financeiro e psicossocial, ciclo de vida, identidade profissional e novos projetos são áreas de intervenção do projeto.

São também abordadas temáticas como a saúde e autocuidado, (re)construção de relações familiares e sociais, bem como a gestão de tempo e qualidade de vida.

O projeto tem a participação das professoras da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Margarida Pedroso Lima e Janes Santos Herdy, bem como das psicólogas colocadas no Comando de Coimbra da PSP.

Para a primeira sessão foram convocados os Polícias que estão no ativo e que nasceram em 1960, 1961 e 1962, sendo que a sua participação é voluntária, confidencial e anónima.

Fonte: www.noticiasdecoimbra.pt/psp-de-coimbra-e-faculdade-de-psicologia-previnem-suicidio-dos-policias-na-saida-do-ativo/

sábado, 20 de junho de 2020

São José do Rio Preto-SP em defesa da vida: múltiplas ações

Entidades e grupos atuam na prevenção do suicídio em Rio Preto

(19 junho 2020) Colaborou Yasmin Lisboa

Enquanto para uns o suicídio parece um meio para dar um ponto final aos problemas, outros enxergam que é possível resolver tudo apenas adicionando uma vírgula. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas com apenas duas palavras: informação e prevenção. Contudo, como buscar o saber sobre o problema se ele ainda é tratado como um grande tabu na sociedade?

Em Rio Preto, há entidades e pessoas que se dedicam a desenvolver projetos visando "abraçar" aqueles que, por algum motivo, não conseguiram pedir ajuda. Esse é o caso do HELP, um projeto multiplataforma que surgiu em janeiro de 2018 e que possui representantes em todo País. O intuito é ajudar aqueles que possuem pensamentos suicidas e que passam por quaisquer transtornos, como depressão, síndrome do pânico, automutilação, ansiedade e pessoas que não conseguiram superar traumas.

O projeto visa compartilhar as experiências e histórias de superação dos próprios voluntários, mostrando que é possível reconstruir aquilo que foi perdido e recuperar a alegria e o amor pela vida. Uma das ações é espalhar bilhetes com mensagens de conforto e ajuda nos principais locais onde há procura pelo fim da vida, como em pontilhões, por exemplo.

Cadu Souza, de 38 anos, coordenador do projeto HELP, afirma que a missão do grupo é levar a mensagem da superação a quem enfrenta essas difíceis questões. "Nós tentamos mostrar que não precisa ser o fim da linha, que as pessoas são capazes de se superar, elas são perfeitamente capazes de sair dessa situação".

Cadu conta que a ideia de colocar cartas em pontos estratégicos surgiu de uma voluntária do Ceará e depois se espalhou por todo o País. A ideia deu certo e, com isso, o método se espalhou pelo Brasil. "Muitos perguntam porque utilizar como abordagem indireta uma carta: as pessoas que pensam no suicídio, que planejam atentar contra a própria vida deixam uma carta por várias razões. Algumas vezes pode ser uma carta de despedida ou uma carta de culpa, mas, sempre será a mensagem que sinaliza o fim da vida dela. Quando colocamos uma carta fazemos com que essa pessoa repense, pense que pode se superar, pense que a vida não acabou e que essa não é a saída! Nós trocamos a carta do fim pela carta do recomeço, da superação."

O coordenador conta que além de realizar projetos como espalhar bilhetes, o projeto trabalha fortemente nos meios digitais, como páginas em plataformas como Facebook, WhatsApp, Twitter e Instagram, realizando suporte e consultas para pessoas de todo o País.

No mês mais importante para o projeto, setembro, os voluntários realizam uma caminhada em prol da valorização a vida, chamada de "super ação", além de palestras com os voluntários em escolas e faculdades.

Campanha


Em setembro de 2015, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Conselho Federal de Medicina e o Centro de Valorização da Vida (CVV) criaram a campanha: "Setembro Amarelo", que consiste em conscientizar sobre a prevenção ao suicídio.

A cor da campanha veio inspirada do caso de um garoto americano de apenas 17 anos que tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Em seu funeral, os amigos e familiares distribuíram cartões e fitas amarelas, com mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo problema que o jovem e enfatizando que aquela não era a melhor saída.

