terça-feira, 12 de março de 2019

Autópsia psicológica na prevenção do suicídio: a experiência recente na UFMG

Autópsia psicológica ajuda na prevenção de suicídios no país

Procedimento tenta identificar sinais da vida da pessoa que levaram à morte e se seria possível evitá-los

Thuany Motta (11 mar 2019)

Considerado um dos maiores tabus da humanidade, o suicídio cresceu cinco vezes em dez anos no país. Mais de um brasileiro se mata a cada hora, e outros três tentam sem sucesso. Por dia, a conta fecha com 32 óbitos, segundo o Ministério da Saúde.

Por trás desse drama, é comum questionar-se por que a morte ocorreu e se algo poderia ter sido feito para evitá-la. Em casos assim, uma técnica pouco comum – conhecida como “autópsia psicológica” – pode ajudar a fornecer informações e respostas.

“Como uma autópsia física, ela tenta identificar sinais da vida da pessoa, analisando registros médicos, entrevistando amigos e familiares e conduzindo pesquisas sobre o estado mental dela antes da sua morte”, diz a psicóloga Lídia Fermanian, segundo-tenente da 4º Região Militar do Exército em Minas.

O método – desenvolvido nos EUA na década de 60 –, além de ser uma ferramenta útil na coleta de dados para fins de prevenção do suicídio ou para melhor compreender o comportamento suicida, ainda pode determinar que a pessoa faleceu como resultado de um suicídio quando a causa de morte é indeterminada.

No Brasil, sua aplicação mais recente é feita pela Polícia Militar de São Paulo, que registrou aumento de 37% nos casos de suicídio entre seus membros. Em Minas, a UFMG é responsável pela autópsia psicológica desde 2017 em parceria com órgãos militares, como o Exército. Três entrevistas já estão sendo analisadas pelos pesquisadores da UFMG.

A investigação envolve suicídios entre militares e seus dependentes. Uma equipe formada por um psicólogo, um psiquiatra e um assistente social faz entrevistas qualitativas, três meses após a morte (considerado o período de luto), com pais, mães, filhos, irmãos, cônjuges e colegas de trabalho.

As informações são analisadas por pesquisadores da UFMG, que traçam perfis comportamentais e de acontecimentos que sejam comuns nos casos envolvendo instituições militares para, no futuro, trabalhar a prevenção de forma eficaz.

“Tentamos identificar sinais e comportamentos que a pessoa apresentou durante a vida: dentro de casa, no trabalho, na faculdade, ou seja, nos seus círculos sociais. Nossa atenção está nos aspectos gerais, desde a infância até momentos antes da morte”, diz Lídia.

Levantamento

De acordo com a publicação do Ministério da Saúde, a taxa de suicídio no Brasil é de 5,8 por 100 mil habitantes.

A intoxicação é responsável por 18% das mortes, enquanto o enforcamento apresenta um índice de 60% dos óbitos.

A região Sudeste concentrou 49% das ocorrências, seguida da região Sul, com 25%.

Especialistas já veem avanços com método

Em menos de dois anos, os trabalhos envolvendo a autópsia psicológica em Minas têm gerado frutos. Duas vezes por ano, visitamos as regiões de atuação do Exército em Minas, que envolvem 35 mil militares da ativa, da reserva e dependentes. A procura tem sido maior desde o início das atividades”, diz a psicóloga Lídia. Segundo ela, com a alta procura, o Exército tem atuado constantemente com atividades de prevenção ao suicídio.

No caso de parentes e amigos que tiveram pessoas próximas vitimadas pelo suicídio, o Grupo de Apoio aos Enlutados de Suícidio (Gaes) da UFMG oferece acompanhamento e acolhimento desde 2017. “De dezenas de pessoas que acompanhamos em quase dois anos, muitas conseguiram viver o luto de uma forma saudável e seguir em frente. Hoje, algumas delas são voluntárias no programa”, conta a psicóloga Vivian Zicker, moderadora do Gaes.

De acordo com ela, as reuniões ocorrem nas noites de segundas-feiras em uma sala da Faculdade de Medicina da UFMG. Para participar, é necessário ter vivenciado uma situação próxima de suicídio.

A inscrição pode ser feita pelo e-mail gaesufmg@gmail.com, contendo o nome completo e a data da reunião de que deseja participar.

Fonte: https://www.otempo.com.br/interessa/sa%C3%BAde-e-ci%C3%AAncia/aut%C3%B3psia-psicol%C3%B3gica-ajuda-na-preven%C3%A7%C3%A3o-de-suic%C3%ADdios-no-pa%C3%ADs-1.2147707

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