quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Suicídio entre jovens: a presença do álcool e da depressão

Álcool e depressão aumentam risco de suicídio entre jovens

Casos de pessoas de 15 a 19 anos que tiraram a própria vida cresceram 45% em 15 anos

Litza Mattos*

A associação entre transtornos psiquiátricos, principalmente a depressão, e o abuso de álcool e drogas constitui uma combinação potencialmente perigosa para a vida. Mais da metade das 1.700 vítimas (61%) analisadas em estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) entre 2011 e 2015 e com faixa etária entre 25 e 44 anos apresentavam álcool no sangue.



Além disso, mais de 90% dos casos de autoextermínio estão ligados a distúrbios mentais, sendo a depressão o diagnóstico mais frequentemente relacionado a esse comportamento – presente em 36% dos casos.

No mundo, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano. No Brasil são 11 mil, em média, o que equivale a cerca de 30 vítimas por dia, uma a cada 48 minutos. A divulgação desses números, na quarta-feira (22), por especialistas em São Paulo faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio. O lançamento oficial da campanha será no dia 1º do próximo mês, juntamente com a hashtag #SaiadaSombra e um vídeo que vai circular pelas redes sociais. A ação é promovida pela multinacional farmacêutica Pfizer em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV).

Apenas no primeiro semestre deste ano, cinco casos de suicídio envolvendo jovens de escolas tradicionais de São Paulo e Minas Gerais ganharam notoriedade no país. O aumento de ocorrências entre o público adolescente e jovem preocupa especialistas, que já tratam como problema de saúde pública. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre os anos 2000 e 2015, os casos de jovens [15 a 19 anos] que tiraram a própria vida cresceram 45%. Globalmente, o problema já representa a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma vez que o álcool provoca um aumento da impulsividade, esse efeito pode ser ainda mais evidente em populações que já apresentam essa característica de forma mais pronunciada, como os adolescentes, segundo o psiquiatra e supervisor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Teng Chei Tung. “A adolescência já é, por si só, um período conturbado. Mas, quando falamos em suicídio, devemos pensar em um fenômeno que traz uma convergência de fatores, o que inclui aspectos fisiológicos, sociais e culturais, combinados”, diz.)

BUSCA POR MÉDICOS É FREQUENTE E INSUFICIENTE

As pessoas que cometem suicídio costumam dar sinais claros de sua intenção e, muitas vezes, chegam a procurar ajuda antes desse desfecho. Um em cada cinco pacientes que tentaram o suicídio passou por uma consulta médica um mês antes do episódio, de acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo [Unifesp] a partir de 80 indivíduos atendidos em um pronto-socorro.

Outra pesquisa australiana, publicada em 2017, mostra que muitos indivíduos tendem a visitar seu médico nos meses anteriores ao episódio. Cerca de 75% dos depressivos suicidas tinham tratamento psiquiátrico anterior, 66% no ano prévio e 50% no momento do suicídio. Outros 20% procuraram um médico no dia da tentativa, 40% na semana anterior, 66% nos três meses anteriores, e 3% estavam tomando antidepressivos em dosagens adequadas no momento do suicídio, sendo que 7% estavam em psicoterapia.

O trabalho aponta ainda que grande parte desses pacientes não chega aos serviços médicos por meio do psiquiatra, o que evidencia um grande desafio para os profissionais da atenção primária. “Muitas vezes quem está em contato com esse paciente é o clínico geral, o ginecologista, o cardiologista”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.

Para a neurologista Elizabeth Bilevicius, a depressão ainda é cercada de mitos, por isso é preciso vencer o preconceito e incentivar um diálogo mais aberto a respeito do assunto. “Tem muita evidência científica de que depressão não é ‘mi-mi-mi’, não é frescura, não é interesse de um grupo específico, e merece atenção e tratamento”, diz.

CENTRO ATENDE MAIS DE 3 MIL ANUALMENTE

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um serviço gratuito para apoio emocional e prevenção do suicídio sob total sigilo, disponível 24 horas, por ligação gratuita (número 188) e outros canais, como o site (cvv.org.br), e-mail, chat e Skype.  O CVV realiza em média 3 milhões de atendimentos por ano, segundo o presidente da entidade, Robert Paris. “O serviço é prestado eminentemente por voluntários. São 2.600 pessoas espalhadas pelo Brasil que fazem um trabalho de apoio emocional a quem precisa. Pessoas que estão sozinhas, desesperadas e não têm com quem conversar”, diz.

