terça-feira, 21 de setembro de 2021

Luto pelo suicídio: dois artigos relevantes

Como lidar com o luto após um suicídio

Eliane Regina Ternes Torres

Lidar com o luto após um suicídio pode ser bastante difícil. Muitas vezes, há diversos sentimentos e questionamentos envolvidos. Em alguns casos, o apoio da família e de amigos pode ajudar. No entanto, em outros, pode ser necessária a ajuda profissional. Neste post, abordamos informações que podem auxiliar a lidar com esse momento.

O suicídio no mundo

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 9 em cada 10 suicídios podem ser evitados. Para tanto, são necessários: identificação precoce em relação ao risco de suicídio para que sejam realizados os encaminhamentos adequados; capacitação de profissionais envolvidos nos cuidados em saúde; e campanhas informativas que desmistifiquem o comportamento suicida. Além disso, ninguém previne o suicídio sozinho. Deve ser realizado um trabalho em parceria com a família e entre profissionais de saúde, bem como com redes de apoio da comunidade.

Ainda assim, dados apontam que mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, o que significa uma morte a cada 40 segundos. E para uma  pessoa que morre por suicídio, estima-se que haja 6 outras diretamente afetadas por essa perda. A essas pessoas costuma-se chamar de “sobreviventes enlutados por suicídio”, pelo grande impacto que esse evento gera em quem fica. Além disso, porque o luto após um suicídio é diferente de outros lutos e costuma envolver elementos específicos para sua elaboração.

Luto após um suicídio

Entre os elementos que envolvem o luto após um suicídio, estão as muitas dúvidas relacionadas aos possíveis “porquês” do suicídio. Há questionamentos sobre se teria sido possível fazer algo para evitá-lo, ou mesmo pensamentos sobre como possíveis sinais de alertas podem ter passado despercebidos. Os sobreviventes enlutados podem também experimentar raiva por se sentirem abandonados ou mesmo injustiçados por se experimentarem deixados, questionando-se, por exemplo, se a pessoa que morreu não pensou na dor que iria causar aos sobreviventes. Por outro lado, são frequentes sentimentos de culpa, ainda que se possa compreender que os motivos para a ocorrência de um suicídio sejam complexos.

Também é frequente que pessoas que perderam alguém por suicídio tenham mais dificuldade para falar sobre seu luto. Isso pode acontecer por vergonha, por medo de julgamento, por receio de expor a pessoa que morreu. O suicídio ainda é alvo de estigma social e julgamentos. Isso pode causar isolamento dos sobreviventes enlutados, dificultando ainda mais a expressão da dor e a elaboração da perda, que são fatores que colocam as pessoas em risco para um luto complicado.

Orientações ao enlutado e a quem oferece apoio

Para quem vivencia o luto após um suicídio, alguns aspectos são importantes:

  • Respeite seu luto e o tempo que precisar para elaborá-lo; 

  • Escolha com quem gostaria de conversar e com quem não quer falar sobre sua perda; 

  • Busque informações que auxiliem a desmistificar o suicídio e compreender esse fenômeno, bem como conhecer como se dá o processo de luto; 

  • Realize rituais de despedida se assim desejar; 

  • Elabore memoriais ou formas de homenagear seu ente querido;  

  • Não se isole. Grupos de apoio organizados por profissionais ou outras pessoas que vivenciam ou vivenciaram o luto após um suicídio costumam ser uma importante fonte de acolhimento.

  • Para quem deseja apoiar pessoas próximas que estejam passando por um luto por suicídio, estas são algumas orientações:

  • Escute atentamente e seja empático, acolhendo todos os sentimentos e expressões de sofrimento que o enlutado necessitar expor; 

  • Respeite o tempo do luto de cada pessoa, não “apressando-a” a caminhar nesse processo; 

  • Procure estar presente e manter contato com o passar do tempo, pois muitas vezes o sofrimento aumenta após o choque inicial passar; 

  • Fale da pessoa que morreu, pois não é preciso evitar o assunto; 

  • Pergunte do que a pessoa precisa e de que forma ela gostaria de ser ajudada; 

  • Proporcione momentos de descontração e relaxamento, pois quem vive o luto após um suicídio pode ter dificuldade para permitir-se voltar a fazer atividades prazerosas sozinho ou por iniciativa própria.


Posvenção

Na área da saúde, denomina-se posvenção o acompanhamento e as intervenções específicas para aqueles que passam pelo luto após um suicídio. É necessário considerar que as pessoas impactadas pela perda de alguém pelo suicídio não incluem somente a família, mas amigos, profissionais e colegas, pessoas que realizaram os primeiros socorros e pessoas que possam ter testemunhado o evento ou encontrado a pessoa logo após o ato.

Tendo em vista que o suicídio envolve uma morte inesperada, abrupta e, por vezes, violenta, é importante que os profissionais de saúde estejam preparados para apoiar os enlutados, auxiliando-os na elaboração de sentimentos que ocorrem após estas perdas. Especificamente, trabalha-se para reduzir efeitos do estresse temporário comum após o suicídio de alguém ou eventuais transtornos de estresse pós-traumático, favorecendo o trabalho do luto, prevenindo o desenvolvimento de um luto complicado e, ainda, prevenindo riscos de suicídio nos sobreviventes enlutados. Desta maneira, o cuidado aos sobreviventes de um suicídio é uma forma de prevenção de outras mortes autoprovocadas para quem fica e para futuras gerações.