A ideia da campanha se embasa em promover eventos e discussões que possam abrir espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a sua importância. Entretanto, apesar de ser uma campanha de escala nacional e ter sua divulgação fortemente instaurada pelos órgão do governo dentro das mídias sociais, a campanha ainda não abrange todos aqueles que precisam de um ombro amigo.

O CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas aqueles que queiram e precisam conversar.Em Rio Preto, depois que começou a pandemia de coronavírus, o número de ligações aumentou, passando de uma média diária de 130 para 280 chamadas. Entre os principais temores do momento, medo de perder o emprego ou de ser contaminado pelo coronavírus na terceira idade.

Os atendimentos podem ser feitos por telefone, e-mail ou chat 24 horas, todos os dias sob sigilo total. Telefone: 188 Site para atendimento via chat e demais informações: https://www.cvv.org.br/

Outra instituição que atua ajudando pessoas a se recuperarem da depressão é a igreja Universal, com o grupo Depressão Tem Cura (DTC), fundado em janeiro de 2019 e que tem como objetivo auxiliar e realizar o acompanhamento das pessoas que sofrem com a doença, levando auxílio espiritual e esperança.

O grupo atua por todo o Brasil com voluntários que executam as ações do projeto. Segundo divulgação da própria igreja, o grupo já atendeu mais de 35 mil pessoas em todo o Brasil. Durante a pandemia de coronavírus, o número de atendimentos também tem crescido.

Fontes: www.diariodaregiao.com.br/cidades/2020/06/1196871-antes-do-ponto-final--a-virgula.html

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Acolhimento profissional gratuito em saúde mental

A notícia


Apenas 20 dias depois de ser criado, o site Mapa da Saúde Mental já recebeu mais de 24 mil acessos de pessoas que buscam atendimento psicológico gratuito. O portal orienta os interessados a encontrar grupos de profissionais que fazem atendimento online ou presencial.
 
Até o momento, o site dispõe de mais de 100 contatos para atendimento gratuito, específicos para o período da pandemia do novo coronavírus. No mapa online é possível encontrar profissionais e grupos de apoio disponíveis virtualmente. Há também uma seção chamada mapa presencial onde estão endereços e telefones de serviços de atendimento, mostrados de acordo com a localização do usuário.

A iniciativa foi desenvolvida pelo Instituto Vita Alere, que atua na promoção da saúde mental e na prevenção ao suicídio. A ação conta com apoio do Google, do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, International Association for Suicide Prevention e SaferNet.

Fonte: https://planetaosasco.com/destaques/96582-site-com-orientacoes-sobre-saude-mental-teve-24-mil-acessos-em-20-dias

A iniciativa



Equipe de psicólogos e profissionais da área saúde e educação, mestres e doutores que atuam em pesquisa, desenvolvimento de programas, treinamentos, capacitação e educação, além de atendimento e acolhimento especializado em saúde mental, automutilação, prevenção e posvenção do suicídio.

Para acessar clique: https://mapasaudemental.com.br

sábado, 6 de junho de 2020

Influenciador positivo. Palavras confortam, salvam!

Prefeito de Osasco posta mensagem contra suicídio: “não jogue a toalha”
































O prefeito de Osasco, Rogério Lins, publicou um texto, nesta quinta-feira (4), contra o suicídio. “O índice de suicídio tem aumentado a cada ano, pessoas que sofrem dores na alma tão intensas que desistem da vida, jogam a toalha”, diz um trecho da mensagem publicada nos stories do Facebook.

O texto aponta para o momento em que o mundo vive a pandemia de covid-19 e outros problemas, com referências bíblicas. “Realmente vivemos dias onde os sonhos e ideias têm se perdido em meio à maldade, à violência e à corrupção. A vida de Davi é um exemplo de esperança, pois ele passou por muitas situações angustiantes, sofrimentos, injustiças, mas não jogou a toalha porque olhava para Deus e suas promessas”, diz outro trecho da mensagem publicada por Lins.

Especialistas alertam que o período pós-pandemia de Covid-19 poderá apontar para o aumento dos problemas de saúde mental, como depressão, bipolaridade, ansiedade crônica e, consequentemente, do número de mortes por suicídio no Brasil.

