Casos de pessoas de 15 a 19 anos
que tiraram a própria vida cresceram 45% em 15 anos
Litza Mattos*
A associação entre transtornos psiquiátricos,
principalmente a depressão, e o abuso de álcool e drogas constitui uma
combinação potencialmente perigosa para a vida. Mais da metade das 1.700
vítimas (61%) analisadas em estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP) entre 2011 e 2015 e com faixa etária entre 25 e 44 anos apresentavam
álcool no sangue.
Além disso, mais de 90% dos casos
de autoextermínio estão ligados a distúrbios mentais, sendo a depressão o
diagnóstico mais frequentemente relacionado a esse comportamento – presente em
36% dos casos.
No mundo, mais de 800 mil pessoas
tiram a própria vida por ano. No Brasil são 11 mil, em média, o que equivale a
cerca de 30 vítimas por dia, uma a cada 48 minutos. A divulgação desses
números, na quarta-feira (22), por especialistas em São Paulo faz parte das
ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio. O lançamento
oficial da campanha será no dia 1º do próximo mês, juntamente com a hashtag
#SaiadaSombra e um vídeo que vai circular pelas redes sociais. A ação é
promovida pela multinacional farmacêutica Pfizer em parceria com o Centro de
Valorização da Vida (CVV).
Apenas no primeiro semestre deste
ano, cinco casos de suicídio envolvendo jovens de escolas tradicionais de São
Paulo e Minas Gerais ganharam notoriedade no país. O aumento de ocorrências
entre o público adolescente e jovem preocupa especialistas, que já tratam como
problema de saúde pública. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre os
anos 2000 e 2015, os casos de jovens [15 a 19 anos] que tiraram a própria vida
cresceram 45%. Globalmente, o problema já representa a segunda principal causa
de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Uma vez que o álcool provoca um
aumento da impulsividade, esse efeito pode ser ainda mais evidente em
populações que já apresentam essa característica de forma mais pronunciada,
como os adolescentes, segundo o psiquiatra e supervisor do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Teng Chei Tung. “A adolescência já é,
por si só, um período conturbado. Mas, quando falamos em suicídio, devemos
pensar em um fenômeno que traz uma convergência de fatores, o que inclui
aspectos fisiológicos, sociais e culturais, combinados”, diz.)
BUSCA POR MÉDICOS É FREQUENTE E
INSUFICIENTE
As pessoas que cometem suicídio
costumam dar sinais claros de sua intenção e, muitas vezes, chegam a procurar
ajuda antes desse desfecho. Um em cada cinco pacientes que tentaram o suicídio
passou por uma consulta médica um mês antes do episódio, de acordo com um
estudo da Universidade Federal de São Paulo [Unifesp] a partir de 80 indivíduos
atendidos em um pronto-socorro.
Outra pesquisa australiana,
publicada em 2017, mostra que muitos indivíduos tendem a visitar seu médico nos
meses anteriores ao episódio. Cerca de 75% dos depressivos suicidas tinham
tratamento psiquiátrico anterior, 66% no ano prévio e 50% no momento do
suicídio. Outros 20% procuraram um médico no dia da tentativa, 40% na semana
anterior, 66% nos três meses anteriores, e 3% estavam tomando antidepressivos
em dosagens adequadas no momento do suicídio, sendo que 7% estavam em
psicoterapia.
O trabalho aponta ainda que
grande parte desses pacientes não chega aos serviços médicos por meio do
psiquiatra, o que evidencia um grande desafio para os profissionais da atenção
primária. “Muitas vezes quem está em contato com esse paciente é o clínico
geral, o ginecologista, o cardiologista”, afirma o diretor médico da Pfizer,
Eurico Correia.
Para a neurologista Elizabeth
Bilevicius, a depressão ainda é cercada de mitos, por isso é preciso vencer o
preconceito e incentivar um diálogo mais aberto a respeito do assunto. “Tem
muita evidência científica de que depressão não é ‘mi-mi-mi’, não é frescura,
não é interesse de um grupo específico, e merece atenção e tratamento”, diz.
CENTRO ATENDE MAIS DE 3 MIL ANUALMENTE
O Centro de Valorização da Vida
(CVV) é um serviço gratuito para apoio emocional e prevenção do suicídio sob
total sigilo, disponível 24 horas, por ligação gratuita (número 188) e outros
canais, como o site (cvv.org.br), e-mail, chat e Skype. O CVV realiza em
média 3 milhões de atendimentos por ano, segundo o presidente da entidade,
Robert Paris. “O serviço é prestado eminentemente por voluntários. São 2.600
pessoas espalhadas pelo Brasil que fazem um trabalho de apoio emocional a quem
precisa. Pessoas que estão sozinhas, desesperadas e não têm com quem
conversar”, diz.
*Repórter viajou a convite da
Pfizer
www.otempo.com.br/super-noticia/interessa/álcool-e-depressão-aumentam-risco-de-suicídio-entre-jovens-1.2018825
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