Busca por ajuda no luto após um suicídio

É preciso considerar que nem todas as pessoas que vivenciam o luto após um suicídio precisam de ajuda profissional. A maioria dos enlutados encontra suporte para enfrentar o luto sendo apoiado pela sua família, por amigos e pessoas próximas. O luto não deve ser encarado como uma doença ou um problema, mas como uma reação esperada diante da perda. Também não há um tempo definido para o luto “terminar”. O fundamental é verificar se há avanços no processo, se é possível ir retomando projetos e outras relações aos poucos, religando-se à vida e a expectativas de futuro.

Ainda assim, o trabalho de profissionais de saúde pode auxiliar que vivencia o luto após um suicídio na elaboração de sentimentos complexos e na reorganização de seus projetos, visto que os mesmos são profundamente afetados quando uma perda de alguém muito próximo acontece. Portanto, busque ajuda sempre que precisar.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico. Brasília. v. 48, n. 30, p. 1-14, 2017.

Posvenção: orientações para o cuidado ao luto por suicídio [livro eletrônico] / [Karen Scavacini…[et al.] ; ilustração Kamguru Design]. São Paulo: Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, 2020.

KREUZ, Giovana; ANTONIASSI, Raquel Pinheiro Niehues. Grupo de apoio para sobreviventes do suicídio. Psicol. Estud., v. 25, e42427, 2020.

Fonte: https://conscienciapsicologia.com.br/luto-apos-um-suicidio/

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Como lidar com o luto pelo suicídio de um ente querido

Diario de Pernambuco - 11 setembro 2021

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realizam a campanha Setembro Amarelo, desde 2014, com o objetivo de conscientizar a sociedade para a prevenção do suicídio. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que aproximadamente 1 milhão de casos de óbito por suicídio são registrados por ano em todo o mundo.

Para prevenir o suicídio, é importante que a sociedade fale corretamente sobre o tratamento dos transtornos psiquiátricos, considerados as principais causas que levam uma pessoa a tirar a própria vida.

Segundo a psicóloga do luto, Simône Lira, a dor e o sofrimento de quem era próximo de alguém que se suicidou carrega muitas particularidades. “O suicídio de um ente querido coloca os familiares diante de uma dor intensa e questionamentos infindáveis e torturantes. Sentimentos como culpa, medo, tristeza, revolta, sensação de abandono, impotência e vergonha podem tomar conta dos que ficam”, afirma ela.

Embora haja uma busca incessante pela causa ou culpado, é importante ajudar os enlutados na compreensão de que as reais motivações se foram com aquele que partiu. “Mesmo que soubéssemos a motivação, isso não garantiria que compreendêssemos a dimensão da dor do outro a ponto de levá-lo a tirar a própria vida”, frisa ela.

O luto por suicídio é cercado de fatores que podem aumentar o risco do desenvolvimento de um processo traumático e duradouro. “O preconceito diante da ocorrência de mortes por suicídio pode fazer com que haja um silenciamento por parte do enlutado e tudo permaneça em segredo. Isso pode causar constrangimento quando há a necessidade de explicações de como se deu a morte do ente querido, especialmente em famílias com crianças e adolescentes em que comumente são atribuídas outras causas ou doenças para justificar a morte”, explica.

“Essas circunstâncias fazem com que o luto por suicídio se encaixe no que chamamos de lutos não reconhecidos pela sociedade, dificultando a possibilidade de expressão e validação da dor, o que se pode tornar um fator de risco para adoecimentos físicos e ou psíquicos”, revela. “Há poucos espaços na sociedade para falar sobre a morte, tornando difícil a preparação das pessoas a lidar também com o suicídio. A morte por suicídio é estigmatizada, imersa em tabus sociais, religiosos e culturais. Por exemplo, há um grande medo de falar sobre suicídio e esse ser um gatilho para que pessoas que pensam em suicídio possam vir a morrer dessa forma”, informa ela.

Para dar apoio emocional e conforto para quem perdeu um ente querido por suicídio a lidar com tamanho sofrimento, a primeira atitude é não se afastar dos enlutados na tentativa de protegê-los. “Muitos precisam falar e não encontram espaço e suporte social aumentando assim a sensação de desamparo e abandono o que aumenta sua vulnerabilidade. Falar de forma honesta e clara sobre o assunto pode ajudar os enlutados diante do processo de luto”, orienta Simône Lira.

Mesmo assim, há casos em que o enlutado deve procurar ajuda profissional. “Seria bom que o enlutado pudesse ter o suporte assim que possível após o evento traumático, pois indivíduos que perdem um ente querido por suicídio fazem parte do grupo de risco para o comportamento suicida. Sabendo que a intensidade do sofrimento é variável e nem todos apresentarão este tipo de comportamento”, diz a psicóloga.

“Em hipótese alguma devem ser adotadas posições de julgamento em relação ao ente que morreu por suicídio e seus familiares, possibilitando que os enlutados compreendam que sua dor está sendo respeitada e dessa forma se sintam autorizados a falar sobre como se sentem”, aconselha Simône Lira.

Fonte: www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2021/09/como-lidar-com-o-luto-pelo-suicidio-de-um-ente-querido.html

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