Segundo a diretora da Associação Brasileira de Estudo e Prevenção do Suicídio (Abeps), Soraya Carvalho, características da pandemia, como o isolamento social, a alta letalidade do vírus, a facilidade do contágio e o excesso de notícias sobre a doença – incluindo as falsas, podem provocar nas pessoas três causas principais do suicídio, que são o desespero, o desamparo e a desesperança.

“O suicídio é um ato radical, uma resposta ao real, uma saída pra dor de existir. Quando a pessoa diz que não há mais esperança, o risco de suicídio é maior”, declarou Carvalho em debate na Câmara dos Deputados, na terça-feira (2).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo revela que o suicídio no Brasil é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Segundo Soraya, são 12 mil mortes por suicídio no Brasil por ano, sendo 1 a cada 35 minutos.

A deputada Leandre (PV-PR) afirmou, no debate realizado por videoconferência, que o isolamento social prolongado, mesmo sendo necessário, pode levar a situações críticas diante da realidade mais precária de algumas pessoas. “Uma coisa é conviver com o tédio, outra é conviver em um lugar sem ter o que comer”, disse. “Muitas secretarias de saúde dos municípios estão sendo demandadas por pessoas que estão tentando suicídio”, completou a parlamentar, que fez um alerta para um possível aumento nesses casos.

Busque ajuda

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo chamadas gratuitamente, sob sigilo, por meio do telefone 188, chat e e-mail, disponíveis no site. O CVV é formado por profissionais da saúde, entidades especializadas e pessoas que se dispõem a ajudar.

Devido a pandemia o serviço também sofreu algumas alterações e está com a equipe de voluntários reduzida, mas os atendimentos continuam diariamente. “O isolamento social e suas consequências nas relações e emoções podem acarretar uma maior procura no serviço”, alerta a instituição, que convida pessoas que estejam em condições de ajudar para integrar o time que se disponibiliza para conversar, oferecer atenção e acolhimento.

Na rede pública de saúde é possível buscar ajuda por meio de psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais, geralmente nas Unidades Básicas de Saúde. Também há atendimento para pessoas que apresentam transtornos mentais mais severos e persistentes e suporte terapêutico para as famílias, por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Com informações da Agência Câmara de Notícias

Fonte: www.visaooeste.com.br/prefeito-de-osasco-posta-mensagem-contra-suicidio-nao-jogue-a-toalha/

sexta-feira, 5 de junho de 2020

A enfermeira-anjo é de Portugal, mas todo o assunto nos interessa!

Enfermeira algarvia na linha da frente contra o suicídio

Bruno Filipe Pires (4 junho 2020)

Carolina Marques, 45 anos, enfermeira do serviço de Pedopsiquiatria da unidade de Faro do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), é voluntária, desde abril, numa linha de prevenção nacional, lançada pelo Núcleo de Estudos do Suicídio (NES). Objetivo é salvar vidas.

O vírus da COVID-19 ataca a saúde física e, sobretudo, tem provocado um aumento significativo e generalizado do sofrimento psicológico de muitas pessoas, de todas as faixas etárias e extratos sociais.

Por isso, em abril, durante o confinamento e em pleno estado de Emergência, o Núcleo de Estudos do Suicídio (NES), do Hospital de Santa Maria, lançou uma resposta especializada para todo o país.

Uma resposta específica para quem se sente triste, com pensamentos negativos ou ideias de morte.

Carolina Marques, enfermeira algarvia que está na linha da frente, considera que a altura excecional que vivemos exige ultrapassar o tabu social que tem remetido esta problemática para o silêncio.


«A maior parte das pessoas, até os profissionais de saúde, abordam o tema com receio. Mas este trabalho de prevenção do suicídio não pode ser feito com medo. Tem de ser feito de uma forma realista. Quando se aborda alguém, temos de perguntar com clareza, se tem pensamentos de morte, se tem ideação ou plano suicida. São coisas diferentes, mas é assim que se avalia a gravidade da situação. Se estivermos com rodeios, o que acontece é que a pessoa não se sente compreendida», começa por explicar ao barlavento Carolina Marques, enfermeira especialista em saúde mental.

«A verdade é que o tema suicídio, se até aqui não era falado, hoje está nas redes sociais, em todo o lado. A ideia já está interiorizada nos jovens, nos adultos, até nos mais pequenos. Temos de perguntar: já pensaste em morrer? E se sim, já pensaste como? É duro, mas tem de ser. Tem de ser criada empatia, para que o outro diga o que realmente sente», explica.

