segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O luto diante do suicídio: difíceis travessias

Suicídio: como ajudar aqueles que passam pelo luto?


Redação (23 setembro 2019)

No mês dedicado à prevenção do suicídio e valorização da vida, também é importante destacar o outro lado da história daquele que tirou a própria vida: os que ficaram, ou como define a Psicologia, os sobreviventes. Afinal de contas, como seguir em frente diante da perda de forma tão violenta? Como entender o que poderia ter sido feito para evitar? E o mais difícil: como seguir em frente?

A psicóloga especialista em família, Renata Bento, diz que o efeito do suicídio em uma família é devastador devido à herança muito dura a ser recebida para quem fica. A culpa e a raiva são sentimentos que surgem e permanecem e, numa fase em que a pessoa tem que lidar com muitas perguntas sem respostas, o assunto vira um tabu na família.

– É preciso ajudar a pessoa que ficou para que possa falar sobre o assunto, ajudar a quebrar o silêncio, sair do torpor e fazer movimentar-se por dentro para que a elaboração psíquica ocorra. Encorajar a pessoa a buscar ajuda especializada. Entrar em processo de terapia pode ser de grande ajuda – disse Renata, que é membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, ao Pleno.News.

Renata destaca que “passamos a vida experimentando lutos” quando, por exemplo, uma criança precisa fazer o luto de um lugar idealizado junto aos seus pais quando recebe um irmãozinho. Em outras palavras, o luto “é um vazio promovido pela perda de alguém ou de algo importante e significativo”.

– É um processo psíquico importante diante de algo que invade o sujeito de forma inesperada deixando-o por um período sem possibilidade de construção narrativa. Justamente por isso o luto é um tempo necessário para a elaboração psíquica e por isso mesmo é fundamental atravessar o luto. Didaticamente, pode-se dizer que se oscila em cinco fases, que não são exatamente em uma sequência. Podem ocorrer muitas oscilação entre elas e ainda misturadas uma a outra.

Fase 1 – Negação ou desorientação ou torpor: Momento confuso onde a pessoa se sente perdida e se desestrutura. Nessa fase surge a negação ou tentativa de evitar entrar em contato com a realidade como mecanismo de defesa psíquica;

Fase 2 – Raiva: É a fase de anseio e busca da figura perdida, onde surge o choro como mecanismo adaptativo e a tentativa de se vincular novamente com a figura ou ideia perdida. E aí surge a raiva porque a pessoa se sente injustiçada e se revolta contra tudo que a cerca;

Fase 3 – Barganha: A pessoa começa a fazer promessas a si mesma, ou a uma entidade, de que irá sair dessa, de que será melhor, de que sua vida mudará para melhor;

Fase 4. Depressão, desespero e dor profunda: A quarta fase é bem complicada porque os sentimentos de vazio e perda se intensificam e a pessoa se sente impotente, desmotivada, apática, deprimida e pode se isolar. Podem surgir distúrbios psicossomático, por exemplo, ligados à alimentação, como perda do apetite;

Fase 5 – Aceitação e reorganização: O mundo interno começa a se organizar, cessa o desespero, a dor encontra um lugar dentro da pessoa que não mais a invade na totalidade. É a fase final do processo de luto. A vida começa a ser reorganizada e a pessoa já consegue vislumbrar novos projetos, novo relacionamento, novo emprego, etc. A esperança retorna mostrando que a vida continua.

Atendimento à família

A psicóloga Renata Bento ainda explica que o tipo de constituição emocional de cada um vai definir qual a melhor forma de ajudar o sobrevivente. A experiência do luto é individual e cada um tem sua forma singular de lidar com o sofrimento causado pelas perdas.

– O luto, não é algo patológico, mas seus sintomas são semelhantes aos da melancolia e depressão. O que irá diferenciá-los é a intensidade e o tempo de duração. O luto é algo que precisa ser atravessado. Com o tempo, a pessoa vai adquirindo mais contato com a realidade através da elaboração psíquica e tende a reorganizar o mundo interno que irá refletir no externo. É preciso que se tenha paciência e respeito pela dor do enlutado porque cada um tem seu tempo para superar. O processo de luto faz chorar e gera sintomas muito dolorosos – resume.

