quinta-feira, 27 de agosto de 2020

É necessário novamente e sempre falar sobre o suicídio

Setembro Amarelo: precisamos falar sobre suicídio

Sivan Mauer (26 agosto 2020)

Desde 2003, o dia 10 de setembro é conhecido como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Porém, desde 1994 já existia a campanha “Setembro Amarelo”, que teve início nos Estados Unidos com os pais e amigos de Mike Emme, um jovem de 17 anos que tirou a própria vida. Mike tinha grandes habilidades para lidar com mecânica automotiva, e recuperou e pintou de amarelo um Mustang ano 1968. As habilidades levaram Mike a ficar conhecido como Mustang Mike. Já a fita amarela virou tradição quando os jovens amigos de Mike as prenderam na lapela, no cabelo ou no chapéu no dia do funeral do jovem, onde também distribuíram cartões com a inscrição It's ok to Ask4help, que basicamente significa "não tem problema pedir ajuda". A fita amarela lembrava a cor do Mustang de Mike, e o formato da fita em coração era para lembrar as pessoas que ele deixou. Impressionantemente, em cerca de três semanas o primeiro cartão distribuído no funeral chegou às mãos de um professor, com um pedido de socorro de uma aluna.

A história de Mike é comovente e tenho de certeza que sensibiliza a muitos, mas infelizmente no dia a dia a realidade não é bem esta, pois, o suicídio muitas vezes é alvo de preconceito e mitos, tanto por parte da população leiga quanto da comunidade médica. É preciso entender que o suicídio não é uma doença. Entretanto, na maioria das vezes, ele é o resultado de algumas doenças como o transtorno bipolar e a esquizofrenia. Entre 80% e 90% das pessoas que cometem suicídio estão sofrendo de algum tipo de transtorno do humor, ou seja, estão tão doentes como aquele paciente que teve um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC). Muitas vezes, o paciente psiquiátrico sofre preconceito até mesmo por médicos de outras áreas e outros profissionais da saúde, em hospitais gerais. Ironicamente os médicos fazem parte de uma das profissões que mais cometem suicídio no mundo.

Entre a população leiga o preconceito em relação ao suicídio se amplifica. A falta de empatia pelo paciente pode ser exemplificada por meio de vários casos. Em um deles, uma pessoa estava tentando tirar a própria vida saltando de uma ponte entre Vila Velha e Vitória, no Espírito Santo. O resgate levou algumas horas, e neste intervalo as pessoas se expressavam de todas as maneiras, sendo a mais frequente o pedido para que o suicida se jogasse de uma vez por todas. Algumas, inclusive, afirmaram que se dispunham a empurrá-lo. Em um certo momento iniciou-se um buzinaço, e assim por diante. Empatia é um fator importante para que exista o acolhimento do paciente psiquiátrico, e isso pode ser decisivo em momentos emergenciais. Ainda bem que no caso do Espírito Santo existia uma equipe dos bombeiros muito bem treinada, que demonstrou empatia e cuidado com o paciente, evitando o suicídio.

Podemos observar, também, o preconceito em relação a algumas populações no Brasil, como as indígenas, que chegam a ter uma prevalência de suicídio triplicada quando comparada à da população em geral. Isso demonstra um descaso da sociedade em geral, do governo e das entidades responsáveis por esta população, que demonstra negligência diante de um número tão expressivo de suicídios. As campanhas de prevenção são de extrema importância para pessoas que consideram a possibilidade do suicídio, pois cada vez mais a medicina entende que isso pode ser prevenido. Entretanto, os profissionais da área da saúde precisam se atualizar e entender os novos fatores de risco para doenças mentais. Alguns estudos, por exemplo, demonstram que cyberbullying e o tempo que se passa na internet estão relacionados a suicídio.