«É como nas automutilações. Quem o faz está dentro do contexto de risco, mas não quer dizer que irá cometer suicídio, embora seja um fator de risco. As automutilações têm a ver com uma grande dor emocional que a pessoa sente e que é aliviada pela dor física. Quando se avalia alguém, temos de perceber se há antecedentes dessas práticas de agressão ao próprio corpo, porque é provável que continue. Se abordarmos a questão com rodeios, não conseguimos avaliar, nem fazer uma intervenção», acrescenta.

Carolina Marques trabalha na equipa de Pedopsiquiatria da unidade de Faro do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), que durante alguns anos, contou com a colaboração da psicóloga Patrícia Romão, uma das maiores especialistas na problemática do suicídio.

«Foi a pessoa que me fez interessar. Durante a crise da COVID-19, com o isolamento e a saúde mental das pessoas a agravar-se, as situações a piorar, o acesso à ajuda nos centros de saúde limitado, a Drª Patrícia Romão perguntou-me se eu queria participar» no projeto do NES, associação científica sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública já com 33 anos de existência.

A linha conta com profissionais de norte a sul de Portugal. Carolina Marques é, neste momento, a única enfermeira do Algarve envolvida, devido à sua experiência profissional e formação. Mas qualquer pessoa no país que precise de ajuda, basta enviar um email ([email protected]).

«Todos os meses é feita uma escala que divide o trabalho pela equipa do projeto. Todos os dias somos três a quatro pessoas em alerta, divididas por localização geográfica, de forma a se fazerem os encaminhamentos», explica. E todos os emails têm resposta, e se o remetente concordar, será, de seguida, contactado por telefone.

A enfermeira reconhece que «há de facto algumas situações graves», e se não surgem mais pedidos de ajuda é talvez porque esta linha de apoio ainda não está muito divulgada.

As folgas do seu trabalho são sacrificadas em prol deste projeto. É voluntariado, mas também altruísmo. Chega a ficar de alerta duas vezes por semana, das 9 às 21 horas, colocando a família em segundo plano.

«O que desgasta é o sofrimento do outro. Mas este é um trabalho que salva vidas. E numa altura com esta, acredito que tem de haver uma sensibilidade», remata.

Profissionais estão preocupados


A enfermeira Carolina Marques refere que há eventos de vida dolorosos que podem ser precipitantes do suicídio, como a perda de saúde, roturas afetivas, desemprego, entre outros, levando aos sentimentos de desesperança. Nunca há apenas um motivo isolado, mas sim um conjunto de situações na vida de cada um que a determinada altura poderá levar ao desejo de morrer.

«Momentos de angústia, temos todos nós. O problema é quando chega a desesperança, que é a falta de esperança num dia melhor».

Por vezes, o sistema também pode falhar na deteção. «Imagine alguém que tomou comprimidos a mais. Se não for bem esclarecida a causa da ida à urgência e depois tiver alta, se calhar, nós que trabalhamos esta problemática nunca chegamos a saber o que aconteceu. Assim, essa pessoa fica em risco, pois não terá acompanhamento» adequado.

Também nem sempre quem tenta quer mesmo pôr termo à vida. «Recordo o caso recente de uma senhora que se divorciou. Tinha vontade de morrer e fez uma intoxicação medicamentosa. Será que queria mesmo morrer? Não queria. Foi um ato de desespero. É preciso falar e escutar muito as pessoas para se perceber. Às vezes, só precisam de atenção. As mulheres têm muito este registo. Há uma diferença entre géneros. Tanto que os métodos escolhidos, estatisticamente, são diferentes. Os homens escolhem sobretudo métodos mais letais», distingue.

Por outro lado, a enfermeira não esconde que os profissionais de saúde estão muito preocupados, até porque os casos de ideação suicida estão a aumentar, sobretudo nas novas gerações.

«Há quatro ou cinco anos tivemos na Pedopsiquiatria uma adolescente que tentou o suicídio. Se tivesse ido para casa, haveria fortes probabilidades de voltar a tentar. Concordámos um internamento e fez psicoterapia. Há cerca de três semanas, veio parar outra vez à urgência, já adulta e reconheceu-me».