Já a psicóloga Priscila Costa Ramos Campos, especialista em psicodiagnóstico e cuidados paliativos, além de atuar na área de luto e processo de suicidologia, realiza um trabalho específico para os sobreviventes chamado de posvenção. Há três anos, Priscila é proprietária do Centro de Apoio ao Sujeito no Luto (Casulu), em Fortaleza (CE), onde promove atendimento clínico individual aos sobreviventes, além de realizar cursos, palestras e rodas de conversa.

– O sobrevivente é capaz de sobreviver a dor de perder alguém para o suicídio, mas sabemos que alguns comportamentos podem ser perpetuadas no seio familiar e, principalmente, pelo que não é dito e que fica enraizado na estrutura familiar que vai se construindo. As pessoas que tiram a própria vida estão em uma condição emocional bem destoante da normalidade para ela e 90% dos casos estão atrelados a algum tipo de transtorno mental. Então a posvenção previne que algo possa se repetir nessa família – declarou ao Pleno.News.

Ao longo dos anos com esse trabalho, Priscila disse que já viu pessoas transformarem toda a dor do luto em amor e ajudar outras pessoas a superarem essa fase. É comum que a morte traga consigo a culpa e questionamentos, mas, além do tratamento especializado, ela também acredita que a fé pode ser um alento nessas horas.

– A própria fé é muito importante para que a gente observe a morte de uma forma diferente. Muitas congregações pregam que existe uma vida após e o querer esperar por essa vida que vem depois é a fé. Então, se existe uma possibilidade que seja feito um reencontro, a fé vai ajudar bastante.

Renata Bento afirma que ter fé na vida apesar de tudo ajuda a seguir em frente buscando novas alternativas para trabalhar os aspectos emocionais na terapia. Essa fé é algo interno e singular que impulsiona a viver.

– Outro aspecto é a questão da fé religiosa. Se, por exemplo, a morte não faz nenhum sentido, a religião fornece essa sensação e pode aliviar a dor. É algo em que a pessoa se apega para buscar algum conforto. Ademais, o suicídio de um membro da família é uma herança emocional difícil de se receber.

Busque ajuda 
 
No caso de familiares enlutados, o Centro de Valorização da Vida oferece por meio do CVV Comunidade, os Grupos de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio. É importante ressaltar que os grupos servem a encontros que partilham emoções e criação de laços afetivos, mas não substituem a assistência especializada, ou seja, a terapia é indispensável. Os locais com os grupos de apoio estão localizados em todo Brasil e a lista das cidades com seus endereços podem ser encontradas através do site cvv.or.br.

Fonte: https://pleno.news/comportamento/suicidio-como-ajudar-aqueles-que-passam-pelo-luto.html

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O drama dos sobreviventes do suicídio

As consequências do suicídio para quem fica


Peggy Wehmeyer

Quando perdi meu marido, em 2008, descobri que a causa de sua morte, apesar de chocante, não era tão rara quanto eu imaginava: mais de 45 mil norte-americanos morreram no ano passado por suicídio, no que tudo indica ser uma epidemia vertiginosa, ainda que silenciosa. Pois na semana passada profissionais da saúde mental denunciaram a crise, chamando a atenção para os sinais de alerta que alguém que amamos pode estar emitindo.

Só os percebi quando já era tarde demais. Depois que ele se foi, minha vida mudou como eu jamais sonhara, tanto por causa de sua decisão como por conta do estigma que ela deixou.

Pouco depois de enviuvar, eu me vi em um jantar elegante, à luz de velas, no litoral da Flórida. A maior parte das pessoas à minha volta, à mesa bem-posta, era de estranhos; as portas, escancaradas, davam para o mar à nossa frente. Ocasiões como essa me davam a oportunidade de fugir da dor em que tinha mergulhado desde a morte do meu marido. A brisa carregada de maresia e o tecido fino da toalha contra meu joelho me lembravam de que, embora tivesse perdido o companheiro que escolhera, eu ainda respirava e precisava reaprender a aceitar a dádiva da vida – mas essa frágil esperança se desvaneceu assim que a conversa começou.

