terça-feira, 30 de março de 2021

Espetáculo “A Última Live” aborda saúde mental em tempos pandêmicos

Acontece nesta quarta-feira, 31, às 20h, o encerramento da temporada do espetáculo "A Última Live", realizada pelo Toca Criações Artísticas, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS).

No espetáculo, o ator Danilo Cairo dá vida à tragicômica história de Matias Deodato, um estudante de direito que na trama, planeja encerrar sua vida durante sua última live, transmitindo em suas redes sociais emblemáticas reflexões sobre o sentido da vida e morte enquanto passeia entre os cômodos da casa que o acolhera durante sua infância. Esta obra é uma releitura contemporânea do conto homônimo de Machado de Assis (O Último Capítulo, 1884).

Em sua live, Matias tece com humor e emoção detalhes de sua relação direta com cada parte de seu lar, objetos, memórias e com a própria plateia digital; entrelaçando ficção e realidade até uma grande reviravolta se instaurar no clímax deste espetáculo live. Em seu último capítulo, Matias Deodato transforma sua vida em uma espetacularização da realidade.

A que se despede centralizando discussões conscientes sobre estados de luto, redes familiares e consciência emocional. Para o momento do bate-papo teremos a mediação de Tita Matos em “Luto e Família: preconceitos, entendimentos e perspectivas” e Carlos Linhares em “Entre a consciência de finitude e a ilusão de eternidade: a eficácia do processo de luto”.

Equipe

À frente do cenário, Erick Saboya e Agamenon de Abreu, tendo Adriano passos como cenotécnico. Figurino nas habilidosas mãos de Diana Moreira, ao lado da modelista Dora Moreira. Iluminação por Allison de Sá e fotografia de Diney Araújo.

Nos vídeos, Rogério Vilaronga assume e Anderson Falcão dá régua e compasso no design gráfico do projeto. Cairo também assume direção de produção e idealização do projeto, que tem produção executiva de Bergson Nunes.
Serviço

O quê: A Última Live - espetáculo teatral + bate-papos temáticos em saúde mental
Quando: 31 de março, 20h
Onde: Canal Toca Criações Artísticas
Quanto: Gratuito 

Fonte: https://atarde.uol.com.br/cultura/teatro/noticias/2162825-espetaculo-a-ultima-live-aborda-saude-mental-em-tempos-pandemico

quinta-feira, 18 de março de 2021

Saiba até que ponto a genética influencia nas doenças mentais

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 1 bilhão de pessoas tem algum transtorno mental. Mas muita gente se pergunta de onde surgem esses problemas. Será que as doenças mentais são fruto de herança genética ou aparecem conforme nossas condições de vida?

As causas dos transtornos psiquiátricos são muito complexas e têm influência genética associada a fatores ambientais, segundo a professora Sintia Iole Belangero, do Departamento de Morfologia e Genética da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Ela também é coordenadora da divisão de genética do laboratório de neurociências integrativas e do biorrepositório da Corte Brasileira de Alto Risco do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento.

Há fatores ambientais que conferem risco ao desenvolvimento das doenças, tais como traumas, eventos estressores e experiências adversas da vida, como abuso de drogas”, explica. “Já outros fatores ambientais protegem os indivíduos contra essas afecções, como suporte social, suporte emocional dos pais, união da comunidade local em que vivemos e alto QI.”

Segundo a professora, recentes pesquisas buscam compreender melhor essa relação entre ambiente e genoma, assim como o impacto dessa interação sobre as doenças mentais.

O diagnóstico dessas doenças por parte de psiquiatras, muitas vezes, é um desafio. Daí a importância de entender suas relações com a genética – o que poderia dar pistas e facilitar o trabalho dos médicos. Além disso, os estudos podem abrir caminho para o desenvolvimento de remédios e para prever riscos associados a esses problemas.

A professora conta que uma das maiores pesquisas sobre o tema se debruçou sobre análises genéticas que revelaram uma ligação entre oito distúrbios, identificando três grupos e um grande compartilhamento genético entre eles.

Além disso, um estudo do qual ela participa, fruto de uma parceria entre universidades brasileiras, avalia o tema há mais de 10 anos entre crianças e jovens de Porto Alegre e de São Paulo.