Na verdade, «em termos oficiais, ela já não me pertence, enquanto doente, mas dei-lhe o meu email e temos trocado mensagens. Basta dizer olá e as pessoas sentem-se um pouco mais agarradas à vida. Ela diz-me: ontem não tive bons pensamentos, mas é tão bom perceber que você gosta de mim. Ou seja, bastam estas pequenas coisas» para apaziguar a grande carência afetiva que existe sobretudo neste momento.

«Também há miúdos querem afastar a dor, querem desaparecer. Na infância ainda não há maturidade para perceber o que de facto é morrer, mas na adolescência já o sabem», esclarece.
«Todos temos um pouco de culpa»

Falando em contexto de vida pessoal, também esta profissional de saúde já perdeu um amigo querido. «Ainda hoje me pergunto como é que eu não consegui perceber que ele ia morrer? Lembro-me de o ver com uma depressão, já mais para o psicótico. Certo domingo tivemos entre amigos. Ele despediu-se de algumas pessoas. Eu tive de sair mais cedo. Ainda hoje pergunto-me porque não se despediu de mim, porque eu teria percebido. Como é que não fez luz a alguém que ele estava efetivamente a despedir-se?», recorda.

Mais uma vez, é uma questão cultural, mas também religiosa. «Ninguém quer falar sobre a morte. Toda a circunstância é dolorosa, não gostamos de pensar na tristeza. Há confissões religiosas que não vêm a discussão do tema com bons olhos, porque num suicídio ninguém vai para o céu. Isto mexe com as nossas ressonâncias. É algo que nos assusta. Quando alguém se suicida fica um aberto. As questões ficam por responder. É uma falha da sociedade, porque todos reconhecemos que também temos alguma culpa».

A pandemia é apenas mais uma crise. O quotidiano moderno também não ajuda. «Os miúdos vão com poucos meses para o infantário, passam pouco tempo de qualidade com os pais, não é feita uma boa vinculação. Antes havia famílias alargadas, em que os avós estavam presentes. Hoje as crianças vão crescendo num vazio enorme e na correria dos dias».

Trabalho de retaguarda ajuda famílias


Num dia de trabalho normal no serviço de Pedopsiquiatria do Hospital de Faro, neste contexto da pandemia, a enfermeira Carolina Marques acompanha vários casos à distância.

«Apenas uma minoria tem apoio. Imagine o que é uma criança hiperativa fechada num apartamento. Tem que haver uma contenção de toda a família. Havendo este trabalho de monitorização direta e de acompanhamento, são dadas às famílias estratégias de adaptação à crise, facilitando a sua adaptação e evitando descompensações das patologias e consequentes idas à urgência. Agora, também é verdade que a pedopsiquiatria não tem uma retaguarda de crise numa situação grave. As crianças que precisam de internamento vão para o Hospital de D. Estefânia, em Lisboa. Precisavam de um internamento no Algarve», considera.

E mais. «Em termos de consulta, há apenas um pedopsiquiatra para toda a região. É muito pouco. Como é que as crianças de Aljezur ou de Silves conseguem vir a Faro fazer uma psicoterapia semanal? É muito difícil ou impossível». Ainda em relação à linha de apoio do NES, a voluntária sublinha que daquele lado estão «pessoas que se envolvem e que gostam de dar e cuidar dos outros».

Como pedir ajuda?


Como é que se motiva alguém a dar um sinal de alarme se já está com ideias suicidas? «Há sintomas e todos temos de estar atentos. Por exemplo, alterações de sono e alimentação. O isolamento, consumo de drogas ou álcool. Nos jovens vai havendo um desinvestimento na escola, nas rotinas», explica a enfermeira Carolina Marques, voluntária num projeto nacional de prevenção do suicídio.

A linha do NES está disponível para todas as idades. Até pode ser um um terceiro a contactar. «Sim, já aconteceu. Pode ser um pai, um vizinho, um amigo. Como é que ajudamos as pessoas? Se tiver ou conhecer pessoas com determinados sintomas como por exemplo depressão ou desesperança, sentimento de inutilidade ou pensamentos relacionados com suicídio ou morte» deve contactar, sem hesitar, por email ([email protected]).

Fonte: www.barlavento.pt/destaque/enfermeira-algarvia-na-linha-da-frente-contra-o-suicidio