*Repórter viajou a convite da Pfizer

www.otempo.com.br/super-noticia/interessa/álcool-e-depressão-aumentam-risco-de-suicídio-entre-jovens-1.2018825

Universidade Federal do Oeste da Bahia lança programação do Setembro Amarelo

Autocuidado é foco de campanha de prevenção ao suicídio

27 de agosto 2018

O suicídio é um grave problema de saúde pública que faz cerca de 800 mil vítimas anualmente, em uma estimativa de uma a cada 40 segundos. Para tratar sobre o assunto, os docentes do CCBS Carolina Souza, Bruno Klecius, Renata Moreira, Lidiane Tibúrcio, com colaboração da Pró-Reitoria de Graduação e Ações Afirmativas, promovem o projeto de extensão “Setembro Amarelo – Falar é a melhor solução. O autocuidado também”, como parte da campanha nacional de conscientização sobre a prevenção do suicídio.

O projeto prevê uma intensa campanha na UFOB, com iluminação de suas instalações em luz amarela, exposição de cartazes com mensagens motivacionais, distribuição de panfletos e ações de acolhimento com a comunidade acadêmica. A programação também conta com palestras, exposições de arte e trabalhos, discussões de filmes, oficinas e mesa-redonda com profissionais da saúde mental. Ao final dos debates, será produzida a ‘Carta Amarela’.

Nesta edição, a campanha abordará o suicídio em temas transversais, como autocuidado focando nos discentes, servidores e população LGBT, considerando que o ambiente universitário é primordial para a abordagem do tema.

Confira a programação, ao final desta postagem, e participe.

Setembro Amarelo

O “Setembro Amarelo” é uma campanha nacional, iniciada no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida - CVV, Conselho Federal de Medicina - CFM e pela Associação Brasileira de Psiquiatra - ABP. Tem periodicidade anual, sendo o mês de setembro central para a campanha que se utiliza da cor amarela como forma de divulgação.

Fonte: https://ufob.edu.br/noticias2/item/2028-autocuidado-e-foco-de-campanha-de-prevencao-ao-suicidio


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Projeto de prevenção do suicídio dos adventistas ganham as ruas e um imenso público

Passeatas na Serra pedirão mais diálogo para prevenção do suicídio

O projeto “Quebrando o Silêncio” acontece neste sábado (25), em oito países da América do Sul, e envolverá mais de 50 mil capixabas

Uma cartela inteira de comprimidos de um remédio para dormir e álcool. Essa foi a combinação usada por uma moradora da Serra, que preferiu não se identificar, para tirar sua própria vida. Vítima de abuso sexual na infância, essa não foi a primeira tentativa de suicídio. “Eu só queria aliviar minha dor, de alguma forma. Naquele momento, parece não ter outra saída e nem pessoa capaz de ajudar. É um sentimento que foge do controle”, contou a mulher.

Ela não perdeu a vida, foi socorrida a tempo por amigas. Hoje, três anos após o ocorrido, conta com terapia e outras atividades para sobreviver aos traumas. “Busquei encontrar na vida pessoas que eu amo, meus sonhos, procurei me amar e me respeitar. Entendi que quando eu me maltratava, maltratava meus filhos e toda a minha família”, contou.

O final feliz da história desta capixaba não é o mesmo de muitas pessoas.  Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, 800 mil pessoas cometeram suicídio em 2015. O cálculo mostra que, a cada 40 segundos, um caso ocorre em alguma parte do planeta. No Espírito Santo, em 2016, foram consumados 146 suicídios, sendo 1.216 tentativas, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa).

Num cenário extremamente negativo, dados da OMS apontam que 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos. Pensando em oferecer ajuda,  surgiu o projeto Quebrando o Silêncio, iniciativa da Igreja Adventista em favor da vida. O suicídio foi eleito tema de 2018, sobre o qual foram produzidos materiais e planejadas ações ostensivas de conscientização para prevenção em vários países. No Espírito Santo, no próximo neste sábado (25), haverá passeatas e ações que envolverão mais de 50 mil pessoas na distribuição de revistas e informativos abordando o tema.

Lembra da personagem do início do texto? Ela estará entre as cerca de 1 mil pessoas em uma passeata que acontecerá na Avenida Brasil, em Novo Horizonte, Serra, a partir das 15h30. Acompanhado de duas bandas de fanfarra e carro de som, o grupo percorrerá o trajeto entregando revistas para adultos e crianças com a temática. Mais de 1 mil balões amarelos com gás hélio serão soltos representando o combate ao suicídio. A Secretaria Municipal de Políticas Públicas da Mulher estará presente distribuindo material contra a violência feminina.

