O primeiro passo é não fazer pouco caso da dor que o outro está sentindo
Nessa segunda-feira (23/4/2018), o Colégio Bandeirantes, de São Paulo,
comunicou uma notícia trágica: dois de seus alunos cometeram suicídio num
intervalo de 15 dias. Segundo a instituição, os casos não tem ligação entre si
e, independentemente de estarem conectadas ou não, a morte desses jovens
reascende uma pauta desoladora: a de que os casos de suicídio são muito mais
comuns do que a gente supõe.
E a maior parte da sociedade ainda não está preparada para lidar com o
assunto. Como posso ajudar alguém que está passando pelo sofrimento de pensar
em se matar? Essa é a grande questão.
Para o psiquiatra Carlos Felipe de Oliveira, que é diretor da Associação
Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio e atua junto ao CVV (Centro de
Valorização da Vida), o primeiro passo é não desqualificar a dor do outro.
Ao perceber que alguém próximo a você está apresentando sinais de profunda
tristeza e descrença em relação à vida não trate isso como algo sem
importância, algo que pode ser revertido simplesmente com força de vontade.
“Tem que estar claro para você que aquela pessoa está sofrendo e que ela pode
estar passando por um processo de depressão”, aponta o médico.
Isso obviamente também se aplica a outro tipo de situação: quando
alguém próximo tentou cometer suicídio. Em casos assim, é muito comum que
as pessoas comentem que aquela pessoa não queria realmente se matar, mas apenas
chamar a atenção. “De fato, aquela pessoa quer chamar a atenção, mas não no
sentido de ‘se mostrar’. Ela quer chamar a atenção para a profunda dor que
está sentindo“, diz o psiquiatra. Ou seja: é um pedido de socorro.
Tendo isso em mente, depois de compreender a gravidade da situação, o
segundo passo é mostrar-se realmente disposto a ajudar. Mas como fazer isso sem
ser invasiva? Para o psiquiatra, uma conversa franca e amorosa ainda é o melhor
caminho. “Eu sou solidário com o que você está passando. Não estou sentindo
a sua dor, mas quero te ajudar com isso”, sugere Carlos como boa forma de
mostrar apoio. E repare nessa parte importante: não tente dizer que você sabe
pelo que aquela pessoa está passando, afinal, você realmente não sabe.
Ah, e falar coisas como “tenha força de vontade” e “daqui a pouco isso
passa” definitivamente não é a solução. “Isso desqualifica a dor do outro”,
frisa Carlos.
O médico também aconselha que você conte a mais alguém sobre o que
está acontecendo. Alguém que tenha muita intimidade com a pessoa deprimida
e que seja de total confiança, lógico. Mas isso não seria uma maneira de expor
um assunto íntimo sem consentimento? Carlos é enfático em dizer que não. Quando
um ente querido está lidando com depressão e angústia profunda, pedir o apoio
de mais alguém é o mais sensato a se fazer.
Essa medida é ainda mais importante nos casos em que a pessoa deprimida
tem dificuldade de se abrir com você. Em conjunto é mais fácil ver a melhor
forma de se aproximar e ajudar quem precisa. Obviamente isso não significa que
você tem o direito de sair por aí espalhando a intimidade dos outros. Bom
senso, né?
O próximo passo é aconselhar a pessoa deprimida a buscar
acompanhamento profissional. Uma rede de apoio e afeto é algo que ajuda
muito quem está deprimido e pensando em tirar a própria vida, mas isso não
significa que amor e palavras bonitas vão resolver o problema. Tratamento é
essencial! Carlos diz que a pessoa pode buscar um psicólogo ou ir direto ao
psiquiatra, o que importa é entrar em contato com o profissional que deixe o
paciente plenamente confortável.
O médico também chama a atenção para outro ponto importante: não
deixe a pessoa deprimida sozinha. Mesmo depois que ela iniciar o
tratamento, se faça presente e continue mostrando que você se importa.
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