Algumas formas de prevenção passam por abordagens psicoterápicas e outras pelo uso de psicofármacos. Entre as abordagens psicoterápicas se destaca o CVV (Centro de Valorização da Vida), que desde 1962 exerce um grande papel na sociedade, trabalhando na prevenção do suicídio.

O CVV atende 24 horas por telefone ou site, além de realizar atendimento pessoal. Quanto à questão psicofarmacológica, a maneira mais efetiva e importante de prevenção ao suicídio é o uso do lítio. Hoje, esta abordagem já é fato. Mas ela precisa ser disseminada entre médicos clínicos que atendem pacientes, principalmente nos
pronto-socorros. Precisamos ter em mente a questão da recidiva das tentativas de suicídio. Muitas vezes o sofrimento psíquico não é levado com a seriedade devida. Apenas com medidas preventivas e educacionais, episódios como o que ocorreu na ponte poderão deixar de existir. E as pessoas, em vez de torcerem para que o suicida se jogue da ponte ou do alto de um edifício, terão o mínimo de empatia em relação ao sofrimento humano. 

*Dr. Sivan Mauer é médico psiquiatra especialista em transtornos do humor. O profissional é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine, dos Estados Unidos, e doutor em Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: https://xvcuritiba.com.br/setembro-amarelo-precisamos-falar-sobre-suicidio-por-dr-sivan-mauer/

sábado, 22 de agosto de 2020

Pandemia e os fatores de risco para o suicídio

Pandemia: pesquisa revela aumento de busca no Google por palavras relacionadas ao suicídio

Deise Aur

As medidas preventivas ao contágio da Covid-19 provocou mudanças drásticas na rotina e estilo de vida dos cidadãos, causando estresse, ansiedade e preocupação, o que está intimamente ligado à saúde mental, que por sua vez pode se tornar fatores de risco ao suicídio.

O novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da doença respiratória Covid-19, teve seu início em dezembro de 2019. De lá para cá, o surto que virou pandemia mexeu com o modo de vida de pessoas do mundo inteiro, refletindo até mesmo nos mecanismos de buscas do Google, o que mais vem inquietando as pessoas durante a pandemia.

Um estudo feito por pesquisadores da Columbia University Irving Medical Center, publicado no periódico Plos One, avaliou dados do Google em pesquisas de buscas feitas nos Estados Unidos, revelando um acentuado aumento de busca por informações sobre dificuldades financeiras e ajuda humanitária, fatores que impactam o equilíbrio psíquico do ser humano.

Essa pesquisa feita nos EUA, e outros estudos em diversos países, relacionaram o comportamento detectado nas pesquisas do Google aos fatores desencadeadores do suicídio. Os pesquisadores chegaram à essa conclusão avaliando pesquisas online relacionadas ao suicídio e suas causas,  durante a parte inicial da pandemia e o seu impacto a longo prazo sobre a saúde mental humana.

O estudo

Os pesquisadores usaram um algoritmo para analisar os dados do Google, no período de 3 de março de 2019 a 18 de abril de 2020, a fim de identificar os fatores relacionados ao risco de suicídio.

Para Madelyn Gould, professora de Epidemiologia em Psiquiatria na Universidade de Columbia, e autora sênior do estudo, esse resultado é preocupante:

“A escala do aumento nas pesquisas do Google relacionadas a dificuldades financeiras e alívio de desastres durante os primeiros meses da pandemia foi notável, então esta descoberta é preocupante”, alerta.

Primeira autora deste estudo, a analista de dados Emily Halford, detectou uma preocupação em reduzir os efeitos nocivos da pandemia sobre o psicológico das pessoas:

“Não tínhamos uma hipótese clara sobre se haveria um aumento nas consultas relacionadas ao suicídio durante esse período, mas previmos um senso nacional de comunidade durante a pandemia que pode mitigar o comportamento suicida em curto prazo.”