Em Serra Sede, a partir das 11h, uma passeata sairá da frente da Escola Adventista da Serra. Participarão cerca de 400 pessoas vestidas de branco com bolas coloridas, cartazes, faixas, revistas e folders informativos para crianças e adultos.

Já em Jacaraípe, a partir das 8h30, cerca de 300 pessoas farão passeata com faixas, cartazes e carro de som pelas avenidas Guarani, Todos os Santos e Minas Gerais, finalizando com palestra sobre prevenção do suicídio.

Uma das coordenadoras do projeto Quebrando o Silêncio no Estado, Roseane Meireles, afirma que é fundamental uma conversa franca nas famílias, na sociedade em geral, para que o problema possa ser enfrentado adequadamente. “É por isso que estamos investindo em revistas, vídeos e outros materiais, além de sugerirmos a realização de fóruns ou debates para que o tema seja discutido com a seriedade que merece”, comenta a líder.

Fonte: www.portaltemponovo.com.br/passeatas-na-serra-pedirao-mais-dialogo-para-prevencao-do-suicidio/

Prefeitura de Campo Grande-MS lança programa de prevenção ao suicídio em escolas

Prefeitura lança programa de prevenção ao suicídio nas escolas de Campo Grande

MS é o terceiro estado com maior índice de suicídios

Mylena Rocha 20/8/2018

A Prefeitura de Campo Grande lançou nesta segunda-feira (20), o programa ‘Direitos Humanos pela Valorização da Vida – Por uma Campo Grande Livre do Suicídio’. Capital do terceiro estado com o maior número de suicídios, Campo Grande terá palestras sobre o assunto nas escolas.

O prefeito Marquinhos Trad (PSD) destacou que a metodologia do programa busca um contato mais próximo com os alunos. “Com o trabalho de toda equipe, nós vamos ganhando a atenção e confiança dos mesmos, para que possam falar abertamente sobre assuntos, que de outro modo não seria possível alcançar. As diretoras estão cientes do assunto e nós vamos ter muito êxito neste trabalho, que é de prevenção e valorização da vida”, disse Marquinhos.

Em relatório do Ministério da Saúde de 2017, MS teve 8,5 óbitos por suicídio a cada 100 mil habitantes, o terceiro maior índice do país. Na faixa etária entre 15 e 35 anos, o suicídio está entre as três maiores causas de morte. Para o subscretário de Defesa dos Direitos Humanos, Ademar Júnior, o desafio central é ampliar o conhecimento por parte de profissionais de saúde, da comunidade escolar, dos serviços sociais e dos cidadãos em geral.

O programa é formado por uma equipe multidisciplinar de esclarecimento e prevenção ao suicídio, que tem como objetivo conscientizar sobre os agravos da saúde mental e prevenção ao suicídio. “É importante falar do tema, pois se trata de um tabu, onde a maioria das pessoas não tem coragem ou oportunidade para falar sobre a sua dor ou seu sofrimento, que na maioria das vezes é ignorado ou mal interpretado”, comenta o coordenador Marco Antônio de Morais.

A superintendente de Gestão e Normas da Semed (Secretaria Municipal de Educação), Alélis Izabel de Oliveira Gomes, informou que todos os diretores das escolas da Reme (Rede Municipal de Educação) e dos Ceinfs (Centros de Educação Infantil) estão capacitados. “Os trabalhos contra o suicídio começaram devido a alguns casos encontrados nas escolas. E nossos coordenadores estão trabalhando para detectar os sinais de depressão que causa este problema do suicídio que acontece na sociedade moderna”.

A equipe do programa contará com palestrante, advogado de direitos violados, assistente social, psicólogo e psicopedagoga para identificar pessoas que necessitam de auxílio.

(Com informações da PMCG)

Fonte: www.midiamax.com.br/cotidiano/2018/prefeitura-lanca-programa-de-prevencao-ao-suicidio-nas-escolas-de-campo-grande/

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Em Maringá, Marcha para Jesus tratará da prevenção do suicídio

Neste final de semana em Maringá tem Marcha para Jesus no sábado, às 9 horas, e Marcha pela Vida no domingo, às 10 horas

Jessica de Moraes  15/8/2018

Na manhã deste sábado (18/8) acontece a 20º edição da Marcha para Jesus. Organizada pela Ordem dos Pastores Evangélicos de Maringá (OPEM) o tema deste ano é “Proteção da vida, prevenção do suicídio”. Tema que, de certa forma, também está ligado à Marcha pela Vida”, que será realizada no domingo e trata mais especificamente sobre o aborto.