Os pesquisadores observaram que mudanças no DNA aconteceram paralelamente ao aparecimento de sintomas psiquiátricos nesses jovens. Também perceberam que maus-tratos sofridos na infância influenciaram no comprimento dos telômeros – estrutura dos cromossomos que funcionam como o relógio biológico das células. Também houve uma relação, nesse grupo, entre alguns genes, maus-tratos e depressão.

Suicídio

Participante do estudo, a Unifesp também vem se dedicando à prevenção do suicídio, outro grave problema de saúde pública no Brasil. Conforme a universidade, as taxas têm aumentado nos últimos 40 anos e essa alta sistemática é desproporcionalmente maior entre adolescentes.

Cada morte por suicídio é uma morte que poderia ser evitada”, diz Elson Asevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da instituição. “A ciência já conhece estratégias capazes de prevenir essas mortes: falta implementar.

Asevedo é um dos coordenadores de um projeto que visa abordar o tema – que se acentuou na pandemia, devido ao isolamento social – entre os jovens brasileiros. Para ele, os sinais de depressão podem ser percebidos em conversas na internet. “Conversas essas que estão cada vez mais objetivas, frias e sem espaço para sutilezas emocionais”, opina o especialista.

Assim, a Unifesp disponibiliza o Caism (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental) e inaugurou, em setembro do ano passado, o Conversas de Vida – Centro de Promoção de Esperança e Prevenção de Suicídio. O objetivo é apoiar quem precisa e ajudar a prevenir suicídios. A campanha visa também capacitar profissionais, conduzir pesquisas, orientar escolas e empresas e atuar na criação de políticas públicas. Saiba mais aqui.

Fonte: https://catracalivre.com.br/equilibre-se/saiba-ate-que-ponto-a-genetica-influencia-nas-doencas-mentais/

sábado, 6 de março de 2021

Já vi esta série antes! Felizmente, num dos episódios eu pude participar...

O título acima é provocativo. A série é sobre o despreparo de parte expressiva dos profissionais da saúde (todas as categorias) em lidarem com as doenças mentais (ou os transtornos emocionais, como alguns preferem, por ser mais brando o impacto das palavras...).

O episódio foi uma mensagem que recebi, em 2 de agosto de 2016, de um médico. Eis o conteúdo do apelo:

Encontrei seu blog no google e gostaria de saber se você pode me ajudar. Sou médico, e hoje atendi uma mulher que tentou se matar, fiz as devidas orientações, foi encaminhada ao hospital, no entanto, percebi que em um caso desse fico meio sem saber o que falar exatamente para pessoa, como algo que poderia lhe confortar adequadamente e que a convença realizar os devidos cuidados, a seguir com a vida e tudo mais.
 
Gostaria se você pode me indicar algum site, vídeo ou livro com instruções para melhorar a forma de como lidar com suicidas e depressivos, para que possar ajudar eles melhor.

Orientei-o como pude. Num dos trechos, disse-lhe que a grande obra de referência nesta área é Crise Suicida: Avaliação e Manejo, de Neury José Botega.

Exatos 1677 dias corridos (quatro anos e meio) depois, lamento que a situação não tenha melhorado o suficiente... 

 As falhas são graves e a desatenção (a falta de atenção básica) há de custar muitas vidas!

Médicos se formam incapazes de atender pacientes suicidas, aponta estudo

Pedro Martins  (6 mar. 2021)

Enquanto casos de suicídio crescem a cada ano no Brasil, um estudo publicado no início de 2021 pela RBEM (Revista Brasileira de Educação Médica) revelou que médicos estão se formando incapazes de atender pacientes que pensam ou tentam cometer suicídio.

A pesquisa reflete a experiência de pacientes como a estudante de letras Bianca*, 23, que aos 18 tentou se suicidar. Internada em casa, ela encontrou seus remédios, que estavam escondidos, e os ingeriu de uma vez. Ao descobrir, sua mãe a levou para o hospital, mas a médica de plantão a mandou de volta para casa e não lhe deu nenhuma orientação além da receita para que tomasse imediatamente mais um tarja-preta.
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"Eu não conseguia andar. Estava dopada. Tiveram que me arrastar até o pronto-atendimento, mas a médica falou que eu estava lúcida e não tinha motivo para ficar internada", relembra a estudante. "Senti que não fui levada a sério. Era como se aquilo não fosse motivo suficiente para ter ido ao hospital".