A mulher sentada ao meu lado me estudou por um momento e perguntou se eu já fora casada. A resposta foi um "sim" simples. Dali, porém, a conversa prosseguiu como se fosse um roteiro. "Ah, é divorciada?" "Não, viúva." Sempre achei que o divórcio era um sinal de fracasso no maior compromisso da vida da pessoa, mas, nos meses e anos que se seguiram à morte do meu marido, descobri que há algo pior que um casamento que acaba em separação: o que termina como o meu.

A depressão e a vergonha que tiram a vida de um ente querido não são enterradas com ele


Minha vizinha de mesa resolveu avançar, entrando em território delicado e proibido. "Foi câncer?", perguntou, as sobrancelhas erguidas. "Foi, sim", respondi, solene. Pronto, agora sentia vergonha não só da morte do Mark, mas também da minha mentira. A curiosidade parece tomar conta das esposas em geral quando conhecem alguém que era casada e hoje se vê solteira. É meio como esticar o pescoço para ver a cena de um acidente horrível. "Meu Deus do céu! Será que pode acontecer comigo?", questionam-se.

A mulher insistiu. "Que tipo de câncer foi o dele?" Descansei o garfo e abri a porta imaginária de um armário cheio de disfarces de que agora era dona. Hoje, usaria a fantasia da mulher no controle de sua vida, aquela que conseguiu lidar com o luto pela morte do marido e estava feliz por poder sair para se divertir. "Do pâncreas", informei, sem nem piscar, com a certeza de que a resposta satisfaria minha recém-conhecida enxerida. Eu conhecia uma mulher cujo marido morrera de câncer pancreático e sabia que a doença geralmente evolui rápido.

Em vez disso, ela se voltou para mim com uma expressão que passei a conhecer muito bem: um misto de medo e piedade, o pior tipo de simpatia. Ofegante, persistiu: "Quanto tempo levou do diagnóstico até a morte?" Era tarde demais para voltar atrás. Dizer a verdade a uma estranha – que meu querido companheiro de 25 anos se matara na casa de campo da nossa família – seria assumir o protagonismo de um filme de terror horrível demais para assistir. Eu não teria condições.

Pedi licença e saí andando, ligeira, rumo à porta aberta para o mar. Se pelo menos eu pudesse mergulhar de cabeça ali e prender a respiração em um lugar seguro e silencioso onde pudesse lidar com a questão que não me abandona nem por um minuto: "Por que ele fez aquilo?"

Sobreviver ao suicídio do cônjuge é assim. A depressão e a vergonha que tiram a vida de um ente querido não são enterradas com ele, como o câncer pancreático ou um tumor cerebral; elas se aderem aos sobreviventes como se fossem um filme plástico.

É por isso que, quando chega a notícia do suicídio de uma celebridade, como Kate Spade, Anthony Bourdain ou a namorada de Mick Jagger, L'Wren Scott, e a maioria especula as razões que os fizeram tirar a própria vida, eu procuro saber como os familiares e amigos estão lidando com a angústia e a vergonha. O pai de Kate Spade, desolado, morreu duas semanas após a morte da filha, mas me identifico com o marido dela, Andy, que teve de se defender publicamente contra a especulação de que o casamento turbulento deles contribuiu para o suicídio da mulher. "Éramos superbons amigos tentando superar os problemas à nossa maneira. Nós nos amávamos muito", afirmou ele.

Eu poderia dizer o mesmo porque, por mais que você ame alguém, não é fácil segurar um casamento feliz quando um dos dois enfrenta uma depressão debilitante ou mudanças drásticas de humor. Spade revelou que a mulher, tão talentosa, lutava com demônios pessoais. Eu os conheço muito bem. Rezei e lutei contra eles durante mais de 25 anos, mas, na noite em que convenceram Mark de que ele estaria melhor morto, sucumbi à derrota.

Nos meses e anos que se seguiram à morte do meu marido, muitas vezes mergulhei em uma depressão profunda, estimulada pela minha perda e a sensação de fracasso. Por que consegui convencer o homem que amava a usar protetor solar, fazer exames de saúde regulares e usar capacete para andar de bicicleta, tudo para prolongar nossa vida juntos, mas não consegui impedir que ele se matasse? Não era minha tarefa de esposa ajudá-lo a viver protegido e feliz, fortemente ligado à vida?