O tema escolhido pela Ordem dos Pastores vem de encontro à ação nacional do Setembro Amarelo, que vai debater a temática. “Queremos dar o start na campanha do Setembro Amarelo abordando esse tema, que é de extrema relevância. O suicídio atinge a todos, independente de classe e cor da pele. Fazendo isso a gente entende que pode trazer vida para as pessoas”, explica o presidente da OPEM, pastor Alexandre Ferrarezi.

O circuito inicia às 9 horas. O ponto de concentração será na Praça da Prefeitura, na Avenida XV de Novembro. De lá, os fieis percorrerão as avenidas São Paulo, Brasil, Getúlio Vargas e encerram retornando ao ponto inicial. Todo o trajeto deve demorar cerca de 2h30.

O público presente vai curtir os shows das seis bandas evangélicas, que farão apresentações na Praça da Prefeitura antes, depois do percurso e durante a Marcha para Jesus, que será acompanhada por dois trios elétricos.

As bandas Alto da Colina, de Apucarana, e das igrejas Bola de Neve e Quadrangular estão entre as bandas que farão show para público presente.

A organização do evento, que já virou referência na região, espera reunir de 10 mil a 15 mil pessoas de 120 igrejas diferentes. E não é apenas Maringá que participa do evento, pessoas de Sarandi, Mandaguari e Cianorte também já confirmaram presença.

Segundo os organizadores, o objetivo em fazer a marcha é reunir os cristãos e a família. “Nosso evento não é um protesto, nem uma manifestação. Nós fazemos um momento de paz e alegria, onde a igreja sai de dentro do templo para as ruas da cidade”, explica Ferrarezi.

Marcha pela Vida reúne várias religiões no domingo
Às 10 horas de domingo, (19/8), será realizada a Marcha pela Vida, na Praça da Catedral de Maringá. A organização é coletiva e ecumênica e conta com o apoio de várias entidades, como a Arquidiocese de Maringá, OPEM, APAE, Lar Preservação da Vida, Associação Maringaense de Mulheres e Associação de Pais e Educadores.

Segundo nota distribuída à imprensa, o evento “tem o objetivo de informar sobre números falsos e retificar os equívocos sobre a descriminalização do aborto no Brasil”. O arcebispo de Maringá, dom Anuar Battisti, disse que a “nós apoiamos este evento que clama pela vida humana e pelos direitos dos nascituros. Queremos convidar todos os fiéis cristãos a participarem”.

SERVIÇO:

Marcha para Jesus
Quando: Sábado, 18 de agosto
Onde: Praça da Prefeitura
Horário: 9 horas

Marcha pela Vida
Quando: Domingo, 19 de agosto
Onde: Praça da Catedral
Horário: 10 horas

Fonte: https://maringapost.com.br/cidade/2018/08/15/neste-final-de-semana-em-maringa-tem-marcha-para-jesus-no-sabado-as-9-horas-e-marcha-pela-vida-no-domingo-as-10-horas/


II Congresso Brasileiro de Prevenção de Suicídio em breve!


Promoção: Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio

Algumas  das conferências

Automutilação sem intenção suicida (ASIS): desafios diante do aumento da prevalência do fenômeno no Brasil e no mundo.
Jennifer Muelehnkamp (Estados Unidos)

Um plano nacional para prevenir suicídios: desafios e recursos 
Quirino Cordeiro, Ministério da Saúde

Autodestruição humana: aspectos psicodinâmicos
Roosevelt Cassorla (SP)

Convidada especial:
Jennifer Muelehnkamp
Professora Assistente de Psicologia na Universidade de Wisconsin-Eau Claire e clínica licenciada para o tratamento de comportamento suicida e auto-mutilação sem intenção suicida (ASIS). Publicou mais de 40 artigos de pesquisa e capítulos de livros sobre auto-mutilação, suicídio e outros transtornos relacionados. Associada fundadora e Presidente da Sociedade Internacional para os Estudos de Auto-Mutilação (ISSS).