Estudos anteriores

Baseados nos efeitos de desastres e tragédias que aconteceram anteriormente, outros estudos sugeriram que as taxas de suicídio geralmente diminuem logo após estes desafortunados acontecimentos. Mas em contrapartida, podem aumentar meses depois, como ocorreu após a pandemia de gripe de 1918 e o surto da SARS de 2003 em Hong Kong.

A busca por ajuda durante a Pandemia

Um outro comportamento que ficou evidente neste estudo, foi o significativo aumento de consultas relacionadas à depressão, e ainda um tanto maior em relação à Síndrome do Pânico.

“Parece que os indivíduos estão lutando contra o estresse imediato da perda do emprego e do isolamento e estão pedindo ajuda aos serviços de emergência, mas o impacto sobre o comportamento suicida ainda não se manifestou”, explica Madelyn Gould

Geralmente, a depressão pode demorar mais para se desenvolver, enquanto os ataques de pânico podem ser uma reação mais imediata à perda do emprego e aos eventos emocionalmente carregados em meio ao isolamento social da pandemia.

Outros termos que apareceram nas busca do Google foram os relacionados à solidão e isso se deve ao distanciamento social, uma das principais medidas implantadas para reduzir a disseminação do coronavírus. Para Madelyn Gould:

“esta abordagem pode ter efeitos secundários prejudiciais, como solidão e exacerbação de doenças mentais preexistentes, que são fatores de risco de suicídio conhecidos“.

Em virtude destes resultados, os pesquisadores ainda ressaltam que é de vital importância a prevenção ao suicídio,  garantindo a acessibilidade de serviços de saúde mental, durante e posteriormente à pandemia.

Psiquiatra explica como cuidar da Saúde da Mente

Neste vídeo do canal Saúde da Mente, o médico Psiquiatra Dr. Marco Antonio Abud Torquato Jr. ensina 10 dicas para regular as emoções e lidar melhor com a pandemia.

Como manter a saúde mental em dia

Para quem está se sentindo abalado emocionalmente e mentalmente pelos efeitos da Pandemia, seguem, maneiras de promover a melhora psíquica, durante e depois da quarentena:

  • Seja seletivo com relação ao que entra em sua mente, através dos meios de comunicação
  • Não julgue seus sentimentos, apenas os observe e deixe-os ir
  • Não se identifique com os radicalismos alheios, seja na política ou outros setores
  • Priorize o essencial, pois é a base para viver melhor
  • Procure focar naquilo que te faz bem
  • Seja gentil e tenha paciência consigo mesmo e saberá ser assim com os demais
  • Pratique atividades como yoga ou meditação que contribuem para desenvolver a atenção, a serenidade e a gratidão.

Como buscar ajuda

Somando-se ao resultado desse estudo, lembramos que estamos prestes a entrar na campanha Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio. Por isso, é bom lembrar e compartilhar formas de obter ajuda psicológica, caso sentir que esteja precisando ou se conhecer alguém que necessite de apoio.

Veja como conseguir assistência psicológica gratuita:

CVV

O Centro de Valorização da Vida-CVV é uma entidade que oferece apoio emocional e de prevenção do suicídio, com atendimento gratuito e sob sigilo àqueles quer precisam conversar e desabafar.  

RAPS

Instituto Sapentia Cordis disponibiliza uma Rede de Atendimentos Psicológicos Sociais pela Internet.

Saúde Brasil

O site Saúde Brasil traz várias informações de como ter hábitos saudáveis e cuidar da saúde mental durante a pandemia.

Outras tipos de assistência psicológica

Outra formas de se obter assistência psicológica e gratuita você encontra neste conteúdo:

Agora, dispondo de todas essas informações, cuide-se e compartilhe esse conteúdo com quem estiver precisando. Muitas pessoas perderam trabalho, outras perderam entes queridos. O momento é difícil. É preciso força e solidariedade.