Uma das consequências do suicídio é a vergonha irracional que toma conta dos que ficaram. Na noite em que Mark tirou a própria vida, ele tinha jantado com nossa caçula, Hannah, que estava de férias da faculdade e ficou em casa. Ela passou vários dias chorando e perguntando: "Por que passar um tempo comigo não foi suficiente para impedir que o papai se matasse?" Seus amigos mais próximos se culparam por não irem atrás quando ele não retornou suas ligações. Sua mãe, que acabou de completar 93 anos, ainda questiona se uma criação diferente poderia tê-lo impedido de se matar.

As perguntas e comentários de amigos e estranhos nos meses e anos após a morte de Mark só pioraram a coisa. No enterro de um velho amigo, uma conhecida sentada ao meu lado pôs a mão no meu joelho e sussurrou: "Vivo me perguntando se você já descobriu por que ele fez aquilo". Em outra reunião, eu estava em um grupo de pessoas, batendo papo, falando sobre coisas leves, quando uma jovem se voltou para mim na maior calma, como se fosse me perguntar se lavo minhas roupas com água quente ou fria: "Peggy, você não percebeu nenhum sinal do que estava por vir?"

Durante meses, as perguntas, que eu sentia como flechas flamejantes, pipocaram – no mercado, nas filas do aeroporto, no banheiro dos restaurantes. Passei a evitar gente que não conhecia bem. Quando as questões indesejadas me pegavam de surpresa, minhas respostas eram sempre pouco elaboradas, praticamente sem explicar nada. "Não, também fiquei chocada", "Não sei bem por que ele fez o que fez", ou "Não, não percebi nada". Porém, já no carro, eu dava vazão à frustração, falando alto o que gostaria de ter dito. "Sim, claro que percebi que havia alguma coisa errada. Tinha um monte de laços de forca pendurados pela casa, eu é que não dei bola!", gritava, batendo o punho contra o painel.

O fato é que ninguém percebeu nada. Meu marido era espirituoso e sociável, pai e marido amoroso. Seu bom humor o transformava na alma de qualquer festa. A luta que travava contra a depressão o levou a ajudar um sem-fim de pessoas a procurar a assistência de que necessitavam para superá-la. Entretanto, como muitos homens bem-sucedidos, Mark era bom em esconder os sentimentos e seguir adiante, apesar dos ataques de desespero. Seu erro foi não pedir ajuda quando mais precisava.

Com o tempo, descobri uma forma de me proteger quando as pessoas querem saber como e de que meu marido morreu: faço uma pausa para deixar a pergunta em suspenso em um silêncio incômodo e depois digo gentil, mas firmemente: "Não me sinto à vontade para falar sobre isso com você, sabe?"

Uma das consequências do suicídio é a vergonha irracional que toma conta dos que ficaram


A coisa mais bonita que já me disseram também foi a que mais doeu. Em uma reunião improvisada com os amigos de faculdade de Mark em Chicago, um dos caras com quem ele dividira o apartamento, e que eu não via há anos, me puxou de lado discretamente, pôs a mão no meu ombro e disse: "Tem uma coisa que nunca contei para ninguém, mas que talvez lhe sirva de consolo". E descreveu as várias vezes em que voltava para casa depois da aula para encontrar Mark, capitão do time de hóquei no gelo, chorando em uma melancolia inexplicável, desejando estar morto.

A história acabou comigo, mas passei a recorrer a ela quando começava a pensar no nosso casamento, procurando provas de onde tinha falhado como esposa. Eu preferia ignorar as histórias de seu humor sombrio na adolescência, histórico de um transtorno anterior a mim; eu acreditava que o amor superaria tudo, que eu conseguiria trazê-lo para a luz. O que só fui compreender totalmente depois de sua morte foi que eu tinha tanto poder de acabar com a doença mental do meu marido como o de encontrar a cura para o câncer pancreático.

Muitas viúvas me disseram que levaram de seis a sete anos para se recuperar da morte do companheiro; eu diria que, em caso de suicídio, é um pouco mais. Ao contrário da morte por câncer, que tem uma causa e uma vítima claramente definidas, o suicídio dá a sensação de ser criminoso; o ato é geralmente resultado de uma confluência de causas e circunstâncias, raramente compreendida na íntegra por profissionais de saúde mental.

