sábado, 28 de maio de 2022

Grupo de prevenção ao suicídio cria 0800 para prestar apoio emocional de forma gratuita

Antes dessa mudança, Grupo Amor Vida precisava atender as ligações em dois números diferentes

Judson Marinho (13 maio 2022)

Para melhorar o atendimento às pessoas que procuram ajuda, e estão passando o por dificuldades emocionais, o Grupo Amor Vida (GAV) passa a disponibilizar ligações gratuitas através do serviço telefônico de 0800.

As ligações podem ser realizadas de segunda a domingo, das 07h às 23h através do número 0800 750 5554. A linha não possui identificador de chamadas, o que protege a identidade das pessoas que procuram ajuda e permite que estas se mantenham no anonimato. O grupo tem sede fixa em Campo Grande.

Segundo a Cinthia Morales, Coordenadora de Divulgações da GAV, a mudança de número aumenta a procura pelo serviço, já que o atendimento passa a ser totalmente gratuito. "0800 também ampliou nosso campo de atuação e desde que foi implantado percebemos um aumento no atendimento vindo de outros Estados do Brasil". Declara Cinthia.

Os atendentes voluntários passam por treinamentos e cursos de formação antes de começarem a atender as ligações. O grupo também realiza palestras relacionadas à prevenção do suicídio e valorização da vida, que podem ser solicitadas e realizadas de forma gratuita em órgãos públicos, escolas, universidades, empresas, etc...
Atuação da Instituição

O Grupo Amor Vida (GAV) é uma associação civil sem fins lucrativos, sem vinculação político-partidária e religiosa, fundada no ano de 2001. A instituição presta um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio por meio de ligações telefônicas oferecidas para todas as pessoas que queiram e precisam conversar.

Além das ligações o grupo também atende através de envio de e-mail: precisodeajuda@grupoamorvida.ong.

Fonte: www.correiodoestado.com.br/cidades/grupo-que-previne-suicidio-cria-0800-para-atendimento-gratis/400057

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Pesquisadores do Campus de Sobral participam de projeto para monitorar e prevenir suicídios em crianças e jovens

Pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre a Finitude (LAFIN), do Curso de Psicologia do Campus da Universidade Federal do Ceará em Sobral, fazem parte de uma articulação para monitoramento e prevenção de suicídios em crianças e jovens naquele município do norte cearense. O público-alvo do projeto contempla os alunos matriculados na rede pública de ensino, assim como pessoas que buscam o atendimento psicológico via Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da UFC, mobilizando em torno dessa agenda atores da academia, da gestão pública e da sociedade civil.

Participam desse movimento representantes das secretarias municipais de Saúde, através do Núcleo de Atenção e Prevenção do Suicídio (NAPS), de Educação e de Direitos Humanos e Assistência Social de Sobral, além de pesquisadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (LEPES), da Universidade de São Paulo.

Para o pesquisador e coordenador do escritório do LEPES em Sobral, Walacy Maciel de Oliveira, mapear a prevalência de fatores de risco do suicídio em grupos escolares pode ser uma estratégia investigativa importante, mas que precisa estar conectada a planos de ação intersetoriais, pela natureza do fenômeno e dos fatores associados. Através de parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Sobral e com o Instituto Ayrton Senna, desde 2018 o LEPES tem conduzido um estudo longitudinal com uma coorte de 2.500 crianças e adolescentes, em cerca de 30 escolas da rede pública municipal, ao longo dos anos finais do ensino fundamental.

O estudo busca identificar se o comportamento autolesivo, o bullying e outras questões de violência na escola têm relação com o desenvolvimento socioemocional nessa etapa escolar, a partir da escuta ativa e da promoção da saúde mental dos estudantes. “O nosso objetivo é que esse conhecimento não fique só no relatório que a gente entrega nas secretarias municipais e estaduais. Buscamos estratégias para levar os resultados a diretores, coordenadores e professores para que discutam pedagogicamente esses resultados e pactuem com outras pastas que caminhos tomar”, pontua Walacy de Oliveira.

De acordo com o coordenador do LAFIN, Prof. Márcio Arthoni, neste primeiro momento serão reunidos para análise os dados da Secretaria Municipal de Saúde a respeito de suicídios ocorridos na infância e juventude sobralense. Por ser uma temática complexa e que exige aprofundamento, o laboratório priorizará a qualificação da equipe de profissionais, antes de iniciar as ações junto à comunidade local e acadêmica.