Fonte: www.greenme.com.br/viver/costume-e-sociedade/48872-busca-google-suicidio-pandemia/

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Colaboração global de cientista em favor da prevenção do suicídio

 

Covid-19: Cientistas ampliam colaboração global para combate ao suicídio


Efeitos da pandemia na saúde mental global começa a preocupar pesquisadores de diversos países, que se unem para intensificar estudos e mitigar riscos

19 agosto 2020

Pandemia tem causado graves impactos na saúde mental

Saúde mental: pandemia agrega uma série de situações que afetam a mente (Thanakorn Suppamethasawat)

Pela primeira vez, a atual geração enfrenta uma pandemia que abala diversos setores da economia global e da vida pessoal. Grandes empresas enfrentam suas piores crises, pequenos comércios fecham as portas, o consumo se adapta para o mundo digital.

Ao mesmo tempo, não há quem não esteja estressado de alguma forma. Quem precisa sair de casa enfrenta a tensão de se expor ao vírus. Quem pode fazer quarentena se vê preso, com um acúmulo de tarefas para dar conta no mesmo espaço e no mesmo tempo. Somam-se as preocupações com a saúde e a estabilidade financeira - e até as fake news entram no jogo.

Este conjunto de efeitos, é claro, tem grande impacto na saúde mental. No Brasil, logo no início da pandemia, uma pesquisa liderada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro já mostrava um aumento importante em sintomas como estresse agudo, depressão e crise aguda de ansiedade.

A experiência de outras epidemias mundo afora ajudam a predizer o que, agora, parece óbvio. O surto de influenza equino na Austrália, em 2007, levou donos de cavalo a quadros importantes de estresse psicológico. Da mesma forma, a epidemia de ebola no Senegal, entre 2014 e 2016, fez com que mais de 90% da população habitante de áreas de risco tivessem mais ansiedade e insônia.

Com extensão geográfica e temporal, as consequências da covid-19 preocupam cada vez mais os cientistas da área da saúde mental. Recentemente, um grupo de pesquisadores de países europeus e da Austrália estabeleceu uma colaboração para estudos de prevenção de suicídio no contexto da pandemia.

Agora, o grupo aponta para a necessidade de incluir representantes de países em desenvolvimento, de regiões como Oriente Médio, África e América do Sul.

“O foco primário das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde tem sido o impacto da covid-19 na saúde física, mas precisamos reforçar as ações em prol da saúde mental, incluindo a prevenção de suicídio”, dizem os pesquisadores em editorial publicado na revista científica alemã Hogrefe.

“As possíveis consequências da pandemia vão se desdobrar de diversas maneiras a longo prazo, variando de acordo com a duração e intensidade de infecção. Pesquisas são necessárias para assegurar que todos os aspectos da saúde sejam considerados nas tomadas de decisão.”

De acordo com a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, o ato de dar fim à própria vida é a 10ª principal causa de morte nos Estados Unidos, gerando 132 vítimas por dia. A situação é crítica se analisado o grupo de pessoas de 10 a 34 anos: neste caso, o suicídio é a 2ª principal causa de morte.

Ainda nos Estados Unidos, homens cometem 3,6 vezes mais suicídio do que mulheres. Do total de pessoas atingidas, 90% tinham doença mental diagnosticável.

 Fonte: https://exame.com/ciencia/covid-19-cientistas-ampliam-colaboracao-global-para-combate-ao-suicidio/

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Prevenção de suicídio entre jovens universitários: manual validado

Prevenção ao suicídio é tema de artigo publicado por aluna de iniciação científica da UEA

A estudante do curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (ESA/UEA), Anelys Feitoza Siqueira, teve um artigo publicado na edição de 20 anos da “Rev Rene”, publicação editada pela Universidade Federal do Ceará (UFCE). O trabalho busca dar visibilidade e causar reflexões em volta da temática do suicídio entre jovens universitários e é fruto do Programa de Apoio à Iniciação Científica do Amazonas (Paic) da UEA, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

A produção, intitulada “Validação de Manual sobre Prevenção do Suicídio para universitários: falar é a melhor solução”, é um produto das investigações desenvolvidas pelo Laboratório de Tecnologias para o Trabalho e Educação na Saúde (LATTED), liderado pelo orientador, e durou três anos para ser finalizada.