Durante uma semana que eleva a prevenção do suicídio a uma causa nacional, é bom também levar em consideração as vítimas invisíveis, ou seja, os vivos que vivem com uma ferida aberta. Depois de mais de dez anos, as perguntas doídas e a autocondenação já quase desapareceram. O luto agora me vem em ondas gerenciáveis, em ocasiões como o casamento das filhas, o nascimento dos netos e outras realizações que nossa família sempre sonhou compartilhar com ele.

Nas raras ocasiões em que, deitada na cama, fico pensando por que Mark fez o que fez, penso no grande consolo do tesouro paradoxal que ele deixou. Na última carta endereçada a mim, deixada no balcão da cozinha, suas últimas palavras foram: "Eu te amo, Peggy, com todo o meu coração partido".

Peggy Wehmeyer já foi correspondente do World News Tonight, da emissora ABC; hoje é articulista e mora no Texas.

No Brasil há ajuda para os sobreviventes. Mais informações aqui:

Grupo Virtual de Luto por Suicídio - "Sobreviventes"

Blog No m'oblidis

Fonte do artigo: www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/as-consequencias-do-suicidio-para-quem-fica/

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Pastoral da Escuta: católicos em favor da vida!

O gesto da escuta faz toda a diferença


Campanha “Setembro Amarelo”


As estatísticas apontam que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no planeta, o que resulta numa média de 800 mil mortes por ano. O problema é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade, sendo que para cada suicídio há 26 tentativas.


Os números fazem parte de um levantamento efetuado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e ganham relevância mundial em decorrência do Dia de Prevenção do Suicídio, lembrado todos os anos em 10 de setembro.

De acordo com o organismo internacional, todos os países, sejam ricos ou pobres, registram casos de suicídio. No entanto, quase 80% desses óbitos são identificados em nações de renda baixa e média. A maioria das ocorrências acontece em zonas rurais e agrícolas, sendo que o envenenamento por pesticida é o método usado em 20% de todas as mortes. Outros meios comuns são o enforcamento e o uso de arma de fogo.

A OMS lembra que, nos países de renda alta, já foi reconhecido um vínculo entre suicídio e problemas de saúde mental, como depressão e transtornos de uso de álcool. Contudo, muitos suicídios, aponta a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), são cometidos por impulso, em momentos de crise.

SETEMBRO AMARELO

A fim de intensificar esforços na prevenção do suicídio em nível mundial, teve início, em 2003, a campanha “Setembro Amarelo”. Articulada pela Organização Mundial da Saúde, Federação Mundial para a Saúde Mental e pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio, está presente em cerca de 40 países. No Brasil — cujas estatísticas apontam que a cada 45 minutos uma pessoa põe fim à própria vida —, as entidades responsáveis por sua organização e divulgação, desde 2015, são o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

SAÚDE PÚBLICA

A OMS considera a prática do suicídio um problema de saúde pública e recomenda que países identifiquem os principais métodos que algumas pessoas usam para pôr fim à própria vida. Com isso, é possível restringir o acesso a tais meios. Outras medidas para prevenir esse tipo de morte é a implementação de políticas para limitar o consumo abusivo de álcool e drogas.

O organismo internacional defende ainda o fornecimento de serviços de saúde mental eficazes. Analogamente, governos também devem oferecer acompanhamento médico após tentativas de suicídio.

Na avaliação da agência das Nações Unidas, é necessária uma abordagem integrada, que mobilize não apenas a saúde, mas também a educação, os meios de comunicação, instituições trabalhistas e o setor agrícola.
Cada suicídio é uma tragédia que afeta famílias, comunidades e países inteiros, afirma a OMS. Em muitos países, o tema é um tabu — o que impede pessoas que tentaram se suicidar de procurar ajuda. Até hoje, apenas alguns países incluíram a prevenção do suicídio em suas prioridades de saúde e apenas 28 nações relataram ter uma estratégia nacional de prevenção.

MISERICÓRDIA

Em 16 de outubro de 2018, o Papa Francisco falou para a televisão da Conferência Episcopal Italiana sobre o suicídio e a misericórdia de Deus. Na ocasião, o Santo Padre afirmou: “O suicídio seria como fechar a porta à salvação, mas tenho consciência de que nos suicídios não há plena liberdade. Pelo menos acredito nisso. Ajuda-me o que o Cura D’Ars disse à viúva cujo esposo se suicidou jogando-se de uma ponte em um rio. Disse: ‘Senhora, entre a ponte e o rio está a misericórdia de Deus”.