Para saber mais: www.abeps.org.br/Congresso2018

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Plano de saúde mental e de psiquiatria na França

Uma nova política de saúde mental: “Gerencie seu mal-estar com doses de bem-estar”

Alfredo Gil

Em 1995, fiz parte de uma equipe de acompanhantes terapêuticos do setor norte de Londres no bairro de Camden Town. Nossa função era a de ajudar os pacientes no período delicado que sucede a internação psiquiátrica. O acompanhamento vinha garantir uma certa continuidade no tratamento recebido durante a internação e um retorno ao domicílio que não fosse vivido pelo paciente como um momento de solidão, desamparo e angústia que o levasse a recrudescência dos sintomas. Conhecia muito bem esta prática desde o final dos anos 80, pois antes, em uma clínica de Porto Alegre, eu era regularmente solicitado, para este mesmo fim, por psiquiatras e mesmo por terapeutas ocupacionais. Mas a particularidade do serviço londrino em questão era seu ecletismo. O responsável tinha formação em literatura inglesa e a grande maioria dos acompanhantes não vinha do campo da saúde mental. Lembro, por exemplo, de uma jovem formada em jornalismo. Entretanto, apesar do espírito humanista que estava presente, predominava um certo pragmatismo anglo-saxão que garantia a formação dos acompanhantes através de workshops, ou seja, encenávamos situações com as quais poderíamos nos confrontar na prática. Exemplo: o acompanhante está em visita no apartamento do paciente. Um amigo deste bate na porta lhe propondo fumar um baseado. O que fazer? Como intervir? Que atitude assumir?

Certamente havia uma utilidade na teatralização de tais situações para os colegas menos experimentados. De minha parte, calcado na minha experiência, sabia que o aprendizado da função e da atitude terapêutica junto a um paciente não se daria pela "simulação", pela simples transmissão de um procedimento, como ensinam os bombeiros nas escolas em caso de incêndio.

O retorno de tais lembranças se deu em função de uma parte da orientação que encontrei no último plano de saúde mental e de psiquiatria anunciado no dia 28 de junho, pela Ministra da Saúde francesa, Agnès Buzyn. As fotos da capa deste documento lembram mais um prospecto de férias do que um plano de saúde para pessoas que padecem de sofrimento psíquico. Vê-se: uma baía com veleiros junto a uma colina rica em vegetações e coqueiros, um grupo de esportistas correndo com óculos de sol, o adolescente com seu telefone celular, etc. Este tipo de representação cola com um dos objetivos propostos no primeiro dos três eixos principais do dito plano de saúde, qual seja, a desestigmatização do sofrimento psíquico em geral, e da doença mental em particular, pela via da educação e da informação do grande público, graças à internet e guias de instrução endereçados a estudantes.

“Fotos da capa deste documento lembram mais um prospecto de férias do que um plano de saúde para pessoas que padecem de sofrimento psíquico”. (Divulgação)

Não podemos negar que os diferentes meios de comunicação ajudam as pessoas a melhor compreender tal ou tal doença, tanto para aquele que dela padece como para os seus familiares. É o fundamento do que se tem chamado "educação terapêutica", desenvolvida, por exemplo, para pacientes diabéticos. Mas, tratando-se de sofrimento psíquico, a experiência mostra que tamanhas informações alteram o tratamento subjetivo da angústia, não necessariamente aplacando-a mas por vezes aumentando-a. Faço meu o adágio lembrado aqui, em junho, por Robson Pereira, que diz que, nos dias de hoje "quem não está confuso é porque está mal informado". Mal ou bem informado o que se percebe é que nunca estivemos tão informados e que este excesso não tem diminuído a desorientação dos interessados, talvez mesmo, como já disse, a tenha agravado.

O sentimento que se tem na leitura deste documento é de que se trata mais de um planejamento de gestão empresarial, com seus devidos procedimentos, de que um programa de cuidados humanos: "gestão de conflitos, regulação das emoções e do estresse" são o vocabulário gestionário que encontramos implicando uma virada substancial na concepção do tratamento. Os elementos envolvidos no sofrimento - conflito, emoções e estresse - transformam-se, neste plano de saúde mental, em "competências psicossociais" justificando a lógica gestionária. O cúmulo, mas que se enquadra no conjunto proposto, é a importância que se atribui ao "sentimento de bem-estar que terá (com as novas medidas) um impacto positivo sobre os comportamentos pro-sociais e os comportamentos benéficos para a saúde (resposta à depressão, ao estresse, às condutas aditivas, à saúde sexual, etc) ". Desta última, a "saúde sexual", não achei definição. Notem que o sentimento de bem-estar é promovido pela orientação política atual como remédio a quadros clínicos que podem ser graves, como depressão e condutas aditivas. Esta pirueta absurda, que transforma o mal em bem, dores em competências, seria obtida graças aos profissionais que serão, desde então, formados segundo o método da "meditação de plena consciência". Seu melhor representante na França se chama Christophe André, psiquiatra que trabalha no Hospital Sainte-Anne. Os títulos de seus livros são eloquentes na transformação do mal em bem: "Rir e Curar", "Não esqueça de ser feliz: abecedário de uma psicologia positiva", "Imperfeitos, livres e felizes", e por aí vai.