O manual foi produzido, na época, pelo aluno de Medicina, Iury Pedro Bento Barbosa, que se formou em 2015. Anelys assumiu o projeto e executou a etapa de validação da tecnologia e deu continuidade à pesquisa em 2016, sendo orientada nos dois primeiros anos pelo professor doutor Darlisom Sousa Ferreira e coorientada pelo professor mestre Wagner Ferreira Monteiro, e no último ano pela professora doutora Elizabeth Teixeira.

“A escolha do tema foi meio pessoal. No meu Ensino Médio, passei por um episódio bem delicado de vivenciar o que realmente é o suicídio, uma colega morreu por suicídio, e isso me marcou muito. Acabei vendo essa pesquisa como uma forma de ajudar para que outras pessoas não passassem pelo que eu, ela, a família e os colegas passaram. Desde que entrei na universidade tenho observado meus colegas adoecendo mentalmente, principalmente devido às pressões relacionadas aos cursos, e me refiro a todos os alunos da área da saúde com os quais tive contato”, explicou Anelys.

Casos no Brasil


No Brasil, entre 2002 e 2018, o suicídio aumentou quase 10%, de acordo com o Mapa da Violência, além de ser considerada a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Segundo a aluna, a pesquisa se torna essencial para a UEA, por trazer foco no suicídio e propiciar reflexões não antes debatidas dentro da instituição.

O orientador Darlisom Sousa Ferreira explica que, à época da seleção dos projetos de iniciação científica, buscava acadêmicos interessados em desenvolver projetos de pesquisa sobre temas atuais e emergentes. “Foi quando o Iury me procurou para a desenvolver um estudo sobre a temática do suicídio, que prontamente acolhi e que nas duas edições seguintes do Paic foi assumido pela Anelys”, conta ele.

O estudo, acrescenta Darlisom, seguiu com foco na a produção de tecnologias educacionais como instrumentos para o autocuidado e promoção da saúde. “Passamos ano a ano produzir, validar com juízes experts, validar com o público alvo e submeter os resultados à difusão em capítulos de livros, eventos e recentemente em periódicos científicos. É um material inovador e que reúne diversas evidências e experiências sobre essa pauta, o suicídio é uma epidemia e um grave problema de saúde pública mundial”, destacou.

A aluna atualmente está no Internato de Medicina e destaca que a disponibilização do manual para alunos da ESA é essencial para que a pesquisa traga frutos para o ambiente em que estuda e a possibilidade de adaptar o material para outras unidades.

“O manual é somente uma das formas de ajudar os acadêmicos da casa. Ele pode também trazer ideias para a universidade de como fazer sua parte nesse trabalho complexo da prevenção. São necessárias reformas profundas que não serão feitas rapidamente, mas que estão progredindo aos poucos, pelo menos dentro da ESA. Discutir isso já ajuda muito”, finaliza Anelys.

Atualmente, o Manual se encontra disponível no Repositório da UEA e será utilizado na retomada das atividades acadêmicas, sendo amplamente difundido pelos centros acadêmicos da instituição.
Sobre a publicação

A “Rev Rene” foi originada pela Rede de Enfermagem do Nordeste (Rene), sendo atualmente editada pela UFCE, sob a responsabilidade do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Publica trabalhos originais e inéditos de autores brasileiros, além de outros países, que contribuam para o conhecimento, desenvolvimento e a troca de conhecimentos relevantes para todas as esferas da prática, do ensino e da pesquisa em áreas da saúde e afins.

A revista é de acesso aberto e imediato, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.