É fazendo desta misericórdia uma inspiração divina que, cada vez mais, a Igreja demonstra preocupação com os altos números de suicídio e vem, juntamente, com seus fiéis buscando maneiras de contribuir para que a vida seja cultivada.

Em Divinópolis (MG), Janaina Nunes é missionária consagrada da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré. Todos os dias, ela e outros missionários da comunidade atendem pessoas com o serviço de escuta por meio do projeto “Eu quero você vivo”.

A comunidade foi fundada há 14 anos e, desde então, realiza o trabalho de ouvir e rezar por aqueles que a procuram. Entretanto, o aumento no número de suicídios na cidade mineira fez com que os missionários percebessem a necessidade de organização e divulgação do projeto.

ESCUTA

“Todas as pessoas são, carinhosamente, muito especiais. Para mim, o que marca é poder fazer algo tão simples, que é escutar. Algo extremamente simples e que faz uma enorme diferença para as pessoas, tanto que elas desejam voltar”, continuou a missionária.

Janaina reforçou que não se trata de um tratamento profissional, mas que diariamente pessoas com sintomas de depressão frequentam o local. Em geral, os atendimentos ocorrem uma vez por semana, mas em casos mais complexos é possível a escuta mais de uma vez por semana.
Ela recordou, ainda, o caso de um homem que já frequentava o espaço e que, ao se divorciar da esposa, pensou em interromper a própria vida, mas, graças à ajuda dos missionários, não cometeu o suicídio.

CONVERSA EM GRUPO

A Paróquia Pessoal Nipo-Brasileira São Gonçalo, localizada na Praça Doutor João Mendes, no centro histórico de São Paulo, abre suas portas todas as quartas-feiras, das 14h às 16h, para quem deseja atendimento profissional.

A inciativa partiu do então Pároco, Padre Lourenço Gomes, já falecido, há oito anos, para que a Paróquia pudesse oferecer uma ação social para a comunidade. Doutor Bruno Predomo, psicanalista que, a pedido do Padre Lourenço, iniciou o trabalho, contou ao O SÃO PAULO que os atendimentos ocorrem por meio do diálogo em grupo e, em casos específicos, há o tratamento individual.

Para ele, o principal de um tratamento é a permanência nos encontros, o que, ainda, é uma dificuldade no atendimento realizado na paróquia do centro da capital paulista. Não há requisitos para a participação e não é necessária inscrição prévia.

Algumas paróquias que têm Pastoral da Escuta

PARÓQUIA SANTÍSSIMA TRINDADE
Avenida Marechal Fiuza de Castro, 861 - Vila São Domingos – Telefone: 3735-0461
Segundas e sextas-feiras, das 18h às 20h30
Quartas-feiras, das 18h30 às 20h30
Quintas-feiras, das 14h às 20h30

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Praça Silvio Romero, S/N - Tatuapé - Telefone: 2093-1920
Segundas-feiras, das 10h às 12h e das 14h às 17h
Terças-feiras, das 9h às 12h
Quartas-feiras, das 13h às 16h
Quintas-feiras, das 9h às 11h e das 13h às 15h
Sextas-feiras, das 14h às 18h30

PARÓQUIA SÃO GERALDO
Largo Padre Péricles, S/N – Perdizes - 3667-0660
Terças e quintas-feiras das 15h às 18h

Fonte: www.osaopaulo.org.br/noticias/o-gesto-da-escuta-faz-toda-a-diferenca

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Iniciativa nota 1000! #EuEstou (plataforma de promoção de saúde mental)

 

Projeto #EuEstou oferece conteúdo para auxiliar na prevenção ao suicídio


No Festival Amarelo, o cineasta M.M. Izidoro contou mais sobre a campanha que iniciou no Facebook em parceria com o YouTuber PC Siqueira


Amanda Oliveira (11 setembro 2019)

Felizmente, cada vez mais comunidades de apoio à saúde mental e campanhas de prevenção ao suicídio são criadas no Brasil. Uma dessas iniciativas é o projeto #EuEstou, fruto de uma parceria entre o cineasta M.M. Izidoro, o YouTuber PC Siqueira, o Instituto Vita Alere e o Facebook, que foi tema de um painel no Festival Amarelo, promovido pelo Instagram Brasil em parceria com a CAPRICHO.