Por fim, seguindo a aplicação deste plano de saúde, deveremos também "reforçar as competências", "desenvolver ações", e "elaborar estratégias", "ter uma visão positiva da saúde mental e promover seu bem-estar".

Para atingir tais objetivos, a aplicação deste programa se apoiará ainda no modelo "Mental health first aid" autraliano. Criado em 2000, alguns o apresentam como a receita mais eficaz do momento. Utilizados nos países anglo-saxões ele será lançado na Alemanha e na Suíça. O leitor pode ter uma amostra no link. Assistimos aí a uma representação (que me lembrou aquelas de Londres) na qual uma pessoa se faz passar por um vizinho que tenta ajudar e acalmar sua vizinha, bastante agitada e ansiosa, se queixando de que seus pensamentos são ouvidos pelo governo. Mais uma vez, a ideia é de informar e "formar" o grande púbico, estudantes e jovens em sua ação se confrontados com uma pessoa que, devo dizer, esteja com sua saúde mental enfraquecida ou perturbada. Caso contrário, se o designarmos "doente mental" reintroduziremos o estigma que se deve evitar.

Entre o ecletismo londrino, mas que preservava uma postura humanista, e as estratégias do novo plano de saúde mental de psiquiatria a diferença é imensa. A política atual trata da condição humana como um aparelho gestionário pretendendo formar fulano ou sicrano para os primeiros socorros (first aid), como se tais medidas apaziguassem alguém que padece da convicção patológica de ser transparente e de ter seus pensamentos lidos. O esforço em banalizar o que é grave - repleto de pensamentos positivos e de bons sentimentos que fazem o dito bem-estar - busca antes de tudo reduzir os custos financeiros que uma atitude séria e profissional exige para cuidar daqueles que sofrem cotidianamente. Mais grave ainda: lembremos que tais procedimentos, que se pretendem profiláticos, serão aplicados também para a prevenção do suicídio.

Alfredo Gil é psicanalista em Paris; membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA) e da Association Lacanienne Internationale (ALI). E-mail: alfredo.gil@wanadoo.fr   

Publicado em 13 de agosto de 2018.

Fonte: www.appoa.com.br/sul_21/uma-nova-politica-de-saude-mental-gerencie-seu-mal-estar-com-doses-de-bem-estar/1480

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Curso de extensão gratuito na UFMG sobre prevenção ao suicídio

O curso de extensão 'Modelos para a construção de um plano de prevenção do suicídio com o jovem universitário' será ministrado pelo professor Marcelo Tavares (UnB) em dois módulos. O primeiro módulo ocorrerá nos dias 13 e 14 de agosto (8h às 12h) e o segundo módulo nos dias 10 e 11 de setembro (8h às 12h).

Com 16 horas de duração o curso será dividido em 4 temas: Intervenção preventiva e intervenção terapêutica: Por um paradigma de integração de cuidados visando à saúde mental e ao bem estar na juventude; Prevenção universal, seletiva e indicada no contexto universitário; Introdução à intervenção em crise: identificação e manejo da crise no contexto universitário e Intervenção em crise no contexto clínico.

Programação 

MÓDULO 1
Intervenções preventivas precoces (8 horas)
Objetivo: Introduzir a definição do conceito de prevenção em saúde pública; identificação e organização de fatores de risco e de proteção e planejamento de intervenção preventiva.

Tema 1: Intervenção preventiva e intervenção terapêutica: Por um paradigma de integração de cuidados visando à saúde mental e ao bem estar na juventude.

Tema 2: Prevenção universal, seletiva e indicada no contexto universitário

MÓDULO 2
Intervenção nas emergências (8 horas)
Objetivos: apresentar e discutir a identificação, avaliação e intervenção de crise suicida

Tema 3: Introdução à intervenção em crise: identificação e manejo da crise no
contexto universitário

Tema 4: Intervenção em crise no contexto clínico

Fonte: www2.ufmg.br/proex/Noticias/Noticias/curso-prevencao-suicidio

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Morte, luto e suicídio nas palavras de Maria Julia Kovács, da USP

Maria Julia Kovács é professora da USP, especialista em diversos temas relacionados à morte.