Acesso aos documentos


Universidade Estadual do Amazonas (UEA)

Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste (Rev. Rene) da Universidade Federal do Ceará (UFCE)

Fonte: https://manausalerta.com.br/prevencao-ao-suicidio-e-tema-de-artigo-publicado-por-aluna-de-iniciacao-cientifica-da-uea/


 





quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Spray nasal é liberado para atender pessoas com quadro depressivo grave

EUA aprovam spray nasal contra depressão que faz efeito em 4 horas

Ação rápida do medicamento pode ajudar a prevenir o suicídio

4 agosto 2020

A FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora de medicamentos e alimentos do governo americano) aprovou o uso de um spray nasal contra a depressão que tem efeito quase instantâneo. Os estudos com o medicamento mostraram que os sintomas depressivos são reduzidos em apenas quatro horas após o uso.

Com a decisão, os médicos estão autorizados para prescrever o tratamento para pacientes que não conseguem encontrar alívio com outros antidepressivos. A esperança é que a ação rápida do spray ajude a salvar vidas de pessoas que sofrem com pensamentos suicidas.

spray nasal antidepressivo
Spray nasal contra depressão tem ação rápida

A droga, com nome comercial de Spravato, produzida pela Janssen, uma subsidiária da gigante americana Johnson & Johnson – é feita de esketamina, um primo químico da cetamina, usada há décadas como um anestésico poderoso para preparar os pacientes para a cirurgia.

Acredita-se que a esketamina atinja substâncias químicas cerebrais responsáveis ​​pelo humor com mais precisão do que a cetamina.

A aprovação ocorre em um momento em que os EUA enfrentam uma crise de suicídio. O país viu as taxas aumentarem em mais de um terço nas últimas duas décadas. A cada ano, quase 50 mil americanos tiram suas próprias vidas.

Onde buscar ajuda para prevenir o suicídio?

CAPS

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas suas diferentes modalidades são pontos de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar.

Centro de Valorização da Vida


O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.

Também é possível acessar o site do CVV para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita, ou conferir aqui os postos de atendimento.

Unidades Básicas de Saúde

A Unidade Básica de Saúde (UBS) é o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. É instalada perto de onde as pessoas moram, trabalham, estudam e vivem e, com isso, desempenha um papel central na garantia de acesso à população a uma atenção à saúde de qualidade.

UPA 24H

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) faz parte da Rede de Atenção às Urgências. O objetivo é concentrar os atendimentos de saúde de complexidade intermediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a atenção básica, atenção hospitalar, atenção domiciliar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192.

Fonte: https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/eua-aprovam-spray-nasal-contra-depressao-que-faz-efeito-em-4-horas/

Prevenção do suicídio em ambiente clínico: um estudo

Qual a eficácia de intervenções para a prevenção do suicídio em ambientes clínicos? 

Paula Benevenuto Hartmann

Infelizmente os casos de suicídio vêm aumentando nos últimos anos e em resposta a isso tem-se estudado e debatido mais sobre o assunto e sobre as medidas a serem tomadas para diminuir sua ocorrência.

Em um artigo do Lancet Psychiatry publicado em junho deste ano está descrito que mais de um terço dos pacientes que cometeram suicídio estiveram com um profissional de saúde até 1 semana antes de efetuarem o ato e cerca da metade teve esse mesmo tipo de contato 1 mês antes. Contudo, muitas vezes os serviços e profissionais de saúde não estão preparados para lidar com estes casos, incluindo serviços como urgências e emergências médicas ou outros contextos de atendimento a casos agudos.

Órgãos de saúde estadunidenses sugerem que ao identificar os pacientes em risco estes devam receber o tratamento e as orientações voltadas para redução do risco. Para que isso aconteça as equipes devem ser treinadas a fim de que possam aplicar as intervenções necessárias, incluindo formas breves de intervenção associadas à coordenação do cuidado e seguimento com encaminhamento para serviços de saúde mental.