Criado em 2018, o projeto é uma plataforma de promoção de saúde mental focada em prevenção do suicídio e funciona nas redes sociais Facebook e Instagram. “Ele existe por uma necessidade minha. No ano passado, eu tive uma crise de ansiedade muito forte. Numa noite que eu estava sozinho em casa, eu tive pensamentos suicidas. Achei que não ia acordar e ver o dia seguinte“, lembra M.M. Izidoro.

O projeto nasceu a partir de uma conversa sincera e real entre o cineasta e o YouTuber PC Siqueira. “A gente começou a conversar, a gente começou a se abrir e coisas que homens de 30 anos no bar não fazem, que é falar de sentimentos, falar como a gente estava. E a gente percebeu que a gente não estava num lugar legal e tinha que sair daquela situação“, conta.

A ideia cresceu e o projeto ganhou o apoio do Facebook e do Instituto Vita Alere, fazendo com que muitos conteúdos diferentes sobre saúde mental e prevenção ao suicídio já tenham sido criados e compartilhados na rede mundial. “Então hoje, quando bate aquela badzinha que foi uma das sementes da minha crise de ansiedade lá atrás, e eu falo: ‘Será que eu estou no lugar certo?’, ‘será que eu estou fazendo a coisa certa?’, ‘será que eu estou fazendo o que eu deveria fazer?’, eu lembro dessa história (…) Isso me leva a lembrar de conexões“, diz.

Conexões é a palavra-chave, aliás. Por que, afinal, como podemos contribuir para a construção de comunidades de apoio por conta própria? É simples: todos nós também precisamos ser uma comunidade de apoio. “A gente tem que ser melhor, a gente tem que evoluir. E a internet, assim como a vida, é o que a gente faz dela (…) É uma escolha nossa fazer um comentário racista na foto de alguém, é uma escolha nossa dar um share em um conteúdo que vai oprimir uma outra pessoa e é uma escolha nossa fazer um bullying de alguém na escola”, afirma M. M. Izidoro.

“Se eu posso dar uma dica para alguém que está mal é: converse. Peça ajuda. Não é fácil, mas tenta uma vez. Tenta duas, tenta três“, diz. O projeto #EuEstou traz conteúdos informativos, mas também oferece ajuda para quem precisa através do e-mail meajuda@euestou.com. Para quem quer ajudar um amigo ou uma amiga que está passando por problemas, você pode obter informações e orientações através do queroajudar@euestou.com.

Uma experiência única sobre promoção de saúde mental, o Festival Amarelo aconteceu no dia 8 de setembro.

Se você precisa de apoio emocional, entre em contato com o serviço gratuito de prevenção do suicídio CVV, o Centro de Valorização da Vida, através do telefone 188 ou do site www.cvv.org.br.

Fonte: https://capricho.abril.com.br/vida-real/projeto-euestou-oferece-conteudo-para-auxiliar-na-prevencao-ao-suicidio/


domingo, 8 de setembro de 2019

Escritor leva para seminário sua própria história: 21 anos de depressão


Wellyngton Souza (7 setembro 2019)

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Criado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com a proposta de associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio comemorado no dia 10.

Os dados sobre os números de suicídios são alarmantes no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. No Brasil, este mesmo levantamento aponta que a cada 45 pessoas, uma morre por suicídio.

Para falar sobre o tema na capital, acontece no próximo dia 17 de setembro, o 1º Seminário Estadual de Prevenção e Pósvenção do Suicídio, no teatro da Assembleia Legislativa, Zulmira Canavaros. O evento é aberto ao público com entrada gratuita mais dois quilos de alimentos.


Segundo um dos organizadores, o palestrante e autor do livro 'Tenho depressão. E agora?', Alan Barros, o seminário é uma parceria da  Samira Marcon, doutora em Ciências e Coordenadora do Núcleo de Estudos em Saúde Mental. E ainda vinculado ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem/Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com docentes e discentes representados pela Jesiele Spindler,  mestra em Enfermagem.


“A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)”

"O objetivo é sensibilizar de profissionais a trabalhadores até gestores e a comunidade sobre a importância de se falar abertamente sobre o suicídio e a depressão. Além de discutir e divulgar estudos que têm sido produzidos sobre as doenças que mais matam no mundo".