Criou, em 2002, o Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM), mesmo ano em que defendeu sua tese de Livre Docência intitulada Educação para a Morte: desafio na formação de profissionais de saúde e educação

É dela as reflexões abaixo.

Suicídios: o que ainda precisa ser dito

Maria J. Kovács é professora do Depto. de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP

6/8/2018

Suicídio é tema tabu, mesmo sendo um evento presente na história da humanidade desde a Antiguidade. O ato suicida pode ser visto como liberdade, domínio, autonomia e controle. Mas ainda é frequentemente julgado e condenado, visto como fraqueza ou covardia.

Toda e qualquer resposta simplista sobre suicídios tem grande possibilidade de erro. Nos últimos anos, observamos mudança na mentalidade de que o suicídio precisa ser ocultado. Não falar sobre suicídio não diminuiu seus índices, pelo contrário, eles têm aumentado. A perspectiva atual é falar sobre o tema, trazendo números e porcentagens, quais são as pessoas em risco, diferenças de gênero e, no extremo, chega-se a falar do número de tentativas de suicídio em minutos, dias, meses ou anos.

Os dados epidemiológicos servem como alerta e fomentam programas de intervenção. Os índices de suicídio nos convocam a prestar atenção nas pessoas ao nosso redor. Junto com programas de prevenção temos que desenvolver, em nosso meio, também programas de posvenção (termo ainda pouco conhecido no Brasil), que têm como objetivo principal cuidar do sofrimento de pessoas com ideação e tentativa de suicídio e familiares enlutados, oferecendo acolhimento e psicoterapia.

Levando-se em conta o que foi apresentado acima, vamos trazer outras questões para reflexão, agora considerando as pessoas já atingidas pelo fenômeno do suicídio, por ideação ou atos suicidas e pelos familiares que perderam pessoas queridas por esse evento. Essas pessoas necessitam de escuta, apoio, acolhimento e cuidados a longo prazo, não querem saber de números, estatísticas ou porcentagens. Precisam falar de seu sofrimento existencial.


Toda e qualquer resposta simplista sobre suicídios tem grande possibilidade de erro. Nos últimos anos, observamos mudança na mentalidade de que o suicídio precisa ser ocultado. Não falar sobre suicídio não diminuiu seus índices, pelo contrário, eles têm aumentado.

Estatísticas apontam tendências, dados epidemiológicos, estatísticas, fundamentando programas de saúde mental. Pessoas afetadas pelo suicídio precisam de particularização, singularidade, respeito pela sua história que tem um início e que ainda não foi finalizada. Pessoas com ideação, tentativa de suicídio e familiares enlutados demandam atendimento de qualidade com profissionais capacitados, psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, que possam acolher o sofrimento humano, cujo objetivo principal não deve ser evitar o suicídio a todo custo. Exemplificando, a atenção só voltada para impedir o suicídio pode restringir o sujeito, restringindo sua autonomia e liberdade.

Em casos extremos, pessoas podem ser amarradas no leito para que não realizem qualquer ação que possa colocar sua vida em risco. Essas ações podem resultar na diminuição do número de suicídios, mas o que podemos falar sobre a dor, falta de opção ou sofrimento dessa pessoa? Como profissionais de saúde mental nunca incentivaremos o suicídio, mas será que o impedir a todo custo não aumenta o sofrimento e a dor?

Temos poucas opções de cuidados contínuos em hospitais, Centros de Atenção Psicossocial e nas Unidades Básicas de Saúde. Entre as ONGs, cabe destacar o Centro de Valorização da Vida, que realiza de maneira exemplar o trabalho de atendimento em crise e o acolhimento. É fundamental que o “Setembro Amarelo”, além de programas de prevenção proponham também a contratação e capacitação de profissionais especializados para atender em continuidade pessoas em sofrimento existencial, que buscam a morte para aplacar a profunda dor psíquica que estão vivendo. Alertamos que o atendimento psicoterápico e psiquiátrico deve ser realizado por profissionais competentes e especializados e não por estagiários ou voluntários.