No referido trabalho, foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre intervenções breves para prevenção de suicídio que possam ser realizadas apenas em um único contato com o paciente.

Dois autores independentes revisaram o material encontrado para avaliar se possuíam os critérios para serem ou não incluídos nesta revisão. Os critérios de inclusão foram: avaliar as intervenções feitas junto ao paciente com risco de suicídio em um único encontro; possuir um grupo controle; avaliar os desfechos dos pacientes; estar escrito em língua inglesa. Os dados mais relevantes de cada trabalho selecionado foram extraídos de forma independente usando formulários estruturados.

O desfecho mais comum era a tentativa de suicídio subsequente, seguido por vinculação a uma forma de acompanhamento e a presença de sintomas depressivos posteriormente.

Os maiores riscos de viés dizem respeito à presença de dados incompletos. Alguns dos trabalhos selecionados usaram métodos padronizados para lidar com as informações que faltavam, sendo considerados como de risco intermediário para viés, enquanto aqueles cujos dados estavam completos foram considerados de baixo risco. Já os que não descreviam como lidavam com os dados que faltavam foram classificados como de alto risco. Para os desfechos de tentativa de suicídio e sintomas depressivos parece não haver evidências fortes de viés de publicação, o que não se aplica ao desfecho de seguimento em um serviço de saúde mental.

Algumas limitações já podem ser observadas: foram avaliados apenas estudos em língua inglesa, não foram incluídos estudos não publicados, foram considerados apenas 14 estudos e apenas os subconjuntos de desfechos relevantes foram incluídos na metanálise. Um dos estudos se destacou por um maior tamanho de amostra e teve maior peso nas análises. A maior parte dos estudos não incluiu o número de óbitos por suicídio como um desfecho, não tendo isto sido avaliado.

Este trabalho foi apoiado pelo National Institute of Mental Health, mas seus autores referem que este não houve influência sobre sua elaboração. Para mais informações sobre a análise estatística e a metodologia, confira o material na íntegra (consultar a bibliografia).

Neste trabalho foram avaliados 14 estudos (4.270 pacientes) com intervenções breves de prevenção ao suicídio envolvendo 4 características principais: intervenções feitas durante um contato breve, coordenação do cuidado, planejamento de segurança e outras formas de terapia breves.

Intervenções feitas durante um contato breve


Esta abordagem foi incluída como uma forma de intervenção em 6 dos 14 trabalhos e as estratégias incluíram ligações telefônicas, cartões postais e cartas. Em 5 estudos o contato breve incluiu as ligações telefônicas e mensagens escritas à mão pelo correio. O acompanhamento através da ligação variou entre o lembrete de uma consulta a ligações programadas que deveriam ocorrer 1, 2, 4 e 8 semanas após o encontro. Em 1 estudo foram enviadas mensagens de texto para promover contatos breves após 1 dia, 1 semana e outras 9 vezes ao longo de 1 ano, sendo que uma equipe treinada respondia com medidas de apoio ou incentivando o engajamento ao tratamento em saúde mental quando houvesse retorno dos pacientes.

Coordenação do cuidado


Foi definida como uma comunicação entre a equipe clínica que encaminhou o paciente e a equipe que receberia o paciente para dar continuidade de atenção na saúde mental. Dos 14 estudos, apenas 3 apresentaram essa abordagem. Este tipo de cuidado podia envolver medidas como agendar uma consulta ambulatorial num serviço de saúde mental, por exemplo. Em um dos estudos a equipe que monitorava as respostas às mensagens de texto entrou em contato com os profissionais de saúde mental quando a resposta de um dos participantes do estudo indicava que este podia estar em perigo.

Intervenções terapêuticas


Definidas como medidas que visavam prevenir que os pacientes viessem a desenvolver comportamento suicida ou medidas que promoviam adesão ao atendimento em saúde mental, tendo ocorrido em apenas um único encontro com o paciente ou através de ligações telefônicas rápidas.