De acordo com Alan, o encontro visa promover um espaço aberto de discussões sobre o comportamento suicida envolvendo diferentes atores sociais com foco na prevenção e posvenção.

"É de extrema importância falar sobre a depressão e suicídio visto que os números só aumentam. Faltam espaços para debater esse tema. Faltam profissionais qualificados para receber uma pessoa com depressão, ansiosa ou que já tentou cometer o suicídio. Nosso encontro é justamente para falar da doença com base em dados, trocar experiências e relatos de pessoas que tratam ou já trataram destas doenças emocionais", disse em entrevista ao Jornal do Meio Dia.

Para o autor do livro - que se trata de depressão há 21 anos -, o acolhimento da família e amigos é fundamental para superar a depressão e combater qualquer tipo de pensamento suicida. "Através da fraternidade, do amor, do acolhimento a pessoa consegue vencer a depressão. Acompanhado, claro, de um profissional qualificado; seja psicólogo ou psiquiatra.

Alan explica que a depressão muitas vezes é confundida com tristeza. "A depressão é um quadro mais grave e a tristeza geralmente tem um motivo, tem um desencadeador que seja muito claro de ser identificado. A depressão é multifatorial que, em muitos casos, vêm de um contexto histórico e familiar".

A  obra 'Tenho depressão. E agora?', lançado em setembro de 2017, conta a história do autor e também retrata experiências de outras pessoas acometidas pela doença.

"A obra é toda ilustrada pelo artista plástico mato-grossense Rafael Jonnier. Eu quis tirar o "preto" da depressão, e retratar temas tão difíceis de uma forma leve e colorida".

Fonte: www.obomdanoticia.com.br/cidades/escritor-leva-para-seminrio-sua-prpria-histria-21-anos-de-depresso/20819

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Piauí prossegue consolidando ações integradas em favor da prevenção do suicídio


Setembro Amarelo


Piauí iniciará o Plano de Prevenção ao Suicídio


Redação (4 setembro 2019)

As instituições do Piauí irão colocar em execução o Plano de Enfrentamento ao Suicídio no estado. Nesta terça (3/9), uma reunião ressaltou alguns pontos a serem destacados nas atividades a serem desenvolvidas pela Secretaria Estadual de Saúde e a Secretaria de Segurança Pública com os demais parceiros, a partir deste mês de setembro.

O secretário estadual de Saúde Florentino Neto reforçou que a ideia é realizar um trabalho integrado entre as instituições para executar o plano de prevenção ao suicídio. “Hoje nós discutimos sobre as oficinas de capacitação de profissionais, nestas oficinas participarão tanto os profissionais de saúde, como também os profissionais das polícias civil e militar para que nós todos estejamos mais capacitados para atuar em momentos que envolvam a prevenção do suicídio”, comentou.

Também estiveram presentes a delegada de Polícia Civil, Anamelka Cadena, a presidente do Centro Débora Mesquita, Késia Mesquita, membros da Gerência de Atenção a Saúde Mental da Sesapi e da Polícia Militar. Entre os pontos discutidos, a capacitação dos profissionais que atuam atendendo a sociedade mostrou-se como ponto principal.

Para a delegada Cadena, "a capacitação e o aperfeiçoamento dos profissionais permitirá um atendimento mais humanizado e efetivo para a população que lidar com esse problema tão delicado. Essa capacitação fará a diferença no que se refere ao enfrentamento ao suicídio”, disse .

Já a Késia Mesquita, que já atua há sete anos no enfrentamento ao suicídio em apoio à população, fala que a proposta de um trabalho integrado traz pontos positivos para a comunidade. Ela destaca que a preocupação de lançar um plano a longo prazo - com um passo de cada vez - pode sim ajudar a reduzir os índices de suicídio.

Setembro Amarelo

Setembro é o mês de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio. O Setembro Amarelo é uma Campanha Nacional que marca as ações sobre o tema, além de enfatizar a necessidade de atenção especial com o bem-estar e a saúde mental das pessoas.

Fonte: https://cidadeverde.com/noticias/307365/setembro-amarelo-piaui-iniciara-o-plano-de-prevencao-ao-suicidio