Ao conversar com sua psiquiatra no dia seguinte, Bianca descobriu que a falta de sensibilidade da plantonista não era sentimentalismo de sua parte. Um mês depois, ela ainda foi diagnosticada com hepatite medicamentosa, o que poderia ter sido evitado se o atendimento tivesse sido adequado, segundo sua nutróloga. "O certo era fazer uma lavagem estomacal e, se não desse mais tempo, eu devia ao menos ter ficado em observação", diz.
Falha na formação médica

A história de Bianca não é única. Entre 188 estudantes de medicina do 1º ao 6º ano que participaram da pesquisa publicada na RBEM, somente um deles, o equivalente a 0,5%, declarou ter plena capacidade técnica para atender um paciente com ideação suicida. Como o questionário permitia ainda respostas com concordância ou discordância parciais, 16% afirmaram ter habilidades limitadas para a tarefa, enquanto os incapacitados somaram 72,8%, e os que se consideraram neutros, 11,2%.

O estudo apontou ainda que somente 8,5% dos alunos são plenamente capazes de identificar e classificar comportamentos de risco suicida e 4,3% sabem realizar corretamente a notificação de tentativa ou concretização de suicídio, que é obrigatória e deve ser encaminhada pelo médico aos órgãos competentes em até 24 horas após o atendimento.

A pesquisa foi conduzida entre alunos da UEPA (Universidade do Estado do Pará). Ela tem limitações estatísticas devido à restrição geográfica, mas acende um alerta sobre uma falha na formação médica, de acordo com o psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, do CFM (Conselho Federal de Medicina). A instituição se posiciona contra a abertura de novas escolas de medicina.

"O médico está cada vez mais despreparado. Com o aumento indiscriminado de novas faculdades de medicina e turmas imensas, cada vez temos mais dificuldade em preparar o aluno para estar atento à saúde mental. Além disso, tanto no sistema público quanto privado de saúde, o médico não tem tempo para ouvir o paciente. Ele quer chegar logo ao diagnóstico para fazer a prescrição de medicamento ou pedir exame e mandar o paciente retornar depois", diz o conselheiro.

Segundo levantamento do CFM a partir de dados do CNES (Cadastro Nacional das Entidades de Saúde), 77% das cidades brasileiras com faculdades de medicina não possuem leitos suficientes para o ensino prático dos alunos. A região mais deficitária é o Norte, onde, entre 32 escolas de medicina, somente uma está localizada em um município com preparo para uma boa formação. A região com melhor desempenho no levantamento é o Centro-Oeste, com 31,3% dos cursos localizados em municípios adequados.

"O médico generalista precisa ser capaz de rastrear suicídio no pronto-atendimento. Não é porque tenho um paciente aparentemente muito mais grave para ver em seguida que vou abreviar a entrevista com o outro", explica o conselheiro. "Não sou contra abertura de boas faculdades de medicina, mas de faculdades péssimas, que colocam no mercado profissionais incapazes".

Uma das autoras do estudo, a estudante Lívia Limonge, que cursa o 6º ano de medicina na UEPA, afirma que os resultados da pesquisa não surpreenderam, mas serviram de provocação para que seus colegas abram os olhos para o suicídio, que é a segunda principal causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

"A grade curricular de medicina prevê que a gente discuta suicídio e saúde mental como um todo, mas isso não está necessariamente sendo cumprido. Suicídio ainda é um tabu mesmo entre médicos. Como é possível aprimorar a formação, se o assunto não é discutido? Vi minha formação refletida nos resultados desta pesquisa", diz Limonge.

No Brasil, em 2019, 13.520 pessoas se suicidaram, uma alta de 6,18% ante os casos de 2018. No acumulado da década, o aumento foi de 44,22%, segundo o Ministério da Saúde. Os dados de 2020 ainda não foram divulgados pela pasta, mas especialistas apontam chance de aumento, tal qual ocorreu em países como Japão, devido à instabilidade emocional provocada pela pandemia de covid-19.

*O nome foi alterado a pedido da entrevistada

Onde buscar ajuda

O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece gratuitamente atendimento via telefone, e-mail ou chat, sob sigilo, para prevenção do suicídio. Para mais informações, acesse cvv.org.br ou disque 188, qualquer dia e a qualquer hora.

Fonte: www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/03/06/medicos-se-formam-incapazes-de-atender-pacientes-suicidas-aponta-estudo.htm