É preciso diferenciar acolhimento em crise realizado pelo Centro de Valorização da Vida, que é muito importante, por ser, em muitos casos, o primeiro passo para o atendimento de pessoas com ideação ou tentativa de suicídio de um atendimento especializado como, por exemplo, o atendimento psicoterápico e medicamentoso. Em muitos casos é necessário o atendimento psicológico e psiquiátrico especializado para lidar com a difícil tarefa de compreender emoções intensas, a ambivalência entre o desejo de viver e morrer, ampliar a visão estreita que considera a morte como única solução para o sofrimento. Sentir-se aceito, compreendido e não julgado, ter o sofrimento respeitado podem ser caminhos importantes para pessoas encontrarem sentido para continuar vivendo.


Temos poucas opções de cuidados contínuos em hospitais, Centros de Atenção Psicossocial e nas Unidades Básicas de Saúde. Entre as ONGs, cabe destacar o Centro de Valorização da Vida, que realiza de maneira exemplar o trabalho de atendimento em crise e o acolhimento.

Gostaria de tecer reflexões sobre os familiares enlutados pelo suicídio de uma pessoa próxima. No “Setembro Amarelo”, a ênfase recai sobre números, prevenção de suicídios e os sinais de alerta que precisam ser observados, podendo aumentar o sofrimento de um familiar que com todo empenho não conseguiu evitar o suicídio. As cartilhas apontam que sinais devem ser observados, acirrando a culpa daqueles que sentem que foram descuidados, por não percebê-los a tempo. É preciso enfatizar que os sinais tão claros nas cartilhas, não são tão claros na realidade. Esses familiares sofrem muito no Setembro Amarelo porque a ênfase recai principalmente sobre a prevenção e não sobre o cuidado ao sofrimento, que estão vivendo. É evidente que os programas de prevenção devem continuar, mas é fundamental agregar nas campanhas a prevenção do sofrimento daqueles atingidos pelo suicídio, em políticas de posvenção. Devemos desenvolver campanhas de cuidados também, e ajudar no difícil processo de luto de quem perdeu pessoas pelo suicídio, que são vistos, em alguns casos, como aqueles que provocaram o suicídio.

Ao final desse texto, chamamos atenção para os cuidados oferecidos nos pronto-atendimentos e enfermarias de hospitais para pessoas que tentaram pôr fim à vida. Eles são tratados de forma pouco atenciosa, descuidada ou até com violência, porque alguns profissionais sentem seu trabalho desvalorizado porque foram formados para salvar vidas. Além de serem tratados dessa forma, pessoas que tentaram suicídio só recebem cuidados clínicos, recebendo alta, sem preocupação com seu sofrimento psíquico e dor emocional. Essa abordagem incompleta e violenta pode, ao contrário de cuidar, estimular pessoas desesperadas a tentar suicídio de formas ainda mais letais. Além da prevenção do suicídio, precisamos também falar daqueles que buscam consumar o ato suicida, de forma impulsiva ou planejada e que não morreram: e dos familiares que os acompanham, também desesperados, sem saber o que fazer. Observamos poucas referências sobre a questão dos cuidados nos documentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), nas políticas públicas do Ministério da Saúde e nas cartilhas apresentadas. Esperamos um Setembro Amarelo que também enfoque os cuidados a pessoas em situação de sofrimento e dor.

Fonte: https://jornal.usp.br/artigos/suicidios-o-que-ainda-precisa-ser-dito/

Prevenção do suicídio é tema da 3ª Jornada da Biblioterapia


Esta é a chamada para a terceira edição da Jornada da Biblioterapia, coordenada por Galeno Amorim, ex-presidente da Biblioteca Nacional e um dos maiores especialistas brasileiros em livro, leitura e literatura. 

O que é e como funciona

Como as escolas, bibliotecas e projetos de leitura devem se preparar para participar da campanha Setembro Amarelo, que busca mobilizar a sociedade para enfrentar o crescimento do suicídio no Brasil, que praticamente dobro nos últimos anos. Ele já é a segunda causa de mortes de jovens e adolescentes nas escolas.

Você vai ver e ouvir duas das maiores especialistas no assunto, Karina Okajima e Karen Scavacini, que vão mostrar como abordar o tema e ajudar você a criar uma campanha em seu local de trabalho.

Você também vai saber como os livros podem ajudar a identificar, acolher, apoiar e encaminhar os casos, de acordo com cada situação.

A 3ª Jornada da Biblioterapia será 100% online e 100% gratuita, entre os dias 6 e 10 de agosto.

Este evento é coordenado pela Fundação Observatório do Livro e da Leitura.

Para se inscrever basta clicar: http://biblioterapia3.contato.site/inscricao-jb3