Num segundo momento, em ação conjunta com os profissionais do NAPS que realizam o monitoramento das fichas de notificação de tentativas de suicídio e de autópsias psicossociais dos casos de suicídio no município de Sobral, se iniciará um mapeamento descritivo de como esses comportamentos aparecem nessa população e como poderemos lidar com eles de forma mais preventiva. Para o docente, há um contexto global que vem aumentando o interesse científico de investigar o comportamento autolesivo e as tentativas de suicídio em crianças e adolescentes, após um crescimento de casos relatados durante a pandemia de Covid-19.

“Nós temos hoje a necessidade de ampliar estudos focando nessa população de crianças e jovens, até para compreender melhor esse fenômeno e pensar em práticas e intervenções que minimizem os riscos, e que ofereçam suporte tanto para as famílias quanto para os organismos públicos envolvidos”, afirma o Prof. Márcio Arthoni.

Mais informações sobre essas atividades de pesquisa e extensão do LAFIN podem ser obtidas no perfil do laboratório no @lafin_ufc.

Fonte: www.ufc.br/noticias/16899-pesquisadores-do-campus-de-sobral-participam-de-projeto-para-monitorar-e-prevenir-suicidios-em-criancas-e-jovens
 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Comunicação sobre suicídio na internet pode potencializar os riscos

 

Do Jornal da USP - 3 maio 2022

Moradores de cidades com as menores taxas de suicídio localizadas no Estado de São Paulo (Registro e São José dos Campos) publicaram mais sobre o tema no Twitter mas, ao contrário do que se imaginava, a maioria das publicações não tinha conteúdo danoso, não expressava o comportamento suicida nem sofrimento.

Os resultados fazem parte da tese de doutorado de Camila Corrêa Matias Pereira, defendida na EERP (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto) da USP.

O estudo apresentou, ainda, dicas gerais de como se comunicar acerca do tema. A substituição de termos como "suicídio cometido" (que associa suicídio a crime), "tentativa de suicídio bem-sucedida" (que pode dar uma conotação positiva), "tentativa de acabar com a própria vida", "tentativa não fatal de suicídio", "suicídio consumado" por "morreu por suicídio" foi bastante recomendada.

O objetivo do trabalho foi analisar postagens na rede social Twitter sobre suicídio, investigar evidências científicas sobre recomendações e melhores práticas para a comunicação segura sobre o comportamento suicida no ambiente on-line, além de identificar barreiras e facilitadores da comunicação segura em produções discursivas e mensagens de apoio relacionados ao tema.

Na primeira parte do trabalho, Camila examinou 804 publicações feitas desde o início do Twitter, em 2006, até o período em que foi realizada a busca, em 21 de junho de 2018.

As postagens eram provenientes de quatro cidades do Estado de São Paulo: Marília e Ribeirão Preto, que tiveram os maiores coeficientes de suicídio no período estudado (taxas superiores a 7,5 óbitos por 100 mil habitantes); e Registro e São José dos Campos, que apresentaram os menores números (inferiores a 5,5 óbitos por 100 mil habitantes).

Os dados são da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dadaos (SEADE) de 2016.

No Estado de São Paulo, dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde mostraram que, só em 2019, 2.365 pessoas morreram por suicídio, o equivale a uma taxa de 6,13 mortes por 100 mil habitantes.

A maioria das postagens consistia em tweets (84%) feitos por pessoas do sexo feminino (60%) em primeira pessoa (64%), não mencionava método para o suicídio (98%) nem comportamento suicida individual (72%).

Foi visto também que posts com conteúdo preventivo tiveram, aproximadamente, oito vezes mais chances de receberem curtidas quando comparados às postagens pró-suicidas (25% contra 12%, respectivamente).

"Uma questão que nos chamou a atenção foi o fato de que pessoas que expressavam sofrimento e ideações suicidas publicavam mais postagens pró-suicidas e tinham pouco retorno para as necessidades que expressavam", destaca Kelly Giacchero, professora da EERP e orientadora de Camila. "Esse achado mostra que buscar apoio nas redes sociais virtuais tem sido um meio pouco seguro para a pedir ajuda."

Na segunda etapa, a pesquisadora fez uma revisão sistemática da literatura para investigar se evidências científicas respaldam recomendações e melhores práticas para a comunicação segura sobre comportamento suicida no ambiente on-line. Dos 429 artigos selecionados inicialmente, quatro foram incluídos no estudo após a aplicação de critérios de elegibilidade.

Camila identificou várias recomendações. Entre elas, o incentivo à busca de ajuda, o foco na prevenção, o estímulo à procura por apoio social, entre outras.

O uso de imagens clichê (como a de uma pessoa segurando a cabeça entre as mãos) também apareceu na literatura como algo a ser evitado. "Mas é importante frisar que as observações não estão apoiadas por dados empíricos, ou seja, são sugestões intuitivas", ressalta Camila. "Apesar disso, vimos que a mudança poderia reduzir o estigma ou a percepção de um termo pejorativo."