Dos 14 estudos incluídos, 13 desenvolveram essas intervenções terapêuticas breves, sendo a mais comum delas a Safety Planning Intervention. Esta por sua vez envolve 6 medidas: para identificar os sinais de alerta para uma possível ameaça suicida; avaliar estratégias de enfrentamento que desviem os pensamentos ou impulsos suicidas; identificar amigos, familiares ou locais que o distraiam desses pensamentos/impulsos; identificar se há pessoas que possam ajudar na iminência de uma ameaça suicida; fornecer contatos de profissionais ou serviços de saúde mental e aconselhamentos para tornar o ambiente ao redor livre de possíveis ferramentas letais.

Ao elaborar esta metanálise os pesquisadores entenderam que os serviços que promoviam pelo menos 4 dessas 6 medidas estavam desenvolvendo estratégias de Safety Planning Intervention. Dez estudos aplicaram outras técnicas de intervenção que não as do Safety Planning Intervention para diminuir a probabilidade do paciente cometer autoinjúria. Estas incluíram técnicas de entrevista motivacional, terapia focada na resolução de problemas, dentre outras. Tais abordagens também usavam estratégias que aumentavam as chances de maior adesão aos serviços de saúde mental.

Os 3 desfechos mais comuns foram: posterior de tentativa de suicídio (7 estudos), seguimento de acompanhamento (9 estudos) e presença de sintomas depressivos (6 estudos).

A avaliação foi a seguinte:

  • Houve redução das tentativas de suicídio em 3,5% em adultos (em adolescentes não houve significância estatística). Isso foi avaliado através de um acompanhamento que variou entre 2 e 12 meses com revisão dos prontuários ou com informações dos próprios pacientes.
  • Houve aumento da adesão à continuidade de atenção em 22,5%. A avaliação ocorreu entre 1 semana e 3 meses após a intervenção e se deu através de informações eletrônicas ou provenientes dos próprios pacientes.
  • Já a redução dos sintomas depressivos não foi estatisticamente significativa. A reavaliação dos sintomas ocorreu após 2-3 meses, com informações dos próprios pacientes através de instrumentos validados. Houve heterogeneidade estatisticamente significativa entre os estudos.
  • Outras formas de intervenção também não se apresentaram estatisticamente significativas.
Os resultados encontrados evidenciam que intervenções breves de prevenção ao suicídio podem ser eficazes em alguns pontos estratégicos para reduzir o número de óbitos por esta causa. Infelizmente ainda há várias barreiras para a implementação dessas medidas em ambientes de cuidado agudo: ainda são necessárias boas ferramentas que permitam a identificação de pacientes com risco de suicídio; encontrar profissionais capacitados que conheçam as estratégias e que possam treinar as equipes para fazê-lo; limitações ao acesso a profissionais e serviços de saúde mental, apesar da telemedicina estar facilitando o seguimento e a continuidade de atenção.

Conclusão


Portanto, as intervenções de prevenção ao suicídio que ocorrem durante o atendimento em um ambiente clínico voltado para casos agudos podem ser eficazes na redução de tentativas de suicídio posteriores e em aumentar as chances de continuidade de atenção em atendimentos de saúde mental. 

Autora: Paula Benevenuto Hartmann
Psiquiatra pela UFF ⦁ Graduação em Medicina pela UFF

Referências


Doupnik SK, Rudd B, Schmutte T, Worsley D, Bowden CF, McCarthy E, Eggan E, Bridge JA, Marcus SC. Association of Suicide Prevention Interventions With Subsequent Suicide Attempts, Linkage to Follow-up Care, and Depression Symptoms for Acute Care Settings – A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Psychiatry, published online June 17, 2020. doi:10.1001/jamapsychiatry.2020.1586

Fonte: https://pebmed.com.br/qual-a-eficacia-de-intervencoes-para-a-prevencao-do-suicidio-em-ambientes-clinicos/