Terceira fase

Na última etapa da pesquisa, Camila realizou um estudo qualitativo e identificou barreiras, facilitadores e aspectos ambíguos sobre a comunicação segura e o comportamento suicida.

Por meio de um questionário on-line, 338 usuários da internet alfabetizados e com e-mail ou conta ativa no Facebook foram entrevistados entre outubro de 2018 a fevereiro de 2019. As perguntas iam desde questões pessoais até experiências prévias com pessoas em risco suicida.

Foram identificados facilitadores relacionados a ajuda profissional, a propensão em oferecer ajuda e a possibilidade de superação.

As abordagens para melhorar a busca de ajuda em saúde mental por parte dos jovens devem considerar o papel da internet e dos recursos on-line como um importante complemento de ajuda off-line, de acordo com Camila.

Ao mesmo tempo, profissionais de saúde que trabalham com jovens precisam ser informados sobre planos de gestão de crises para a melhor compreensão de uma situação de risco.

O papel do suporte social, da família e o apoio da amizade estão associados a um risco reduzido de comportamento suicida. As estratégias de prevenção do suicídio devem ter como objetivo o desenvolvimento de habilidades psicológicas, reduzindo os fatores de risco e promovendo os fatores de proteção, como a resiliência, por exemplo.

O despreparo para lidar com as informações foi apontado como um dos dificultadores da comunicação segura sobre o suicídio. "Há um déficit na formação da sociedade para lidar com a temática, o que pode contribuir para o desconforto emocional dos profissionais e para a limitação das possibilidades de atendimento a pessoas com comportamento suicida", descreve Camila em sua tese.

Já entre as possibilidades ambivalentes, uma categoria muito presente foi a da religiosidade. A relação entre o comportamento suicida é complexa, de acordo com a pesquisadora.

"Da mesma maneira que ela apresenta fatores protetivos, pode igualmente representar fatores de risco", explica Camila. "Cada religião manifesta diferentes estratégias para lidar com a situação."

"No geral, o estudo revelou como a comunicação sobre suicídio na internet ainda tem sido pouco segura, ou seja, tem fragilidades que podem potencializar riscos e dificultar a busca por apoio", destaca Kelly.

"Também apresenta uma síntese de algumas recomendações internacionais sobre a comunicação segura para a prevenção do suicídio no ambiente virtual e revela algumas lacunas no conhecimento científico sobre esse tema."

Mortalidade no mundo

Um relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho de 2021 apontou que o suicídio é uma das principais causas de mortalidade no mundo, na frente de doenças como infecções decorrentes do HIV, malária e câncer de mama, e até de guerras e homicídios.

Só em 2019, 700 mil pessoas tiraram a própria vida - o que equivale a 1 em cada 100 mortes. Esses números levaram a OMS a produzir novas orientações para ajudar os países a melhorarem a prevenção do suicídio.

Como conta Kelly ao Jornal da USP, ainda existem muitas lacunas relacionadas à prevenção do suicídio em nosso País, entre elas, a falta de um Plano Nacional com objetivos, metas, estratégias, recursos, responsáveis e indicadores de acompanhamento.

"Existem programas promissores para a prevenção, mas ainda há lacunas importantes que comprometem a sustentabilidade e abrangência das ações."

Camila trabalha com o tema desde a graduação, quando iniciou seu projeto de iniciação científica. No mestrado, a enfermeira fez um estudo sobre comportamento suicida em blogs preventivos e pró-suicida. No doutorado, decidiu se aprofundar um pouco mais.

"Além da minha tese em si, meu grupo fez vários outros trabalhos sobre essa temática em outras plataformas, como o Tumblr. A depender da rede social, o comportamento suicida pode ser expresso de forma diferente e essa questão precisa ser melhor investigada", explica.

A pesquisa de Camila disparou diversos questionamentos e ações relacionadas à prevenção do suicídio. "Estamos desenvolvendo atualmente um e-book sobre saúde mental, comportamento suicida e o uso de telas e também estamos desenvolvendo estratégias para formação de profissionais para a prevenção do suicídio em ambientes virtuais, incluindo cenários de simulação de alta fidelidade onde os alunos podem ter experiências práticas de atendimento após um período prévio de formação", conclui Kelly.

Serviço

Se você conhece alguém que precisa de ajuda, o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Posvenção do Suicídio (LEPS) e o Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (CEPS) da EERP criaram o InspirAção. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o site traz informações, artigos científicos e instruções sobre o tema, além de disponibilizar cartilhas para os interessados.

Fonte: www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/05/03/comunicacao-sobre-suicidio-na-rede-pode-potencializar-riscos.htm